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Livro Vinde a Mim

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VINDE A MIM

Orientações para a inclusão de crianças e adolescentes na igreja

Vinde a MiM

Orientações para a inclusão de crianças e adolescentes na igreja

Organizadores:

Glaucia Clara Korkischko, Alacy Barbosa, Suzete Araújo Águas Maia e Aline dos Santos França Venancio Gonçalves

Casa Publicadora Brasileira Tatuí, SP 2023

Direitos de publicação reservados à CASA PUBLICADORA BRASILEIRA

Rodovia SP 127, km 106

Caixa Postal 34, 18270-970, Tatuí, SP

Telefone: (15) 3205-8800 / WhatsApp: (15) 98100-5073

Atendimento ao cliente: (15) 3205-8888

Ligação gratuita: 0800 9790606

Site: cpb.com.br

E-mail: livros@cpb.com.br

Divisão Sul-Americana

Presidente: Stanley Arco

Secretário: Edward Heidinger

Tesoureiro: Marlon S. Lopes

Coordenação Geral: Glaucia Korkischko e Alacy Barbosa

Coordenação Editorial: Diogo Cavalcanti

Editoração: Adriana Teixeira, Ruben Dargã Holdorf, Milton Andrade e Guilherme Silva

Revisão: Jóice Souza e Luciana Gruber

Editor de Arte: Thiago Lobo

Projeto Gráfco e Capa: Fábio Fernandes

Ilustração de Capa: Kaleb de Carvalho

Ilustrações Internas: Joseilton Gomes

IMPRESSO NO BRASIL / Printed in Brazil

1a edição 2023

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Vinde a mim : a inclusão de crianças e adolescentes na igreja / organização Glaucia Clara Korkischko... [It.]. – 1. ed. –Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2023.

Outros organizadores: Alacy Barbosa, Suzete Araújo Águas Maia, Aline dos Santos França Venancio Gonçalves.

Bibliograa.

ISBN 978-85-345-3195-5

1. Educação cristã 2. Educação inclusiva

3. Igreja Adventista do Sétimo Dia - Educação

4. Inclusão social 5. Pessoas com deficiênciaAcessibilidade 6. Pessoas com deficiênciaAspectos religiosos I. Korkischko, Glaucia Clara.

II. Barbosa, Alacy. III. Maia, Suzete Araújo Águas.

IV. Gonçalves, Aline dos Santos França Venancio.

23-170896

-268.01

Índices para catálogo sistemático:

1. Educação cristã e Bíblia : Inclusão social : Cristianismo 268.01

Aline Graziele Benitez – Bibliotecária – CRB-1/3129

Os textos bíblicos citados neste livro foram extraídos da versão Nova Versão Transformadora, salvo outra indicação.

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sejam impressos, eletrônicos, fotográcos ou sonoros, entre outros, sem prévia autorização por escrito da editora.

Tipologia: Interstate, 10/15 – 21346/47244

Sumário APRESENTAÇÃO ..........................................................................................5 INTRODUÇÃO ...............................................................................................7 PARTEI 1 DeixemqueasCriançasVenhamaMim................................................. 12 2 Jesus:OMelhorModelodeComportamentoInclusivo......................... 32 3 DesenhoUniversalparaAprendizagem:UmaAbordagemSimplesna BuscapeloDesenvolvimentodeTodos.................................................. 52 PARTEII 4 TranstornoseDifculdadesdeAprendizagem:Recursospara SuperarDesafos .....................................................................................66 5 OrientaçõesparaaInclusãodeCriançaseAdolescentesSurdos........... 83 6 APessoacomDefciênciaVisual:AImportânciadaConvivência, dasTécnicasedosRecursosAuxiliares ...................................................96 7 PropostasparaCriançaseAdolescentescomTDAH,TODeDislexia ..... 106 8 SíndromedeDown:UmOlhar,umPensareumAgirmaisInclusivos ..... 121 9 EstratégiasePráticasdeInclusãodePessoascomTranstornodo EspectroAutistanaEscolaSabatina..................................................... 140 10 ValorizandooPotencialdeTodos:UmOlharSobreasAltas HabilidadesouSuperdotação.............................................................. 157 PARTEIII 11 EscolaSabatina:AdaptaçõesCurriculareseOrientações aoProfessor..........................................................................................178 12 EstratégiasInclusivasparaaAdoraçãoInfantil................................... 196 13 OqueasFamíliasPrecisameEsperamdaComunidadeReligiosa...... 205 14 MinistérioAdventistadasPossibilidades............................................ 228 REFERÊNCIAS ............................................................................................239 FICHATÉCNICA .........................................................................................252

Apresentação

O que estamos fazendo pelas novas gerações? O que fazer para resguardar, cuidar, fortalecer e prepará-las para esta vida e a futura? O que Deus espera de nós, pais e líderes? A partir da luz de Sua Palavra, Ele manifesta Seu sublime propósito, busca iluminar, atrair, libertar e nos conduzir ao caminho de salvação e restauração. Seu amor é ilimitado e Sua misericórdia se renova a cada dia.

Deus espera que os pais atuem como discipuladores de seus filhos. Para os judeus, o texto de Deuteronômio 6:4 a 9 é o mais importante das Escrituras. Eles o repetem pelo menos duas vezes por dia. O objetivo é nunca esquecer o papel dos pais em transmitir para os filhos o fundamento da fé.

Esse é também o caminho para conservarmos viva a verdadeira religião no lar. Em casa ou fora dela, nosso desafio é colocar no coração dos filhos o amor a Deus acima de tudo. Nossos dons, tempo e recursos devem ser dedicados para salvar. Todas as atividades – recreativas, educativas e espirituais – devem priorizar o amor a Deus sobre todas as coisas.

Enquanto Deus nos orienta e nos desafia a salvar nossos filhos, o inimigo sabe muito bem que, se perdemos as novas gerações, perderemos o futuro da igreja. Isso significa que nossos filhos não terão a vida eterna. É algo muito sério!

Em face desse desafio, é tempo de renovarmos nosso compromisso com as novas gerações, sejamos pais ou educadores. Não podemos nos distrair e deixá-las entre a vida e a morte. Os melhores desejos e bons discursos devem se manifestar em ações.

Este material tem a finalidade de nos desafiar, como família e igreja, a sermos mais inclusivos para atender melhor às necessidades de todas as pessoas que Jesus veio salvar. Como Ellen G. White nos lembrou: “Pais e mestres, Jesus ainda está afirmando: ‘Deixem que as crianças venham a Mim. Não as impeçam’ (Mt 19:14). Elas são as mais suscetíveis aos ensinos do cristianismo; têm o coração aberto

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a influências de piedade e virtude, e a memória ávida para reter as impressões recebidas” (WHITE, 2016, p. 180). A autora ressalta ainda: “Cristo, a Majestade do Céu, disse: ‘Deixem que as crianças venham a Mim. Não as impeçam […]. Jesus não as envia aos rabis; não as envia aos fariseus […]. As mães que levaram seus filhos a Jesus fizeram bem” (WHITE, 2021, p. 225 [274]).

É hora de escutar a voz de Jesus e Lhe obedecer: “Deixem que as crianças venham a Mim.”

Pr. Stanley Arco Presidente da Igreja Adventista do Sétimo Dia para a América do Sul

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Introdução

Eu tinha 15 anos quando recebemos em casa um presente especial: meu querido irmão Paulo Júnior. O “Paulinho” nasceu com síndrome de Down, e isso mudaria nossa vida e concepção de amor para sempre. Passamos a experimentar dali em diante um amor maior e mais inclusivo, entendendo melhor o amor de Deus.

O amor do Pai sempre foi amplo. Nos relatos da vida de Jesus na Terra, percebemos que esse amor se estendia até a quem não o podia alcançar. Abraçava os excluídos e indefesos, como na narrativa de Mateus 19:14, quando o próprio Jesus disse: “Deixem vir a Mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino dos Céus pertence aos que são semelhantes a elas.”

A forma como Jesus tratava as pessoas sempre me encantou. Suas palavras eram de aconchego.Todas as pessoas se sentiam acolhidas, abraçadas e eram convidadas a segui-Lo. Esse acolhimento resultava em salvação para os perdidos.

Pessoas que se sentem amadas experimentam um desenvolvimento sem limites. Por isso, o objetivo inicial deste livro é tratar da profundidade do amor de Deus. Ele nos inspira a seguirmos Seus passos, a amarmos as pessoas de modo desinteressado, como Ele as amou. Seu amor e convite para ir a Ele se dirigem a todos, especialmente aos que mais necessitam de cuidado.

Um dos conselhos de Ellen G. White aos mestres é: “Os professores […] devem se aproximar do coração dos alunos com tato, compreensão, paciente e determinado esforço, a fim de despertar interesse em cada estudante com respeito à salvação” (WHITE, 2021, p. 69). A partir desse texto é possível compreender outros elementos importantes no trato com crianças e adolescentes:

• O método: empatia e compreensão. A orientação é para aproximar pessoas ao coração, colocar-se no lugar do outro, compreender suas dores e alegrias e ser paciente.

• A estratégia: perseverança. A necessidade é tratar o outro com gentileza, paciência e determinado esforço, sem desistência.

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• O objetivo: salvação. O alvo é a chegada ao destino. Queremos auxiliar todas as crianças e adolescentes a chegarem aos braços do amado Salvador e Nele encontrar conforto e abrigo. Todos devem ter a mesma oportunidade.

O inimigo das almas provocou as deficiências, mas o amorável Jesus cria as possibilidades e soluções. Um novo Céu e uma nova Terra aguardam todos que conhecerem a promessa de Jesus e nela confiarem. É exatamente por isso que desejamos instruir professorese pais a comunicar essa esperança damelhor forma possível.

O Ministério da Criança, o Ministério do Adolescente e o Ministério Adventista das Possibilidades (MAP) se uniram na missão de levar toda a igreja à reflexão e à ação. Este livro foi preparado para que isso se torne realidade.

Nas próximas páginas, você encontrará um material teóricoprático, escrito por especialistas, mestres e doutores. Ele se divide em três partes distintas:

A Parte I é dedicada à reflexão sobre o tema da inclusão e ao seu embasamento; uma análise acerca de como Jesus tratava as pessoas quando andou entre nós e qual é Seu modelo de igreja inclusiva. Nesta parte, o Desenho Universal da Aprendizagem (DUA) é apresentado.

Na Parte II, há um aprofundamento nos temas das deficiências, dos transtornos e das dificuldades de aprendizagem, com a finalidade de eliminar barreiras. Há estratégias práticas, rotinas, programas e recursos para as salas de aula da Escola Sabatina Infantil e Adolescente. Apresentam-se também metodologias para o ensino de surdos, cegos, alunos com o transtorno doespectro autista (TEA), síndrome de Down, altas habilidades e superdotação. Ainda nesta parte, há indicação de sites oficiais, leis, decretos, jogos, brincadeiras e esclarecimentos paraa aplicação no contexto da igreja.

A Parte III faz a complementação temática com a apresentação dos ministérios de apoio da Igreja Adventista do Sétimo Dia para as famílias da comunidade. Você conhecerá um pouco mais sobre o

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Introdução

currículo proposto para o trabalho com as crianças e os adolescentes, as estratégias inclusivas para os momentos da adoração infantil e a atuação do Ministério Adventista das Possibilidades.

Agradeço imensamente a cada autor que dedicou tempo e esforço para a escrita dos capítulos. Declaro minha gratidão também às professoras Suzete e Aline pela organização deste material, aos amigos do MAP pela parceria e à administração da Divisão SulAmericana pelo apoio aos projetos especiais do Ministérios da Criança e do Adolescente.

Dedico estas páginas a você, professor, familiar, líder ou amigo que compartilha a alegria de desfrutar desta leitura. Que todas as considerações desta obra nos tornem mais fortes para os desafios desse ministério, com a certeza do abraço e das palavras de Jesus, que nos motivam a ir a Ele.

Glaucia Clara

Diretora dos Ministérios da Criança e do Adolescente da Igreja Adventista do Sétimo Dia para a América do Sul

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PARTEI

Capítulo1

DeixemqueasCrianças

VenhamaMim

AlinedosSantosFrançaVenancioGonçalves FabioVenancioGonçalves Introdução

Quando Jesus falou aos discípulos “deixem que as crianças venham a Mim” (Mt 19:14), Ele estava alertando para que não cometessem um erro comum naqueles dias: achar que apenas as pessoas previamente selecionadas teriam direito de interagir com Ele e aprender sobre as Escrituras.

A vida doméstica na época do ministério de Jesus acontecia em casas de barro, tijolos ou pedra, com piso de terra batida e telhados de madeira e junco. As crianças costumavam brincar na parte inferior das casas, na qual podiam também ficar os animais quando precisavam de abrigo e onde se realizavam vários trabalhos. A agricultura era a base da economia, e o “pai de família” (Mt 13:52) contava com a ajuda da esposa e das crianças para o trabalho.

Além da economia agrícola, havia os que se ocupavam com artesanato, pois, de acordo com o costume da época, cada homem deveria ensinar um ofício ao filho. “Segundo alguns registros, certos líderes rabinos de tempos antigos foram lenhadores, sapateiros, padeiros e um deles era um escavador de poço. A literatura judaica menciona cerca de 40 tipos diferentes de ofícios na Palestina durante este período” (NICHOL, 2013, v. 5, p. 36). Ellen G. White explica:

Desde os tempos mais antigos, os fiéis em Israel haviam dado muita atenção à educação dos jovens. O Senhor dera instruções para que, desde pequenas, as crianças fossem ensinadas sobre Sua bondade e grandeza, reveladas especialmente em Sua lei e demonstrada na história de Israel. Cânticos, orações e lições das Escrituras deviam ser

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DeixemqueasCriançasVenhamaMim adaptadas às mentes em desenvolvimento. Pais e mães deviam instruir os filhos na verdade de que a lei de Deus é a expressão de Seu caráter e que, ao receberem os princípios da lei no coração, Sua imagem era gravada no espírito e na mente. Muito do ensino era feito oralmente. E os jovens aprendiam também a ler os escritos hebraicos, bem como os rolos de pergaminho das Escrituras do Antigo Testamento que estavam disponíveis para seu estudo (WHITE, 2021a, p. 45, 46 [69]).

Ao acompanhar o relato bíblico, facilmente perceberemos que o povo judeu se distinguia das outras nações por causa da forma como educava os filhos, valorizando as crianças e obedecendo a Deus na maneira como as educava (Sl 128:5, 6). Em Deuteronômio 12:31 e 32, Deus proibiu que os filhos de Seu povo fossem oferecidos em sacrifício. No mesmo livro, Moisés transmitiu orientações para que os filhos fossem ensinados nos caminhos de Deus (6:7-9). Em Seu ministério, Jesus enfatizou a importância e o valor das crianças e ficou indignado quando os discípulos tentaram impedir que elas se aproximassem Dele (Mc 10:13-16). Na Bíblia, lemos que não podemos ser pedra de tropeço para as crianças (Mc 9:42); também aprendemos que receber uma criança é o mesmo que receber o próprio Mestre (v. 37). Jesus ensinou ainda que aquele que doar aos pequeninos não perderá a recompensa (Mt 10:42) e que, para nos convertermos, é preciso ser como criança (Mc 10:15). O convite para as crianças irem a Ele (Mc 10:14) foi, portanto, uma reafirmação, uma ênfase da conduta mantida em todo Seu ministério em relação às crianças (NICHOL, 2013, v. 5, p.32).

Jesusfezumconviteespecialparaascrianças

O relato em que Jesus abençoou as crianças na Pereia é apresentado em três dos quatro evangelhos (Mt 19:13-15; Mc 10:13-15; Lc 18:15-17). A expressão “tomando as crianças nos braços” significa que Jesus pode ter pegado as crianças no colo ou colocado o braço ao redor delas. De qualquer modo, foi uma aproximação, uma

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manifestação de carinho, acolhimento e apreço, um gesto para realmente trazê-las para mais perto de Si e mostrar que crianças podem e precisam ser discipuladas. Por tentar impedir essa aproximação, os discípulos foram repreendidos. Nas notas da Bíblia de Estudo Andrews, consta que a palavra grega empregada é imprecisa quanto à idade das crianças. Chama a atenção, entretanto, que Marcos em seu relato sinaliza que Jesus foi criticado por Se relacionar com “pessoas marginalizadas, cobradores de impostos, pecadores, mulheres e crianças, em vez de se juntar a quem tinha posição e honra. Naquela ocasião, os discípulos se uniram aos críticos de Jesus erepreenderam quem levava os pequeninos discípulos” (Bíblia de Estudo Andrews, 2015, p. 1300).

Analisando a descrição de Lucas acerca do mesmo episódio, o comentarista bíblico enfatiza o verbo tocar como “um ato de bênção”. Então, após tocar as crianças, Jesus indicou a todos a necessidade de receber o reino de Deus como uma criança. Os bebês e as crianças dependem de alguém para receber cuidados e “só reivindicam para si que suas necessidades sejam atendidas” (Bíblia de Estudo Andrews, 2015, p. 1349).

Aqui temos dois aspectos a considerar: 1) da mesma forma que as crianças, precisamos estar dispostos a receber os cuidados do Pai e o reino de Deus e nos apropriar da salvação; 2) como cuidadores que somos dos mais vulneráveis, e como voluntários,responsáveis ou educadores, temos o compromisso de ser instrumentos de acessibilidade a Jesus. Especificamente, as crianças e os adolescentes com deficiência e que fazem parte do público da educação especial dependem de nós para se aproximar Dele.

Como mencionamos, Jesus foi criticado por dar atenção a pessoas que faziam parte de grupos tradicionalmente excluídos pela elite, como mulheres, crianças e pessoas mais pobres. De acordo com Rodrigo Silva, no nível mais baixo da pirâmide social dos tempos de Jesus, estavam os “rejeitados e marginalizados: leprosos, mendigos

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portadores de necessidades especiais, viúvas sem amparo, prostitutas” (SILVA, 2021, p. 67).

Embora alguns resistam usar a expressão “classe média” para os dias de Cristo, é fato que havia os mais ricos (minoria), os miseravelmente pobres ou excluídos e, entre ambos os mundos, uma classe mediana de pessoas que não passava fome, mas também não tinha grandes somas de dinheiro e conforto. […] Jesus provavelmente pertencia àquela classe média, mas os evangelhos O mostram tanto relacionando-se com ricos quanto com pobres (SILVA, p. 66).

Na ocasião relatada no início deste capítulo, as crianças queriam muito aprender com Jesus e ser abençoadas por Ele. Entre elas e Jesus, entretanto, havia obstáculos. Jesus não estava acessível. Ele identificou o problema e alertou para que os discípulos não impedissem, atrapalhassem nem embaraçassem o caminho delas até Ele. Assim que se retiraram os obstáculos, Jesus as envolveu em Seus braços e as abençoou.

Naqueles tempos existia o hábito de levar crianças para os rabinos abençoarem, e os discípulos podem ter achado que essa era uma atitude trivial, um desperdício de tempo, que interromperia um momento importante em que Jesus ministrava aos adultos. Mas naquele momento nada pareceu mais importante para Jesus do que receber os pequeninos.

Era costume entre os judeus levar as crianças a algum rabino, para que pusessem as mãos sobre elas, abençoando-as. Mas os discípulos do Salvador julgavam Sua obra importante demais para ser interrompida. Quando as mães foram até Jesus, levando as criancinhas, eles as olharam com desagrado. Julgaram essas crianças pequenas demais para tirar proveito de sua visita a Jesus e concluíram que Ele Se aborreceria com a presença delas. Entretanto, foi com os discípulos que Jesus ficou descontente. Compreendia o cuidado e a preocupação das mães que estavam procurando educar seus filhos segundo

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a Palavra de Deus. Ouvira as orações delas. Ele próprio as atraíra à Sua presença (WHITE, 2021a, p. 409 [511]).

Seria como se, nos dias de hoje, um pastor famoso estivesse pregando e alguém o interrompesse para pedir que abençoasse as crianças. Imagine esta cena: o pastor apresentando o sermão, quem sabe utilizando alguma ilustração, uma apresentação visual muito bem planejada, toda a igreja em silêncio acompanhando as verdades teológicas apresentadas, quando aos poucos um burburinho se forma e se aproxima. Entra, então, na igreja, um grupo de mães e crianças agitadas, pois finalmente chegaram e desejam ver o pastor. Almejam participar e ser incluídas naquele momento, desejam que os filhos sejam abençoados.

O que os líderes fariam? Permitiriam a interrupção do culto?

Jesus deixou o amor pelas crianças conduzir Sua decisão. Jesus as viu. Convidou-as para se aproximarem. Elas também O amavam, até porque em mais de uma oportunidade Jesus Se referiu à infância para ilustrar princípios espirituais importantes (ver Mt 11:16, 17;18:2-4; NICHOL, 2013, v. 5, p. 483).

A escritora Áurea Soares, no capítulo 15 do livro Construindo o Amanhã, guia de forma vívida a imaginação através dessa cena. Dentre todas as possibilidades, todos os detalhes que precisamos para reconstruir o ocorrido na mente, é impressionantea provável reação das mães aofinalmente ver os filhos nos braços de Jesus:

Que alívio as mães sentiram! O momento da tensão passara. Como Jesus, tão ocupado, pôde tomar tempo para a meninada? Por certo, lágrimas brotaram dos olhos daquelas mães e lavaram suas faces. Eram lágrimas de emoção, de gratidão, de alegria e de felicidade. Agora, sim, Jesus colocou as crianças em Seu colo. E o coração da mamãe bateu acelerado. “Meu filho, meu Deus! Meu filho nos braços de Jesus! Era tudo o que eu queria. Valeu a caminhada, valeu a canseira e até a provação. Valeu mesmo! Obrigada, Senhor. O Senhor

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aceitou o meu filho. O Senhor o ama e quer salvá-lo!” Ainda hoje nosso querido Senhor quer muito abençoar nossas lindas crianças (SOARES, 2004, p. 139, 140).

Assim se sentem também os pais de crianças e adolescentes que são o público da educação especial: aliviados. Por vezes, os muitos obstáculos e lutas os deixam exaustos. Contudo, ao verem os filhos nos braços de Jesus e o acolhimento e interesse da igreja, reconhecem que todo o cansaço e os sacrifícios valeram a pena.

As mães ficaram confortadas. Voltaram para casa fortalecidas e abençoadas pelas palavras de Cristo. Foram motivadas a retomar suas responsabilidades com novo ânimo e trabalhar confiantemente por seus filhos. As mães de hoje devem receberas palavras de Jesus com a mesma fé. Ele é agora um Salvador pessoal tão verdadeiramente como quando vivia como homem entre os seres humanos. Ele ajuda as mães de hoje tanto quanto na época em que tomava os pequeninos nos braços, na Judeia. Os filhos de nossos lares valem o preço de Seu sangue, assim como as crianças de muito tempo atrás (WHITE, 2021a, p. 409, 410 [512]).

OconvitedeJesusaopúblicodaeducaçãoespecial

Ainda hoje existem obstáculos que precisamos remover para permitir que o encontro com Jesus seja acessível a todas as crianças e todos os adolescentes. Parte significativa das famílias que frequentam a igreja são pessoas com deficiência, com transtornos de desenvolvimento ou dificuldades de aprendizagem. Pessoas com altas habilidades ou superdotação também demandam atenção especializada (BRASIL, decreto 7611/2011).

Como pais, educadores e líderes cristãos, é nossa responsabilidade estarmos atentos ao alerta de Jesus. Sua instrução é clara e oferece dois comandos: deixar que se aproximem e não as impedir.

1. Deixem que as crianças venham a Mim – precisamos permitir, facilitar, abrir caminhos para que se aproximem de Jesus;

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2. Não as impeçam – precisamos retirar as barreiras que impedem o acesso; tudo o que dificulta o encontro pessoal das crianças com Jesus deve ser removido. O termo grego traduzido como “impedir” é kolyo, que pode ser vertido como “obstruir, impedir, proibir, impossibilitar, não permitir e resistir”.

Atualmente, as pessoas com deficiência, transtornos ou altas habilidades têm amparo na legislação, que garante a manutenção dos direitos. Documentos como a Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU), aDeclaração de Salamanca (1994) e a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York em 30 de março de 2007, abriram caminho para que os países se tornassem signatários e alterassem as próprias legislações, fazendo parte de acordos internacionais para ofertar atendimento digno nas áreas de educação, saúde e outros direitos básicos. É necessária a preocupação, portanto, com a oferta de recursos e serviços que contribuam com a acessibilidade, a comunicação e os materiais pedagógicos. Somente a existência de uma legislação de referência não é suficiente para que a igreja se torne de fato inclusiva.

Ao observar o relato bíblico, percebemos a preocupação com esse público. No Antigo Testamento, por exemplo, encontramos referências a isso (Êx 4:11; Lv 19:14). Nos evangelhos, vemos Jesus particularmente interessado em oferecer melhores condições às pessoas vulneráveis, demonstrando cuidadocom as necessidades físicas e a salvação. Podemos encontrar nos evangelhos vários relatos de situações nas quais Jesus atendeu às necessidades:

• A cura de uma pessoa com deficiência física (de acordo com a cultura da época, chamada de paralítica) em Cafarnaum (Mt 9:1-8; Mc 2:1-12; Lc 5:17-26);

• A cura de uma pessoa com deficiência física (de acordo com a cultura da época, chamada de paralítica) no tanque de Betesda, em Jerusalém (Jo 5:1-9);

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• A cura de uma pessoa com deficiência física (com a mão ressequida) na Galileia (Mt 12:9-13; Mc 3:1-5; Lc 6:6-10);

• A cura de uma pessoa surdo-cega (de acordo com a cultura da época, chamada de muda [Mt 12:22; Lc 11:14]);

• A cura de dois cegos (Mt 9:27-31);

• A cura de uma pessoa provavelmente com deficiência auditiva (de acordo com a cultura da época, chamada de muda [Mt 9:32, 33]);

• A cura de uma pessoa surda (provavelmente considerada gaga, como consequência da surdez [ver NICHOL, 2013, v. 5, p. 684; Mc 7:31-37]);

• A cura de um cego em Betsaida (Mc 8:22-26);

• A cura de um cego de nascença em Jerusalém (Jo 9:1-12);

• A cura do cego Bartimeu em Jericó (Mt 20:29-34; Mc 10: 46-52; Lc 18:35-43).

Precisamos ser cautelosos quanto às razões pelas quais Jesus realizou milagres. Algumas concepções errôneas defendem a ideia de que a existência da deficiência faz parte do plano divino e que as curas milagrosas seriam necessárias para que todos se impressionassem e acreditassem em Jesus como Messias. Rodrigo Silva traz luz para essa questão:

A despeito das traduções modernas, não existe nos evangelhos nenhum termo que seja exatamente traduzível por “milagre”. A palavra “milagre”, em português, vem do latim miraculum, que simplesmente evoca a ideia de algo “espetacular”. Os gregos chamavam essas ocorrências extraordinárias de thauma, que quer dizer “espanto”, “admiração”. A força desse vocábulo está no sentimento emocional que toma conta da pessoa que testemunha um evento como esse. Já os evangelhos sinóticos chamam os milagres de Jesus de teras, “maravilhas”, e dynamis, “poder”. Nunca thauma. Por quê? Porque a ênfase bíblica não é no sentimento ou reação emocional produzida pelo fenômeno, mas na transformação permanente que deixa sobre o indivíduo. Ou seja, a emoção do momento, assim como o espanto diante dele, passa, mas o poder que ele imprime permanece.

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E os milagres de Jesus visavam transformar pessoas e não apenas deixá-las admiradas com Seu poder (SILVA, 2021, p. 187, 188).

Rodrigo Silva diz que uma das características que diferenciava os milagres de Jesus das práticas comuns no mundo greco-romano era: “Nenhum ato miraculoso visava punir alguém. Todos eram feitos para livrar o indivíduo de um desconforto físico ou espiritual” (SILVA, 2021, p. 189).

Jesus esclareceu as dúvidas dos discípulos quando perguntaram sobre a origem da cegueira em uma pessoa: “Enquanto caminhava, Jesus viu um cego de nascença. Seus discípulos perguntaram: ‘Rabi, por que este homem nasceu cego? Foi por causa de seus próprios pecados ou dos pecados de seus pais?’ Jesus respondeu: ‘Nem uma coisa nem outra. Isso aconteceu para que o poder de Deus se manifestasse nele’” (Jo 9:1-3). A declaração “se manifestasse nele”, tem sido muitas vezes interpretada ou mal interpretada como se ensinasse que uma criança inocente tinha sido visitada com a cegueira para que 38 anos mais tarde Deus pudesse revelar Seu grande poder. A tradução para o português tende a apoiar essa observação. Contudo, a conjunção “para que” (do grego hina ), que introduz a sentença, embora frequentemente expresse propósito, também pode muitas vezes expressar consequência ou resultado [...]. Se hina , em João 9:3, for interpretado como expressando resultado, então o problema causado por este versículo fica eliminado; e o versículo pode ser parafraseado da seguinte forma: “Nem este homem pecou, nem seus pais: mas como resultado de seu sofrimento as obras de Deus serão manifestadas nele.” Assim, Jesus “não explicou a causa da aflição daquele homem, mas disse-lhes qual seria o resultado” (DTN, p. 378 [471]). Para aqueles que O amam, Deus faz com que todas as coisas, inclusive as aflições originadas pelo inimigo, cooperem para o bem(Rm 8:28). Na providência de Deus, os sofrimentos infligidos pelo inimigo são revertidos para o nosso bem (NICHOL, 2013, v.5, p. 1107).

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Conceitosespirituaisparaopúblico

daeducaçãoespecial

A história da cura de um homem com deficiência física em Cafarnaum mostra que Jesus viu além da deficiência. Ele perdoou os pecados e o incluiu no plano de redenção, pois a salvação está disponível a todos. Pessoas que aprendem de forma diferente, que apresentam deficiências ou funcionamento cerebral diferenciado, também são filhas de Deus, seres humanos pelos quais Jesus deu a vida. Ao trabalhar com esse público, podem surgir alguns questionamentos: Se essas pessoas apresentam dificuldades para estabelecer interação social com outras pessoas, como ensiná-las a ter um relacionamento com Jesus? Como lhes ensinar conceitos abstratos? Como ajudá-las a entender o amor de um Deus invisível? Como lhes apresentar as verdades bíblicas espirituais? Assim como para crianças bem pequenas, há formas de ajudar essas pessoas a experimentar por si mesmas o amor de Deus e a desenvolver um relacionamento com Jesus. Ellen G. White revela:

Ao trabalhar em favor da conversão de nossos filhos, não devemos buscar fortes emoções como evidência de que eles estão convencidos do pecado. Nem é necessário saber o tempo exato em que se convertem. Devemos ensiná-los a levar seus pecados a Jesus, pedindo-Lhe perdão e crendo que Ele perdoa e os recebe, assim como recebeu as crianças quando estava pessoalmente na Terra (2021a, p. 411 [515]).

Para entendermos essa questão, é preciso compreender que a espiritualidade não depende necessariamente da capacidade intelectual ou cognitiva. Rabello acrescenta:

A inteligência espiritual está diretamente ligada à ação do Espírito Santo. O mecanismo inteligente é o mesmo que utilizamos no exercício natural do raciocínio humano, mas o que difere são os princípios que estão na base do raciocínio espiritual. Elessão distintos e

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VindeaMim

até mesmo contraditórios do ponto de vista do raciocínio natural do ser humano, estando fundamentados na teologia encontrada nas Escrituras Sagradas (2008, p. 890).

O apóstolo Paulo afirmou:

Por isso, desde que ouvimos falar a seu respeito, não deixamos de orar por vocês. Pedimos a Deus que lhes conceda pleno conhecimento de Sua vontade e também sabedoria e entendimento espiritual. Então vocês viverão de modo a sempre honrar e agradar ao Senhor, dando todo tipo de bom fruto e aprendendo a conhecer a Deus cada vez mais (Cl 1:9, 10).

Howard Gardner (2001), no reformulado conceito de inteligência, discorre sobre a inteligência espiritual e levanta a possibilidade de que poderia expandir a teoria das inteligências múltiplas, incluindo esse aspecto. Celso Antunes afirma que: “A criança precisa ser levada a descobrir o caminho da espiritualidade independentemente da religião a ser seguida, até mesmo como demonstração dos reais limites da ciência e do conhecimento acumulado pelo homem” (2001, p. 74).

Muitas vezes se espera que crianças ou adolescentes com deficiência expressemconhecimento bíblico ou demonstrem que entenderam o plano de salvação para que, publicamente, declarem a decisão de aceitar Jesus – e muitas podem fazer isso, de acordo com os níveis de desenvolvimento. Porém, quando pensamos em pessoas com necessidades de maior suporte, como as com transtorno do espectro autista, pessoas com paralisia cerebral ou deficiência intelectual, não nos cabe mensurar seu conhecimento ou esperar que emitam respostas padronizadas. Não nos compete fazer o que é tarefa do Espírito Santo. Ellen G. White advertiu: Necessitamos reconhecer o Espírito Santo como nosso iluminador. O Espírito gosta de Se dirigir às crianças e revelar-lhes os tesouros e as belezas da Palavra. As promessas proferidas pelo grande Mestre cativarão os sentidos e animarão o coração da criança com uma força espiritual que é divina. Em sua mente receptiva se desenvolverá uma

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familiaridade com as coisas divinas, que será como uma fortaleza contra as tentações do inimigo (2021b, p. 346).

O desenvolvimento espiritual é um processo e ocorre de forma progressiva. Todos têm direito à esperança e à alegria de se relacionar com Jesus. Pode ser que essas crianças e adolescentes não decorem versos bíblicos, não saibam recontar as histórias ensinadas ou nunca entendam como Davi derrotou um gigante. O conteúdo que lhes é ensinado na Escola Sabatina é importante, as lições bíblicas são importantes, mas a maior lição é o amor.

Nessa linha de raciocínio, pode ser que essas crianças nunca saibam as medidas da arca construída por Noé ou quantas voltas foram necessárias para derrubar as muralhas de Jericó. Na vida cristã, gravar essas informações não é o mais importante, embora alguns aprendizes analíticos queiram saber exatamente coisas desse tipo. Uma atenção diferenciada e que considere as especificidades de cada um é fundamental para a existência de uma Escola Sabatina realmente inclusiva. Cada pessoa tem seu estilo de aprendizagem (LEFEVER, 2012) e necessidades específicas que precisam ser atendidas. O mais importante, entretanto, é que os muros da falta de acessibilidade caiam e que todos se sintam amados e incluídos.

Jesusconvidaaigreja

Uma igreja, para ser inclusiva, tem o papel de dar voz às pessoas com deficiência, escutar suas lutas, aceitá-las com as diferenças e guiá-las na experiência de se relacionarem com Deus. Essa é a primeira responsabilidade do professor da Escola Sabatina.

A capacidade de uma pessoa com deficiência de servir a comunidade ao longo de sua vida adulta dependerá em grande parte das condições de acessibilidade a que foi exposta e do quanto a igreja investiu nos processos de inclusão.

No caso de crianças e adolescentes em condições singulares, como as já mencionadas, as barreiras podem ser muito desafiadoras, e temos

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um grande percurso à frente, na construção de uma igreja inclusiva. Mas que barreiras são essas? Pensando nas necessidades e nos direitos desse público, percebemos que nem sempre a estrutura das edificações ou o formato dos programas realizados nas igrejas favorecem sua participação.

É preciso investir na qualificação dos professores, nos recursos tecnológicos, na infraestrutura da igreja, além de implantar campanhas que promovam a inclusão. As melhorias propostas em função das pessoas com deficiência, como adaptações arquitetônicas e aquisição de equipamentos, podem inclusive beneficiar os demais integrantes que compõem a comunidade religiosa.

Ao contemplar a história da educação especial, muitas vezes nos deparamos com concepções preconceituosas e depreciativas, que definem as pessoas comdeficiência a partir das incapacidades, em vez de focar no potencial. Assim, a inclusão não deve ser vista como um favorecimento, mas como um direito. Não basta manter um discurso em favor do acesso de crianças e adolescentes com deficiência às igrejas, precisamos estabelecer práticas que garantam a permanência de todos nesse espaço, que é seu por direito.

Há em todas as igrejas crianças e adolescentes, público da educação especial, apresentando comportamentos incomuns. Incluílos não significa apenas garantir sua presença física nas classes da Escola Sabatina. Ao lidar com eles, muitos professores tendem a apenas enxergar os desafios por não saberem como agir em relação às necessidades específicas. Muitos acreditam que, apenas pelo fato de esses alunos terem uma deficiência, podem se considerar salvos. Obviamente isso não é verdade. Todo mundo precisa conhecer o amor de Deus e Seu plano de salvação. Pessoas com necessidades especiais não são salvas apenas em razão de sua condição. Precisamos olhar para elas como Jesus o faz. Ellen G. White ensina:

Nas crianças que foram postas em contato com Ele, Jesus viu os homens e as mulheres que seriam herdeiros de Sua graça e súditos de Seu reino,

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e alguns dos quais se tornariam mártires por amor a Ele. Sabia que aquelas crianças O ouviriam e O aceitariam como seu Redentor muito mais facilmente do que fariam os adultos, muitos dos quais eram sábios segundo o mundo e tinham o coração endurecido. Em Seus ensinos, Jesus descia ao nível delas. Ele, a Majestade do Céu, não deixava de responder às perguntas que elas faziam e de simplificar Suas importantes lições para atingir a infantil compreensão das crianças. Plantava na mente delas as sementes da verdade, que brotariam nos anos seguintes, dando frutos para a vida eterna (2021a, p. 410 [514, 515]).

As famílias de crianças ou adolescentes que são o público da educação especial enfrentam desafios diários. A rotina semanal pode ser muito cansativa, envolvendo a frequência a terapias, atendimentos na rede de saúde, comparecimento às aulas regulares e salas de atendimento educacional especializado (salas de recursos) no contraturno. Levá-las à igreja pode ser desafiador. Por isso, a igreja precisa se organizar para oferecer um momento prazeroso aos membros dessas famílias, que poderão encontrar descanso, acolhimento e a oportunidade de oferecer louvor a Deus. “Jesus conhece as preocupações do coração de cada mãe. Aquele cuja mãe lutou com a pobreza e a privação compreende cada mãe em suas dificuldades. […] Se comove com a dor materna. Em toda aflição e necessidade, Ele dará conforto e auxílio” (WHITE, 2021a, p. 410 [514]).

Culturalmente, as igrejas são consideradas locais de reverência e silêncio; entretanto, cada pessoa pode se comunicar e oferecer louvor de acordo com suas peculiaridades.

O barulho produzido por crianças durante o culto deve ser tolerado e compreendido com naturalidade, pois é o resultado da interação com outras crianças, da curiosidade daqueles que têm muitas perguntas e precisam de respostas ou mesmo das atividades oferecidas no decorrer do culto.

De modo algum uma mãe com uma criança que passa por um momento de agitação deveria ser convidada a se retirar do ambiente

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por estar “atrapalhando”. O segredo é colocarmos na mente as palavras de Jesus: “Que as crianças venham a Mim!” Ele as convidaria para se retirar ou conviveria com as diferenças? Pode ser necessário um período de adaptação até que a criança aprenda comportamentos apropriados para aquele espaço. Se for retirada todas as vezes que chorar ou estiver inquieta, haverá um reforço para o comportamento se repetir, além de a família se submeter ao constrangimento.

Essas famílias evitam participar de eventos públicos em decorrência do medo de não serem aceitas ou de serem solicitadas a se retirar do ambiente. Alguns pais levam os filhos à igreja, mas passam a maior parte do tempo no espaço externo para não “atrapalhar” o culto. Essa não é uma prática inclusiva.

Toda a comunidade precisa entender a necessidade de períodos de adaptação e ajustes para a frequência de crianças e adolescentes, público da educação especial, nos cultos regulares e Escola Sabatina. Atividades diversificadas e até brinquedos podem ser oferecidos como um recurso para que a criança permaneça naquele ambiente com alegria. O currículo da Escola Sabatina para crianças e adolescentes oferece uma proposta de aprendizagem ativa, por meio doqual se oferecem vivências, das quais eles jamaisse esquecerão. Da mesma forma, precisamos permitir que se priorize a aprendizagemativa ao longo do culto também.

Conforme o tempo passa e a comunidade conhece a criança ou o adolescente com deficiência, a igreja poderá se adequar. Alguns terão maior sensibilidade a luzes fortes ou sons intensos. Outros não se sentirão confortáveis com muitas pessoas por perto ou tentando interagir. Outros ainda precisarão se movimentar pela nave da igreja e interagir com várias pessoas. Isso não éirreverência. São formas diferenciadas de compreender o mundo que os cerca; por isso devem ter as especificidades respeitadas. É importante ficar claro que não nos referimos aqui às questões relacionadas ao estabelecimento de limites, que devem fazer parte da rotina de todas as crianças e adolescentes.

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Em vez de muitas pessoas oferecerem ajuda ao mesmo tempo, a igreja pode indicar uma pessoa para auxiliar e orientar a família, caso haja necessidade. Alguém que crie vínculo com a criança ou o adolescente e colabore com a rotina de participação no culto. Uma pessoa do Ministério da Criança ou do Ministério do Adolescente ou mesmo do Ministério Adventista das Possibilidades poderá ser capacitada para desempenhar essa função.

Considerações

Em certa ocasião, designaram meu esposo1 para pastorear um distrito, e logo conhecemos as famílias cujos filhos apresentavam deficiências. Como de costume, aproximamo-nos para estabelecer vínculos e oferecer o suporte necessário. Uma família nos chamou a atenção devido às lutas diárias: o filho mais velho foi diagnosticado com transtorno do espectro autista (TEA), e mais duas meninas estavam em processo de investigação, além dos outros filhos.

No segundo ano acompanhando a família, por ocasião da época do batismo da primavera, uma das filhas realizou os estudos bíblicos com apoio do Ministério da Criança e tomou a decisão pelo batismo. Seu irmão com TEA se decidiu também. Foram realizadas visitas pastorais para acompanhar e confirmar não só a decisão dos juvenis, mas também da família. No dia do batismo, tudo havia sido cuidadosamente preparado, a igreja estava em festa, o coral infantil pronto para cantar, o templo decorado com bom gosto, de forma a cativar as crianças, pétalas de rosas nas águas do tanque batismal e todos tranquilos em relação ao menino com transtorno do espectro autista, que apresentava pouca necessidade de suporte em relação à sua condição.

Sentei-me na primeira fileira para tirar fotos e acompanhar de perto aquele momento precioso. Meu esposo entrou no tanque e chamou os dois irmãos, mas apenas a menina entrou na água. A igreja entoava louvores em espírito de alegria e adoração, quando percebi um olhar sorridente de meu esposo, solicitando minha ajuda. Imediatamente me

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encaminhei para a entrada lateral do tanque batismal e encontrei o irmãozinho nas escadas do tanque. Ele estava trêmulo, assustado e recuava. O coral infantil havia iniciado a apresentação, e as crianças sentiam falta do amigo. Toda a igrejae a família estavam ansiosas, esperando que ele entrasse no tanque batismal. Aquele juvenil havia aceitado o convite de Jesus com tanto entusiasmo, mas algo o impedia de prosseguir na decisão.

Rapidamente entrei no tanque, sem conseguir evitar molhar metade da minha saia. Ficamos os dois nas escadas, ocultos do restante da igreja, então lhe perguntei: “Você quer se batizar hoje com sua irmã ou quer fazer isso em outro dia?” Ele respondeu com firmeza: “Hoje!” Mas os pés recuavam, as mãos limpavam as gotinhas de água respingando nos braços. Sentia-se incomodado com o roupão grudando nas pernas e olhava angustiado para as pétalas de rosas.

O transtorno do processamento sensorial, que muitas vezes acompanha o transtorno do espectro autista, impedia-o de seguir adiante.

Peguei algumas pétalas e expliquei: “São flores, pois é o batismo da primavera, que acontece quando temos muitas flores! Quer segurar algumas?” Ele aceitou, apertou-as em suas mãozinhas e sorriu de nervoso. O coral já estava na segunda música, e o pastor, em oração, aguardando para saber como proceder, perguntou: “Você quer descer e ser batizado com sua irmã? Os dois ao mesmo tempo?” Ele respondeu que não. Perguntei em seguida se ele gostaria de ser batizado depois da irmã, e ele confirmou: “Ela primeiro!”

Assim foi feito. Assistimos ao batismo da irmã ali, juntos na escada, segurando as pétalas de rosas. Quando terminou o batismo da irmã, ele desceu rapidamente as escadas com um sorriso nos lábios, mas afastando de si as pétalas. Imagino meu esposo pensando o quanto aprendíamos com o menino e o quanto ele, como pastor, estava feliz em poder realizar o batismo.

Tão rápido quanto entrou, o menino saiu do tanque batismal, com meu auxílio. Sem dar tempo para fotos ou cumprimentos. Ele saiu de

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lá com um sorriso de felicidade, porém preocupado em desgrudar o roupão do corpo, secar bem cada gotinha de água e se livrar de uma ou outra pétala insistente que grudou nele. O diácono estava a postos para ajudá-lo. Com um sorriso radiante, o menino foi visto novamente na hora de receber o certificado.

Mais tarde, enquanto eu ainda sentia a água pingando da saia e tentava torcê-la, observei, no estacionamento da igreja, os amigos dele o abraçarem e o convidarem para correr em volta da igreja. Mais uma volta entre tantas que já haviam dado juntos e tantas outras que ainda dariam. Porém, aquela tinha um sabor especial. Ele havia conseguido! Ao voltar para casa naquela noite, ainda pensávamos no quanto havíamos aprendido. Naquele dia, nossa igreja entendeu um pouquinho mais sobre inclusão.

Inclusão abrange procurar descobrir as barreiras existentes e afastá-las, mesmo que seja algo tão comum, como pétalas de rosas nas águas batismais (da próxima vez nos lembraremos de perguntar antes se podemos colocá-las!). Aprendemos que inclusão é procurar entender as necessidades de todos, escutar seus desejos e auxiliá-los a aceitar o convite de Cristo. Aprendemos que esse convite é realmente para todos. Somos muito privilegiados por ser instrumentos nas mãos de Deus, a fim de conduzir pessoas a Jesus.

Ainda há muito a aprender. Os desafios daquela igreja não terminaram com o batismo daquele menino. As lições da Escola Sabatina continuaram sendo cuidadosamente preparadas pelos professores. Nos cultos regulares, todos ainda aprendem a respeitar as diferenças.

O Clube de Desbravadores realizou a matrícula dele e de pelo menos mais três crianças com transtorno do espectro autista. A liderança estuda o tema e se apropria das metodologias para atender as crianças com deficiências, dificuldades de aprendizagem e altas habilidades ou superdotação. Aos poucos, o Ministério Adventista das Possibilidades se estabelece.

O texto bíblico está repleto de passagens nos convidando a ir a Jesus. Esses convites nos mostram as vantagens de atender a esse

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chamado. No Antigo Testamento, podemos ver o salmista convidando a todos: “Venham e ouçam” (Sl 66:16) o que Deus havia feito por ele.

Em Isaías 1:18, o profeta diz que o Senhor nos convida a discutir a questão em relação aos vulneráveis. Se estivermos dispostos a escutá-Lo, seremos abençoados. No capítulo seguinte, somos convidados a estudar a Palavra de Deus e ir para a luz. O capítulo 55 de Isaías é um apelo para todos que têm carências e necessidades, pois os pensamentos de Deus são mais altos do que os nossos. Oseias 6:1 (NVI) enfatiza: “Venham, voltemos para o Senhor! Ele nos despedaçou, mas nos trará cura; Ele nos feriu, mas sarará nossas feridas.” Se estivermos dispostos a aceitar o convite de Cristo, teremos auxílio para enfrentar os desafios e certamente seremos capacitados a guiar crianças e adolescentes com deficiência, transtornos ou altas habilidades para alcançar amaturidade na fé.

Há na Bíblia dez relatos de ocasiões em que Jesus convidou:

“Venham a Mim.” Em Mateus 4:19, Ele chamou os discípulos para irem com Ele, pois seriam pescadores de gente. Em Mateus 11:28, convidou para conceder alívio aos cansados e sobrecarregados. No mesmo livro, encontramos mais uma vez Jesus convidando os discípulos para irem até Ele, negarem a si mesmos, tomarem a cruz e O seguirem. Em Marcos, Ele percebeu a necessidade de descanso e convida os discípulos para irem com Ele repousar um pouco, pois o trabalho era muito intenso. Em Marcos 8:34, o convite para segui-Lo e tomar sua cruz é novamente registrado. No livro de João, por seis vezes, o autor registra cenas de Jesus estendendo o convite de forma calorosa. Em João 1:39, os discípulos estão curiosos acerca do local de moradia de Jesus. Então Ele os convidou para Sua casa, abrindo as portas para um relacionamentoíntimo, amistoso: “Venham e verão” (NVI). Jesus proferiu palavras impactantes. Quem for até Ele jamais terá fome e quem crer nunca mais terá sede, pois Ele é o Pão e a Água da Vida. Em João 6:37, Ele reforçou o convite e disse que quem aceitasse Seu chamado de modoalgum seria lançado fora. Até os últimos

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dias de Seu ministério, Jesus insistiu no convite para que quem tivesse sede fosse até Ele, pois era a Fonte de Água Viva. Por fim, em João 11:43, vemos Jesus utilizar o verbo “vir” para convidar Lázaro a sair do túmulo e vencer a morte. Que convite poderoso!

Entretanto, Ele sentiu a necessidade de oferecer um convite especial às crianças. Devemos nos apropriar do convite ofertado a cada um de nós, mas devemos também nos atentar para o alerta. O chamado é inclusivo. Em Isaías 35, o profeta previu o ministério de Jesus como um ministério de inclusão e libertação. O próprio Jesus respondeu aos mensageiros de João Batista, confirmando ser Ele o Messias anunciado por Isaías (Lc 7:18-22).

Ele é o Messias de todos. Até quando teremos a oportunidade de escutar e atender a esse chamado, não apenas para que possamos ir até Jesus, mas também deixar de impedir que outros o façam? Precisamos seguir os passos de Jesus e compartilhar Seu amor com as crianças. Ele foi criança e sabe o que é viver a infância. Ele também passou por condições desafiadoras e entende o que as pessoas vítimas de discriminação sentem. Ele ama a todos e se preocupa com a salvação de todos.

Referências

1 Relato de Aline dos Santos França Venancio Gonçalves e Fabio Venancio Gonçalves.

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Capítulo2

Jesus:OMelhorModelode

ComportamentoInclusivo

AlinedosSantosFrançaVenancioGonçalves

FabioVenancioGonçalves

Introdução

O ministério inclusivo de Jesus faz parte do plano de salvação. Ele entregou a vida pela humanidade, está disposto a incluir, salvar, resgatar e acolher cada ser humano, em vez de manter as pessoas para sempre separadas do amor de Deus. “Assim é o caráter de Cristo, como foi revelado em Sua vida. Esse também é o caráter de Deus. Do coração do Pai é que brotavam as torrentes da divina compaixão manifestada em Cristo, fluindo até alcançar os filhos dos homens” (WHITE, 2020, p. 12).

Este capítulo tem o objetivo de apresentar Jesus como modelo de inclusão e oferecer as ferramentas necessárias para que pais e educadores possam garantir o direito de todasas crianças e adolescentes da educação especial de ter acesso ao plano de Deus para a salvação.

OministérioinclusivodeJesus

Nos evangelhos vemos Jesus apresentando as características de um ministério inclusivo, preocupado em acolher quem quer que fosse. Jesus foi um modelo a ser seguido no tocante à inclusão (ver Bíblia de Recursos para o Ministério com Crianças, p. 1119, 1120). Se analisarmos Seu ministério e refletirmos sobre a importância da inclusão, veremos que Jesus Se encaixa perfeitamente como um modelo a ser seguido.

•Jesusécordial,amigávelereceptivo

Em Marcos 10:13 a 16 vemos características no encontro de Jesus com as crianças, conforme foi detalhado no capítulo 1 deste livro. Ele foi receptivo, cordial e amigável com as crianças e as mães, dando-lhes completo acesso e abençoando-as.

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•Jesusconheceasnecessidadesdaspessoas

No milagre da multiplicação dos pães e peixes, Jesus falou para os discípulos sobre Seu desejo de atender à necessidade de alimentação das pessoas que estavam ouvindo Sua mensagem. Algo que, para os discípulos, parecia impossível realizar. O Mestre percebeu que as pessoas estavam cansadas, com fome e precisavam de ajuda. Após a identificação das necessidades básicas daquelas pessoas, foi possível adotar uma estratégia para atendê-las de maneira assertiva (Jo 6:1-14).

•Jesusdedicatempoparaaspessoas

O encontro de Jesus com Zaqueu revela que Ele tratou com bondade uma pessoa que estava sofrendo discriminação e exclusão social. Jesus parou para falar com Zaqueu e, ao dizer que iria à sua casa e que passaria um tempo com ele, surpreendeu a todos, mostrando que Ele não nega ajuda a quem precisa. Jesus aceitou Zaqueu com suas falhas, encontrou tempo para ele e o viu como uma pessoa quepoderia ser transformada (Lc 19:1-10).

•JesusSeimporta

Jesus Se importou com o sofrimento de Jairo, ouviu e atendeu seu pedido. Enquanto seguia em meio à multidão, ajudou uma mulher enferma que tocou em suas vestes. Ao perceber que havia sido tocado, Ele quis saber quem ela era e procurou conhecer melhor os problemas dela (Lc 8:40-50). Ele também deu importância para as dificuldades enfrentadas por Marta, que andava inquieta, atarefada e com muitas atribuições. Ele manifestou interesse em ajudá-la a fazer boas escolhas (Lc 10:38-42).

•Jesuséamável

Com amabilidade, Jesus conversou com uma mulher desprezada pela sociedade. Até Seus discípulos ficaram espantados ao ver

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Jesus:OMelhorModelodeComportamentoInclusivo

o Mestre conversando com ela. Jesus não deixou de falar verdades importantes para aquela mulher, mas fez isso com bastante cuidado, respeito e compaixão. Ignorando o preconceito e a rivalidade existentes entre judeus e samaritanos, Ele mostrou, por meio de Sua conduta, que era o Messias aguardado (Jo 4:5-30).

•Jesusescolheservir

Um exemplo de aceitação, humildade e serviço ocorreu quando Jesus executou uma tarefa destinada a um servo.

O povo da Palestina usava sandálias, e as ruas eram poeirentas. O anfitrião honrava os hóspedes mandando um servo – um dos menos conhecidos – lavar os pés deles. Você consegue imaginar? Jesus, o Filho de Deus, lavando pés sujos? Embora fosse o líder deles e também Deus, Ele era humilde demais para servir. Ele os servia de coração. Ter coração humilde significa compreender e apreciar o valor real das pessoas e respeitá-las. A pessoa humilde faz o que é necessário para ajudar alguém que tenha uma necessidade (Bíblia de Recursos para o Ministério com Crianças, p. 1271).

Ele lavou os pés dos discípulos um a um, sem se esquivar nem mesmo da tarefa de lavar os pés daquele que iria traí-Lo em breve (Jo 13:1-17).

•Jesuspercebeasnecessidades

Cristo mostrou sensibilidade com a situação dos noivos que ficaram sem vinho em plena festa de casamento. Ele atendeu ao pedido de Maria para ajudá-los (Jo 2:1-11). Também mostrou sensibilidade ao perceber o árduo trabalho dos pescadores que tentaram pescar a noite inteira, sem obter resultados satisfatórios (Lc 5:4-10).

•Jesusrealizouadaptações

A fim de atender a multidão que se reuniu para ouvir Suas mensagens, Jesus sentou-se em um barco um pouco afastado da praia e

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lhes ensinou por parábolas (Mc 4:1, 2). Certa vez, a fim de atender exigências sociais, orientou Pedro para que realizasse o pagamento de impostos (com o dinheiro que encontrou na boca de um peixe, após pescá-lo!); Ele mostrou a importância de cumprir com as obrigações sociais (Mt 17:24-27).

•Jesusresponde

Jesus não repelia os questionadores. Ele via as perguntas como oportunidades de ensino e respondia a todos que tinham dúvidas. Um de Seus métodos favoritos para transmitir conteúdos eram as parábolas. Os relatos, com a inserção de ilustrações vívidas e interessantes, permitiam que as pessoas se sentissem incluídas (Mt 13:10-23; Lc 10:25-37).

“As parábolas conduzem para a realidade concreta da vida testemunhada em redor. São exemplos do dia a dia usados para ensinar verdades espirituais” (SILVA, 2021, p. 184).

Temos aqui, então, o modelo para um ministério inclusivo:

• Ser cordial, amigável e receptivo ao ouvir;

• Identificar as necessidades;

• Dedicar tempo;

• Importar-se;

• Ser amável;

• Servir;

• Ter sensibilidade;

• Realizar adaptações;

• Responder às dúvidas com atenção.

Nunca, em Seu ministério, Jesus permitiu que rótulos definissem as pessoas. Ele sempre usou recursos específicos para suprir as necessidades de cada uma. Pessoas diferentes foram atendidas de maneiras diferentes. Algumas vezes, realizou curas diante de uma multidão, em outras circunstâncias, escolheu a privacidade. Algumas vezes, apenas falou, e o milagre foi realizado. Em outras situações, usou técnicas completamente diferentes.

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Jesus:OMelhorModelodeComportamentoInclusivo

Emilson dos Reis (2004) conta a história de duas missionárias que se dedicaram a traduzir a Bíblia para que pudesse ser lida pelo povo de vila de Hauna, em Papua Nova Guiné. O lugar era repleto de curandeiros, que tinham o hábito de mastigar uma planta e cuspir o sumo para utilizar como remédio. Eles ficaram admirados ao ouvir a leitura de João 9:6, que conta a cura do cego denascença.

Ora, em Hauna há cegos, mas nunca seus curandeiros curaram um cego. Daí, ao lermos esse verso, aqueles homens importantes ergueramse de suas cadeiras: “Oh, Jesus devia ser o mais poderoso cuspidor do mundo!” Justamente então eles se identificaram com Jesus e logo espalharam a história na vila. “Jesus cospe! Ele cura os cegos!” E, a partir daquele dia, aqueles conceituados curandeiros começaram a ir à igreja (REIS, 2004, p. 138).

O relato bíblico mostra que Jesus cuspiu na terra, fez lodo com a saliva e aplicou nos olhos do cego. Ao utilizar essa técnica específica de misturar a saliva com a terra, Jesus sabia que um dia mais da metade dos habitantes de Hauna aceitariam conhecer a Seu respeito por se identificarem com o Mestre que cuspia e curava.

Seguindo o modelo inclusivo de Jesus, é preciso aprender métodos e técnicas, mas também é fundamental abandonar rótulos e estereótipos e superar atitudes de ignorância, medo, desconfiança e falta de informação.

Os relatos históricos, ao longo dos tempos, mostram a crueldade com que as pessoas com deficiência foram tratadas. A ênfase na bondade e compaixão cristã certamente contribuiu para a melhoria desse quadro. Nós não temos como eliminar o sofrimento pelo qual pessoas excluídas passam ou apagar as injustiças que foram feitas no passado. Mas temos a responsabilidade de, seguindo os passos de Jesus, combater a discriminação, o preconceito e a intimidação.

Estudar sobre os métodos de Jesus nos capacitará a adotarmos um ministério inclusivo. Jesus teve compaixão das pessoas com

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Jesus:OMelhorModelodeComportamentoInclusivo

hanseníase (nos tempos bíblicos chamada de lepra, Lc 17:11-19), que eram obrigadas a viver isoladas. Nunca foi plano de Deus o isolamento social. Deus disse: “Não é bom que o homem esteja sozinho” (Gn 2:18). Jesus não era favorável ao estabelecimento de divisões ou preconceito entre os grupos sociais. As rivalidades entre fariseus e saduceus, ricos e pobres, judeus e samaritanos não eram do Seu agrado. Ellen G. White explicou que:

A missão de Cristo não foi compreendida pelos homens de Seu tempo. A maneira de Sua vinda não estava em harmonia com a expectativa deles. [...] o reino de Deus não devia prevalecer pela força de armas nem por intervenções violentas, mas pela implantação de um princípio novo no coração dos homens (2022, p. 13 [34, 35]).

Como terapeuta por excelência (GRÜN, 2014), Jesus adotou métodos diferenciados de atendimento. Por exemplo, ao curar um “surdomudo” e gago (conforme era chamado na época), Ele o chamou à parte, mas não fez isso para separá-lo dos demais ou dispensar um tratamento melhor do que a outros a quem já havia curado ou ainda curaria.

Assim como fez, mais tarde, com o cego de Betsaida (Mc 8:22-26). Ambos os distritos eram basicamente povoados por pagãos (Mt 4:25) e, por isso, parece provável que esse homem também fosse um gentio. Talvez Jesus tenha levado o surdo à parte pelo fato de oprocedimento seguido na cura ser incomum, o que poderia ser mal compreendido pela multidão precipitada e interpretado como uma forma de mágica semelhante aos encantamentos de mágicos pagãos (NICHOL, 2013, p. 684).

Esse método foi utilizado para proteger o surdo, para que sua cura não fosse questionada ou invalidada. Jesus utilizou com o surdo um método terapêutico que lhe conferiu atenção em um espaço protegido. Naquele espaço de confiança entre o terapeuta Jesus e Seu paciente, Marcos diz que, “no mesmo instante, o homem passou a ouvir

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perfeitamente; sua língua ficou livre, e ele começou a falar com clareza” (Mc 7:35). “Agora, ele ousa ouvir as palavras que chegam ao seu ouvido, não teme mais ouvir apenas rejeição e dureza. O Mestre lhe ensinou que as palavras querem alcançá-lo, que é uma pessoa importante para os outros que desejam conversar com ele” (GRÜN, 2011, p. 159).

Por fim, ao analisar os métodos de Jesus, podemos observar mais um detalhe especial: Ele sempre parava em Cafarnaum entre suas viagens. Parar nessa cidade fazia parte do plano estratégico do ministério inclusivo de Jesus. Sobre isso, Ellen G. White afirma:

Cafarnaum se adaptava bem para servir como centro da obra do Salvador. Estando na estrada de Damasco a Jerusalém e ao Egito, e ao Mar Mediterrâneo, era uma grande via de comunicação. Pessoas de muitos lugares passavam pela cidade ou ali paravam para descansar nas idas e vindas de suas viagens. Nesse lugar, Jesus podia encontrar representantes de todas as nações e de todas as classes sociais, tanto o rico e o poderoso quanto o pobre e humilde; desse modo, Suas lições seriam levadas a outros países e a muitos lares. O estudo das profecias seria estimulado, a atenção seria atraída para o Salvador, e Sua missão, apresentada ao mundo (2021, p. 191 [252, 253]).

OministérioeducativodeJesuseopapel

doprofessordaEscolaSabatina

Além de exemplo de inclusão, Jesus é o mais perfeito modelo de professor que podemos ter. Assim, em Suas atitudes, encontramos as bases para um ministério educativo e inclusivo.

O Senhor chamou a Si mesmo de professor. Ele permitiu que outros O chamassem de “professor”. Até Seus inimigos O reconheceram como “professor”. Os evangelhos registram, pelo menos, 45 sessões de ensino. Deus resolveu torná-las permanentes, para que pudéssemos aprender “observando” o maior professor que já viveu ( Bíblia de Recursos para o Ministério com Crianças , p. 1119).

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Ao estudar a vida de Cristo, observamos que “Jesus acreditava no poder do ensino e por isso ensinava de maneira entusiasta e destemida. Qualquer lugar e hora era uma oportunidade para ensinar: o templo, a sinagoga, o monte, as praias, a estrada, o poço, a casa, o casamento, etc.” (SUAREZ, 2004, p. 5). Com base nisso, devemos analisar como o trabalho dos professores da Escola Sabatina, voltado para os estudantes com deficiência, transtornos e dificuldades de aprendizagem e altas habilidades ou superdotação, colabora para a permanência desse grupo nas diversas atividades da igreja e para um atendimento eficaz, sob o prisma da inclusão e da diversidade. Assim como uma atenção direcionada, acolhimento e atendimento adequado são fundamentais para determinar a maneira com que essas pessoas respondem aos desafios diários, estimulando seu desenvolvimento e aprendizagem por toda a vida.

Os estudantes da educação especial, de acordo com o Ministério da Educação (BRASIL, 2011), são aqueles com deficiência, transtorno global do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. Nesse grupo, temos indivíduos com diferentes tipos de deficiências: física, múltipla, auditiva e visual. Os estudantes com transtorno global do desenvolvimento são aqueles que podem ser identificados em um dos diferentes transtornos do espectro autista. Por exemplo, a síndrome de Rett e a síndrome de Asperger e os estudantes com altas habilidades ou superdotação são “aqueles que apresentam um potencial elevado e grande envolvimento com as áreas do conhecimento humano, isoladas ou combinadas: intelectual, liderança, psicomotora, artes e criatividade” (BRASIL, 2009).

Pensando no processo de ensino e aprendizagem, o papel dos professores da Escola Sabatina é fundamental, pois, além de promover o acolhimento das crianças e dos adolescentes com deficiência, pode contribuir para que desenvolvam plenamente seu potencial. É fundamental que a igreja adote uma perspectiva inclusiva e ofereça o sistema de apoio adequado para cada pessoa.

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Quando uma criança ou um adolescente que é público da educação especial é matriculado na Escola Sabatina, inicia-se junto com sua jornada espiritual a jornada de seus professores. Eles precisarão planejar e traçar os objetivos para esse grupo específico de alunos. É fundamental começar a identificação dasnecessidades de cada um e traçar um plano individual de atendimento aos alunos que necessitam de algum suporte diferenciado. Quanto antes a intervenção ocorrer, maiores serão as chances de desenvolvimento satisfatório desses alunos.

Alguns professores que assumem as classes da Escola Sabatina, ao receberem crianças e adolescentes com deficiência, não se sentem preparados para interagir e propor caminhos para a aprendizagem desses alunos. Os professores assumem as classes como voluntários, embora nunca tenham tido uma formação específica na área da educação especial. Apenas ao se deparar com os desafios diários percebem o quanto estão despreparados. Não sabem como fazer adaptações metodológicas, não têm conhecimentos básicos relacionados às deficiências e precisam aprender enquanto atuam para melhor atender a todos.

Diante desse cenário, surgem os questionamentos: Qual é o papel do professor da Escola Sabatina? Qual é o papel da igreja? Certamente compreende, entre outras competências, lidar com um frágil processo inclusivo ao mesmo tempo que se dispõe areceber a todos sob o amparo de princípios justos e éticos.

O professor, para atuar numa proposta inclusiva, precisa promover atividades que atendam e beneficiem a todos. Como mediador da aprendizagem, ele identifica interesses e habilidades nas crianças e nos adolescentes e respeita seu ritmo de aprendizagem, pois, ao passo que alguns precisam de mais tempo e repetições para vencer os desafios propostos, outros vão ter um tempo menor para essa aprendizagem.

Deve ser respeitada a faixa etária adequada para a matrícula. As crianças e os adolescentes devem acompanhar seus pares etários. É um equívoco manter crianças com deficiência em classes de crianças mais novas sob a justificativa de que elas precisam estar em classes

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de crianças com “idade mental” menor. Seu desenvolvimento se dará mediante a inclusão, assim como ocorre nas escolas de ensino regular. Todos, crianças e adolescentes, com e sem deficiência, podem atuar juntos em projetos promovidos na igreja e nas classes da Escola Sabatina, tendo acesso ao mesmo currículo, sendo realizadas adaptações quando necessárias.

Qual é a importância da relação entre o professor e o aluno? Ela pode ser uma situação nova para ambos. É fato que muitas vezes os professores não se sentem aptos para receber em suas classes pessoas com deficiência, e os alunos, quando chegam, podem nunca ter vivenciado a dinâmica de apresentação de uma lição bíblica em uma igreja. Portanto, o processo de inclusão e de ensino-aprendizagem pode acontecer com barreiras a superar.

O docente não precisa estar sozinho nesse percurso. Uma proposta eficaz de inclusão deve contar com o envolvimento de vários ministérios da igreja. A inclusão desses estudantes deve ser a meta de todos. É preciso oferecer a eles oportunidades variadas para que tenham a seu dispor um currículo adaptado a suas necessidades, além de recursos e apoios que os auxiliem em sua vivência espiritual.

O professor exerce papel fundamental nesse processo, pois é ele quem está mais próximo da criança ou do adolescente e de sua família. Seu olhar se dá num espaço rico de convivência, em que a criança ou o adolescente em geral têm confiança para agir naturalmente. Relações afetivas com o professor e os demais colegas também favorecem o processo de inclusão. No espaço da classe da Escola Sabatina, o aluno pode agir espontaneamente e contar com condições favoráveis para que ocorra a aprendizagem.

Sabemos que o professor e o aluno são os protagonistas do processo ensino-aprendizagem. O professor é responsável pelo ensino de todos os alunos. Por isso, precisa se familiarizar com as características deles e receber suporte, mas nunca ignorar sua presença ou transferir as próprias responsabilidades.

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Jesus:OMelhorModelodeComportamentoInclusivo

Da qualidade da interação dos alunos com o professor vai se delineando um vínculo que permitirá a construção de aprendizagens importantes para sua vida espiritual. Esse vínculo poderá auxiliar o aluno na superação de barreiras, principalmente no que concerne à sua inclusão na comunidade religiosa.

Levando em conta que avançamos para uma proposta de educação inclusiva,ao se observar atentamente o que ocorre na prática pedagógica, algumas questões podem ser discutidas. Uma das situações que chamam a atenção é o fato de muitos educadores vivenciarem uma espécie de inclusão que consiste apenas na inserção dos alunos que são o público da educação especial no sistema educacional.

O professor da Escola Sabatina já tem várias atribuições. Além de preparar a lição bíblica com antecedência, ele se envolve com projetos evangelísticos, auxilia no decorrer dos cultos regulares, orienta as famílias, envolve-se em projetos sociais e de interação entre os alunos; a essas atribuições e às demais tarefas que se agregam à função de ser professor, somam-se os desafios de receber alunos com deficiência, transtornos e dificuldades de aprendizagem e altas habilidades ou superdotação. Nem todos foram devidamente preparados para esse desafio. Contudo, o docente reflexivo reexamina sua prática, buscando aperfeiçoá-la, tendo Jesus como modelo.

Muitas vezes, os professores desconhecem maneiras de promover um melhor aprendizado. Assim, precisam procurar caminhos que atendam às necessidades e às expectativas de todos. As escolas de ensino regular já começam a se acostumar a essa situação devido às diretrizes do MEC. A necessidade de adequação está cada vez mais evidente nas igrejas.

É importante acompanhar o desenvolvimento dos alunos da Escola Sabatina sem comparações. É preciso ter cuidado com atividades que enfocam apenas o saber acadêmico, a produção intelectual, mas desconsideram expressões das demais áreas de conhecimento, como as artísticas, por exemplo. Na Escola Sabatina, há, sim, espaço para o uso de diferentes linguagens.

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Toda pessoa tem direito ao máximo desenvolvimento possível. A classe da Escola Sabatina precisa ser um local em que crianças e adolescentes tenham a oportunidade de se perceber como parte do grupo, vivenciar experiências, descobrir que imaginar, sentir e criar são maneiras de dar significado às suas ações, realizando, assim, a aprendizagem dos conhecimentos bíblicos.

Um bom trabalho pode ser realizado se buscarmos o desenvolvimento das competências e a apropriação de conhecimento na área. A maior parte dos professores sente dificuldades em lecionar para alunos com deficiência e apresenta sentimentos como insegurança e despreparo. Esses professores necessitam de constante aprendizagem e atualização de seu saber, precisam também conhecer seu aluno com deficiência, suas limitações, a deficiência em si e suas características, pois, na sala de aula, as vivências, as experiências, aliadas aos conhecimentos prévios sobre os desafios que irão enfrentar, podem resultar em ricas situações de aprendizagem ativa, apesar das barreiras.

Estratégiasmetodológicasparaoprofessorinclusivo

• Descrever o conteúdo de projeções visuais e imagens;

• Descrever imagens, tabelas e gráficos;

• Utilizar gráficos e tabelas em relevo;

• Falar diretamente com a pessoa com deficiência, e não por intermédio de outra pessoa;

• Durante longas exposições, permanecer sentado ou na mesma altura de uma pessoa em cadeira de rodas da qual esteja muito próximo, evitando assim que ela fique com a cabeça erguida;

• Não falar enquanto estiver de costas;

• Mesmo quando houver intérprete de libras, falar diretamente para a criança ou o adolescente;

• Ao falar, não bloquear a área em volta da boca (com a mão, por exemplo);

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• Falar com naturalidade e clareza, sem exagerar no tom de voz ou utilizar entonação infantilizada;

• Durante o estudo, repetir as questões ou comentários feitos, indicar quem está falando e não permitir que mais de uma pessoa fale ao mesmo tempo. Aigrejainclusiva

Quando uma pessoa com deficiência ou altas habilidades ingressa na igreja, suas necessidades devem ser identificadas. Os líderes, além de acolher, precisam delinear um plano individual de atendimento que contemple, se necessário, a oferta de algum suporte diferenciado. É igualmente importante que a igreja perceba que essas pessoas são cidadãs com direitos registrados em legislação específica, que lhes beneficia e garante uma melhor qualidade de vida. Na prática, porém, a existência dessa legislação não impede que as pessoas com deficiência enfrentem diversas dificuldades, principalmente no que se refere à inclusão nas mais diversificadas atividades. É preciso atenção por parte da liderança da igreja para contribuir com o processo de inclusão.

A presença de pessoas com deficiência na igreja impõe o levantamento de questões pertinentes, não só sobre o ingresso, mas também sobre a permanência dessas pessoas nesse espaço. O simples fato de aceitarem participar dos cultos e classes da Escola Sabatina cria demandas que, até então, não existiam: reconhecer a inclusão como uma realidade; superar barreiras arquitetônicas, de comunicação e de acesso ao currículo; perceber que cada um levará um tempo específico para se apropriar das rotinas estabelecidas; respeitar as diferenças e necessidades de cada um; e, principalmente, adotar práticas condizentes com uma postura inclusiva por parte de todos os membros.

O discurso relacionado à inclusão faz parte do cotidiano da maior parte das instituições religiosas. Transmite-se, dessa forma, a ideia de que cada igreja estaria preparada para receber qualquer pessoa com deficiência. Na prática, é vista outra realidade. Apesar do aumento

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da participação de pessoas com deficiência nas atividades eclesiásticas, ainda existem barreiras elementares, como as de acessibilidade. Barreiras como essas comprometem o atendimento. Embora sejam significativas e reais, as barreiras de cunho arquitetônico não são o foco deste capítulo; basta, porém, mencioná-las. Na impossibilidade de um ambiente acessível, que atenda às mais diversas e específicas necessidades, a pessoa com deficiência tem seus direitos tolhidos e seu desenvolvimento prejudicado.

Fazem falta o banheiro acessível, o piso sinalizado, os equipamentos adequados, assim como fazem falta o material didático e os recursos tecnológicos mais eficazes. No entanto, as barreiras de comportamento, o não saber lidar com pessoas com deficiência, não se preocupar com suas necessidades específicas e a falta de um planejamento individualizado são questões tão importantes quanto as barreiras arquitetônicas.

Quando as instituições religiosas se preocupam com a igualdade, estão buscando fundamentar sua prática em princípios que respeitam as peculiaridades de cada indivíduo. É na relação com o outro, no respeito às diferenças, no estabelecimento de vínculos e na mediação da aprendizagem que o ser humano se constitui como sujeito de sua aprendizagem. Para fundamentar esses princípios, temos o exemplo de Jesus, como o melhor modelo de comportamento inclusivo que podemos adotar.

Ainda que em algumas situações não sejam providos os recursos tecnológicos mais avançados, ou ainda que as barreiras arquitetônicas levem longos períodos para que sejam adequadas, se as crianças e os adolescentes tiverem à sua disposição um professor comprometido, sabedor do seu papel, inovador, disposto a incluir e rever suas atitudes e metodologia, essas crianças e adolescentes, com ou sem deficiência, terão grandes chances de permanência no ambiente da igreja.

As igrejas se pautam nos princípios básicos de inclusão social, cultural e de equidade, respeitam as diferenças e promovem a oferta

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de serviços e recursos para as crianças e os adolescentes com deficiência. Essas medidas permitem que a sociedade passe a enxergar as pessoas com deficiência como um grupo de pessoas em condição de frequentar a igreja e permite a construção de outra perspectiva sobre essa situação. Assim, vivendo em um ambiente inclusivo na comunidade religiosa, essas pessoas têm mais chances de desenvolver seu potencial em uma atmosfera de respeito à sua condição.

O desafio atual é garantir às crianças e aos adolescentes, além do espaço físico, experiências de aprendizagens significativas, como eles têm direito. Para a sociedade, a existência de mais e mais instituições dispostas a percorrer esse caminho abre portas e derruba barreiras gradativamente. Apenas com uma experiência inclusiva saberemos o que se faz necessário no processo de inclusão social.

A sociedade vai refletindo sobre suas ações, vai agregando valores e vivendo uma espécie de conscientização. É por meio dessas reflexões que se transformam as ações, a partir das dúvidas se buscam respostas. O caminho para uma igreja inclusiva percorre por todos esses aspectos e com grandes possibilidades de crescimento e desenvolvimento.

As igrejas têm ajustado, antes de mais nada, sua postura, superando os estigmas lançados a crianças e adolescentes que são o público da educação especial. Os professores da Escola Sabatina, por sua vez, ao aceitar essas crianças e adolescentes em suas classes, sabem que é seu dever oferecer as melhores condições de ensino-aprendizagem. Com esses recursos e com uma mudança de pensamento e postura frente aos desafios da inclusão, as barreiras estão sendo derrubadas, e a igreja está aprendendo a ser cada dia mais inclusiva, embora o processo seja longo.

Um dos evidentes benefícios de uma igreja inclusiva reside na possibilidade de que, por meioda interação com a comunidade, sejam realizadas atividades de conscientização e aproximação dos professores ao universo das possibilidades educativas das pessoas com deficiência.

Todos os entraves apontados refletem e repetem o que ocorre na sociedade. Dessa forma, para melhor combatermos a exclusão na

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igreja, é preciso também, além de todas as ações e sugestões apontadas neste livro e na literatura de referência, voltar o olhar para Jesus. Esse modelo já foi traçado e precisamos segui-lo com a adoção de medidas coerentes, de modo a evitar a negligência.

É verdade que o processo de inclusão exige tempo para as mudanças e adaptações. Nem todos se posicionam de forma adequada. Por isso, ao reconhecer as diferenças, podemos abraçar também as possibilidades de defendê-las e valorizá-las. A capacidade, o potencial, o talento e as habilidades dessas pessoas precisam ser evidenciados para que se desenvolvam e interajam social e espiritualmente, superando o estigma da incapacidade.

Levar em consideração os pontos abordados aqui oportunizará ações bem-sucedidas. Remover as barreiras desse cenário, tornar o currículo mais acessível, realizar ações necessárias para auxiliar as crianças e os adolescentes em sua caminhada, dar-lhes voz e lhes oferecer uma chance de desenvolver todas as suas potencialidades são apenas algumas das muitas contribuições para as quais este capítulo pretendeu apontar.

Dicaspráticasparaumministérioinclusivo

Oqueaigrejapodefazer?

• Compreender os ruídos e comportamentos de pessoas singulares com naturalidade;

• Compreender a necessidade de um período de adaptação para que as famílias participem dos cultos;

• Oferecer condições de autonomia para a participação nos cultos;

• Permitir que as pessoas utilizem seu potencial e participem ativamente dos projetos da igreja;

• Respeitar as necessidades de cada um;

• Disponibilizar atividades diversificadas para crianças e adolescentes (livros, jogos, brinquedos, material para atividades escritas);

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VindeaMim

• Ter uma pessoa disponível para ajudar, caso seja necessário;

• Se uma criança ou adolescente prefere se assentar sempre no mesmo lugar, respeitar e reservar aquele espaço para ele;

• Colaborar com a melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência/vulnerabilidade da comunidade;

• Mostrar-se solícito, compreensivo e aceitar participar do planejamento para acolhimento das famílias, caso seja solicitado pela liderança da igreja;

• Agir com naturalidade, sem exceder na proteção dada ao aluno ou ignorá-lo.

Oqueosmembrosdaigrejanãopodemfazer

• Não mudar de lugar, quando a família de uma criança ou adolescente com deficiência se assentar por perto;

• Não fazer expressões de desagrado quando observar um comportamento diferenciado;

• Não provocar a criança que está envolvida em uma atividade, direcionando seu foco para outras situações;

• Não se incomodar com objetos que caem no chão, oferecer ajuda para apanhá-los tantas vezes quantas forem necessárias;

• Não se incomodar se uma criança ou adolescente preferir se assentar sempre no mesmo lugar;

• Não convidar a família para levar a criança ao ambiente externo para “se acalmar”;

• Não retirar a criança do banco ou colo de seus responsáveis, a não ser que lhe seja solicitado;

• Não interferir diretamente nas instruções dos responsáveis, pedindo silêncio à criança ou limitando seus movimentos.

Algunsexemplosderecursosparainvestimento

• Reserva de vagas no estacionamento;

• Rampas;

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• Instalação de banheiros acessíveis;

• Bebedouros em altura acessível aos cadeirantes;

• Plataformas on-line acessíveis;

• Impressão de material em braile e oferta de material didático em relevo nas classes da Escola Sabatina;

• Intérprete de libras;

• Cursos de libras e braile para a comunidade;

• Mediador da aprendizagem para acompanhar crianças e adolescentes com deficiência intelectual e transtorno do espectro autista durante as classes da Escola Sabatina;

• Intérpretes para surdo-cegos;

• Atividades de enriquecimento para crianças e adolescentes com altas habilidades ou superdotação;

• Inúmeros recursos de tecnologia auxiliar e de comunicação alternativa.

Considerações

Este capítulo destacou a figura de Jesus como modelo de inclusão e os benefícios de uma igreja, de fato, inclusiva à medida que aponta caminhos para mudar a realidade atual. O foco recaiu sobre o papel da igreja como instituição que promove o crescimento e desenvolvimento do ser humano, e como sua influência na vida de uma pessoa com deficiência pode delinear seu caminhar e oferecer suporte em sua jornada espiritual. “Jesus conhecia as pessoas e ensinava para solucionar-lhes as necessidades profundas e ocultas, muitas vezes desconhecidas delas próprias” (SUAREZ, 2004, p. 6).

Assim, não nos surpreenderíamos ao conhecermos pessoas que não se definem por sua deficiência, mas pelo desenvolvimento de sua fé e de seu conhecimento bíblico. Ser cego ou surdo não as impede de serem participantes ativas da comunidade religiosa, envolvendo-se em vários ministérios. A deficiência física, múltipla, o transtorno do espectro autista ou outros transtornos e dificuldades de aprendizagem não deviam

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impedir as pessoas de prosseguir seus estudos bíblicos em igualdade de condições com seus pares. A deficiência intelectual, com os suportes necessários, não precisa ser motivo para que não tenham acesso ao conteúdo das lições bíblicas da Escola Sabatina para sua faixa etária.

É preciso que haja professores que estimulem o pensamento criativo mediante a introdução de diferentes linguagens, como previsto no Manual da Escola Sabatina. Pode-se esperar que alunos e professores tenham a chance de quebrar paradigmas e construir uma experiência significativa e libertadora. Não se trata de um caminho rápido, já que envolve transformação.

Para ilustrar os benefícios de uma igreja inclusiva na vida de uma família, observe o relato real a seguir.

Uma família passou dias e dias sem ter mais coragem de se dirigir à igreja. Cada vez que buscava o encontro com Jesus em diferentes congregações, sentia-se julgada; o sentimento de não pertencer a um grupo e a sensação de inadequação eram muito fortes, e aos poucos essa família foi se distanciando e desistiu de tentar usufruir do direito de culto, de adoração e de exercer sua liberdade religiosa.

Encontraram nas transmissões da TV Novo Tempo o alimento espiritual do qual tanto sentiam falta. Em casa, na segurança de seu lar, seu filho poderia demonstrar seu comportamentoatípico sem que precisassem dar explicações sobre o transtorno do espectro autista. Suas estereotipias, os ruídos que emitia, movimentos repetitivos, como balançar as mãos de forma efusiva,não “incomodavam” ninguém ali.

No entanto, algo estava faltando. Os terapeutas diziam ser importante a interação social para o desenvolvimento de seu filho. A escola oferecia atendimento inclusivo, porém aquela família cristã não tinha a oportunidade de ver seu desenvolvimento espiritual como o das demais crianças.

Um dia, ao ouvir o convite da apresentadora da TV, o pai anunciou:

“Amanhã vamos à igreja!” A mãe, que não imaginava mais que essa situação fosse possível, disse: “Mas como seremos recebidos?” O pai respondeu: “Não sei, querida! Mas, se estamos recebendo o alimento

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espiritual pela TV Novo Tempo, certamente a igreja adventista poderá nos ajudar a oferecer também o alimento espiritual para nosso filho.”

O acolhimento que receberam no sábado seguinte os impressionou. A igreja aos poucos realizou adaptações e incluiu aquela família em todas as suas atividades. Os pais tiveram a oportunidade de ver sua criança se desenvolver espiritualmente, cantando, participando de dramatizações, frequentando as classes da Escola Sabatina da sua faixa etária, até o dia em que foi batizada.

Atualmente, aquela criança é uma adolescente. O ministério inclusivo de Jesus a alcançou pelas mãos dos professores da Escola Sabatina, dos líderes do Clube de Desbravadores e dos demais líderes daquela pequena igreja do Rio de Janeiro.

Não temos muitas informações sobre as características físicas de Jesus. Rodrigo Silva (2021, p. 100) afirma que:

Talvez o motivo pelo qual Deus não foi tão claro em revelar detalhes da fisionomia de Jesus é para que Ele seja hoje aquilo que deve ser: um Jesus de todos, com característica de negros, brancos, pardos, amarelos. Um Jesus que realmente Se identifica com o ser humano como ele é. Essaé a única forma de entendermos o rosto de Deus.

Em 1 Samuel 3:1, encontramos o relato do dia em que Deus escolheu falar com uma criança. Por muitas vezes Deus já havia Se revelado; porém, na época da infância de Samuel, isso era muito raro. Então, Deus escolheu aquele menino. Quando os homens não estavam ouvindo mais Deus, uma criança estava disponível.

O “Jesus de todos” sabe o que é ser criança, sabe o que é ser uma pessoa excluída socialmente. Ele conhece todos os desafios enfrentados dia após dia. Se for preciso, Ele falará diretamente com as crianças novamente, assim como aconteceu com Samuel. Se não O ouvirmos, Seu ministério inclusivo continuará encontrando formas de alcançar a todos. Entretanto, Ele deseja que sigamos Seu modelo para que estabeleçamos esse ministério em cada lar e em cada igreja.

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Capítulo3

DesenhoUniversalpara

Aprendizagem:UmaAbordagem

SimplesnaBuscapelo

DesenvolvimentodeTodos

JulianaSantos

Introdução

A temática da inclusão é muito importante e talvez você esteja ansioso para receber dicas e sugestões práticas sobre como agir na sala para atender às crianças com deficiência. Por ser um tema tão abrangente, é necessário ir passo a passo. Dicas práticas sem um fundamento teórico que as sustente podem não produzir o resultado esperado. Por isso, entender a postura bíblica sobre a deficiência e inclusão e conceitos como o do Desenho Universal para Aprendizagem fará com que o trabalho com as crianças da igreja seja mais rico e proveitoso.

Atender à diversidade humana em suas necessidades específicas é um grande desafio. A população mundial atingiu a marca de 8 bilhões de pessoas. Fisicamente, cada ser humano é único, não apenas por suas digitais, mas também por fatores epigenéticos, pela sequência de DNA, arcada dentária, íris e retina. Quando se fala nos aspectos psíquicos, cognitivos e comportamentais, outro universo de peculiaridades é revelado, e as possibilidades são incontáveis.

O salmista Davi expressa sua convicção de ser único ao relatar de forma poética como Deus o criou:

Tu formaste o meu interior e me teceste no ventre de minha mãe. Eu Te agradeço por me teres feito de modo tão extraordinário; Tuas obras são maravilhosas, e disso eu sei muito bem. Tu me observavas quando eu estava sendo formado em segredo, enquanto eu era tecido na escuridão. Tu me viste quando eu ainda estava no ventre; cada dia de minha vida estava registrado em Teu livro, cada momentofoi estabelecido quando ainda nenhum deles existia. Como são preciosos os

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Teus pensamentos a meu respeito, ó Deus; é impossível enumerá-los! Não sou capaz de contá-los; são mais numerosos que os grãos de areia. E, quando acordo, Tu ainda estás comigo (Sl 139:13-18).

No contexto educacional, diante da riqueza de detalhes ímpares que faz de cada indivíduo um mundo de particularidades incríveis, é limitante e frustrante imaginar que um único caminho conduza todos ao sucesso na aprendizagem.

Por outro lado, a falta de conhecimento e o despreparo para atender às necessidades específicas individuais dos estudantes pode ser motivo para se abraçar o modelo tradicional, que opera no automático e de modo inflexível ao considerar o conteúdo mais importante que o próprio aprendiz.

No entanto, ao planejar as ações para um único tipo de aluno, sem considerar as diferenças físicas, sociais, culturais, de interesses, de habilidades, entre outras, muitos ficarão excluídos em algum momento do processo.

Nesse sentido, o Desenho Universal para Aprendizagem (DUA) busca atender a essa diversidade por meio de uma proposta simples baseada em três pilares fundamentais no processo de aprender. O DUA considera a heterogeneidade do grupo de estudantes, potencializando o aprendizado de cada um. Vamos aprender mais sobre ele?

OqueéoDesenhoUniversalparaAprendizagem(DUA)?

As salas de aula, tanto da escola regular quanto no contexto da Escola Sabatina na Igreja Adventista do Sétimo Dia, estão cada vez mais diversificadas com diferenças linguísticas, econômicas e cognitivas, entre outras. No passado, os conteúdos curriculares utilizados na escola regular eram projetados com base em um padrão ideal e preestabelecido de estudante, que a neurociência e a experiência docente comprovam não existir. Cada aluno é único em seu estilo e caminho para o aprendizado, assim como a impressão digital. Cada indivíduo chega à sala de aula trazendo seus próprios interesses, conhecimentos, habilidades e desafios.

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Dessa maneira, o currículo precisa ser projetado desde o início para encontrar essa diversidade, uma vez que, quando se utiliza um planejamento voltado para um único perfil de estudante, muitos alunos ficam para trás. O DUA é uma abordagem curricular que diminui ou elimina barreiras e potencializa a aprendizagem de todos os estudantes. Com o DUA, as atividades são projetadas para serem acessíveis e compreensíveis portodos (ROSE, 2015).

O Desenho Universal para Aprendizagem abrange mais que uma metodologia, pois é uma estrutura baseada em neurociência cognitiva, e foi estabelecido para projetar experiências de aprendizagem que funcionem incluindo um amplo grupo de aprendizes. O objetivo é assegurar que todos os alunos obtenham sucesso no desenvolvimento da aprendizagem por meio de uma proposta totalmente flexível, permitindo que as coisas sejam demonstradas de diferentes maneiras (CAST, 2016).

O conceito de Desenho Universal foi concebido no ano de 1985, nos Estados Unidos, pelo arquiteto Ron Mace. A ideia trouxe uma grande mudança para a arquitetura e o desenho, tanto de edifícios quanto de produtos. Segundo Mace,o Desenho Universal, quando aplicado a um projeto, proporciona a elaboração de ambientes e produtos que possam ser usados pelo maior número possível de pessoas na máxima extensão de suas singularidades (SÃO PAULO, 2010).

Nesse sentido, no contexto da mobilidade urbana, quando se trabalha o rebaixamento das calçadas e a construção de rampas de acesso, por exemplo, pessoas que utilizam cadeiras de rodas serão beneficiadas tanto quanto pessoas com carrinhos de bebês ou pessoas que andam em bicicleta ou patins.

Quando se projeta algo pensando em algumas pessoas e suas necessidades específicas, muitos outros indivíduos se beneficiam. No âmbito educacional, o DUA toma emprestada essa ideia e a aplica no planejamento de um currículo flexível, selecionando objetivos de aprendizagem, métodos, materiais e formas de avaliação.

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Essa iniciativa começou com o Centro de Tecnologia Especial Aplicada – CAST, queatua nos Estados Unidos desde 1984 e conta com o trabalho de cientistas de aprendizagem, designers instrucionais, especialistas em alfabetização, analistas de política, designers gráficos, designers de experiência do usuário e engenheiros de software, além da equipe administrativa.

A ideia inicial do CAST era melhorar a experiência de alunos com dificuldades de aprendizagem com o uso da tecnologia do computador. Em 1986, o CAST e a Universidade de Harvard realizaram uma jornada de uma semana para capacitar educadores no uso de computadores a fim de atender às necessidades de alunos com deficiência. Posteriormente, o evento passou a acontecer anualmente já com foco no Desenho Universal para Aprendizagem.

David Rose, cientista chefe do CAST para a área de cognição e aprendizagem, comenta que, no início do trabalho, estavam focados em estudantes com baixo desempenho que apresentassem algum tipo de deficiência. Com o tempo, mudaram o foco porque perceberam que, quando estavam em uma sala de aula, o próprio ambiente era deficiente por não estar projetado adequadamente para garantir que todas as crianças aprendessem. O próprio currículo escolar também apresentava deficiências. Compreendeu-se, então, que o trabalho do DUA era eliminar as deficiências do ambiente e do currículo para que mais alunos obtivessem sucesso (ROSE, 2015).

ComotrabalharoDUA

Trabalhar o DUA não significa projetar uma atividade diferente para cada estudante. O foco deve estar no planejamento das ações educacionais para o grupo de pessoas com toda sua diversidade, e não apenas para o estudante com algum tipo de deficiência ou necessidade específica. Assim, o foco não está na adaptação ou redução curricular, mas em garantir o acesso a todos. A proposta do DUA é atender a heterogeneidade do conjunto de alunos, tendo o professor

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um papel de mediador no processo de aprendizagem. Para uma correta aplicação do DUA é necessária uma reflexão prévia sobre os processos de ensino-aprendizagem e uma ruptura com antigos paradigmas (LEME, 2021).

Analisando o termo Desenho Universal para Aprendizagem, vemos que a palavra “Universal” indica um conteúdo curricular que pode ser utilizado e entendido por todos, levando em consideração que cada pessoa traz consigo uma bagagem de vivências passadas, habilidades, necessidades e interesses. Assim, os conteúdos curriculares deveriam oferecer oportunidades de aprendizagem relevantes para todos.

Sobre a palavra “Aprendizagem”, deve-se entender que não se refere a uma única coisa. Segundo a neurociência, nosso cérebro conta com três grandes redes:

1. Reconhecimento – o que do aprendizado.

2. Habilidades e estratégias – o como do aprendizado.

3. Cuidado e prioridades – o porquê do aprendizado.

Assim, os estudantes necessitam do conhecimento, da aplicação e do desenvolvimento das habilidades e de entusiasmo para aprender. A proposta curricular precisa contribuir para que isso aconteça, contemplando essas três grandes áreas apontadas pela neurociência.

Visto que cada criança é única, apenas um formato de ensino não poderá atender a todas elas. Sendo assim, como é possível criar um planejamento curricular que envolva diversos alunos? Nesse sentido, entra a palavra “Desenho”. Quando se tem algo desenhado ou projetado para atender a qualquer tipo de aluno, seja ele uma pessoa com ou sem deficiência, aquilo certamentefuncionará melhor para todos.

O professor deve iniciar seu planejamento refletindo sobre qual objetivo deseja que as crianças alcancem com determinado conteúdo. O que se deseja que os alunos conheçam ou façam? Uma vez elaborado o objetivo específico para determinado tema, a pergunta seguinte deve ser: quais obstáculos poderiam impedir ou dificultar que a criança alcance esse objetivo? De forma prática, ao pensar em um

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conteúdo, o professor deve remover as barreiras que possam ser limitantes para algumas crianças e, assim, tornar a aprendizagem mais acessível a todos.

Acessibilidadeeaeliminaçãodasbarreiras

Talvez, antes mesmo do conteúdo em si, a primeira coisa a se pensar é se o espaço físico do ambiente como um todo proporciona as condições básicas de acessibilidade para que a criança consiga chegar, com autonomia, segurança e conforto, até a sala onde acontece a Escola Sabatina, além de poder utilizar os sanitários e bebedouros do local. As famílias e as próprias crianças, quando aptas a opinar, devem ser consultadas sobre o assunto.

Nesse sentido, semelhante ao que acontece na escola regular, para que o processo de aprendizagem seja acessível por meio do DUA dentro da sala da Escola Sabatina, a igreja como um todo deve aplicar o conceito do Desenho Universal como uma modalidade transversal em toda sua edificação estrutural e nas ações, sejam elas pedagógicas, religiosas ou sociais. Ou seja, a criança, público-alvo das salas da Escola Sabatina, deve ter o acesso e a inclusão garantidos em todos os espaços e momentos vivenciados na igreja, e não apenas no contexto da Escola Sabatina.

De acordo com Sassaki (2009), existem seis grandes dimensões correlacionadas ao conceito de acessibilidade:

1. Física ou arquitetônica – visa à eliminação de barreiras físicas do ambiente nos espaços urbanos, edifícios e transportes públicos, bem como em todos os espaços de uso comum.

2. Comunicacional – tem por objetivo romper com as barreiras da comunicação em suas diversas formas, incluindo o fomento e uso das libras (utilizada por algumas pessoas surdas) e o sistema braile de leitura e escrita (utilizado por algumas pessoas cegas ou de baixa visão).

3. Metodológica – visa à eliminação das barreiras que impedem a aquisição do conhecimento e da informação, inclusive com a utilização

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do Desenho Universal de Aprendizagem que busca a flexibilização dos métodos de ensino e das técnicas de estudo.

4. Instrumental – incentiva o uso de diferentes ferramentas para facilitar a aprendizagem, como as pranchas de comunicação (utilizadas por pessoas que se comunicam de maneira não verbal, como é o caso de algumas pessoas com autismo) e o soroban (objeto utilizado, na aprendizagem da matemática, por crianças com deficiência visual).

5. Programática – tem por objetivo a eliminação de normas e regulamentos sem sentido e que ainda provocam barreiras à acessibilidade e inclusão das pessoas com deficiência.

6. Atitudinal – visa à redução ou eliminação de preconceitos (capacitismo, que é o nome dado às diferentes formas de manifestação do preconceito contra a pessoa com deficiência), estigmas e estereótipos socialmente atribuídos às pessoas com deficiência.

No contexto metodológico educacional, a fim de ajudar na eliminação das barreiras previamente identificadas, utilizam-se os três princípios do DUA:

• Apresentação – múltiplas formas de apresentar o conteúdo (o que aprender?). Ofereça múltiplos meios de representação para determinado conteúdo. Apresente o conteúdo e as informações de diferentes formas e forneça um suporte variado. Utilize gráficos e animações, destaque as principais características, acesse o conhecimento prévio das crianças e reforce o vocabulário para que elas conquistem o conhecimento ensinado. Exemplo: ao contar uma história, permita que as crianças manuseiem objetos que façam parte do contexto proposto; destaque o vocabulário nomeando os personagens principais e os objetos mais importantes para a compreensão da história; monte um painel com figuras que representem os personagens ou objetos da história; coloque o áudio da narração da história enquanto vocês montam juntos um quadro com objetos ou figuras contidas na narrativa; mostre um vídeo sobre a história. Descreva cada passo da atividade e o resultado de cada etapa. Escolha representar a história explorando ao máximo todos os cinco sentidos.

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• Ação e expressão – múltiplas formas de agir e expressar (como aprender?). Ofereça meios variados para ação e expressão. Permita aos estudantes expressarem seus conhecimentos e entregue modelos, devolutivas e suporte para seus diferentes níveis de compreensão. Exemplo: possibilitar que as crianças expressem o que aprenderam, por meio de desenhos, música, texto, histórias de vivências próprias relacionadas ao tema; e encorajar os alunos a trabalhar em grupo ou de forma individual. É muito útil ter pranchas de comunicação à disposição na sala e pedir às crianças que respondam a perguntas ou se expressem apontando ou tocando na imagem correspondente. As pranchas podem tratar sobre variados temas, inclusive conter imagens que representem as histórias bíblicas que podem ser contadas de forma não verbal.

• Engajamento e envolvimento – múltiplas formas (por que aprender?). Ofereça variados meios de engajamento. O que estimula uma pessoa a aprender pode não motivar as outras. O professor deve entregar opções para fomentar o interesse e a autonomia dos estudantes. É necessário que eles arrisquem e aprendam com os erros; e, quando estão entusiasmados com a aprendizagem, serão perseverantes diante dos desafios. O professor, como mediador do processo, deve ter sempre em mente e deixar claro o objetivo traçado no início do percurso. As pessoas costumam se engajar em um projeto quando entendem os motivos, identificam-se com as razões apresentadas e se sentem parte do plano; em outras palavras, quando o que foi proposto faz sentido para elas.

É importante que o momento da Escola Sabatina siga uma rotina de atividades e que todos os estudantes conheçam a ordem dos acontecimentos. Isso pode estar fixado na parede, como uma espécie de agenda sensorial, a uma altura adequada para o alcance visual e tátil da criança. Ao mesmo tempo, os elementos desse quadro devem estar em um tamanho que facilite a leitura/observação, com um bom contraste entre as cores de fundo e de primeiro plano, e podem ser

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confeccionados em relevo (como materiais emborrachados, por exemplo), para permitir a identificação pelo toque.

O DUA é recomendado para atender alunos com algum tipo de deficiência ou dificuldade de aprendizagem. No entanto, está comprovado que, quando utilizado pelo grupo, sem distinção, aumenta o desempenho de todos.

O foco do DUA é alcançar os alunos que por algum motivo estiveram à margem no processo de ensino-aprendizagem. É para aqueles que não se enquadram no planejamento padrão, que nunca funcionou porque não existe o aluno padrão. Para todos aqueles estudantes que se esforçam e sempre finalizam o processo com resultados abaixo da média, estudantes estrangeiros que enfrentamo desafio de aprender uma segunda língua, crianças e adolescentes com deficiência, bem como os estudantes com altas habilidades/superdotação. É também para pessoas que têm sido marginalizadas pelo currículo padrão ilusório, muitas vezes entediante, sem sentido e que não oferece os desafios adequados.

Dateoriaàprática

Assim como foi mencionado anteriormente, o trabalho com DUA não está restrito a adaptar um edifício para que seja acessível e inclusivo. O objetivo é mudar a mentalidade para que, desde a planificação do edifício, ele seja acessível. É buscar maneiras de facilitar a aprendizagem da Bíblia para todos, entendendo que as mudanças feitas em favor de crianças deficientes podem também beneficiar muito o desenvolvimento e a aprendizagem de todas as outras crianças. Isso não é apenas uma responsabilidade do Ministério da Criança e do Ministério do Adolescente, mas da igreja toda!

Por isso, é necessário estabelecer critérios claros sobre como tornar a igrejamais inclusiva:

1. Um primeiro passo é criar o Departamento do Ministério das Possibilidades. Há alguns anos, na Divisão Sul-Americana, esse ministério tem trabalhado a favor da inclusão por meio da sensibilização e

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treinamento dos membros da igreja. No site adventistas.org é possível encontrar materiais exclusivos para esse ministério.

2. Fazer uma avaliação sobre as necessidades gerais e particulares da igreja por meio de um questionário ou intercâmbio de ideias na comissão da igreja, que revele os aspectos a serem considerados por uma igreja inclusiva, tanto na questão do edifício como nas atitudes, no ensino, entre outros.

3. Uma vez analisados os dados revelados no questionário, planificar formas de trocar/mudar/fazer aquilo que é necessário, para ter uma igreja que reflita o modelo do DUA.

Lembre-se: buscar a assessoria de um especialista na área é fundamental para a planificação de mudanças necessárias.

Veja, a seguir, algumas ações indicadas por Pletsch (2021) e que devem ser consideradas para benefício de todas as crianças:

• Saiba mais sobre as crianças e como você pode fornecer as ferramentas para melhor atender às necessidades delas;

• Faça as salas infantis, de preferência, no andar térreo;

• Verifique a necessidade de rampas ou elevadores de acesso;

• Providencie portas largas para a passagem da cadeira de rodas;

• Escolha um piso não escorregadio para a sala de aula;

• Use tapetes, passadeiras de borracha ou superfície não escorregadia, caso seja necessário;

• Instale um bebedouro com baixa altura;

• Use presilhas para fixação do material impresso no apoio (mesa, prancheta, etc.);

• Ofereça engrossador de lápis, canetas e outros objetos, sempre que necessário;

• Use, de preferência, objetivos flexíveis. Eles ajudam as crianças a terem maior facilidade no manuseio e a conseguir entender o que se espera delas. Use palavras simples, desenhos e simulações do que devem fazer.

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• Abaixe-se para conversar com a criança, principalmente se ela não conseguir ficar em pé. É muito desconfortável para qualquer pessoa olhar para cima enquanto conversa com alguém;

• Remova os obstáculos físicos que impedem a criança de se locomover livremente no ambiente; quando não for possível a remoção imediata, ajude a criança a ultrapassá-los;

• Utilize a tecnologia em seu favor. Dependendo da necessidade, explore e utilize aplicativos que servem para facilitar o ensino;

• Use letras “limpas” (com fontes que ajudam a entender claramente o que está escrito) e de um tamanho que permita a leitura com facilidade;

• Ofereça atividades diversificadas, considerando a crescente heterogeneidade dos alunos;

• Ofereça opções para que as crianças recebam estímulos por meio dos diferentes sentidos (visão, audição, paladar, olfato e tato) com o mesmo conteúdo.

Importante: se, no momento de preparar as diferentes atividades da Escola Sabatina, você seguir as orientações do Manual da Escola Sabatina, já dará um primeiro passo na direção do DUA, sabe por quê? Porque o currículo da Escola Sabatina traz a ênfase de que cada aluno aprende de forma diferente e que é necessário variar as atividades em função dos estilos de aprendizagem. A partir disso, você pode ir além, seguindo as orientações oferecidas aqui.

Considerações

As realidades são diferentes quanto à estrutura da Escola Sabatina das crianças e dos adolescentes na igreja. Existem algumas igrejas de grande porte, com muitos membros e uma sólida estrutura para o desenvolvimento dos ministérios. Também há igrejas pequenas, com um número reduzido de membros e, portanto, escassos recursos humanos e materiais.

A intenção de tornar conhecido o Desenho Universal para Aprendizagem não é colocar uma carga a mais nos ombros dos professores da

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Escola Sabatina, mas mostrar que é possível atender a todas as crianças em suas necessidades específicas a partir de um modelo baseado na própria configuração cerebral de aprendizagem dos seres humanos. O material de apoio para se utilizar nas abordagens pode ser confeccionado pelos próprios professores sem que isso represente grandes aportes financeiros.

Além disso, a igreja deve estar envolvida com a implantação do conceito de Desenho Universal em todos os departamentos, na sua estrutura física, nos eventos e na atitude de seus membros, servindo de apoio ao professor da Escola Sabatina dos menores. O Ministério das Possibilidades existe para auxiliar a igreja local no entendimento dos assuntos relacionados à acessibilidade e inclusão da pessoa com deficiência em suas atividades.

Este capítulo buscou ressaltar que a criança sempre deve ser notada em sua totalidade, e nunca a partir de uma única característica. Não é possível esgotar o tema aqui; são necessários estudos e pesquisas a fim de mensurar resultados e aperfeiçoar o conhecimento sobre os assuntos abordados, sobretudo no contexto da igreja.

Uma igreja inclusiva requer a participação e o envolvimento de todos os membros e líderes; portanto, proporcionar, promover e supervisionar a acessibilidade nas instituições adventistas é dever de cada membro e faz parte da missão de levar as boas-novas da salvação a todas as pessoas. Por sua vez, o DUA possibilita o crescimento de todos os envolvidos no processo: professores, alunos e suas famílias. Sua proposta visa melhorar a qualidade do ensino-aprendizagem para todas as crianças, com e sem deficiência.

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PARTEII

Capítulo4

TranstornoseDifculdadesde

Aprendizagem:Recursospara

SuperarDesafos

AlinedosSantosFrançaVenancioGonçalves EdnaRosaCorreiaNeves

MagdaJaciaradeAndradeAraújo SuzeteAraújoÁguasMaia

Introdução

Este capítulo se concentra no estudo dos conceitos, dificuldades, problemas e transtornos de aprendizagem, abordando o campo da neurociência cognitiva como fonte importante de conhecimento e a inclusão de crianças e adolescentes nessas condições na Escola Sabatina. A neurociência cognitiva investiga os campos da memória, do pensamento, do aprendizado, do uso da linguagem e outros relacionados (KANDEL, 2014). As experiências que vivenciamos provêm de informações que chegam até o sistema nervoso central por meio de experiências sensoriais. A aprendizagem humananão decorre de um simples armazenamento de dados perceptuais, e sim do processamento e elaboração das informações provenientes das percepções no cérebro. Como descreve Mora:

A aprendizagem, portanto, é o processo em virtude do qual se associam coisas ou eventos no mundo, graças a ela adquirimos novos conhecimentos. Denominamos memória o processo pelo qual conservamos esses conhecimentos ao longo do tempo. Os processos de aprendizagem e memória modificam o cérebro e a conduta do ser humano que os experimenta (MORA, 2004, p. 94).

A memória é responsável pelo armazenamento e resgate das informações e requer competências para lidar de forma organizada com novas informações visando à realização de novas ações. Segundo

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Demo, “a aprendizagem, embora dependa de substratos físicos estruturados, se caracteriza pelo processo de contínua inovação, maleável por natureza, flexível e dinâmico” (2001, p. 50).

A aprendizagem abarca a interação entre o indivíduo e a tarefa. Portanto, os sujeitos constroem o conhecimento por meio de organização, estruturação e compreensão da informação, ou seja, o indivíduo percebe, seleciona, manipula, significa e armazena as informações disponibilizadas pelo ambiente (CASTEÑON, 2007). A aprendizagem, nessa perspectiva, é ativa, construtiva, significativa, mediada e autorregulada (FONSECA, 2007).

Pensamento e aprendizado dos indivíduos se desenvolvem interligados à observação e à investigação do meio em que estão inseridos e das questões relacionadas aos problemas de aprendizagem, que podem ser detectados desde os primeiros anos escolares. Algumas crianças podem apresentar dificuldade em captar, processar e dominar as informações e, posteriormente, desenvolver as tarefas. Na Escola Sabatina, essas questões também são perceptíveis, e os professores precisam estar atentos para adotar estratégias metodológicas que favoreçam as crianças e os adolescentes com transtornos e/ ou dificuldades de aprendizagem.

É fundamental que todos os envolvidos nas atividades do Ministério da Criança e Ministério do Adolescente (MC e MA) fiquem atentos a essas dificuldades, observando se são breves ou se persistem por algum tempo. Instaura-se aqui, portanto, a expectativa de que o estudo das dificuldades e transtornos de aprendizagem, abordando o campo da neurociência cognitiva, possibilite aos professores da Escola Sabatina uma compreensão mais adequada do processo de ensino-aprendizagem. Acredita-se, ainda, como cita Moraes e Torre (2004, p. 88), que “a pesquisa sobre o cérebro manifesta o que muitos educadores sabem intuitivamente: que os alunos aprendem de diversas maneiras e quanto mais maneiras se apresentarem, tanto melhor apreendem a informação”.

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É importante destacar que o currículo da Escola Sabatina leva em consideração os diferentes estilos e estratégias de aprendizes. “A forma como aprendemos afeta todo o nosso modo de viver, nosso autoconceito, nossos empreendimentos e nossa contribuição à sociedade e ao nosso Salvador” (LEFEVER, 2012, p. 17).

Océrebroeoprocessodeaprendizagem

Para um entendimento mais complexo em relação às funções e ao processo de aprendizagem, será apresentado, a seguir, um breve estudo sobre o cérebro e suas principais relações com a aprendizagem.

As células nervosas são produzidas pela atividade dos neurônios no encéfalo, constituindo a parte central do sistema nervoso, que tem como principal função o processamento e a integração das informações. As células nervosas interagem entre si e as demais células formando redes neurais, possibilitando assim o aprendizado significativo. O encéfalo tem sua origem na fase embrionária e é formado a partir do tubo nervoso constituído por cérebro, tálamo, hipotálamo, mesencéfalo, ponte, cerebelo e bulbo raquidiano. Os neurônios são células nervosas que exercem o papel de conduzir os impulsos nervosos comunicando entre si ou com outras células através de uma linguagem eletroquímica. Funcionam como unidadesbásicas do sistema para processar as informações e os estímulos no corpo humano. Os neurônios têm três regiões responsáveis por funções especializadas: corpo celular, dendritos e axônio (MACHADO, 2013).

As conexões entre as células nervosas formam as diversas redes neurais e vão se tornando mais bem estabelecidas e complexas à medida que o aprendizado interage com o ambiente interno e externo. A sinapse é um tipo de junção especializada em que um terminal axonal faz contato com outro neurônio ou tipo celular. As sinapses podem ser elétricas ou químicas (maioria).

Todas essas células formam o tecido nervoso que se constitui na base de construção do encéfalo. O encéfalo humano é um órgão único

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e nobre que é formado pelo cerebelo e o tronco encefálico. O encéfalo é todo o conjunto de estruturas localizadas no interior do crânio. O cérebro é responsável por emoções, raciocínio, aprendizagem; é a sede das sensações e movimentos voluntários e tem áreas responsáveis por funções específicas e globais. Possui cinco divisões anatômicas denominadas de lobos cerebrais: frontal, parietal, occipital, temporal e insular. Além dessa divisão anatômica, podemos notar que a superfície do cérebro do ser humano apresenta depressões chamadas de sulcos, que delimitam os giros cerebrais. A existência dos sulcos permite um grande aumento de superfície sem grande ampliação do volume cerebral (MACHADO, 2013).

A neurociência contribui com o processo de ensino-aprendizagem, partindo do conhecimento sobre funcionamento do encéfalo. Esse conhecimento descreve a estrutura e o funcionamento do sistema nervoso; a educação, por sua vez, possibilita o desenvolvimento de competências. Os métodos usados por professores durante o processo de ensino-aprendizagem são estímulos que produzem a reorganização do sistema nervoso em desenvolvimento, tendo como resultados mudanças comportamentais. Essa capacidade de se organizar e de se adaptar por meio do sistema nervoso é conhecida como neuroplasticidade ou plasticidade neural. A neuroplasticidade possibilita que os neurônios se regenerem e que sejam criadas conexões sinápticas: meios de comunicação entre os neurônios (GUERRA, 2011).

O processo de aprendizagem não depende, portanto, apenas dos neurônios em sua rede neural e de células da glia e do cérebro com seus lobos, mas também de aspectos relacionados a uma boa saúde. Assim, é importante que os professores da Escola Sabatina incentivem as famílias a adotar um estilo de vida saudável, em harmonia com os princípios bíblicos de saúde.

De acordo com estudos em neurociência, como o de Guerra (2011), o aprendizado acontece em quatro etapas: (1) a experiência concreta, (2) o desenvolvimento das conexões da observação reflexiva, (3) hipóteses

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abstratas e (4) a mediação ativa dessas conjeturas até uma nova experiência concreta. Significa dizer que primeiro temos uma informação e damos algum sentido a ela, em seguida, criamos novas ideias a partir desse significado e, dessa maneira, as colocamos em prática. Durante o processo, diversas áreas diferentes do córtex cerebral são utilizadas, cada uma apresentando uma intenção única ao desenvolvimento. Assim, ao incidirmos pelos quatro estágios, aumentamos ou originamos uma nova conexão cerebral, e essa é a maneira natural de aprender.

De modo geral, o processo de desenvolvimento e aprendizagem se inicia desde o pré-natal, período fundamental para o desenvolvimento do Sistema Nervoso (SN), em cuja fase se forma a estrutura cerebral. Fatores ambientais ou genéticos também podem causar alteração na estrutura básica do SN. Crianças que têm alterações nesse período de seu desenvolvimento provavelmente podem apresentar deficiências cognitivas, sendo essencial desenvolver estratégias para possibilitar uma melhor aprendizagem.

A primeira infância, que compreende o período de 0 a 3 anos (PAPALIA, 2022), exerce um papel fundamental no desenvolvimento humano. Nessa fase, o SN está passando porum intenso processo de desenvolvimento, no qual as redes neurais são mais sensíveis às mudanças. Novos comportamentos são progressivamente adquiridos, preparando o cérebro para outras aprendizagens novas e mais complexas. O período da infância compreende umafase de grande importância, pois estímulos adequados possibilitam a formação de novas sinapses. Dessa maneira, pode-se também afirmar que pouca ou nenhuma estimulação tende a causar perda de sinapses. A falta de estímulos positivos pode resultar em diferentes dificuldades, uma vez que o cérebro ainda não teve a oportunidade de utilizar todo o potencial de reorganização de suas redes neurais (HALPERN; O’CONNELL, 2000; SCALDAFERRI; GUERRA, 2002).

No período da primeira infância, as crianças estão na classe da Escola Sabatina do Rol do Berço. Todas as atividades propostas nesse período

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colaboram para a formação de sinapses. Deixar de frequentar a classe nesse período significa perder um tempo precioso em que estímulos no desenvolvimento da inteligência espiritual poderiam ser realizados.

O valor intelectual do estudo da Bíblia consiste não somente na pesquisa e na descoberta da verdade, mas também resulta do esforço exigido para assimilar os temas apresentados. A mente ocupada apenas com coisas comuns se torna limitada e enfraquecida. Se não forçada a compreender grandiosas e profundas verdades, depois de algum tempo a mente perde a capacidade de crescer. Como salvaguarda contra essa degeneração e como estímulo ao desenvolvimento, nada se iguala ao estudo da Palavra de Deus (WHITE, 2021a, p. 86 [124]).

Difculdadesetranstornosdeaprendizagem

As expressões “dificuldade” ou “problemas de aprendizagem” se referem a obstáculos relacionados não só à criança ou ao adolescente, mas também a aspectos multifatoriais. Além disso, estudos realizados apontam para uma série de controvérsias entre as teorias, termos e conceitos desenvolvidos e relacionados ao processo de aprendizagem. Para os profissionais que atuam na avaliação, prevenção e reabilitação do processo de aprendizagem, a maior dificuldade está em adequar a melhor definição do que se considera transtorno, dificuldade e/ou problema de aprendizagem. Termos como “dificuldades”, “problemas de aprendizagem” e “transtornos de aprendizagem” muitas vezes são utilizados como sinônimos, podendo confundir seus reais significados.

De modo geral, as dificuldades ou problemas de aprendizagem se relacionam a problemas de ordem psicológica, pedagógica, psicopedagógica ou sociocultural, enquanto transtorno é uma desordem mental, comportamental ou emocional. Como descreve Ohlweiler (2016, p. 107), “a presença de uma dificuldade de aprendizagem não implica necessariamente um transtorno”, pois o transtorno pode ser identificado por um conjunto de sinais sintomatológicos que provocam uma

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série de perturbações no processo de aprendizagem e interferem no processo de aquisição e manutenção de informações de uma forma acentuada. As dificuldadesde aprendizagem, por sua vez, podem ser causadas por problemas tanto da escola quanto da família em relação às condições adequadas oferecidas para o sucesso dacriança ou do adolescente. Além disso, as dificuldades afetivas podem interferir no ato de aprender, independentemente da vontade.

A dificuldade de aprendizagem pode ser sanada com intervenções realizadas, como mudança de estratégias de método de ensino ou no contexto educacional. Portanto, a superação das dificuldades de aprendizagem requer o desenvolvimento da subjetividade e até mesmo da socialização, extrapolando a mera ação cognitiva do estudante. Acredita-se que intervenções positivas na Escola Sabatina colaborem com a socialização e com direção à superação de algumas dificuldades ou problemas de aprendizagem.

Os professores da Escola Sabatina precisam estar atentos às crianças que passam por suas classes no período de alfabetização. É preciso respeitar e colaborar com o processo de aquisição de leitura e escrita, realizando intervenções positivas e compreendendo as situações em que se apresentam as dificuldades ou problemas de aprendizagem.

Por outro lado, o termo “transtornos relacionados à aprendizagem” é amplamente utilizado no DSM5, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, para descrever uma categoria diagnóstica que abrange condições que afetam a capacidade de aprendizagem e o desempenho acadêmico. Esse manual foi elaborado com objetivo de padronizar os critérios diagnósticos das desordens que afetam a mente e as emoções.

Segundo o DSM5, os transtornos do neurodesenvolvimento se referem a um conjunto de condições que surgem durante a fase de desenvolvimento e se caracterizam pela presença de déficits que podem afetar negativamente o desempenho pessoal, social, acadêmico ou profissional.

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Observam-se dois grupos específicos referentes à aprendizagem dentro do grupo dos transtornos do neurodesenvolvimento: as deficiências intelectuais e o transtorno específico da aprendizagem (DSM5, 2015).

1. Deficiências intelectuais (transtorno do desenvolvimento intelectual):

• Atraso global do desenvolvimento;

• Deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) não especificada.

A deficiência intelectual é uma condição que se caracteriza por déficits em habilidades cognitivas amplas, como raciocínio, solução de problemas, planejamento, pensamento abstrato, tomada de decisões, aprendizagem acadêmica e aprendizagem baseada em experiência.

2. Transtornos específicos da aprendizagem:

• Com prejuízo na leitura (precisão na leitura de palavras, na velocidade ou fluência da leitura, na compreensão da leitura);

• Com prejuízo na expressão escrita (precisão na ortografia, na gramática e na pontuação, na clareza ou organização da expressão escrita);

• Com prejuízo na matemática (no senso numérico, na memorização de fatos aritméticos, na precisão ou fluência de cálculo, na precisão do raciocínio matemático).

O transtorno específico da aprendizagem é caracterizado por déficits específicos na capacidade da pessoa para perceber ou processar informações com precisão e eficiência. Esse transtorno costuma ser mais evidente durante a fase escolar, quando se espera que as crianças adquiram habilidades básicas de leitura, escrita e matemática.

A importância de se fazer uma avaliação psicoeducacional mais completa, mais abrangente, é imprescindível para que se possa identificar, com mais clareza, a dificuldade apresentada pelo sujeito. Por esse motivo, o compartilhamento com profissionais de diferentes áreas do conhecimento é muito importante, uma vez que a avaliação feita

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por uma equipe multidisciplinar poderá ser mais completa. Uma avaliação criteriosa é essencial para se evitar erros e, até mesmo, traumas na criança ou no adolescente e em seu processo de aprendizagem (FONSECA, 1995). É fundamental, portanto, que a família busque o tratamento mais específico e objetivo possível. Assim, é necessária a realização de uma avaliação global do indivíduo, considerando as diversas possibilidades de alterações que podem resultar em dificuldades, problemas ou transtornos de aprendizagem.

Ostranstornosdoneurodesenvolvimento

As causas dos transtornos do neurodesenvolvimento são distintas e muito complexas.Osindivíduos podem apresentar diferentes déficits, com abrangência para a função sensorial, motora, aprendizado, memória, função executiva, emoção, ansiedade e habilidade social. Apesar de várias funções serem mediadas por diferentes regiões cerebrais, o hipocampo tem uma grande influência, agindo na rede neural de comportamentos (LI, Y. et al., 2018).

De maneira geral, os transtornos se iniciam antes de a criança frequentar a escola, consistindo em déficits no desenvolvimento, que causam danos tanto no funcionamento pessoal comotambém no âmbito social, acadêmico ou profissional. Podem ser uma limitação na área da aprendizagem ou no controle das funções executivas, como também prejuízos globais em habilidades sociais ou relacionados à inteligência. Existe ainda a possibilidade de o indivíduo apresentar mais de um tipo de transtorno do neurodesenvolvimento. Os déficits causam danos no funcionamento adaptativo, em que o indivíduo não consegue alcançar modelos ou padrões de autonomia e responsabilidade social, em um ou mais aspectos do seu cotidiano.

O transtorno do desenvolvimento intelectual pode ser o resultado de uma lesão adquirida na fase de desenvolvimento, sendo caracterizado por limitações nas habilidades mentaisgerais, como soluções de problemas e raciocínio.

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Nos transtornos de comunicação, estão inseridos os transtornos de linguagem (de fala, da comunicação social e pragmática) e o transtorno da fluência (ocorre no início da infância e é marcado por dificuldades da fluência normal e da produção motora da fala). Os transtornos do neurodesenvolvimento estão relacionados a vários déficits que dificultam o processo de aprendizagem. Ocorrem desde a infância e prejudicam o desenvolvimento de maneira geral até a idade adulta.

Somente mediante uma interação complexa de múltiplos fatores é possível compreender os transtornos de aprendizagem. Para isso, são necessárias intervenções na Escola Sabatina junto às crianças e aos adolescentes com práticas pedagógicas e de formação dos professores da Escola Sabatina. De modo geral, os problemas existentes no processo de aprendizagem só podem ser compreendidos a partir de uma multiplicidade de fatores.

A seguir, serão apresentadas informações pontuais sobre transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), dislexia, disgrafia, disortografia e discalculia.

O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento específico, e não um transtorno de aprendizagem. Embora o TDAH possa afetar a aprendizagem, ele não é a causa direta dos transtornos de aprendizagem. Em outras palavras, o TDAH pode interferir na capacidade da pessoa em prestar atenção, concentrar-se e controlar impulsos, o que pode afetar o desempenho acadêmico. É descrito pelo DSM5 como um transtorno do neurodesenvolvimento com um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade, que interfere no funcionamento ou no desenvolvimento (DSM5, 2015).

De modo geral, observa-se que as disfunções no lobo frontal poderiam elucidar a dificuldade de atenção seletiva, verificando, assim, a diminuição do fluxo sanguíneo nessas crianças. O TDAH sem hiperatividade apresenta uma diminuição no processo cognitivo, podendo apresentar também retraimento social, embora as crianças nessa condição sejam mais autoconscientes. O TDAH com hiperatividade pode resultar

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em mais problemas de conduta, tornando as crianças autodestrutivas e com tendência a ter um diagnóstico de transtorno de conduta associado ao TDAH (CIASCA, 2004). Pessoas com TDAH frequentemente apresentam dificuldades para manter a atenção em atividades acadêmicas e/ou lúdicas e consideram difícil prosseguir nas mesmas tarefas até seu término. Normalmente, o estudante passa a impressão de estar com a mente em outro local, ou de não escutar o que está sendo dito.

A dislexia é descrita pelo DSM5 como um transtorno do neurodesenvolvimento que acarreta um transtorno específico de aprendizagem. De acordo com a Associação Internacionalde Dislexia, a dislexia é uma perturbação ou transtorno ao nível de leitura, escrita e soletração. Diz respeito a desordens em um ou mais processos de linguagem falada, leitura, ortografia, caligrafia ou aritmética. São vários os problemas causados pela dislexia na fase escolar, desde o atraso na aquisição das primeiras palavras até dificuldades de retenção na memória de palavras impressas, entre outras dificuldades. O diagnóstico da dislexia é feito por uma equipe multidisciplinar, já que se trata de um sistema complexo de informações e raramente é encontrada isolada. Os procedimentos com a criança dislexa requerem iniciativas multidisciplinares que poderão envolver geneticistas, fonoaudiólogos, pediatras, psicólogos, neurologistas, neuropsicólogos e outros colaboradores da área de pesquisa e ciência. São utilizados vários instrumentos e levantamentos clínicos para o fechamento da avaliação.

A disgrafia é uma perturbação da linguagem escrita que abrange as competências mecânicas da escrita. É descrita pelo DSM5 como um transtorno do neurodesenvolvimento que ocasiona um transtorno específico de aprendizagem, com prejuízo na expressão escrita: na ortografia, na gramática e na pontuação. Adisgrafia abrange as competências mecânicas da escrita. De forma geral, os problemas da escrita dos alunos com disgrafia podem ser agrupados em dois tipos: problemas com a formação das letras (deformação das letras, espaçamento irregular, inversões e rotações das letras); problemas com

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a fluência (escrita muito lenta). Assim, a disgrafia surge por meio de uma disfunção no sistema nervoso central ou por uma lesão adquirida ao longo da vida. A disfunção resulta no desenvolvimento anormal da habilidade de escrever (AJURIAGUERRA et al., 1999). A disortografia, por sua vez, é uma dificuldade em escrever corretamente as palavras. Descrita pelo DSM5 como uma perturbação da expressão escrita, tem origem neurobiológica. Essa disfunção altera a escrita e afeta a forma e/ou o significado da grafia. Apresenta uma série de fatores que dificultam o desenho das letras. Destacam-se também uma postura incorreta da ferramenta a ser utilizada, que inclui, por exemplo, a forma de segurar o lápis, a pressão insuficiente sobre o papel e um ritmo muito lento ou excessivamente rápido (BASTOS, 2006).

A discalculia define-se como uma desordem neurológica específica relacionada com a capacidade do indivíduo em compreender e manipular números. É descrita pelo DSM5 como um transtorno do neurodesenvolvimento que acarreta um transtorno específico de aprendizagem com prejuízo na matemática. É um problema causado por má formação neurológica que se manifesta como dificuldade no aprendizado dos números, dos conceitos matemáticos e sua incorporação na vida cotidiana (BASTOS, 2006).

Essas dificuldades não podem ser consideradas e caracterizadas isoladamente. Em termos pedagógicos, pode-se afirmar que todas as pessoas podem enfrentar dificuldades na aprendizagem. No entanto, a intensidade dessas dificuldades varia de acordo com a relação entre o indivíduo e o conteúdo a ser aprendido, assim como as condições do ambiente em que o aprendizado ocorre. A maneira como a pessoa lida com o que deve ser aprendido, a qualidade das instruções e os recursos e suporte disponíveis podem influenciar no grau de dificuldade enfrentado. Portanto, é importante considerar cada pessoa individualmente e as circunstâncias em que ocorre o processo de aprendizagem. Assim, é necessário que as dificuldades sejam analisadas em várias situações e contextos de aprendizagem. A Escola Sabatina pode ser

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uma extensão do lar, colaborando com a educação de crianças e adolescentes, mas é preciso ficar claro que essa responsabilidade é das famílias, conforme o pensamento de Ellen G. White:

Não é responsabilidade dos professores da Escola Sabatina indicar a nossos filhos o caminho que devem seguir. A Escola Sabatina é uma grande bênção. Ela pode ajudar vocês em seu trabalho, mas não pode tomar o lugar de vocês. Deus deu a todos os pais e mães a responsabilidade de levar os filhos a Jesus, ensinando-lhes como orar e crer na Palavra de Deus (WHITE, 2021b, p. 151 [189]).

Estratégiasmetodológicas

Considerando todo o exposto até aqui, é possível listar alguns indicativos no ambiente da Escola Sabatina de que a criança ou o adolescente pode apresentar dificuldades, problemas ou transtornos de aprendizagem. É importante ressaltar, no entanto, que o diagnóstico só pode ser feito por um profissional especializado. Como se trata de um tema sensível, é preciso habilidade e experiência profissional para lidar com esses indicativos em eventual abordagem com pais e responsáveis.

• Relutância em participar das classes;

• Sinais de desinteresse, desmotivação;

• Dificuldades de atenção;

• Dificuldades no processo de alfabetização;

• Dificuldades em expressar sua opinião;

• Dificuldade em reter informações novas;

• Desorganização na manipulação dos materiais oferecidos para a realização das atividades;

• Perda frequente dos materiais de uso pessoal para o estudo diário (Lição da Escola Sabatina, Bíblia e outros);

• Hesitação em participar das atividades propostas;

• Dificuldade em identificar ou reproduzir as histórias bíblicas;

78 VindeaMim

TranstornoseDifculdadesdeAprendizagem:Recursos...

• Problemas recorrentes de “comportamento inadequado”;

• Autoestima ou autoeficácia negativa.

No decorrer da apresentação da lição bíblica nas classes da Escola Sabatina, independentemente da existência de transtorno ou dificuldade de aprendizagem, todas as crianças e os adolescentes terão a oportunidade de interagir, vivenciando, aplicando e compartilhando o conteúdo exposto. A coordenação do MC e do MA na igreja local deve encorajar os professores a aprofundar os estudos sobre educação especial e reconhecer a necessidade de conhecer seu público e entender como ocorre a interação com os colegas e professores e como realiza as atividades propostas pelo Manual da Escola Sabatina.

Em alguns casos, após conhecer seu grupo de alunos, os professores da Escola Sabatina perceberão a necessidade de ter à disposição atividades diferenciadas para alunos leitores e não leitores, levar em consideração as características de cada um e jamais evidenciar o “erro” ou o “não saber”, no decorrer das atividades propostas. O professor deve cuidar para que crianças e adolescentes que apresentem transtornos ou dificuldades de aprendizagem não sejam estigmatizados nem sofram bullying por parte dos colegas.

Sem pretensão de esgotar o assunto, serão elencadas sugestões metodológicas para auxiliar a prática dos professores da Escola Sabatina. As dicas a seguir precisam ser adaptadas às necessidades e à realidade de cada igreja. Sua utilização não deve ser adotada de forma esporádica ou isolada, e sim fazer parte de um conjunto de estratégias planejadas de acordo com as características de cada criança ou adolescente.

• Evitar a localização da sala muito próxima a ambientes com muito barulho externo;

• Tomar cuidado com estímulos simultâneos que podem afetar o direcionamento da atenção para o que é mais importante (como a mensagem central da lição bíblica, por exemplo);

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VindeaMim

• Evitar o excesso de estímulos visuais (muitas informações afixadas nas paredes);

• Manter a rotina prevista no Manual da Escola Sabatina. Cada parte prevista é essencial para atender aos diferentes tipos de aprendizes e suas características;

• Evitar intervenções ou estímulos desnecessários ou repetitivos, eliminando o que for irrelevante e que possa desviar o foco do aluno do que é essencial;

• Renovar os materiais utilizados periodicamente, conforme as orientações do Manual da Escola Sabatina, pois o currículo foi elaborado para ofertar atividades preparatórias para a aprendizagem contendo estímulos atrativos;

• Oferecer instruções claras e diretas, repeti-las quando houver necessidade;

• Realizar reuniões (escola de pais) integrando Ministério da Criança, Ministério do Adolescente, Ministério da Família e Ministério Adventista das Possibilidades;

• Apropriar-se do currículo do MC e do MA, preparando a lição bíblica com antecedência, o que possibilitará realizar as adequações necessárias conforme as características dos alunos;

• Estabelecer regras, evitando permissividade ou rigidez excessiva no trato com os alunos;

• Criar um ambiente de confiança em que os estudantes se sintam à vontade para expressar sua opinião e relatar eventuais problemas que estejam enfrentando, como violência e abuso.

Problemas ou transtornos de aprendizagem podem influenciar toda a vida de um indivíduo, levando-o a distanciar-se dos espaços de aprendizagem (incluindo a igreja), envergonhado de suas dificuldades, isolando-se da sociedade e fugindo da socialização com seus pares.

Ao perceber as características específicas de crianças com transtornos e dificuldades de aprendizagem, o professor da Escola Sabatina poderá identificar o potencial do estudante e, por meio deestratégias

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TranstornoseDifculdadesdeAprendizagem:Recursos...

adequadas, auxiliar para que, quando possível, as dificuldades não se prolonguem em sua adolescência e vida adulta. Assim a Escola Sabatina contribuirá para que o estudante não seja impedido de aprender os conceitos bíblicos importantes para sua vida e salvação.

Considerações

A complexa função do processo de aprendizagem é caracterizada principalmente por atividades superiores, para as quais são exigidas diversas conexões. É necessário um grande envolvimento nas ações para que a aprendizagem se torne significativa. É importante saber que uma dificuldade ou até mesmo um transtorno não ocorre, normalmente, numa situação isolada. Para atender melhor esse público na Escola Sabatina, é preciso um entendimento mais amplo e um conhecimento mais aprofundado do assunto.

Esse público merece um olhar cuidadoso. É importante a realização de um trabalho continuado para que sejam acompanhados e seu potencial seja desenvolvido. Devem ser identificados apoios e adequações curriculares que serão oferecidos a esses estudantes. Não se trata apenas de apontar suas dificuldades e características; trata-se de definir maneiras de contribuir para seu desenvolvimento. Independentemente do diagnóstico da pessoa, a valorização do seu potencial pode ser determinante para sua vida. Os sistemas de apoio podem auxiliá-la na resolução de problemas. Se receber um atendimento adequado e o suporte necessário, terá maiores probabilidades de sucesso.

A compreensão do funcionamento do cérebro pode contribuir significativamente para o processo de ensino e aprendizagem. Estudos da neurociência têm evidenciado como os estímulos ambientais afetam as conexões cerebrais, influenciando o desenvolvimento e o funcionamento cerebral. Deus criou o ser humano com a capacidade de aprendizagem, diferentemente dos animais. Como vimos ao longo deste capítulo, os processos cerebrais que envolvem a aprendizagem são muito complexos e diferenciados. Assim, os professores da Escola

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VindeaMim

Sabatina, ao procurar compreender os comportamentos diferenciados de crianças e adolescentes com transtornos e dificuldades de aprendizagem, estarão cumprindo sua responsabilidade e missão.

Precisamos dar a todas as crianças e adolescentes acesso ao convite amoroso de Jesus. Se mostrarmos a eles que Jesus os valoriza, estaremos ajudando a neutralizar crenças disfuncionais. Se lhes mostrarmos que Jesus os aceita, estaremos colaborando paraneutralizar sentimentos de rejeição. A Escola Sabatina e a igreja serão um lugar de refúgio, onde serápossível o desenvolvimento do potencial de cada um.

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Capítulo5

OrientaçõesparaaInclusãode

CriançaseAdolescentesSurdos

ElianaFirminoBurgarelli

JackelineMennon

JulianaSantos

INTRODUÇÃO

Ao longo da história, o saber sobre os surdos, as línguas de sinais e aspectos que envolvem essa comunidade estiveram restritos a poucas pessoas além dos próprios indivíduos surdos. Historicamente, os ambientes religiosos tiveram papéis importantes na formação de tradutores e intérpretes de libras, devido ao empirismo de atividades ligadas às igrejas ou a cursos ofertados nesses espaços (SILVA, 2012).

Felizmente, os estudos sobre surdos e essas línguas alternativas têm crescido bastante ao longo dos anos. Vários materiais estão sendo produzidos com o objetivo de desmistificar preconceitos e mitos sobre o assunto. O livro Libras? Que língua é essa?, de Audrei Gesser, e o livro Vendo Vozes: Uma viagem ao mundo dos surdos, escrito por Oliver Sacks, são exemplos de materiais que apresentam importantes informações sobre a cultura surda e o valor da língua de sinais para essa comunidade.

Com o avanço das pesquisas sobre as deficiências e o aumento das discussões em torno da inclusão, acessibilidade e o direito das pessoas surdas, a língua de sinais, os tradutores e intérpretes de libras têm ocupado cada vez mais espaços na sociedade, incluindo ambientes religiosos, permitindo então a participação cada vez maior de pessoas surdas nas igrejas.

Isso também se deve aos dispositivos legais que incentivam a presença dessas atividades nesses espaços. Entre eles, destaca-se a Lei de Libras (Brasil, 2002), que reconhece a Língua Brasileira de Sinais como um meio legal de comunicação e expressão regulamentado pelo

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Decreto no 5.626 (BRASIL, 2005) e que dispõe, entre outras coisas, sobre a formação e a certificação de profissionais para atuarem no ensino, na tradução ena interpretação de libras.

Mais tarde, a profissão de tradutor e intérprete de libras foi regulamentada pela Lei no 12.319 (BRASIL, 2010); a importância da presença desse profissional, como possibilidade à acessibilidade comunicacional entre pessoas surdas e ouvintes, também é reforçada pela Lei no 13.146 (BRASIL, 2015), conhecida como Lei Brasileira de Inclusão ou como Estatuto da Pessoa com Deficiência, que objetiva assegurar os direitos e a dignidade das pessoas com deficiência, entre outras providências.

Nesse contexto, emerge então a necessidade de a igreja adventista, de modo institucional, organizar e implementar estratégias que garantam a efetiva participação das pessoas surdas em todo o processo eclesiástico. As atividades de tradução e interpretação de Libras – Língua Portuguesa no contexto religioso não se restringem ao culto. Para garantir direitos linguísticos e acesso de forma equitativa a todas as atividades disponibilizadas pela igreja, esses atendimentos precisam ser prestados em todos os ministérios que tenham participação ou interesse das pessoassurdas, como, por exemplo: Clube de Desbravadores,Ministério Jovem, Ministério da Mulher, Clube de Aventureiros, Escola Sabatina,entre outros.

Pensando no contexto da Escola Sabatina, especificamente no Ministério da Criança e no Ministério do Adolescente, épreciso que os professores pensem em metodologias e na tradução ou elaboração de materiais em libras que atendam às crianças surdas.

CONCEITOSIMPORTANTES

Uma dificuldade que os professores podem ter é saber usar a linguagem certa para cada situação dentro do contexto da deficiência auditiva. Por isso, logo abaixo você verá expressões adequadas e conceitos básicos que o ajudarão nesta jornada de aprendizagem.

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OrientaçõesparaaInclusãodeCrianças...

• Acessibilidade comunicacional: oferta de recursos, atividades e bens culturais que promovam independência e autonomia aos indivíduos que necessitam de serviços específicos para acessar as atividades educacionais propostas.

• Pessoa com surdez (surdo): aquela com perda significativa da audição em ambos os ouvidos e usuário de libras. A interação com o mundo ocorre, sobretudo, pelo uso da língua de sinais. Para a pessoa surda, sua diferença não está na falta de audição, mas na diferença linguística marcada pelo uso de libras como primeira língua e a língua portuguesa como segunda.

• Pessoa com deficiência auditiva: aquela com perda auditiva leve ou moderada que utiliza a modalidade oral em língua portuguesa como principal forma de comunicação, e não a língua de sinais.

• Língua brasileira de sinais – libras: apresenta todos os aspectos linguísticos exigidos por uma língua, como fonologia, semântica, sintaxe, gírias, expressões idiomáticas, variações linguísticas, etc. Libras manifesta-se de forma visuoespacial, utilizando como elementos produtores principalmente as mãos e o corpo. A percepção da realidade ocorre por meio dos olhos.

• Tradutor e intérprete de libras-português – Tilsp: aquele que traduz e interpreta o par linguístico libras-português. Na prática, sua atuação detém-se à mediação entre surdos usuários de libras e não surdos.

MinistérioAdventistadosSurdos

No ano de 2008, a Associação Geral oficializou o Ministério Adventista dos Surdos (MAS). O trabalho que anteriormente era desenvolvido por voluntários da comunidade surda passou a ser discutido de forma estruturada na instituição e orientado pela Divisão Sul-Americana (DSA). Há registros de que o trabalho no Brasil tenha se iniciado entre 1939 e 1967 no estado de São Paulo (OLIVEIRA, 2021). Com a oficialização do MAS, a igreja começa, então, a apoiar e conduzir o trabalho de tradução de materiais para libras. Exemplo

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disso é a tradução do livro missionário, da Lição da Escola Sabatina dos adultos e a promoção de eventos evangelísticos para essa comunidade (Evangelibras: junção das palavras evangelismo e libras). Esses e outros projetos passam a ser conduzidos pela DSA.

Nos anos de 2019 e 2020, com a implementação do Ministério Adventista das Possibilidades (MAP), o MAS passou a estar vinculado como uma das sete frentes de trabalho desse ministério. A expectativa é que, com a sistematização dos trabalhos, haja crescimento e avanço nessa área1.

No momento, os materiais produzidos em língua de sinais para crianças surdas ainda são escassos. Ainda não estão disponíveis as traduções das lições infantis, por exemplo. Nesse cenário, as crianças surdas são privadas de estudar a lição correspondente à sua faixa etária, o que pode causar prejuízos em sua jornada espiritual. Entretanto, algumas ações e/ou métodos podem ser aplicados pelos professores a fim de incluir as crianças surdas na Escola Sabatina e minimizar barreiras.

AESCOLASABATINAPARACRIANÇAS

EADOLESCENTESSURDOS

A missão da Escola Sabatina é ser um sistema de instrução religiosa, discipulado e crescimento espiritual da igreja local com o objetivo de preparar pessoas para a eternidade. Essa escolaprecisa incluir todas as pessoas, e isso significa atender às necessidadesespecíficas de todos, incluindo as crianças e os adolescentes.

Para o bom andamento do processo de inclusão, é de fundamental importância que os professores obtenham informações sobre o grau de autonomia da criança e do adolescente para execução das atividades propostas, a possibilidade ou não da mediação dos familiares e a existência ounão dos recursos necessários. Além das adequações necessárias para as atividades, dependendo da autonomia da criança e do adolescente e da possibilidade de mediação em casa, pode ser necessário disponibilizar o apoio de um intérprete de libras.

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OrientaçõesparaaInclusãodeCrianças...

Quando o planejamento indicar a necessidade de adequação de material, é preciso considerar que as etapas do processo de tradução demandam tempo. Por isso, procure antecipadamente os intérpretes de sua igreja para planejamento das atividades em conjunto. O foco é a disponibilização de recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para participação das crianças e dos adolescentes surdos na Escola Sabatina.

O professor das salasinfantis da Escola Sabatina deve adotar métodos e iniciativas para incluir as crianças e os adolescentes surdos em todas as etapas do programa. Poderá também oferecer soluções criativas para o estudo da lição durante a semana. Essas atitudes são muito importantes para proporcionar às crianças surdas um sentimento de pertencimento à comunidade religiosa.

A libras é uma língua reconhecida como meio legal de comunicação e expressão dos surdos, de acordo com a Lei no 10.436 (BRASIL, 2002). A libras apresenta uma organização gramatical própria e diferente do português. Crianças surdas, usuárias de libras, que tenham sido alfabetizadas nessa língua, se expressam por meio dela. Portanto, o ideal seria que todo material da Escola Sabatina utilizado pelos professores fosse traduzido para essa linguagem, com intérpretes ou, em último caso, com aplicativos como:

• VLibras: é um conjunto de ferramentas gratuitas e de código aberto que traduz conteúdos digitais (texto, áudio e vídeo) do português para a libras, tornando computadores, celulares e plataformas digitais mais acessíveis para pessoas surdas. O aplicativo está disponível em: <gov.br/governodigital/pt-br/vlibras>.

• HandTalk: é um aplicativo que pode ser baixado em smartphone e funciona como um dicionário de bolso para tradução de línguas de sinais. Está disponível gratuitamente em: <handtalk.me/br/aplicativo/>.

• ProDeaf: é um aplicativo gratuito de tradução português/libras. Disponível gratuitamente em: <baixaki.com.br/android/download/prodeaftradutor-para-libras.htm>.2

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Veja, a seguir, algumas orientações para receber e dar acessibilidade às crianças surdas.

ArecepçãonasaladaEscolaSabatinainfantojuvenil

A Escola Sabatina é um organismo com energia, dinamismo e criatividade, com um encontro semanal com foco em crescimento espiritual e relacionamento interpessoal. Essa mesma característica deve marcar as interações de crianças e adolescentes surdos no ambiente da Escola Sabatina. Eles precisam se beneficiar da acessibilidade intencional em um espaço cheio de interatividade, surpresas, novidades e alegria.

A criança e o adolescente surdo devem ser cumprimentados em sua língua. Para isso, o professor poderá treinar todos da sala com alguns cumprimentos básicos em língua de sinais. Se isso ocorrer na recepção, a criança e o adolescente surdo serão motivados a aguardar ansiosamente pelas demais partes do programa.

É na recepção que a primeira impressão acontece, e pode ser a chave para a abertura da mente e do coração dos surdos para que o projeto da Escola Sabatina se torne um desejo impactante em sua vida. A seguir, nas figuras 1, 2 e 3, estão alguns exemplos de cumprimentos em libras para recepcionar crianças e adolescentes surdos.

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Figura 1. Deus abençoe você. Fonte: Especialidade de libras da Associação Paulistana.

Fonte: Especialidade de libras da Associação Paulistana. Lição:contaçãodehistóriaparacriançassurdas

A experiência do mundo dos surdos é principalmente visual; então é fundamental que sejam utilizados recursos visuais para representar as histórias bíblicas e o assunto principal da lição. Ferramentas como o YouTube podem ser úteis para apresentação de algum material sobre a história da semana traduzido em libras. Além disso, o professor poderá solicitar algum intérprete de sua igreja que prepare um material em vídeo com o resumo da lição da semana.

No site dos Surdos Adventistas, está disponível a orientação para preparar histórias infantis da lição para crianças surdas. Essas orientações podem ser adaptadas a outras faixas etárias.

Outro projeto é o Cada Encontro Eu Conto um Conto: Histórias Bíblicas Infantis em Libras3, que disponibiliza histórias bíblicas em libras.

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Figura 2. Bom dia. Figura 3. Feliz sábado. Figura 4. Como preparar histórias infantis da lição para crianças surdas.

Momentodelouvor

No momento de louvor da Escola Sabatina, o professor poderá escolher músicas infantis que tenham vídeos com tradução para libras e ensinar para todas as crianças. Ensinar passo a passo, explicando o significado dos sinais. De preferência, seria bom que músicas que tenham as palavras “Jesus”, “louvar”, “Espírito Santo”, “amém” e “Deus” fossem escolhidas, pois essas palavras são simples de sinalizar, o que facilita o aprendizado por crianças de diferentes faixas etárias.

No YouTube existem alguns projetos de músicas infantis com tradução para libras que o professor pode utilizar no louvor nas salas, tornando o momento acessível a todos. Um exemplo é o projeto Minha vida é uma viagem, em que algumas músicas estão com a janela de intérpretes.

Sugestõesdeatividades

Os professores podem utilizar o alfabeto manual e os sinais listados abaixo para atividades durante a Escola Sabatina.

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Figura 5. Como preparar histórias infantis da lição para crianças surdas. Figura 6. Alguns vídeos em libras do projeto Minha vida é uma viagem.
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Figura 7. Alfabeto manual Figura 8. Sinais oficiais da IASD da Especialidade de Libras da Associação Paulistana.

SinaisofciaisdaIASD

A seguir, algumas sugestões de atividades4 que poderão ser realizadas com crianças surdas e ouvintes de diferentes faixas etárias, utilizando a libras no contexto na Escola Sabatina:

• Elefante colorido

O professor deve ensinar para crianças surdas e ouvintes os principais sinais de cores em libras. Caso as crianças surdas já dominem a libras, elas mesmas podem ajudar a ensinar esses sinais. Em um segundo momento, o professor deve fazer o sinal de elefante colorido em libras, e as crianças devem perguntar em libras: “Que cor?”

O professor então deverá mostrar objetos de diferentes cores, e as crianças devem sinalizar, em libras, as cores apontadas pelo professor.

Uma variação da brincadeira também poderá ser o professor fazer o sinal da cor e as crianças buscarem na sala objetos com a cor correspondente.

Outra sugestão é aproveitar uma história bíblica da lição da semana, por exemplo, o relato da criação, o arco-íris no dilúvio, a roupa especial colorida de José, etc. O professor poderá utilizar recursos visuais para realizar a interação com as cores e os sinais em libras.

• Brincadeiras dos animais

O professor pode levar imagens de alguns animais, pesquisar os sinais correspondentes em libras e ensinar para as crianças ouvintes e surdas, lembrando que as crianças surdas usuárias de libras podem ajudar a ensinar esses sinais.

O professor pode também fazer o sinal do animal em libras, e as crianças imitam o animal sinalizado. Pode também mostrar a imagem do animal para as crianças fazerem o sinal correspondente. Outras variações dessa brincadeira podem ser criadas, chamando as próprias crianças para escolherem a imagem do animal para os colegas executarem o sinal.

Todas as atividades citadas anteriormente podem ser ilustradas com imagens e desenhos dos sinais correspondentes em libras a fim

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OrientaçõesparaaInclusãodeCrianças...

de ajudar o entendimento da criança surda e despertar o interesse da criança ouvinte. Lembrando que são apenas sugestões de brincadeiras e atividades, essas propostas podem servir de inspiração para que o professor elabore novas atividades e aplique em sua igreja.

APESSOASURDOCEGAESUAS FORMASDECOMUNICAÇÃO

Entende-se por pessoa com surdocegueira aquela que apresenta, ao mesmo tempo, perda auditiva e visual em diferentes graus. Essa pode ser uma condição congênita ou adquirida. Compreende-se a pessoa com surdocegueira como tendo uma condição única e singular (e não múltipla), que precisa que suas necessidades específicas sejam atendidas a fim de assegurar que tenha as mesmas oportunidades que as demais.

Os principais sistemas de comunicação utilizados por pessoas com surdocegueira são:

• Libras em campo reduzido: língua de sinais em espaço menor e com distância variada de acordo com a condição visual da pessoa surdocega.

• Libras tátil: libras adaptadas ao tato. É realizada na palma de uma das mãos de pessoas com surdocegueira por meio de um profissional identificado como guia-intérprete.

• Tadoma: o método Tadoma, também conhecido como leitura labial tátil, foi criado pela professora norte-americana Sophia Alcorn e é uma das formas de comunicação com as pessoas surdocegas. Consiste em colocar o polegar na boca do falante e os dedos ao longo do queixo. Muitas vezes, o dedo médio cai ao longo da linha do queixo do falante, com o dedo mindinho abaixo, na garganta ou na região abaixo da linha do queixo, para sentir as vibrações da garganta do falante.

• Escrita na palma da mão: consiste no registro das letras do alfabeto em caixa-alta (letras maiúsculas) na palma da mão da pessoa com surdocegueira.

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• Comunicação háptica: é um sistema de descrição que é usado para suplementar a língua falada ou de sinais, numa situação paralela. Os símbolos podem representar pessoas numa sala, sentadas, andando, etc. Também podem representar sentimentos, felicidade, tristeza, etc. Os símbolos/sinais são dados em áreas diferentes do corpo: costas, braço, mão, joelho ou pé.

• Alfabeto tátil dactilológico: corresponde ao alfabeto manual usado pelas pessoas com surdez, porém feito sobre a palma da mão da pessoa com surdocegueira.

• Braile tátil: o guia-intérprete, por meio de toques em determinadas falanges dos dedos da pessoa com surdocegueira, transmite mensagens como se estivesse escrevendo em braile.

• Braile: sistema de escrita e leitura tátil, com caracteres em relevo impressos em papel, também utilizado por pessoas cegas ou com baixa visão.

• Escrita ampliada: mensagens ou textos utilizandoletras em tipos ampliados e de cores contrastantes com o fundo, para o caso de pessoa surdocega com baixa visão.

• Fala ampliada: corresponde à repetição da fala do interlocutor com ou sem a utilização de Aparelho deAmplificação Sonora Individual (AASI) ou Loops (aparelho de amplificação sonora com fones e microfone), para o caso de pessoa surdocega com resíduo auditivo.

Para os usuários dessas formas de comunicação, é necessária a elaboração de estratégias presenciais com apoio do guia-intérprete (aquele que domina diversas formas de comunicação utilizadas pelas pessoas com surdocegueira, atuando também na orientação e mobilidade desses indivíduos) a fim de garantir o acesso ao conteúdo das atividades da Escola Sabatina e demais atividades da igreja.

CONSIDERAÇÕES

De forma orgânica, a Igreja Adventista do Sétimo Dia, por meio do trabalho em conjunto do Ministério da Criança, do Ministério do

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Adolescente, do Ministério Adventista dos Surdos e do Departamento da Escola Sabatina, une forças para contribuir em diálogos com a comunidade surda.

Assim, a denominação reforça a importância dos grupos de trabalho em cada território, entendendo a necessidade local, a fim de que a liderança trabalhe na perspectiva de estabelecer capacitação e treinamentos de professores para ações que envolvam os surdos, a tradução e a interpretação em línguas de sinais e outros temas relacionados que contribuem para que se tenha uma igreja inclusiva.

Como em todo processo, essa é apenas uma orientação inicial. O caminho ficará aberto para novos desdobramentos, novos guias e produção de materiais acessíveis com base nas necessidades das crianças surdas no âmbito da igreja.

Referências

1 A maioria dos materiais da igreja e as Lições da Escola Sabatina de adultos estão disponíveis em <surdosadventistas.com.br>.

2 Acesso em 7 de março de 2023.

3 “Cada Encontro eu Conto um Conto”, disponível em: <youtu.be/RfTbwa315JE>, acesso em 27 de julho de 2023.

4 Baseado nas atividades preparadas por Keyla Ferrari Lopes.

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Capítulo6

APessoacomDefciênciaVisual: AImportânciadaConvivência,das TécnicasedosRecursosAuxiliares

JulianaSantos

INTRODUÇÃO

De modo geral, quando o assunto é deficiência visual, o pensamento se volta para os impossíveis. No entanto, generalizar as limitações e possibilidades de uma pessoa a partir de uma única característica é ignorar a complexidade da vida humana e restringir o poder de Deus.

É necessário um olhar mais abrangente para as pessoas com deficiência, enxergando-as como seres humanos antes de concentrar toda a atenção em um único aspecto dessa vida, que é tão interessante e valiosa quanto qualquer outra.

A hipervalorização da deficiência e, como consequência, a desvalorização da pessoa impedem de conhecer edesfrutar de habilidades incríveis que poderiam ser aproveitadas para um desenvolvimento mais pleno da sociedade.

Ao longo da história, nas mais diferentes culturas, pessoas sem deficiência ficaram privadas, seja por regras impostas ou por escolha própria, do convívio social com as pessoas com deficiência. A psicologia explica esse comportamento excludente com a ideia da negação relacionada à fragilidade humana, quando a pessoa com deficiência traz lembranças que o outro deseja negar sobre a própria vulnerabilidade (CROCHIK, 1996).

Toda essa carga de emoções ocasiona o afastamento caracterizado pelo medo de se identificar com a chamada imperfeição, da qual, naturalmente, o ser humano foge. Tudo o que é diferente ou desconhecido causa estranheza e temor. Disso nasce o preconceito, quando se cria um conceito sobre alguém antes mesmo que se conheça, de fato, aquela pessoa (CROCHIK, 1996).

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As relações humanas estão pautadas no argumento do que é previsível. Por isso, para melhor convivência em sociedade, faz-se necessário rodear as pessoas de regras e leis de conduta a fim de que se tenha uma ideia mínima do que se pode esperar em cada interação. O contato com pessoas com deficiência expõe o medo de não saber como lidar com a situação. Nesse sentido, o recurso do rótulo ou estigma facilita a evocação de algum procedimento padrão criado no imaginário sobre como seria a vida da pessoa cega, surda, usuária de cadeira de rodas, entre outras.

O preconceito contra a pessoa com deficiência chama-se capacitismo e está presente na sociedade de modo estrutural. Resulta da bagagem de conhecimento e vivência de cada um e a maneira como processa essas informações ao se relacionar com o tema da deficiência (COSTA, 2020).

A vítima de preconceito tem sua existência resumida a uma única característica, que, nesse caso, é a deficiência. Fica sentenciada a uma vida limitada e sem oportunidades. Ao mesmo tempo, as barreiras que se encontram nos diferentes âmbitos da sociedade expressam claramente que a pessoa com deficiência é indesejada na maioria dos espaços físicos, sociais, religiosos, culturais e educacionais, entre outros que se possam listar. Assim, o problema não está na pessoa, mas no ambiente hostil que a rodeia (COSTA, 2020).

No entanto, todo esse desconforto desaparece quando as pessoas se permitem aproximar-se umas das outras e se abrem para a possibilidade de aprender com as diferenças. Muitas atitudes preconceituosas ou de indiferença relacionada à pessoa com deficiência reside na falta de informação e reflexão sobre esse tema.

Portanto, este capítulo tem por objetivo auxiliar o leitor a tomar conhecimento e compreender melhor o mundo da pessoa com deficiência visual a fim de integrá-la em todos os contextos e, em especial, nas salas da Escola Sabatina das crianças e dos adolescentes na Igreja Adventista do Sétimo Dia.

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APessoacomDefciênciaVisual:AImportânciadaConvivência...

OQUEÉADEFICIÊNCIAVISUAL?

Deficiência visual é a condição de ausência total ou parcial do sentido da visão, que pode estar presente desde a formação do feto no útero materno (congênita), ou ter sido adquirida ao longo da vida. Segundo suas particularidades, as pessoas com deficiência visual podem apresentar cegueira, baixa visão (visão subnormal) ou visão monocular (cegueira em apenas um dos olhos). Sendo assim, não está ligada, necessariamente, à total incapacidade de ver.

A fim de entender melhor o que significa a deficiência visual, é necessário conhecer os termos básicos sobre o funcionamento da visão, como o da Acuidade Visual (AV), que está relacionado com a medida da visão central, que tem a função de identificar objetos e seus detalhes. O exame de acuidade visual avalia a capacidade que uma pessoa tem de discernir visualmente o menor objeto a determinada distância (ROCHA, 2016).

Outro conceito importante é o de Campo Visual (CV), que está relacionado com a área na qual os objetos são visualizados de maneira simultânea quando a pessoa dirige o olhar para algo fixo e imóvel, sendo um fator decisivo para a qualidade visual de uma pessoa (MUÑOZ, 2007). O campo visual é limitado a 60o ao olhar para cima, sem levantar a cabeça, 60o ao olhar em direção ao próprio nariz, 70o ao olhar para baixo, sem abaixar a cabeça, e 90o quando se olha em direção à têmpora (MUÑOZ, 2007).

A deficiência visual é classificada como cegueira quando a “acuidade visual é igual ou menor que 0,05 (20/400) no melhor olho, com a melhor correção óptica”(BRASIL, 2004). Por sua vez, a baixa visão “significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 (20/70 e 20/400) no melhor olho, com a melhor correção óptica” (BRASIL, 2004). E existem os casos quando “a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60 o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores” (BRASIL, 2004).

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Essas medições são realizadas em consultórios médicos especializados em oftalmologia com a utilização de aparelhos. O teste de Snellen, criado pelo oftalmologista holandês Hermann Snellen, é considerado o exame mais eficaz para detectar problemas de visão (MUÑOZ, 2007). Observe, na figura 1, um modelo da tabela para o teste de Snellen.

Pessoas com deficiência visual podem apresentar pouca sensibilidade aos contrastes, que é a capacidade que o sistema visual tem de detectar a diferença de brilho entre duas superfícies sobrepostas, como uma folha de papel branca sobre uma mesa branca. Podem desenvolver também baixa adaptação visual, que é a habilidade de adaptar a visão aos diferentes tipos de iluminação (MUÑOZ, 2007).

Técnicaserecursosauxiliares

É importante saber que uma deficiência, visual ou de qualquer outro tipo, não deve ser concebida como sinônimo de doença. A pessoa com deficiência pode apresentar um ótimo estado geral de saúde e não obrigatoriamente estar doente. A deficiência visual pode ser, em linhas gerais, o resultado de uma patologia, de um acidente, de trauma ou de condição genética (MPPR, 2022).

Nesse sentido, entende-se que a medicina não está diretamente associada à deficiência, uma vez que essa não é uma doença. A partir de 2006, com a Convenção dos Direitos da Pessoa com Deficiência organizada pela ONU, houve um distanciamento do modelo médico voltado para a incapacidade, desvantagem e limitações, dando lugar a uma aproximação do modelo social, que está centrado na relevância dos fatores e barreiras socioambientais [MPPR(b), 2022].

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Figura 1. Tabela para a realização do Teste de Snellen.

A intensidade das limitações ou grau de exclusão que uma pessoa com deficiência vivencia é proporcional à quantidade de barreiras encontradas para seu acesso e inclusão. Acessibilidade é um direito garantido por lei à pessoa com deficiência para que viva de forma independente, exercendo seus direitos de cidadania e participação social (BRASIL, 2015).

Sendo assim, a pessoa com deficiência visual deve ser incentivada a buscar programas de reabilitação especializados a fim de aprender as técnicas e a utilização dos recursos disponíveis para desfrutar de uma vida com mais autonomia, entre outros benefícios.

Entre os tipos de recursos existentes para melhorar a visualização das imagens, no caso de pessoas com baixa visão, encontram-se os:

• Ópticos – aqueles que aumentam a resolução da imagem, sejam por sua capacidade de ampliação, pelo reposicionamento da imagem na retina, seja na filtração (uso de lentes com diferentes cores para filtrar a luz do ambiente). Exemplos: para auxiliar na visão de longe: telescópios manuais; telescópio monocular montado em óculos; e telescópio binocular montado em óculos; para auxiliar na visão de perto: óculos; lupas manuais; lupas de apoio; sistemas telemicroscópicos; e recursos eletrônicos. Veja alguns desses itens na Figura 2.

• Não ópticos – são os que alteram os materiais, melhorando as condições do ambiente com o objetivo de aumentar a resolução visual. Também são conhecidos como auxílios de adaptação funcional e podem ser utilizados juntamente com os recursos ópticos. Exemplos: iluminação; contraste; ampliação; acessórios adaptados, como textos impressos em fonte ampliada, etc. A seguir, na Figura 3, veja um

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Figura 2. Recursos ópticos para auxiliar pessoas com deficiência visual.

APessoacomDefciênciaVisual:AImportânciadaConvivência...

material didático confeccionado para crianças com baixa visão.

É importante para a autonomia e segurança da pessoa com deficiência visual aprender as técnicas de Orientação e Mobilidade (OM). A orientação e mobilidade é a capacidade que uma pessoa tem de perceber o ambiente e compreender a sua posição atual em determinado espaço para, a partir dessas informações, movimentar-se. Dos cinco sentidos, a visão é o que mais auxilia na orientação e mobilidade do ser humano (FELIPPE, 2003).

Sendo assim, a técnica de OM é o aprendizado que vai cooperar com a organização dos movimentos e auxiliar no aprendizado do uso dos sentidos remanescentes para obter informações importantes do ambiente a fim de que a pessoa saiba onde está, para onde deseja ir e como chegar ao lugar desejado. Para isso, a fim de se orientar, a pessoa utiliza a audição, o tato, a visão (no caso da baixa visão), o olfato e a sinestesia (percepção dos seus próprios movimentos).

Nesse sentido, o professor da sala da Escola Sabatina deve tomar a iniciativa para conversar com a criança ou adolescente com deficiência visual. Aproximar-se tocando suavemente em seu ombro, apresentar-se e oferecer ajuda são atitudes muito bem-vindas.

Quando a pessoa com deficiência visual precisar se deslocar, ofereça-se como guia. Toque suavemente em seu braço para que ela segure seu punho ou sua mão (no caso de uma criança de baixa estatura), ou a parte posterior do seu cotovelo ou ombro (no caso de uma criança ou adolescente de maior estatura). Caminhe sempre um passo à frente da pessoa com deficiência visual, assim ela seguirá seus movimentos. Avise no caso de obstáculos, como degraus, portas entreabertas, cadeiras ou buracos. Nunca puxe a pessoa pela mão ou pela bengala.

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Figura 3. Números representados com algarismos arábicos e pontos escritos em fonte ampliada.

Não empurre a pessoa para que caminhe à sua frente, segurando-a pelas costas. Observe a forma correta de como guiar uma criança com deficiência visual na Figura 4.

A audiodescrição (AD) é um dos recursos mais importantes para ajudar a pessoa com deficiência visual a assimilar e compreender as informações do ambiente que a rodeia. A AD nasceu na década de 1970 nos Estados Unidos e consiste na prática de descrever o mundo das imagens para pessoas cegas ou com baixa visão. Essa deve ser uma rotina comum nas salas da Escola Sabatina, uma vez que potencializa o aprendizado de todas as crianças, porque aumenta o senso de observação, amplia a percepção e o entendimento e descreve detalhes que muitas vezes passariam despercebidos mesmo para as pessoas que enxergam (Motta, 2015).

Osistemabraile

Utilizado por pessoas com surdocegueira (deficiência quecompromete os sentidos da visão e audição em diferentes graus e pode ser de origem congênita ou adquirida) (BRASIL, 2022) ou com deficiência visual, o braile é um código universal de leitura e escrita tátil. Foi inventado pelo jovem Louis Braille, em 1825, e marcou uma

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Figura 4. Técnicas do guia-vidente para pessoas com deficiência visual.

APessoacomDefciênciaVisual:AImportânciadaConvivência...

significativa conquista para a educação de pessoas com deficiência visual na sociedade.

Para facilitar a identificação e estabelecer sua exata posição, os pontos são numerados de cima para baixo, da esquerda para a direita. O conjunto desses seis pontos forma 63 combinações diferentes, das quais se originam as letras do alfabeto, as vogais acentuadas, os sinais de pontuação, os numerais, os sinais de operações e relações matemáticas, as notas musicais e os símbolos da informática e da química. Observe na Figura 5 o modelo de uma célula braile e as letras do alfabeto.

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Figura 5. Disposição dos pontos em uma célula braile e as letras do alfabeto.

Ainda hoje, o braile é de extrema importância na comunicação escrita da pessoa surdocega, cega ou de baixa visão. Ouvir a leitura feita por outra pessoa, de recursos tecnológicos em áudio gravado ou leitores de tela para computadores e celulares não confere o mesmo benefício educacional que o contato com a grafia das palavras.

Isso é ainda mais sério quando se trata de crianças em fase de letramento e de adolescentes em expansão do vocabulário. Nesse sentido, para efeitos do estudo de crianças e adolescentes é imprescindível que a Lição da Escola Sabatina e os livros complementares estejam disponíveis em braile. Assim também deve ser para o caso de os pais ou responsáveis que acompanham o aluno no estudo diário da Bíblia serem uma pessoa com deficiência visual.

O acesso à literatura em braile é escasso. As pessoas que necessitam e desejam utilizar o recurso ficam restritas a pouquíssimos títulos, que muitas vezes não atendem às suas necessidades ou aos seus interesses. Nesse sentido, a Igreja Adventista do Sétimo Dia pode contribuir produzindo sua literatura em braile e se tornando mais relevante para esse público, que soma 6,5 milhões de pessoas, representando 18,6% dos 23,9% do total de pessoas com algum tipo de deficiência só no Brasil (OLIVEIRA, 2012).

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Figura 6. Leitura e escrita no braile com o uso da reglete e punção.

CONSIDERAÇÕES

Conhecer as leis e os termos técnicos sobre a deficiência visual é importante; no entanto, nada será mais esclarecedor e enriquecedor que a convivência com as pessoas que apresentam essa característica. Ninguém melhor que as próprias pessoas surdocegas, cegas ou com baixa visão para falar de suas potencialidades e necessidades específicas.

É fato que a deficiência visual traz consigo grandes desafios, mas nem todas as adversidades estão relacionadas a ela. Portanto, tratar a pessoa com deficiência com pena, além de não ajudar em nada, não vai mudar as circunstâncias. A melhor opção é a proatividade na busca por conhecimento para eliminação das barreiras que impedem o acesso dessa pessoa às oportunidades a fim de que se desenvolva e contribua com a sociedade.

Compreender a importância de considerar a pessoa um ser humano completo acima de qualquer característica é transformador para todos os envolvidos no processo. Deve haver uma verdadeira mudança no modo de pensar sobre as pessoas com deficiência, e esse conhecimento deve ser compartilhado para que muitos outros se tornem agentes de transformação.

O Ministério da Criança e o Ministério do Adolescente, juntamente com o Ministério das Possibilidades e o Departamento da Escola Sabatina da Igreja Adventista do Sétimo Dia, trabalhando em conjunto e unindo esforços, podem fazer a diferença na vida de muitas pessoas com surdocegueira e deficiência visual, investindo na capacitação de professores e na produção de materiais em braile e outros formatos acessíveis.

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PropostasparaCriançaseAdolescentes comTDAH,TODeDislexia

KeylaFerrariLopes

INTRODUÇÃO

Este capítulo tem como objetivo abordar as dificuldades de crianças diagnosticadas com transtornos de déficit de atenção e hiperatividade, transtorno opositor desafiador e dislexia, bem como colaborar para maior compreensão e entendimento das necessidades que essas crianças enfrentam nos ambientes socioeducativos, oferecendo sugestões pedagógicas para um bom aproveitamento dos conteúdos.

A Escola Sabatina é um programa de ensino religioso associado à Igreja Adventista do Sétimo Dia. O objetivo da Escola Sabatina é fornecer ensino bíblico e espiritual para membros da igreja e outros interessados.

As aulas incluem estudos da Bíblia, canto de louvores, orações e discussões em grupo. O programa de Escola Sabatina é projetado para que se crie um ambiente acolhedor e inspirador em que os alunos possam aprender sobre sua fé e crescer espiritualmente.

Buscando compreender o ser humano como ser social, um ser de relações não apenas no ambiente familiar, mas também com a comunidade, aescola e a igreja, entendemos que a interação social e a boa convivência são essenciais para o desenvolvimento das potencialidades da criança. Entretanto, em alguns casos, existem fatores de ordem emocional ou biológica que interferem no pleno desenvolvimento da criança, causando prejuízos em diferentes áreas de sua vida, especialmente a social e escolar.

A pouca informação sobre transtornos por parte de familiares e profissionais da educação pode fazer com que as crianças que apresentam esses problemas sejam mal compreendidas, vistas como indisciplinadas, desobedientes, agressivas, sem limites, preguiçosas, ou até consideradas com déficits cognitivos. Por outro lado, se conhecido o

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Capítulo7

PropostasparaCriançaseAdolescentescomTDAH,TODeDislexia

transtorno/dificuldade e adequadamente acompanhado em sua especificidade, respeitando a singularidade e a história de vida da criança que tem as características ou a confirmação de um diagnóstico, será possível auxiliá-la a levar uma vida com melhor qualidade, principalmente se considerarmos os contextos sociais e educativos. Nesse sentido, buscamos trazer os conceitos de alguns dos transtornos com alta incidência, destacando suas características e oferecendo sugestões para o trabalho pedagógico e educativo.

TRANSTORNOOPOSITORDESAFIADOR

Alguns problemas, denominados distúrbios de conduta, podem prejudicar ou até mesmo impedir a boa relação da criança com seus pares e com os adultos e autoridades. O transtorno opositor desafiador (TOD), ou transtorno opositivo desafiador, é destacado estatisticamente como um dos principais desafios para o relacionamento e as interações sociais saudáveis da criança.

Em algumas ocasiões, educadores encontram crianças que apresentam determinados comportamentos desafiadores e muito difíceis de lidar. São crianças que interagem de maneira agressiva, como se todos fossem seus inimigos, parecem desrespeitosas, sem concentração, manifestam frequentemente opiniões contrárias às de seus professores e colegas e podem apresentar déficits em seu processo de aprendizado, ficando rapidamente estigmatizadas por professores e colegas como a criança-problema.

O transtorno opositor ou opositivo desafiador (TOD) é uma condição comportamental que pode ser encontrada em crianças e adolescentes e envolve comportamentos repetitivos de desobediência e oposição à autoridade. Trata-se de um conjunto de comportamentos negativos, desafiadores e até mesmo hostis, que são apresentados cotidianamente pela criança ou adolescente. Esses comportamentos ocorrem com mais frequência em relação aos adultos e autoridades, podendo também ser visíveis nas interações sociais com outras crianças.

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O TOD faz parte do grupo de transtornos disruptivos, nos quais as crianças tendem a causar perturbação para os colegas de seu ambiente, colocando-se em conflito com regras sociais ou figuras de autoridade.Crianças com esse transtorno costumam apresentar rebeldia, teimosia, oposição aos adultos, explosões de raiva frequentes e dificuldades em controlar suas emoções (TEIXEIRA, 2019).

Não existe uma causa única ou especifica que desenvolva o transtorno opositivo desafiador. Contudo, pesquisadores e estudiosos da área consideram o TOD uma combinação multifatorial que pode incluir predisposições genéticas, neurobiológicas ou ambientais. Nesse sentido, destacamos:

• Fatores biológicos: algumas pesquisas sugerem que a genética pode desempenhar um papel no desenvolvimento do TOD.

• Fatores psicológicos: condições como o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), ansiedade ou depressão podem contribuir para o comportamento desafiador.

• Fatores ambientais: ambientes instáveis ou estressantes, incluindo problemas de relacionamento na família, mudanças frequentes de residência ou escola e falta de suporte emocional podem desencadear comportamentos desafiadores.

• Fatores de desenvolvimento: a idade e o estágio de desenvolvimento da criança também podem contribuir para o comportamento desafiador.

• Fatores sociais: as dificuldades no relacionamento com colegas, professores ou adultos podem afetar o comportamento da criança. Como vimos, não há uma única causa para o TOD, e geralmente ele é resultado de uma combinação de fatores. Além disso, o TOD pode ser mais comum em crianças que já tenham outros transtornos mentais ou comportamentais.

As crianças com TOD podem ter outras condições de saúde mental, como transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), ansiedade ou depressão e outros problemas que podem afetar o

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PropostasparaCriançaseAdolescentescomTDAH,TODeDislexia comportamento e os relacionamentos. É importante que as crianças e adolescentes com TOD recebam avaliação e tratamento adequados de profissionais de saúde mental, para garantir o bem-estar e o sucesso de seu desenvolvimento em longo prazo.

Os autores Teixeira (2019) e Girotto (2019) apontam características do TOD:

1. Comportamento hostil: a criança pode apresentar comportamentos agressivos, incluindo raiva, ameaças e violência.

• A criança pode discutir constantemente com os colegas;

• Pode apresentar surtos de raiva recorrentes.

2. Negativismo: a criança pode recusar-se a obedecer às regras ou instruções, mesmo quando são razoáveis.

• Praticamente não aceita ordens;

• Deseja que tudo seja a seu modo;

• Costuma ter dificuldade para trabalhar em grupo;

• Apresenta dificuldade para realizar tarefas escolares.

3. Comportamento desafiante: a criança pode desafiar a autoridade de adultos e líderes.

• Desafia a autoridade de professores, pais e coordenadores em diferentes contextos.

4. Comportamento argumentativo: a criança pode argumentar ou discutir frequentemente com adultos.

• Não aceita críticas;

• Costuma responsabilizar os outros pelo seu comportamento hostil.

5. Comportamento vingativo: a criança pode procurar vingança ou retaliação após se sentir injustiçada.

• Apresenta ressentimentos com facilidade;

• Busca vingança.

6. Dificuldade em se relacionar: a criança pode ter dificuldade em se relacionar com outras crianças ou adultos.

• Perturba frequentemente os colegas;

• Isola-se facilmente.

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7. Comportamento impulsivo: a criança pode agir sem pensar nas consequências.

O tratamento para o TOD é multidisciplinar e compõe algumas abordagens básicas:

• Psicoterapia comportamental: a terapia comportamental trabalha com a criança e a família para mudar comportamentos negativos e aumentar comportamentos positivos.

• Terapia individual: ajuda a criança a lidar com emoções e pensamentos negativos.

• Terapia familiar: ajuda a família a lidar com o comportamento da criança e melhorar as relações familiares.

• Educação e treinamento para pais: fornece estratégias eficazes para lidar com comportamentos desafiadores. Deve focar em mudanças comportamentais na família, dar bons exemplos, ensinar sobre o diálogo com a criança, explicar o motivo das regras, entre outros aspectos.

• Avaliação médica: profissionais habilitados devem avaliar os sintomas de TDAH, analisando possíveis casos de ansiedade ou depressão que estejam contribuindo para o comportamento desafiador.

• Intervenção e suporte escolar: trabalha com a escola para garantir que as necessidades da criança sejam atendidas e o comportamento seja gerenciado de maneira eficaz.

• Grupo de apoio: conecta a criança e a família com outras pessoas que enfrentam desafios semelhantes.

O tratamento eficaz para o TOD pode variar de acordo com a criança, sua história de vida e a fase em que ela se encontra. O tratamento bem-sucedido pode envolver uma combinação de abordagens e requer colaboração e comprometimento da criança, da família e dos profissionais envolvidos.

Listamos algumas dicas para os professores que atuam na Escola Sabatina e em outros contextos socioeducativos, dando dicas de como

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PropostasparaCriançaseAdolescentescomTDAH,TODeDislexia

podem lidar com crianças e adolescentes que apresentem esse transtorno. No entanto, é importante ressaltar que cada caso de TOD é único e pode exigir abordagens diferentes.

• Compreenda o transtorno: entenda que um comportamento agressivo não é pessoal. É importante compreender as causas subjacentes do TOD, como questões emocionais ou de saúde mental, por exemplo.

• Mantenha uma comunicação clara: certifique-se de que as expectativas e as regras da classe da Escola Sabatina sejam claras e compreensíveis para todos os alunos.

• Fique atento ao comportamento: ou seja, observe o antes e o depois dos comportamentos desafiadores; alguns comportamentos podem ser evitados.

• Evite confrontos: procure manter a calma e use técnicas de resolução pacífica de conflitos.

• Proponha reforços positivos para bons comportamentos: estabeleça uma recompensa para comportamentos positivos e elogie a criança quando ela praticar atitudes adequadas e demonstrar comportamentos desejáveis. Foque em comportamentos positivos.

• Proporcione oportunidades para a criança participar ativamente e sentir-se bem-sucedida.

• Forneça tempo e espaço acolhedor para a criança se acalmar, caso seja necessário.

• Mantenha uma comunicação aberta e positiva com a criança.

• Seja flexível e adapte as estratégias de gerenciamento de comportamento às necessidades individuais da criança.

• Ofereça diferentes opções para a criança participar da atividade fazendo com que ela se sinta segura e confortável.

• Proporcione desafios possíveis de serem realizados pela criança.

• Promova jogos, interações, atividades e brincadeiras que minimizem a competição e aumentem a cooperação e a colaboração entre o grupo.

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• Evite criticar o comportamento da criança na presença de outras.

• Procure momentos e contextos apropriados para conversar com os pais de crianças que estejam apresentando dificuldades. Construa uma relação de confiança, respeito e empatia com os pais e busque apoio de seus líderes caso perceba a necessidade de abordar os pais sobre o desenvolvimento de seus filhos. Mostre sempre disposição para ajudar.

Nesse sentido, El Hajj (2014) diz que deve se compreender que a criança não tem controle dos seus comportamentos, ela está tão assustada quanto todos os envolvidos e precisa de ajuda. É primordial comunicar os comportamentos positivos da criança, evitando que haja somente reclamações.

Veja alguns exemplos práticos ligados aos contextos educativos das crianças com TOD:

• Solicitar à criança que ajude na distribuição de materiais para os colegas, fique perto do professor e faça diferentes tipos de tarefas, de modo que se sinta útil.

• Buscar dar destaque às regras. Deixar os combinados registrados em lugares bastante visíveis.

• Despertar o interesse das crianças por meio de atividades criativas (dramatizações, pinturas e colagens relacionadas ao conteúdo estudado, por exemplo).

• Promover jogos cooperativos. Cuidar para que a criança com TOD forme par ou grupo com colegas de maior afinidade. Nesse caso, o professor pode interferir e mediar para que as parcerias aconteçam da melhor maneira possível.

Vale lembrar que cada caso é único e a empatia do educador faz toda a diferença para a melhor atuação em sala de aula.

TRANSTORNODEDÉFICITDEATENÇÃOEHIPERATIVIDADE

O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é definido como um transtorno neurobiológico que pode estar presente em

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crianças, adolescentes e adultos, independentemente da condição social ou étnica.

O TDAH é uma condição neurológica comum que tem início na infância e pode ser prologando até a fase adulta. Tem grande porcentagem de fator genético, ou seja, pode ser herdado. O TDAH tem como característica principal três tipos de alterações: hiperatividade, impulsividade e falta de concentração.

A hiperatividade é conhecida como o aumento da atividade motora. A criança hiperativa se mostra agitada, inquieta e está sempre em movimento. Muitos professores citam aquele aluno que não para sentado na carteira, gosta de correr pela sala, não permanece muito tempo concentrado em uma atividade ou brincadeira, mexe com os colegas, fala bastante e movimenta muito as mãos e os pés, caso precise ficar sentado por mais tempo. Vale destacar que a hiperatividade também pode ser observada em outros transtornos. Ela pode estar relacionada com o transtorno do espectro autista, por exemplo.

A impulsividade é definida como dificuldade no controle dos impulsos. Seria “agir sem pensar”. Pode-se compreender o impulso como a resposta automática a um estímulo. A criança com TDAH tem dificuldade em controlar seus impulsos.

A desatenção ou falta de concentração se manifesta com a dificuldade em se concentrar em tarefas propostas. Geralmente a criança ou adolescente fica distraído com facilidade.

Resumindo, a criança ou o adolescente com TDAH pode apresentar as seguintes características:

• Dificuldade em prestar atenção: pode ter dificuldade em manter a concentração em tarefas ou atividades que exijam atenção prolongada.

• Hiperatividade: pode ter dificuldade em ficar sentado por mais tempo ou controlar seus movimentos, apresentando comportamentos agitados ou impulsivos.

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PropostasparaCriançaseAdolescentescomTDAH,TODeDislexia

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• Impulsividade: pode apresentar dificuldades em esperar a sua vez ou controlar suas ações.

• Dificuldade de organização: pode ter dificuldade em organizar suas tarefas ou materiais e completar as tarefas de maneira satisfatória.

• Distração fácil: pode ficar distraído por estímulos variados, como barulhos, imagens ou movimentos.

• Falta de memória de curto prazo: pode ter dificuldade para lembrar informações ou instruções recentes.

• Dificuldade em iniciar ou completar tarefas: pode ter dificuldade em iniciar ou finalizar tarefas, especialmente as que são longas ou envolvem muitos passos.

Vale ressaltar que a presença dessas características não é suficiente para diagnosticar o TDAH. Deve ser feita uma avaliação criteriosa, envolvendo diversos aspectos do comportamento e histórico clínico da criança ou adolescente. Todos os processos precisam ser conduzidos por umaequipe multidisciplinar composta por profissionais da saúde (especialmente, por neuropsiquiatra ou neuropediatra) ou profissionais da educação.

Alunos com TDAH podem apresentar dificuldades para se concentrar, controlar suas ações e completar tarefas escolares. No entanto, com a ajuda adequada, eles têm a capacidade de ter sucesso. O tratamento para TDAH geralmente é personalizado e pode envolver uma combinação de abordagens diferentes, que são estabelecidas por equipes da saúde e educação, ou seja, uma equipe multidisciplinar que acompanha o caso. Alguns tratamentos incluem:

• Terapia comportamental e psicológica: incluindo terapia cognitivo-comportamental e terapia de apoio para a criança e sua família.

• Intervenções de estilo de vida: incluindo mudanças na alimentação, exercícios físicos regulares e técnicas de relaxamento.

• Treinamento de habilidades executivas: para ajudar a melhorar

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PropostasparaCriançaseAdolescentescomTDAH,TODeDislexia a organização, o planejamento e o desenvolvimento de outras habilidades cognitivas.

• Educação e apoio: incluindo ajuda aos pais e professores para que aprendam como lidar com o comportamento das crianças ou dos adolescentes.

Além de saber as características apresentadas pela criança ou adolescente com TDAH, veja algumas dicas práticas que podem ser usadas por pais e educadores:

• Fornecer direções claras: instruções e direcionamentos claros e objetivos sobre o que é esperado da criança.

• Dar pausas frequentes: as crianças com TDAH precisam de intervalos regulares para se movimentar e se concentrar novamente.

• Usar recursos visuais: a ajuda visual (imagens, figuras, gráficos e diagramas) pode ser uma ferramenta valiosa para manter a concentração e o interesse.

• Ser paciente e respeitar diferentes ritmos individuais: geralmente, crianças com TDAH podem precisar de mais tempo para completar tarefas que não são de seu interesse ou processar alguns tipos de informações. O educador deve ser paciente e compreender que o desenvolvimento é individual.

• Encorajar o sucesso: crianças e adolescentes com TDAH precisam ser motivados e reconhecidos por suas realizações. Por isso é fundamental encorajá-los na busca de seus objetivos e celebrar suas conquistas.

• Colaborar com os pais: manter os pais informados sobre o progresso e as dificuldades de seu aluno com TDAH. Buscar construir parceria com a família para ajudar a criança a ter sucesso na vida espiritual.

• Propor atividades com movimentos corporais, como jogos que envolvem movimento, música, coral, expressão corporal, atividades cooperativas, como a montagem de um cartaz ou mural coletivo com recortes e colagem, desenhos, entre outras atividades

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que promovam ação corporal na Escola Sabatina, podem ajudar a descarregar a energia e melhorar a concentração.

• Incentivar as atividades em contato com a natureza: cuidar de plantas ou jardins pode ser uma atividade calmante e terapêutica.

• Propor atividades manuais: atividades como pintura, modelagem em argila, costura ou trabalhos em madeira podem ajudar na concentração e a aprimorar as habilidades motoras finas.

• Usar jogos e brincadeiras: esses recursos chamam a atenção e envolvem as crianças no processo de aprendizagem.

• Incentivar a leitura: a contação de histórias lúdicas, o uso de revistas ou livros com assuntos de interesse da criança ou complementares aos temas trabalhados podem ajudar a melhorar a concentração e promover o gosto pela leitura.

• Fazer atividades de bricolagem: atividades de bricolagem, como montar modelos, maquetes ou construir projetos, podem ajudar na concentração e aprimorar as habilidades motoras finas.

• Promover atividades de grupo: jogos de equipe ou atividades recreativas coletivas podem ajudar a melhorar as habilidades sociais e de relacionamento.

Trabalhar com crianças com TDAH requer compreensão, paciência e colaboração. É importante considerar que cada ser humano é único, e as crianças com TDAH podem responder de maneiras diferentes às diversas interações e atividades propostas. É essencial encontrar o que funciona melhor para cada uma delas e adaptar as atividades conforme necessário.

DISLEXIA

A dislexia é definida como uma dificuldade de aprendizagem na leitura, independentemente de habilidade intelectual ou escolar. Trata-se de um distúrbio que afeta a capacidade de decodificação e compreensão das palavras escritas. Isso pode resultar em dificuldades

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PropostasparaCriançaseAdolescentescomTDAH,TODeDislexia para ler com fluência, compreender o significado das palavras e interpretar textos. Existem alguns distúrbios correlatos que podem ser confundidos com dislexia:

• Disortografia: definido como a dificuldade na escrita correta das palavras, incluindo erros de ortografia, sintaxe e pontuação.

• Dislalia: definido como uma dificuldade na produção de fala, incluindo dificuldades na articulação de palavras, ritmo e fluência da fala.

É possível que uma criança tenha dislexia e disortografia juntas. Muitas vezes, crianças com dislexia também têm dificuldades com a ortografia e a escrita. No entanto, é importante lembrar que a dislexia e a disortografia são condições distintas e que a presença de uma não garante necessariamente a presença da outra.

O tratamento da dislexia geralmente envolve uma combinação de intervenções, incluindo técnicas de treino de leitura, orientação sobre estratégias de estudo, treinamento de habilidades de linguagem e uso de tecnologias apropriadas. Além disso, o apoio emocional e o atendimento especializado com fonoaudiólogo, por exemplo, contribuem para minimizar as dificuldades e auxiliar no progresso de crianças com dislexia.

Veja algumas estratégias pedagógicas para educadores que podem ser utilizadas para facilitar o ensino e a aprendizagem de crianças com dislexia:

• Adotar estratégias de ensino individualizadas e diversificadas.

• Utilizar recursos visuais e audiovisuais para auxiliar na compreensão dos textos e conteúdos.

O uso de imagens, mapas mentais e diagramas podem ajudar a melhorar a compreensão e a memória.

• Estimular a leitura em voz alta e trabalhar habilidades de decodificação podem ajudar a melhorar a compreensão e a memorização das palavras. Procure não expor a dificuldade da leitura da criança diante de seus colegas. Muitas podem ter constrangimento ao ler em voz alta.

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• Treinar a escrita de palavras e frases em um caderno ou em folha de papel pode ajudar a melhorar a habilidade de escrita.

• Fazer avaliações regulares e trabalhar em conjunto com especialistas em dislexia.

• Promover o envolvimento dos pais e ajudar a desenvolver a autoestima das crianças.

• Usar ferramentas tecnológicas, como softwares de leitura e escrita, pode ajudar no desenvolvimento da criança dislexa.

Veja alguns exemplos de atividades e recursos que podem ser utilizados na Escola Sabatina:

• Atividades de leitura lúdicas: jogos de palavras, adivinhas ou cruzadinhas podem ajudar a melhorar as habilidades de leitura da criança.

• Atividades visuais: usar imagens, gráficos, flashcards ou diagramas para ajudar a entender conceitos complexos.

• Atividades de escrita criativa: encorajar a criança a escrever histórias, poemas ou desenhar imagens para complementar a aprendizagem.

• Atividades de escuta ativa: usar jogos de escuta e repetição, música ou histórias em áudio para desenvolver habilidades de escuta e compreensão.

• Atividades de memória: jogos de memória, listas de tarefas ou repetição de informações podem ajudar a melhorar a memória da criança.

• Atividades multissensoriais: usar ações corporais, movimentos ou toques para complementar a aprendizagem e ajudar na retenção de informações.

• Atividades de resolução de problemas: usar jogos, quebra-cabeças ou atividades de resolução de problemas para ajudar a desenvolver habilidades de pensamento crítico e resolução de problemas.

Lembre-se de que cada criança com dislexia é única e pode ter necessidades diferentes. É importante trabalhar com a criança e seus

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PropostasparaCriançaseAdolescentescomTDAH,TODeDislexia

pais para determinar as melhores atividades para seu desenvolvimento individual.

CONSIDERAÇÕES

Independentemente de o educador receber uma criança com dificuldade, transtornos ou uma condição de deficiência, é importante que toda a atividade de ensino seja prazerosa e considere a inclusão de todos. Interação entre os pares e atividades colaborativas em grupo podem contribuir para que as crianças gostem e participem das aulas. O professor deve buscar ensinar com afeto e ludicidade, evitando comparações ou exposição de seus alunos. É importante criar laços de cumplicidade entre as crianças ou adolescentes, resolvendo cada caso, considerando o contexto de vida de cada um e buscandouma parceria acolhedora com suas famílias.

Sugestão de Atividade: “Nosso jeito único de aprender.”

Objetivo: Buscar a compreensão e o respeito às diferenças de aprendizado entre as crianças com TDAH, TOD e dislexia em sala de aula.

Dica: Adapte as instruções de acordo com a faixa etária e características de sua classe.

Parte 1: Numa roda de conversa, o educador deve explicar para as crianças, de forma lúdica e coerente com a faixa etária do grupo, o que são TDAH, TOD e dislexia e como essas condições podem afetar o processo de aprendizado.

Parte 2: Em seguida, deve pedir para todas as crianças compartilharem suas próprias experiências de aprendizado, destacando as coisas que são fáceis e difíceis para elas.

Parte 3: Em grupos de 4 a 5 crianças, solicitar que elas criem uma representação visual das suas experiências de aprendizado. Elas podem usar desenhos, pinturas, modelagem, colagem ou outras técnicas.

Parte 4: Pedir a cada grupo que retorne para a roda de conversa e solicitar que compartilhe sua representação visual com a classe.

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O educador deve mediar as apresentações e refletir com as crianças como as diferentes maneiras de aprender podem ser valorizadas e utilizadas para complementar e ajudar uns aos outros.

Parte 5: Finalmente, peça às crianças que escrevam uma reflexão sobre a importância da aceitação das diferenças de aprendizado e como elas podem ajudar umas às outras na sala de aula.

Essa atividade auxilia as crianças a compreender e respeitar as diferenças de aprendizado, promovendo um ambiente de apoio e inclusão em sala de aula.

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SíndromedeDown:UmOlhar,Um

PensareUmAgirMaisInclusivos

ClaudiaBeatrizSoaresPereiraCamilodaSilva

KeinyGoulartOliveira

INTRODUÇÃO

Você acha que “a salvação é para todos?” Se você acredita que a resposta é sim, precisa crer que a salvação também é para crianças ou adolescentes com deficiência. Por outro lado, pensar que uma criança ou adolescente com síndrome de Down (SD) será salva apenas em virtude da sua característica, apenas porque tem deficiência, tira dela o direito de vivenciar a maior riqueza do plano da salvação, que é o relacionamento com Jesus. Infelizmente é bem mais fácil pensar que pessoas com deficiência serão salvas por conta de suas especificidades, porque isso nos isenta da responsabilidade de evangelizá-las.

Em Marcos 2:1 a 5 encontra-se o relato do episódio em que quatro pessoas conduziram um paralítico até Jesus. A multidão atrapalhou os quatro amigos de se aproximarem de Cristo. Eles precisaram usar uma estratégia para conduzir o homem deficiente até Jesus. Usando uma maca presa por cordas no alto do telhado da casa em que Cristo estava, aqueles amigos ajudaram o paralítico a receber a bênção da cura. Se lermos esse texto com um olhar mais inclusivo, certamente notaremos que a “deficiência” daquele homem não foi a primeira coisa que Jesus identificou. Ele viu naquele homem o mesmo que vê em cada um de nós: alguém que precisa de salvação. Esse relato é uma amostra de que Jesus olha para nosso coração, e não para nosso corpo (BREEDING, et al. 2008).

Se a salvação é para todos, qual é a sua responsabilidade como professor da Escola Sabatina para com crianças ou adolescentes com SD, que aprendem de forma distinta das demais crianças? Você é capaz de deixar de lado a deficiência, as dificuldades

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Capítulo8

motoras, o comportamento muitas vezes inadequado, a linguagem quase incompreensível, olhar direto para o coração da criança ou adolescente com SD e ver nela alguém que pode ter um relacionamento real com Jesus?

Nem sempre essa criança ou adolescente se encaixa no pensamento de que todos devem agir de forma igual. Este capítulo pretende ajudar o professor do Ministério da Criança e do Ministério do Adolescente a entender que a criança ou adolescente com SD pode ter um relacionamento com Jesus, uma formação espiritual e compreender o quanto a atuação do professor em conjunto com a família pode ser relevante para o desenvolvimento dessa criança ou adolescente. O professor precisa estar ciente de que a aprendizagem significativa só poderá acontecer se o portador de deficiência for incluído em sua classe de Escola Sabatina. As atividades, a distribuição da sala, os materiais utilizados, a equipe e tudo o que for necessário devem ser pensados para que a criança com alguma deficiência, com todas as suas peculiaridades, também se sinta acolhida, amada e consiga ter uma experiência real com Jesus.

Uma grande explosão de sentimentos envolve os pais no período que antecede o nascimento de uma criança. São emoções tão singulares que se torna difícil descrevê-las, mas podemos tentar defini-las como um misto de sentimentos que estão relacionadosà ansiedade com os detalhes da gravidez e a incontrolável felicidade de ter um bebê recém-nascido nos braços. Nenhum pai ou mãe consegue ficar imune a essa mistura de emoções que envolvem expectativas, desejos e sonhos. Se você é pai ou mãe sabe quão prazeroso é o momento da chegada de um filho. Há um misto de alegria e expectativa tomando conta de todos os que estão envolvidos, tanto familiares quanto amigos (OLIVEIRA, 2017).

Porém os pais sabem que gerar uma criança é como andar de olhos vendados por um caminho totalmente desconhecido. Desde o momento da fecundação até a concepção, os pais precisarão percorrer

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SíndromedeDown:UmOlhar,UmPensareUmAgirMaisInclusivos e vencer várias barreiras. Entre elas, estará a insegurança em relação à saúde e à formação de um novo ser. Também entram os detalhes que envolvem os custos e a preparação para a chegada de uma criança em casa. Não podemos deixar de citar o aspecto emocional e psicológico dos pais que têm dúvidas e não se sentem completamente preparados para receber a criança que está sendo gerada. Não menos importante, entra o aspecto social, que envolve a chegada de um bebê. Todas as incertezas são angustiantes, mas receber a notícia de que o bebê tem algum problema na constituição biológica é algo inicialmente aterrorizante para os pais. Além disso,

[...] apesar de ser fundamental o seu conhecimento, muitas vezes [a constituição biológica] é relegada ou, em um país como o Brasil, conhecido por sua cultura religiosa cristã, é “transferida para Deus”, e dessa forma, junto com a possibilidade de o feto possuir uma má formação, criam-se expectativas e muitos pais sãolevados a crenças preconceituosas que geram falta de compreensão dos fatos e, consequentemente, frustração (OLIVEIRA, 2017, p. 11).

Segundo dados das Diretrizes de Atenção à Pessoa com Síndrome de Down, fornecidos pelo Ministério da Saúde em 2012, independentemente de etnia, gênero ou classe social, no Brasil nasce uma criança com SD a cada 600 a 800 nascimentos. Deve ficar bem claro que o comportamento dos pais não causa a SD. Não há nada que eles possam fazer para evitá-la. A SD não é culpa de ninguém, também não é considerada uma doença (se fosse assim, haveria possibilidade de tratamento e até cura, o que não é o caso), mas uma condição humana geneticamente determinada, causada por uma alteração cromossômica.

Ter um filho com SD não é uma escolha dos pais. O professor do MC e MA precisa entender que se ele tiver um conhecimento básico sobre o que é a SD também pode fazer parte dessa jornada de ajuda aos pais. Quando o professor recebe, acolhe e ama uma criança ou adolescente com essa ou outra síndrome está contribuindo para que

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a jornada desses pais seja muito mais repletade esperança do que de desespero. Como igreja em geral e professores de classe do MC e do MA temos a responsabilidade de acolher, amar e receber a família e a criança ou adolescente com SD.

ENTENDENDOASÍNDROMEDEDOWNOUTRISSOMIA21

A descrição clínica da SD foi feita pela primeira vez em 1866, quando o médico pediatra inglês John Langdon Down, que trabalhava no Hospital John Hopkins, em Londres, observou que um grupo de pacientes com comprometimento intelectual apresentava detalhes fenotípicos semelhantes, descrevendo-os como um quadro clínico com identidade própria. Na época, a condição chegou a ser denominada de mongolismo, atualmente considerado um termo não adequado, mas era assim denominado por causa das características faciais que se assemelhavam às do povo mongol. Os mais antigos devem se lembrar de terem ouvido falar de alguém que era “mongoloide”, certamente essa pessoa tinha SD. Em 1959, Jerome Lejeune e seus colaboradores demonstraram a presença do cromossomo 21 extra nas pessoas com essa síndrome. Por isso, ela recebeu parte do nome do médico pediatra inglês John Langdon Down (SAÚDE, 2012).

As pessoas com SD podem estar sujeitas a uma maior incidência de doenças. Apesar de apresentarem algumas características semelhantes entre si, elas também apresentam personalidades e características diferentes e únicas. Além dessa condição genética, trazem consigo as características genéticas dos pais, como a cor da pele, cor dos olhos, cor do cabelo, etc. (MUSTACCHI, 2000).

Fazendo uma descrição mais detalhada sobre a pessoa com SD, Mustacchi diz que:

Ao longo de 30 anos, nos quais tive a oportunidade de avaliar e examinar mais de 6 mil indivíduos com síndrome de Down, de fio a pavio, inclusive o pavio, aprendi que as pessoas que têm síndrome de Down são pessoas comuns, que têm na sua formação genética

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SíndromedeDown:UmOlhar,UmPensareUmAgirMaisInclusivos um pedaço pequeno do menor dos cromossomos em excesso, isto é, simplesmente é um material a mais. Esse material a mais tem sua expressão traduzida em três situações clínicas que as diferenciam das outras pessoas 1) uma pessoa comum que tenha característica que lembre um oriental; 2) pequenas e quase imperceptíveis diferenças caracterizadas como atraso do desenvolvimento motor relacionadas à redução da sua força muscular; e 3) apresentação de dificuldades na sua capacitação em virtude de alterações neurológicas. A característica facial mais marcante nas pessoas com SD é o desenho dos olhos que costumam ser um pouco afastados entre si um pouco puxados para cima, dando-lhe uma característica amendoada (MUSTACCHI, 2000).

AsdiferentesformasdeTrissomia21

• Trissomia Livre ou Simples – A síndrome de Down (SD) ou trissomia do cromossomo 21 (T21) é gerada pela presença de uma terceira cópia do cromossomo 21 em todas as células do organismo (trissomia). É uma alteração genética causada por uma divisão celular atípica durante a divisão embrionária. Sendo assim, as pessoas com T21 têm 47 cromossomos em suas células em vez de 46, como a maior parte da população em geral. Esse tipo de trissomia está presente em 95% das pessoas com SD. Trissomia livre ou simples é quando todas as células possuem 47 cromossomos (SAÚDE, 2012).

• Translocação – A translocação cromossômica ocorre quando o braço longo excedente do 21 liga-se a outro cromossomo qualquer. Nesses casos, portanto, não existe um cromossomo a mais, pois o 21 em excesso se encontra ligado a outro cromossomo. Por volta de 3 a 4% das pessoas com síndrome de Down apresentam dois cromossomos do par 21 completos (o comum) e um pedaço maior ou menor de um terceiro cromossomo 21, que geralmente está colado a outro cromossomo de outro par. Na translocação, o cromossomo 21 extra aloja-se em outro cromossomo (o 14, ou 22) (SAÚDE, 2012).

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• Mosaicismo – Em 1% a 2% de pessoas com síndrome de Down podemos encontrar uma mistura de células: uma porcentagem das células com a Trissomia do 21 e outra porcentagem sem a Trissomia. No mosaicismo, parte das células são normais, tem 46 cromossomos. Outra parte, no mesmo indivíduo, tem 47. A isso chamamos de mosaico. Os casos de mosaico são raros, e sua presença não modifica os cuidados e estímulos necessários a uma pessoa com SD (SAÚDE, 2012).

Característicasfísicas

As características de um indivíduo são formadas pela combinação entre as informações vindas do pai e da mãe. A pessoa com SD herda não apenas as características dos pais, mas também as características provenientes da alteração genética, comum entre as pessoas com SD. Da mesma forma que uma criança não será a cópia perfeita de seus pais, pois algumas características físicas e psicológicas estarão presentes e outras não, as características frequentes em quem tem SD também podem estar presentes ou não. Sendo assim, algumas pessoas com SD apresentam mais características da sua condição genética do que outras. Dalla Déa e Duarte (2009) mencionam algumas dessas características que, como já dissemos, podem ou não estar presentes na pessoa com SD:

• Prega epicântica e fissura palpebral oblíqua – São características que dão aos olhos um formato amendoado e o característico aspecto oriental.

• Orelhas pequenas – As orelhas da pessoa com SD são normalmente menores e, às vezes, apresentam dobras, podem também ter implantação mais baixa.

• Nariz pequeno, ponte nasal baixa – O nariz é mais achatado e menor do que o convencional, a ponte nasal é mais plana que o usual. Essa é uma característica já observada por meio de ultrassonografia por ser um forte indício da síndrome ainda durante a gestação.

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SíndromedeDown:UmOlhar,UmPensareUmAgirMaisInclusivos

• Língua hipotônica – Muitosacreditam que a pessoa com SDtem a língua maior que o convencional, o que é um erro. O que leva a pessoa com SD a ficar com a língua para fora da boca é a hipotonia da língua e o formato da boca, que pode ser um pouco menor do que o usual em outras pessoas sem a síndrome. Essa hipotonia também contribui para a dificuldade na fala.

• Boca e dentes pequenos – Como dito anteriormente, a boca da pessoa com SD pode ser um pouco menor do que o habitual. Os dentes podem nascer numa ordem distinta do comum, podem ter tamanho menor. O céu da boca, palato, é mais estreito e mais alto, o que faz com que os dentes nasçam fora do lugar ou tenham tamanhos diferentes.

• Cabelos finos e lisos – Os cabelos podem seguir características familiares e ser crespos, ondulados ou lisos, mas em sua maioria são finos e lisos.

• Prega palmar única e transversal – Em sua maioria, têm mãos mais largas, menores e com dedinhos mais grossos; no lugar das três linhas convencionais na palma da mão, normalmente as pessoas com SD apresentam somente uma linha atravessando a palma da mão. Alguns, ainda, apresentam o dedo mínimo com apenas uma flexão, denominada clinodactilia, e a maioria da população apresenta duas flexões.

• Distância entre os dedos dos pés e sulco profundo na planta dos pés – Têm pé plano, ou pé chato, causado pela hipotonia muscular nos músculos que sustentam o pé. Os pés também podem apresentar um espaço maior entre o hálux e o segundo dedo.

Ainda há outras características físicas que a pessoa com SD pode ter, como uma estatura mais baixa, manchas de brushfield na pele, pescoço mais curto e grosso, pele da nuca frouxa e hipotonia muscular.

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Característicaspsicológicas

A primeira coisa que precisamos saber sobre a pessoa com SD quanto às suas características psicológicas é queela, como qualquer outra pessoa, tem uma personalidade própria. Você poderá encontrar crianças ou adolescentes mais agitados e outros mais tranquilos. Da mesma forma, ocorre com a criança ou adolescente com SD. Você encontrará crianças típicas e atípicas que não saberão se comportar adequadamente, e outros que seguem regras sociais de maneira adequada.

É preciso desmistificar a ideia de que todas as pessoas com SD têm o mesmo comportamento, são amorosas e afetuosas. Nem toda criança com SD é agitada, nem toda criança com SD é carinhosa, nem todo adolescente com SD tem impulsos sexuais descontrolados e nem todos os adultos com SD seguem rotinas fixas, como alguns afirmam. Todas essas características podem ou não fazer parteda personalidade da pessoa com SD. Todos esses comportamentos estão muito relacionados com a educação recebida pela família e com o tipo de influência recebida do ambiente social em que a pessoa está inserida.

Habilidadesdelinguagem

O desenvolvimento da linguagem pode ser considerado um dos grandes desafios para a criança com SD. Ele acontece de forma mais lenta do que nas crianças típicas e, em alguns casos, fica incompleto. Nem todos os componentes da linguagemavançam no mesmo ritmo. As competências linguísticas de uma pessoa com SD são reduzidas. Pelo atraso no desenvolvimento da linguagem, a criança apresenta um déficit bem maior na linguagem expressiva do que na compreensiva. Ela compreende melhor do que se expressa. Isso quer dizer que ela não conseguirá formar palavras e frases com tanta facilidade para se comunicar. Devemos lembrar que, muitas vezes, as crianças com SD são acusadas de teimosas, ou de mexerem em algo sem pedir, quando na verdade estão apenas tentando encontrar uma maneira de

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SíndromedeDown:UmOlhar,UmPensareUmAgirMaisInclusivos expressar sua opinião, seu desejo, sua intenção ou de mostrar sua vontade, uma vez que nem sempre conseguem expressar verbalmente o que sentem (LIMA, et al. 2017).

A linguagem da criança ou do adolescente com SD tem um nível inferior ao de sua capacidade intelectual. Por isso, muitas vezes, eles são considerados com um déficit intelectual maior que o real. Imagine uma pessoa entre estrangeiros que não entendem a sua língua, ninguém a entende e pedem que repita o que disse várias vezes. Naturalmente essa pessoa deixa de falar, ou passará a falar o mínimo possível, usando as palavras as quais ela tenha certeza de que serão compreendidas. É mais ou menos isso que acontece com quem tem SD. Eles reduzem a complexidade de uma ideia e utilizam palavras e frases simples para se comunicar.

Processamentoauditivo

Boa parte das crianças com síndrome de Down apresenta algum tipo de perda auditiva. Os ossos da face e do crânio são menores do que na maioria das pessoas, tudo isso influencia na forma como os sons serão processados pelo aparelho auditivo. Assim como formar palavras e frases é uma habilidade que exige grande esforço para a pessoa com SD, compreender o que as pessoas falam também requer muito empenho. Como você se sentiria se chegasse à sua classe de Escola Sabatina e todos começassem a falar em uma língua que só você não entende? É mais ou menos isso o que acontece com a criança com SD com dificuldades auditivas. Será bem mais difícil para essa criança permanecer sentada ouvindo uma história, por exemplo. Nesses casos, será preciso encontrar maneiras de estabelecer a comunicação; talvez seja necessário simplificar as informações, usar frases curtas, ilustrar a mensagem com muitas imagens, mostrar o que deve ser feito, conduzir as mãos da criança, orientar de forma simples, articular bem as palavras e pronunciá-las claramente para que ela compreenda o que está sendo dito.

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Desenvolvimentocognitivo

É importante salientar que a alteração cromossômica que acontece com a pessoa com SD não é apenas determinante com relação às características físicas, mas também no aspecto cognitivo. O indivíduo com SD costuma ter limitações no desenvolvimento das habilidades sociais e intelectuais. Pessoas com SD têm deficiência intelectual (DI), e não deficiência mental. Deficiência intelectual é diferente de doença mental. Por isso é importante não confundir os termos. Deficiência intelectual está relacionada com limitações no desenvolvimento cognitivo. Já a doença mental se configura como doenças psiquiátricas, transtornos e distúrbios específicos (FRANÇA, 2019).

Desenvolvimentomotor

Conforme Holle (1979), “a sequência de desenvolvimento da criança com síndrome de Down geralmente é bastante semelhante à de crianças sem a síndrome, e as etapas e os grandes marcos são atingidos, embora em ritmo mais lento”. Goldberg (2022) também afirma que o desenvolvimento motor é um processo lento e contínuo para todas as crianças, mas para as crianças com SD as etapas ocorrem de forma bem mais lenta. Elas conseguirão realizar os mesmos movimentos realizados pelas demais crianças, mesmo que esse processo seja demorado e tardio, desde que sejam estimuladas precocemente, incentivadas e apoiadas pelas pessoas do seu convívio (ARAKI; BAGAGI; 2014).

Malformaçãocardiovascular

Para Bauer e Taliari (2017), “a malformação cardíaca é o defeito congênito mais comum encontrado nas pessoas com SD”. Quase metade das crianças com SD apresenta cardiopatia congênita, ou seja, presentes no nascimento. Por isso, todos os bebês com SD devem fazer um ecocardiograma para descartar qualquer suspeita de anormalidade. Alguns dos problemas cardíacos são simples, sem grandes

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SíndromedeDown:UmOlhar,UmPensareUmAgirMaisInclusivos consequências; outros, no entanto, são bem graves e necessitam de intervenção cirúrgica. Mas, com o acompanhamento adequado, a criança poderá ter uma vida saudável e ativa no futuro.

AINCLUSÃODACRIANÇAEDOADOLESCENTECOM SÍNDROMEDEDOWNNACLASSEDOMCEDOMA

As crianças com SD precisam ser estimuladas desde o momento de seu nascimento para que, dessa maneira, possam vencer as limitações trazidas pela alteração genética. Como a pessoa com SD apresenta necessidades bem específicas de saúde e também de aprendizagem, é necessário haver o acompanhamento e a assistência de profissionais multidisciplinares, sem falar na atenção contínua e permanente dos pais.

Ir à escola, à praia, praticar esportes, participar de um clube, frequentar a igreja e outros lugares de convívio social é uma prática saudável para a criança ou adolescente com SD, e essas práticas devem ser estimuladas pela família. Pessoas com SD, assim como as demais, precisam ter uma vida saudável. Por essa razão, a SD não deve ser um impedimento para o convívio social. Privar alguém com SD de atividades sociais e de lazer só trará consequências negativas para o desenvolvimento cognitivo, social e espiritual.

A criança e o adolescente com SD devem sempre ser estimulados para o convívio e a participação social. A participação na classe do MC e MA deve ser, sem dúvida alguma, uma grande aliada da família no processo de interação da criança com outras pessoas. O professor da classe deve ter bem claro que as pessoas com SD têm muito mais características em comum com o restante de sua classe do que diferenças. Há quatro pilares que consolidam as ações de apoio que uma instituição (no nosso caso, a igreja) deve prestar à família:

A meu ver são quatro os pilares fundamentais que consolidam a ação de apoio queuma instituição deve prestar à família.O primeiro, cuidar do ambiente que a rodeia com calidez, sensibilidade, proximidade, singularidade e interesse; o segundo, auxiliar da melhor forma

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possível para que a criança cresça segura, e para isso é indispensável contribuir com informação, conhecimento e formação propriamente dita; o terceiro pilar é exercitar uma ação individualizada, porque o indivíduo com síndrome de Down e sua família têm nome e sobrenome; e o quarto, considerarque a ação se dá a longo prazo, uma vez que a síndrome de Down se caracteriza por sua permanência do nascimento até a morte (SERÉS, et al. 2011).

A comunidade religiosa precisa ter responsabilidade não somente com as crianças e os adolescentes com deficiência, mas também ser uma rede de apoio à família. Se faz necessário entender que a família de uma pessoa com SD precisa muito mais do que nossas orações. É preciso que o professor da classe do MC e do MA pense em estratégias que possibilitem que a criança ou o adolescente com SD experimente a prática religiosa em sua vida diária, mesmo que ela/ele não consiga entender os conceitos abstratos que envolvem a vida espiritual (fé e salvação, por exemplo). Xavier (2008) diz que “é confortante saber, também, que há no coração de Deus e no reino dos Céus um lugar para as crianças que apresentam problemas mentais. Deus em Sua infinita sabedoria e justiça jamais agirá de forma injusta ou imprudente para com seus filhos”. Seguindo o exemplo divino com relação à justiça citada acima, também precisamos ser justos com essas crianças ou adolescentes. O professor da classe do MC e do MA precisater claro em sua mente que tratar uma criança ou adolescente com SD com justiça não é a mesma coisa que tratá-lo da mesma forma que os demais. Tratar com justiça é dar a ela/ele o que ela/ele precisa de acordo com suas especificidades. Não é possível, por exemplo, dar a ele a “mesma” atividade que todos receberam, em que ele precisará fazer um registro escrito, caso ele não tenha a habilidade de escrever bem desenvolvida. Mas pode-se auxiliá-lo a fazer a mesma atividade de maneira adaptada: escrever as respostas em etiquetas adesivas para ele escolher a correta e colar no espaço indicado, usar letras de um alfabeto móvel para que ele forme as palavras e possa responder, usar um cartaz com as respostas ou um recurso tecnológico para ele digitar a resposta.

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Também pedir que associe a resposta a uma imagem, que responda oralmente, dependendo do seu desenvolvimento na área da linguagem, dar as respostas em forma de alternativas de múltipla escolha para ele marcar ou apontar a resposta certa, etc.

É óbvio que, dependendo do grau de comprometimento cognitivo da criança, nãose poderá exigir que memorize um verso bíblico por semana, por exemplo. Sabendo que suas habilidades cognitivas não possibilitam que ela consiga memorizar todo o verso, pode ser solicitado que ela aprenda um verso por trimestre ou um verso bíblico específico, que tenha conexão com a mensagem ensinada na classe, seja pequeno e de fácil pronúncia, mesmo que não seja o verso para decorar. A cada sábado, deve-se repetir o verso com ela, até que chegue o momento em que o professor vai apenas começar, e a criança prontamente dará continuidade. Não importa se ela vai levar uma semana, um mês ou um ano para decorar o verso bíblico. O importante é que cada passo dessa conquista seja comemorado por todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. O que não podemos permitir é que a criança fique alheia, veja os outros colegas fazerem a atividade e se sinta incapaz por não poder realizá-la como os demais. Ela não deve ser levada para dar uma voltinha no corredor enquanto as outras crianças realizam a atividade, nem mesmo levar para casa a folha de tarefa sem fazer, reforçando sentimentos de incapacidade.

O“olhar”inclusivodoprofessorsobreacriança ouadolescentecomSD

O professor das classes do MC e do MA se tornará inclusivo quando adotar uma atitude de amor, aceitação e interesse na salvação da criança ou adolescente com necessidades especiais. Essa postura norteará suas decisões e ações na classe. Só pelo fato de ser um cristão, todo professor do MC e do MA já deveria ter um olhar inclusivo e, jamais, excludente. O fato de ter uma criança deficiente não deveria causar estranhamento a nenhum professor, uma vez que

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todos acreditam e defendem a ideia deque a salvação é para todos. Infelizmente, a inclusão ainda éuma utopia em muitas igrejas. Há professores maravilhosos e verdadeiramente inclusivos, mas também há aqueles que só conseguem ver as limitações da criança ou adolescente com dificuldades.

Lembro-me do relato de uma mãe sobre a atitude de uma professora da classe do MC e do MA do filho com SD. Todas as crianças da classe foram desafiadas a memorizar o versobíblico da semana, gravar um vídeo recitando o verso e enviar em uma rede social da classe. A mãe sabia que esse era um grande desafio para seu filho por conta de sua dificuldade de memorização. Os alunos teriam toda a semana para enviar o vídeo. Mas, no sábado à tarde, alguns já estavam enviando a tarefa. Comoo verso era curto, a mãe tentou ajudar o filho com SD a memorizar. Porém, mesmo após várias tentativas, ele não conseguia. Na época existia uma tendência nas redes sociais, em que as pessoas escreviam uma mensagem em diversas páginas e mostravam uma a uma sem falar, para que fosse lida por quem estivesse assistindo ao vídeo. A mãe pensou em fazer algo semelhante. Como o verso era curto, com palavras fáceis de serem lidas, e o filho estava em processo de alfabetização, ela o desafiou a fazer um vídeo com as palavras escritas em folhas avulsas. Escreveram o texto com canetinha colorida. Gastaram um bom tempo nesse processo, por contada dificuldade motora e de escrita do garoto. A mãe filmou o filho passando folha por folha e lendo palavra por palavra. A felicidade dele ao ver o filmezinho editado foi imensa. A tarefa estava realizada. Ele tinha um vídeo para mandar para a professora. Enviaram o vídeo e, em pouco tempo, a professora ligou para a mãe, que achou que receberia parabéns pelo trabalho apresentado. Contudo, qual foi a surpresa da mãe quando a professora pediu para que o vídeo fosse excluído do grupo, argumentando que um vídeo tãoelaborado poderia constranger os outros alunos, que tinham enviado vídeos mais simples, porém que mostravam que a criança havia realmente memorizado e

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não estava apenas lendo. A professora também pediu que em outras atividades propostas a criança não fizesse vídeos muito elaborados. Ainda concluiu a fala com “você não me leva a mal, né?” Como você pensa que essa mãe se sentiu? Como a criança deve ter se sentido?

A atitude da professora foi totalmente excludente. Se você fosse a mãe dessa criança, conseguiria levar seu filho novamente para essa mesma classe? Infelizmente, muitas pessoas nem sequer fazem ideia do quanto suas atitudes discriminatórias podem ferir.

Sobre a proposta de ensino para as classes de Escola Sabatina, é importante seguir o passo a passo sugerido nos manuais de cada classe. As crianças serão envolvidas ativamente na experiência de aprendizagem, levando em consideração as maneiras pelas quais uma pessoa aprende.

O professor deve conhecer o currículo e a proposta de ensino de cada classe da Escola Sabatina. As atividades de cada sábado devem ser muito bem pensadas e preparadas para que cada criança seja contemplada com atividades relevantes e de acordo com seu jeito de aprender. O professor deve descobrir o perfil de aprendizagem de cada aluno e procurar pensar propostas de transmissão do conteúdo que contemplem os diversos aprendizes. Deve ter um olhar inclusivo, saber as necessidades de seus alunos e perceber quais são suas potencialidades. O professor inclusivo precisa ver além do que a maioria vê; seguindo o exemplo de Deus, ele deve observar além da aparência de cada estudante.

Lembre que a criança ou adolescente com SD “tem” uma deficiência, ele “não é” a deficiência. Então, nunca diga que você tem um Down na classe, você tem uma criança ou adolescente “com” síndrome de Down. Ela também não é uma “portadora” da síndrome, como se fosse um objeto que pode tirar do corpo quando quiser. Ela não “porta” a síndrome, ela “tem” a síndrome.

Quando o professor direciona seu “olhar” para seus alunos do mesmo jeito que Deus vê a cada um, ele vai conhecer a criança ou adolescente, traçar seu perfil, compreender suas limitações e buscar

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valorizar suas capacidades e potencial. Agindo assim, o professor passará a agir e ensinar de maneira inclusiva.

O“pensar”doprofessoresua“açãoinclusiva” naclassedoMCedoMA

O professor inclusivo precisa pensar suas ações na classe. Tudo começa com um bom planejamento. Todos os envolvidos na classe devem participar desse planejamento para que cada um saiba como e quando agir, intervir, orientar e cumprir com seu papel. O professor deve planejar antecipadamente o que e como irá realizar cada passo do ensino. Um planejamento bem preparado resultará em uma experiência produtiva de ensino e aprendizagem eficaz. Para isso, o professor necessita se apropriar de algumas ferramentas que lhes serão de grande ajuda no momento de planejar:

• Oração: Deus deve ser sua maior fonte de sabedoria.

• Atitude positiva: você é um instrumento de Deus para conduzir as crianças para a salvação.

• Criatividade: pensar nos recursos e adaptações necessários para que todos aprendam, pesquisem e busquem soluções para seus problemas.

• Flexibilidade: esteja preparado para o plano B, nem sempre o que se planeja dá certo.

• Persistência: mantenha o foco. O desânimo é uma arma do inimigo.

O professor precisa lembrar que nem todos aprendem a mesma coisa, da mesma forma e ao mesmo tempo. E, quanto a isso, está tudo bem! Tenha em mente que a criança passa a acreditar que elaé capaz a partir do momento que consegue ter uma experiência de sucesso em suas tentativas. Isso vale para crianças com ou semdeficiência. Para um planejamento eficaz é preciso saber o que a classe precisa aprender/fazer. É fundamental que o professor responda a algumas perguntas básicas na hora de planejar, levando em consideração seu aluno com SD:

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• O que minha classe precisa fazer?

• Meu aluno com SD vai conseguir fazer?

• Posso usar o mesmo material para todos?

• Preciso fazer alterações/adaptações para meu aluno?

• Vou precisar de materiais diferentes para ele?

• Como posso inserir ainda mais a participação dos meus alunos nas atividades?

• Meu aluno gosta de música, ritmos? Posso utilizar esse recurso?

• Meu aluno gosta de usar a linguagem corporal?

• Meu aluno gosta de fazer atividades em grupo ou prefere estar sozinho?

• Ele consegue se expressar oralmente?

• Ele já está alfabetizado?

• Tem habilidade de escrita, consegue desenhar e pintar?

• Ele aprecia as histórias bíblicas?

• Ele gosta dos elementos da natureza?

• Ele tem alguma restrição alimentar?

• O que mais gosta de fazer?

• O que menos gosta na classe?

Tenha em mente que o que a criança ou adolescente mais quer em sua classe é ser aceita, amada, ter o senso de pertencimento e ser acolhida pelos professores e colegas. Envolva a criança ou adolescente nas encenações bíblicas, incentive a oração, mesmo que sua pronúncia não seja a melhor, motive a criança a participar, sempre que possível. Mas tenha cuidado para nãoexpor ou constranger a criança. Respeite o tempo e os limites de cada um. Vibre com as vitórias e conquistas, por menores que elas pareçam ser aos seus olhos. Muitas delas demandaram grande esforço por parte da criança. Esse reconhecimento a ajudará a aumentar a autoestima. Você pode ser visto por essa criança ou adolescente como o principal herói que ela conhecerá, a principal referência de Deus e pessoa que se preocupa de verdade com o fortalecimento da sua fé.

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Deus colocou no coração e na alma de toda criança o potencial para a grandeza. Independentemente da aparência dela, da forma como aprende ou se comporta. Deus criou cada uma, e todas elas, para propósitos nobres e magníficos. Contudo muitas crianças não percebem seu potencial porque não se veem como Deus as vê. Você, como professor, tem uma oportunidade única de mostrar para as crianças que elas são especiais, pois foram criadas individual e amorosamente por um Deus que pretende que vivam à imagem Dele. Deus criou-as para se elevarem majestosa e gloriosamente. Elas precisam apenas de alguém para ser modelo delas, para mostrar-lhes o caminho. O único campeão, o único herói que algumas crianças têm é o professor. É nossa responsabilidade ajudar essas crianças a verem suas possibilidades e a entenderem seu potencial – e se tornarem o que Deus pretende que sejam (BREEDING, et al. 2008).

CONSIDERAÇÕES

O presente capítulo abordou a inclusão, de maneira mais efetiva, da criança ou adolescente com síndrome de Down nas classes do Ministério da Criança e do Ministério do Adolescente. Também procurou mostrar ao professor a importância de que elelance um novo “olhar” sobre a criança ou adolescente com alguma deficiência e passe a vê-la como Deus a vê: como uma candidata ao Reino do Céu. Também enfatizou a ideia de que a salvação é para todos e precisamos ajudar a criança ou adolescente com síndrome de Down a vivenciar uma das maiores riquezas do plano da salvação: o relacionamento com Jesus.

O capítulo destacou a grande relevância do professor como alguém que participará da jornada da família da criança ou adolescente com síndrome de Down no processode aceitação, respeito e acolhimento. Também apresentou o contexto histórico sobre a síndrome de Down e suas principais características.

A partir dessas noções básicas sobre a síndrome e do entendimento de que a criança ou adolescente precisa ser incluído na classe do Ministério da Criança e do Ministério do Adolescente para poder

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fortalecer seu relacionamento com Jesus, foram feitas algumas sugestões para a realização de um bom planejamento.

Conclui-se, então, que o professor da classe do Ministério da Criança e do Ministério do Adolescente deve ser desafiado a olhar a criança ou adolescente com síndrome de Down para além de sua deficiência e enxergar nelas pessoas com potencial para desenvolver um relacionamento com Deus. É fundamental acolher, aceitar, buscar respeitar as limitações e evidenciar as habilidades e potencialidades de cada aluno. De maneira prática, a Igreja Adventista do Sétimo Dia criou uma rede para apoiar as famílias das pessoas com síndrome de Down. É possível acompanhar os projetos acessando @down.abraco.br.

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Capítulo9

EstratégiasePráticasdeInclusãode

PessoascomTranstornodoEspectro

AutistanaEscolaSabatina

AlinedosSantosFrançaVenancioGonçalves

EdnaRosaCorreiaNeves

KeikoShikako

SuzeteAraújoÁguasMaia

INTRODUÇÃO

Pare e pense um pouco em suas características, gostos e preferências. Quando você chega à igreja, como gosta de ser cumprimentado? Você gosta de receber um apertode mão forte ou fica incomodado? Gosta quando está visitando uma igreja e alguém desconhecido lhe dá um abraço ou prefere um sorriso com um aceno a distância? Prefere se sentar nos bancos da frente ou nos de trás?

A igreja é um lugar cheio de estímulos, cores e sons. Precisamos nos adaptar e interagir com várias pessoas que não são do nosso convívio diário. Esse é um desafio que pode ser mais fácil para algumas pessoas do que para outras. As crianças ou os adolescentes que têm algum tipo de deficiência, como o autismo, a paralisia cerebral e a surdez, por exemplo, costumam enfrentar dificuldades para interagir e se relacionar. A igreja, como espaço de convivência, deve ser pensada como um lugar de acolhimento das diferenças, onde todos podem ser quem são e estar na presença de Deus com tudo o que têm. Nosso papel na igreja, como colaboradores, professores ou monitores, é o de ver essas diferenças, entender as pessoas que estão ali e responder a essas diferenças da maneira mais respeitosa possível, para que cada criança, adolescente e jovem possa, por meio de nossa compreensão, aceitação e amor, compreender também o amor de Deus.

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A vivência diária, o apoio emocional dos familiares e, principalmente, as habilidades cognitivas do indivíduo transformam cada um de nós em um ser único com relação à aprendizagem.

Além da capacidade cognitiva e das oportunidades de aprendizagem (método de ensino, aprendizagem pela observação e exemplo das pessoas com quem o sujeito convive), a motivação individual tem alto potencial de influenciar o jeito de cada um aprender.

Uma diferença no desenvolvimento pode ter várias origens: autismo, surdez, déficit de atenção e hiperatividade, déficits intelectuais e de aprendizagem. Todos esses contribuem para que um indivíduo apresente diferenças na maneira como aprende, interage com outros e com as atividades e participa em seu contexto social.

Assim, cabe ao educador, ou a qualquer outra pessoa envolvida no Ministério, entender essas diferenças e fazer o que estiver ao alcance para adaptar o ambiente e facilitar assim a participação, a inclusão, o engajamento e a aprendizagem dessa pessoa dentro de todas as atividades propostas na igreja. Fornecer a cada criança ou adolescente uma estratégia individual mais adequada para seu modo de aprender pode demandar mais esforço, mas vale a pena para todos.

Neste capítulo, vamos abordar as características específicas do transtorno do espectro autista (TEA) e relacionar questões práticas que podem auxiliar o professor, os líderes do Ministério da Criança e do Ministério do Adolescente e as famílias.

Como educadores cristãos, temos que acompanhar os estudos sobre essa temática para que, na Escola Sabatina e nos cultos regulares da igreja, crianças e adolescentes com TEA possam desenvolver sua espiritualidade, ter direito à aprendizagem bíblica e experimentar diferentes vivências que o programa da Escola Sabatina pode e deve proporcionar a todas as crianças, independentemente de sua condição. A proposta curricular utilizada na Igreja Adventista do Sétimo Dia no Brasil é fruto do estudo compartilhado de especialistas

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de todo o mundo. Considera a Teoria das Múltiplas Inteligências (GARDNER, 1995) e dos Estilos de Aprendizagem (LEFEVER, 2012) e propõe uma aprendizagem ativa e cativante, buscando envolver todos os alunosnas propostas apresentadas.

A inserção de práticas pedagógicas inclusivas com crianças e adolescentes com TEA na proposta curricular da Escola Sabatina promoverá o desenvolvimento integral desses indivíduos no cotidiano da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

De acordo com o DSM5, o TEA se caracteriza por um quadro clínico em que prevalecem prejuízos na interação social, como problemas com comportamentos não verbais, contato visual, postura e expressões faciais, bem como dificuldades na comunicação, tanto verbal quanto não verbal, que podem incluir atrasos ou ausência da linguagem. Crianças e adultos autistas podem ter habilidades verbais variadas e diferentes níveis de interação social (DSM5, 2015). Cada pessoa autista é única e diferente das outras.

Por isso, é importante aprender a olhar para a criança/adolescente que está à sua frente, em sua sala de Escola Sabatina, e entender quem ela é, o que precisa, quais são suas preferências e estilos de aprendizagem e como vai entender melhor o amor de Deus.

Para ajudar crianças e adolescentes a aprender e progredir, precisamos nos dedicar a entender alguns dos desafios específicos que essas crianças e adolescentes apresentam, como (LEAR, 2004, p. 2, 3):

• Comunicação: Podem apresentar pequena ou nenhuma linguagem receptiva (fala) ou compreensiva (compreensão), podem ser ecolálicas (repetindo palavras ou frases) ou mesmo ter um modo peculiar de falar (podem estar fixados em um assunto ou apresentar tom ou volume de voz que pode soar diferente para outros). Essas características são diferentes para cada pessoa.

• Habilidades sociais: Podem evitar totalmente o contato social ou se apresentarem de maneira única nas interações sociais. Podem ter dificuldade em entender “pistas” sociais, como quando é a

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hora de falar ou não, quando alguém está brincando ou falando sério sobre um assunto.

• Habilidades para brincar: Deixadas por sua conta, podem não explorar ou brincar com os brinquedos da mesma maneira que faria uma criança com um desenvolvimento típico, ou podem ter sua atenção focada em determinado brinquedo ou objeto (repetir a mesma coisa sem parar). Na adolescência, podem ter uma atração por um assunto, demonstrando grande interesse e conhecimento profundo sobre o tema.

• Processamento visual e auditivo: Esses sentidos podem ser pouco reativos, com resposta nula ou pequena a pistas visuais ou auditivas, ou podem ser hipersensíveis a uma série de sons e estímulos visuais, que podem ser muito perturbadores. Assim, sua tolerância a luzes, sons, cheiros e organização do espaço pode precisar de adaptações e familiaridade para que a pessoa se sinta segura e consiga participar das atividades propostas.

• Autoestimulação: Podem se engajar em comportamentos de autoestimulação, que podem ser reconfortantes e previsíveis. O comportamento pode envolver o corpo todo (balançar o corpo, abanar as mãos, girar em círculos, etc.), usar brinquedos de forma incomum, ou apresentar um desejo grande de que pessoas e objetos fiquem sempre no mesmo lugar ou que os acontecimentos sigam um padrão previsível.

• Reforçadores: Os autistas podem necessitar, em algumas situações, de reforçadores muito pessoais, com os quais o educador precisará trabalhar para motivar a criança ou o adolescente a participar, à sua maneira. Lembre-se de que a expectativa de que todas as crianças participem e respondam da mesma maneira em qualquer atividade é irreal. Na igreja, mais do que em qualquer outro espaço de aprendizagem, essas diferenças devem ser respeitadas. Por se tratar de um amplo espectro, nem todas as características são observáveis em todos os indivíduos. Os professores e líderes

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precisam entender que essas características podem se apresentar de forma variável e em intensidade distintas. É fundamentalevitar os rótulos e opiniões do senso comum sobre os autistas, como pessoas que “não interagem com ninguém” ou “vivem no seu próprio mundo”, pois essas generalizações podem afastá-los das possibilidades de aprendizagem ativa do programa curricular da Escola Sabatina. Durante a adolescência, a maioria dos autistas já terá desenvolvido um conhecimento suficiente sobre si para se expressar, sem ou com o apoio de seus cuidadores (pais, irmãos, familiares). Lembre-se de que o jovem deve ser tratado sempre de acordo com sua idade biológica. Um adolescente autista será um adolescente: passando por mudanças hormonais, interesse pelo sexo oposto, comportamentos mais instáveis e testando limites de disciplina e relações interpessoais como qualquer adolescente. Infantilizar um jovem por conta de seu desenvolvimento intelectual ou cognitivo não é apropriado. O ideal é que o jovem seja inserido no grupo de idade pertinente à sua idade biológica, para que possa ter oportunidades de crescimento, liderança e aprendizagem condizentes à sua idade. Isso é importante também para que os outros jovens da igreja tenham a oportunidade de aprender com o jovem autista sobre diferenças, respeito e tolerância.

ORIENTAÇÕESEPROCEDIMENTOSINICIAIS

Lembre-se sempre de que é fundamental primeiro conhecer a criança/adolescente, entender quais são suas preferências, o que gosta e o que não gosta, o que “funciona” com ela. Esse conhecimento pode ser obtido, a princípio, por meio de uma conversa franca e aberta com os pais e/ou cuidadores próximos e com o próprio jovem, se ele tiver idade para participar do assunto. Deixar a criança/adolescente ser um agente em seu próprio processo de aprendizagem é fundamental para o sucesso da inclusão. Não tenha medo ou vergonha de perguntar e esteja aberto para escutar o que a pessoa e sua família

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têm a dizer e ensinar. Todos aprendem e crescem em sabedoria, graça e amor nesse processo.

Selecionamos aqui alguns tópicos sobre o TEA que podem ajudar a estruturar as atividades na Escola Sabatina e outras atividades da igreja, mas que principalmente podem ajudar a ampliar nosso pensamento sobre nossa missão cristã de enxergar possibilidades no outro.

O conteúdo desses tópicos não deve ser generalizado, mas servir como guia de questões recorrentes.

Característicasdeaprendizagem

Crianças e adolescentes autistas podem encontrar obstáculos ao tentar aprender as habilidades necessárias para participar de atividades e situações cotidianas. Consequentemente, é necessário ensinar cada habilidade ou comportamento de forma sistemática e específica.

Desse modo, é indicado que o professor conheça mais a fundo as crianças e os adolescentes que estão sob sua responsabilidade. Seguem algumas sugestões e recomendações:

• Se possível, assista a filmes e séries em que essas condições estejam presentes e busque ler artigos de fontes confiáveis sobre o tema. Quanto mais conhecemos sobre um assunto, menos medo temos de encará-lo e mais confortáveis e aptos ficamos para enxergar a criança e o jovem à nossa frente, e não uma deficiência.

• Lembre-se de que crianças e adolescentes com diferentes ritmos de desenvolvimento se beneficiam com estratégias específicas, adaptadas às suas preferências e potencialidades. Isso inclui ser atencioso, acolhedor e paciente; ter expectativas positivas para a aprendizagem; mediar e facilitar interações sociais e de comunicação, assim como com suas habilidades acadêmicas; e estimular esses indivíduos a alcançar todo seu potencial.

• É importante entender que, sendo a igreja um espaço de convivência coletiva de uma comunidade espiritual, e a Escola Sabatina em particular um espaço de convivência segregada por idades,

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é fundamental que a comunidade entenda, acolha e aprenda junto sobre as características peculiares de todos os membros.

Portanto:

• Ensine todas as crianças sobre diferenças. As diferenças não devem ser “escondidas” ou faladas atrás de portas fechadas. É importante que todas as crianças, jovens e adultos conheçam sobre deficiências como algo que faz parte do ser humano e que a diversidade na igreja representa a diversidade no mundo. Por isso, não é aceitável não fazer amizade com alguém porque ele se comporta de uma maneira diferente.

• Deixar a criança com TEA ou outra deficiência contar para os outros pontos e características comuns. Uma roda de conversa em que todas as crianças compartilham uma coisa que fizeram durante a semana pode ser um exercício fantástico para que todos vejam que a criança com deficiência tem muito mais em comum com eles do que eles possam imaginar. Eles podem dizer, por exemplo, o personagem da Bíblia favorito, o brinquedo favorito, a comida favorita, etc. A melhor maneira de aprender como ser amigo de alguém é convivendo, conversando, entendendo, gastando tempo junto e brincando.

• Converse com os pais das crianças ou adolescentes e também irmãos e avós para realmente aprender sobre a criança. Encare cada encontro com os pais como uma oportunidade de entender mais sobre as crianças e adolescentes autistas. Considere os pais como parceiros. Estimule-os a fazer perguntas e a expressar emoções. Se você não souber a resposta para uma pergunta, diga a eles que irá procurar se informar.

• Aproxime-se dos pais para manter uma comunicação eficaz. Diga-lhes como são importantes por ajudarem você e outros educadores a entender o filho deles. Crie oportunidades para que os pais da criança/adolescente com deficiência conversem com os

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EstratégiasePráticasdeInclusãodePessoascomTranstornodo... outros pais sobre seu filho ou filha; assim esses outros pais também terão oportunidade de aprender e entender o valor de ter crianças diferentes no círculo social e espiritual de seus filhos.

• Converse com os pais sobre como a mídia e outras pessoas enxergam as crianças e jovens com necessidades especiais, a deficiência e as diferentes características desses indivíduos. Revistas populares, jornais, filmes, televisão e internet às vezes fornecem informações imprecisas sobre esse assunto. Alerte os pais a respeito disso e diga-lhes que são sempre bem-vindos para dialogar com você ou com um profissional da área sobre qualquer coisa que tenham lido ou ouvido com relação ao transtorno do seu filho.

• Filmes, livros, séries podem ser também bons aliados para gerar discussões e conversas sobre o tema, entendendo como a mídia retrata muitas diferenças e como o conceito de “capacitismo” é abordado dentro e fora da igreja.

• De modo geral, crianças/adolescentes com autismo se beneficiam com um ambiente bem estruturado, instruções individualizadas e em pequenos grupos (PUESCHEL et al., 1995).

Em resumo:

• Aprenda tudo o que puder sobre o TEA.

– Crie oportunidades para que as outras crianças e pais também aprendam.

– Converse com os pais e familiares e com a própria criança ou jovem para aprender sobre essa pessoa.

• Seja claro e consistente nas instruções.

– Preste atenção aos estímulos sensoriais da sala (som, luz, cheiros) e faça adaptações de acordo com a preferência da criança ou jovem.

• Mantenha dicas visuais e rotinas estruturadas nas atividades.

• Respeite o ritmo da criança e suas necessidades, como: tirar pausas mais frequentes durante a lição, sair da sala durante músicas mais altas e outras (COSTA; MALLOY-DINIZ; MIRANDA, 2021).

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Iniciandoasatividades

Iniciar atividades com a ordem “olhe para mim” antes de fornecer instruções não é recomendável nem necessário para umacriança autista. Embora possa fazer o comunicador se sentir melhor, essa prática não ajuda a criança autista. De acordocom os estudos, tentar fazer uma criança autista olhar para você seria o mesmo que pedir a uma criança com dislexia que segure um livro e finja ler. Esse pode ser um comportamento comum no ambiente, mas não traz nenhum benefício para a criança (LEAR, 2004).

O contato visual pode ser solicitado de forma suave e geral. Você pode chamar o nome da criança quando estiver chamando todas as crianças (como nas canções de boas-vindas) e deixá-la responder da maneira mais confortável para ela. Às vezes a resposta será um sorriso, às vezes um som, às vezes não haverá uma resposta que você consiga entender, mas o fato de a criança estar naquele ambiente, participando, ouvindo o próprio nome e vendo as outras crianças é a maneira de aprender e entender o contexto social. E é também a maneira por meio da qual as outras crianças (e adultos) aprendem sobre diferentes formas de “estar”, “ser”, “se comportar” nesse contexto social e assim aprenderem a aceitar, incluir e amar os outros dentro de suas individualidades. Para adolescentes e grupos de jovens, é importante que comportamentos “diferentes” (por exemplo, se o adolescente grita, está agitado, ou começa a falar de um assunto sem parar) sejam explicitados e mediados pelo adulto/professor, sem preconceitos ou “tentando disfarçar”. O adolescente e jovem têm maior capacidade de compreensão e empatia para entender que os amigos podem se comportar de maneira diferente e mesmo assim devem ser acolhidos no grupo. A adolescência na igreja deve ser um espaço de aceitação, que pode ser um contraste importante com o que os jovens muitas vezes experienciam em outros grupos sociais fora da igreja. Conversar com o adolescente autista, quando oralizado, para que explique o que está sentindo ou como prefere se comunicar, e falar isso para o grupo,

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mesmo na frente do jovem autista, ajuda a criar um ambiente em que todos sabem que podem ser acolhidos em suas individualidades, o que contribui para o crescimento moral e espiritual de todos.

Mantendoumarotinadetalhadaeestruturada

Para muitas crianças, ter uma rotina ajuda a entender a transição das atividades, e o uso de figuras auxilia nesse processo. Esse recurso beneficia a maioria das crianças e ajuda a todos a participar das tarefas propostas. Use figuras para mostrar a estrutura do dia ou período de atividades: certifique-se de ter uma figura para cada atividade (mesmo as mais simples, como lavar as mãos; pegar um livro, etc.), assim a criança/adolescente vai conseguir entender o que está acontecendo durante aquele período de atividades.

• Rotina: procure manter uma rotina no ambiente. Porém, se houver alguma mudança programada, prepare a criança/adolescente antes (avise-a com bastante antecedência para que consiga se habituar à nova ideia).

• Estímulos visuais: a maioria das crianças/adolescentes aprende melhor por meio de estímulos visuais. Portanto, é importante usá-los. Por exemplo, figuras em quadros no ambiente podem ajudar a criança/adolescente a deixar a mochila no lugar certo; fotos de crianças sentadas em círculo perto do professor ajudam a criança/adolescente a entender o que deve fazer. Faça um quadro com figuras que representem as regras do ambiente, isso vai auxiliar a criança a segui-las. As dicas visuais são ferramentas muito importantes para o ambiente.

• Simplifique: ao dar instruções, assegure-se de ser muito simples, use linguagem concreta e reporte-se às figuras para mostrar um modelo concreto do que está falando. Além disso, não dê muitas instruções de uma vez. Divida as instruções mais complexas em partes, oferecendo ao aluno um passo a passo bem estruturado do que ele deve fazer.

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• Evite distrações: sempre que possível, evite ao máximo as distrações. Se o ambiente estiver muito barulhento, muito quente ou frio, ou com uma luz muito forte, pode ficar ainda mais difícil para o autista se concentrar e se sentir confortável.

• Treinamento/auxílio técnico: durante as brincadeiras, tente ensinar como a criança/adolescente deve convidar outra para brincar; a maneira de compartilhar e pegar emprestado as coisas; e como ser mais flexível sobre onde brincar e sobre quando é a vez de cada um.

Para adolescentes e jovens, crie oportunidades de atividades com horários específicos para que eles possam também participar e ter papéis de liderança, sem se sentirem no centro das atenções. Por exemplo, dê oportunidade para leitura da Bíblia ou trechos da lição, mas não peça a eles que façam a oração, a não ser que isso tenha sido indicado anteriormente e que a atividade os deixe confortáveis.

Avançandonaprática

Aproveite as observações citadas anteriormente e as insira na rotina já estabelecida no currículo da Escola Sabatina. Por exemplo: marcadores visuais (figuras) ou musicais (músicas breves para cada momento) que auxiliem na transição e compreensão da rotina. O currículo foi planejado para atender a diferentes estilos de aprendizagem. Não deixe de estudá-lo e praticá-lo.

ORIENTAÇÕESDEAPLICAÇÃODEESTRATÉGIASESPECÍFICAS

Tornandooambientedeaprendizagem representacionalesignifcativo

Antes de tentar ensinar algo a uma criança ou a um adolescente autista, é importante “gastar” um tempo significativo com eles. Se possível, encontre outra criança ou duas que possam ser um apoio

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ou “par” nas atividades da Escola Sabatina. Emparelhar significa juntar ou combinar, com o objetivo de associar e reproduzir um padrão, por exemplo, mostrar à criança ou adolescente um modelo e encorajá-los a reproduzi-lo com figuras e objetos, iguais ou não. Assim, se a criança adora assistir a vídeos, “ser” a pessoa que faz os vídeos acontecerem é uma maneira de se aproximar dela. Se ela ama brincadeiras movimentadas, “ser” a pessoa que irá proporcionar essa brincadeira é importante. A compatibilização pode ser um agente de apoio à inclusão de crianças e adolescentes em ambientes, colaborando para reconhecer seus interesses e estabelecer vínculos.

Crie um incentivo para a criança/adolescente, de modo que, quando ela entrar no ambiente, haja algo interessante que a atraia para a situação. Dependendo do seu interesse, pode ser um quebra-cabeça, um livro para colorir, um álbum de figurinhas adesivas, massinha de modelar, um jogo, e assim por diante. Dedique um tempo a se divertir com a criança ou adolescente nessa atividade inicial (LEAR, 2004).

Faça do ambiente de aprendizagem um lugar divertido. Não fique olhando constantemente para o relógio e anunciando quando o tempo de brincar acabará. Não tenha medo de parecer engraçado, fazer barulho, cantar, dançar, sujar-se e até rolar no chão. A criança/ adolescente será menos propensa a querer fugir se a situação for divertida e recompensadora (LEAR, 2004). Lembre-se de que um dos principais objetivos da Escola Sabatina é vivenciar princípios bíblicos e valores por meio da aprendizagem ativa. É importante destacar que o ambiente de aprendizagem deve favorecer a compreensão de conceitos. Além disso, é necessário envolver ativamente as crianças, ampliando suas experiências de aprendizagem, levando em consideração as diversas maneiras pelas quais elas aprendem. Inicie cada atividade com poucas tentativas e aumente gradualmente o número. No início, pode ser que você não consiga concluir todas as atividades. Então comece com as mais curtas e vá aumentando a duração conforme a capacidade da criança ou adolescente

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(LEAR, 2004). Intercale tarefas fáceis e difíceis (se todas as tarefas e demandas feitas forem difíceis, o valor de fuga vai aumentar, o que significa que a criança/adolescente vai estar mais interessada em sair do que ficar; intercale tarefas difíceis entre outras mais fáceis).

Como as atividades estruturadas em cada encontro da Escola Sabatina são em forma de histórias, e algumas histórias são ensinadas somente quando o conteúdo é considerado adequado à faixa etária, é possível adaptar as lições com as propostas apresentadas neste capítulo e atingir a criança/adolescente autista de acordo com a forma pela qual ela tenha maior facilidade de aprender.

Escolhendomotivadoresextrínsecoseintrínsecos

Antes de iniciar as atividades, é extremamente útil identificar quais atividades são motivadoras para a criança ou o adolescente. Faça uma lista e separe os itens antes de começar. Você pode querer separar determinados brinquedos e jogos especialmente para o horário da Escola Sabatina ou do culto, para que sejam considerados especiais. Como descobrir quais devem ser esses motivadores intrínsecos e extrínsecos (LEAR, 2004, p. 11)?

Pergunte: Faça perguntas à criança, ao adolescente, à mãe, ao pai, aos irmãos, aos professores.

Observe: Olhe o que a criança/adolescente escolhe para brincar por si só. Poderão ser coisas pouco usuais que interessam a ela: um papel brilhante, um barbante, um espelho.

Teste: Deixe a criança/adolescente escolher entre diferentes itens de uma caixa. Pode ser interessante ter uma caixa com várias coisas legais, assim você poderá dar-lhe três ou quatro coisas diferentes de cada vez. Essas escolhas podem estar relacionadas à história do dia, reforçando a lição bíblica e o desejo da criança/adolescente de participar das atividades propostas.

Crie o contexto para uma escolha: Dê ao jovem a escolha entre dois materiais: “Você quer figurinhas ou um brinquedo?”

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Tente coisas diferentes: Dê uma atividade diferente a cada vez e observe qual é o item mais eficaz e convidativo.

À medida que você conhece a criança/adolescente, aprenderá quais são seus interesses particulares: brinquedos, carros, quebra-cabeças, vídeos, etc. Mas lembre-se: as preferências da criança/adolescente vão mudar, e sua tarefa é ajudá-la a desenvolver novos e variados interesses.

Para adolescentes e jovens, tenha opções de atividades em grupo, intercaladas com momentos de reflexão individual, atividades escritas e dinâmicas, como jogos de tabuleiro variados, que possibilitem aos jovens usar diferentes tipos de habilidades e preferências, escolher participar ou não.

Se possível, tenha em toda sala um canto confortável e afastado da atividade principal onde a criança ou jovem possa ir a qualquer momento se desejar ficar quieto ou não participar de uma atividade. Esse espaço deve ser oferecido para todas as crianças. Em geral, as crianças entendem que o cantinho é só para quem precisa e o usarão com sabedoria.

Usandomotivadoresparaensinardiferentesconteúdos

Quando você estiver ensinando um novo conteúdo, em algumas situações específicas, pode fornecer uma recompensa depois de cada tentativa bem-sucedida. No entanto, conforme a criança/adolescente domina cada atividade, é importante reduzir gradualmente o reforço, passando de contínuo (dado toda vez que o comportamento desejado é executado) para intermitente (dado de vez em quando).

Por que reduzir o reforço? Porque não queremos que a criança/ adolescente fique dependente do reforço para executar a ação desejada. É importante que ela queira fazer isso por si mesma como um motivador intrínseco (LEAR, 2004).

Variar a voz, o tom e as frases que usa para elogiar é importante para manter a atenção da criança e tornar as interações mais interessantes e cativantes. Você pode usar diferentes entonações, ritmos e até mesmo diferentes palavras para tornar seus elogios mais

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interessantes e emocionantes. Além disso, ser específico sobre o que você está solicitando é fundamental para ajudar a criança a entender seus acertos e motivá-la a repetir esse comportamento. Elogiar uma criança de forma geral, como “você é incrível”, é menos efetivo do que elogiar algo específico que ela fez, como “você fez um ótimo trabalho ao colocar todos os seus brinquedos de volta na caixa”.

Por fim, lembre-se de que o elogio não deve ser apenas uma forma de incentivar a criança, mas também de ensiná-la e ajudá-la a aprender. Ao ser específico sobre o que está sendo elogiado, você ajuda a criança a aprender novas habilidades e a consolidar comportamentos positivos (LEAR, 2004).

Uma boa maneira de manter a motivação intrínseca dos sujeitos é reservar coisas de interesse e brinquedos especiais para situações específicas. Isso pode ajudar a manter o interesse da criança/adolescente e aumentar sua motivação.

É importante lembrar que nem todas as propostas de atividades funcionam da mesma maneira para todas as crianças/adolescentes, e pode ser necessário experimentar diferentes tipos de propostas para descobrir o que funciona melhor para cada indivíduo. Se uma das atividades não estiver funcionando tão bem quanto antes, é importante estar preparado para mudar de proposta imediatamente.

Além disso, é importante ter em mente que nem todas as propostas para motivar extrínseca ou intrinsecamente os alunos precisam ser materiais ou tangíveis. Elogios verbais, atividades divertidas, tempo de qualidade com um adulto significativo eoutras formas de recompensa social também podem ser motivadores eficazes.

Em resumo, monitorar a eficácia dos motivadores extrínsecos e variá-los regularmente é essencial para garantir que continuem a ser eficazes. Se uma tarefa específica não estiver funcionando tão bem quanto antes, esteja preparado para mudar para outra atividade que possa ser mais eficaz.

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Lidandocomcomportamentosdistintos

A criança autista pode demorar mais para responder a um comportamento. Para uma criança não verbal, caso ela precise sair da sala e você esteja sozinho com outras crianças, você pode propor que ela saia, mas combine com um cuidador uma maneira de direcioná-la (mande uma mensagem de texto ou use outra forma).

Rever um comportamento depois que ele ocorreu é também uma maneira de ensinar às outras crianças do grupo como podemos acolher comportamentos diferentes do que esperamos.

Lembre-se de que você deve ser um modelo de como Jesus agiria, todos estão olhando para você. Como Jesus agiu quando Pedro cortou a orelha do oficial romano? Com acolhimento, cura, exemplo. Portanto, explique especificamente por que certo comportamento é inadequado, por exemplo: “Você pegou o brinquedo da mão da sua colega sem antes perguntar se ela queria emprestá-lo.” Diga também qual foi a consequência do comportamento, ou a possível consequência, e como ele fez a outra pessoa se sentir, por exemplo: “Isso fez sua colega se sentir com raiva e ela chorou porque não estava preparada para dividir o brinquedo naquele momento.” Explique ainda como a criança poderia ter lidado melhor com a situação, por exemplo: “Você deveria ter pedido o brinquedo antes de tomá-lo de sua colega e esperado por sua resposta.”

CONSIDERAÇÕES

As sugestões apresentadas aqui são orientações que podem promover sentimento de maior acolhimento nos alunos e ao mesmo tempo potencializar o desenvolvimento cognitivo.

A proposta é que os professores se apropriem de uma comunicação objetiva. Utilizar (por exemplo) cartazes ou desenhos são recursos que ilustram o objetivo pretendido e facilitam a compreensão. Além de adaptar a linguagem, as atividades da lição devem ser curtas e motivadoras. Proponha dinâmicas e brincadeiras para aumentar o engajamento e envolvimento das crianças nas atividades de aprendizagem.

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O professor terá maior êxito para ganhar o interesse e a atenção dos alunos propondo atividades baseadas no interesse deles. Selecione atividades para exemplificar os conceitos de formas práticas e concretas. Evite atividades muito extensas e cansativas.

Explore o cotidiano e proponha pequenas tarefas, mas sempre com prazos curtos para execução. A expectativa positiva do professor auxilia a modelar o comportamento de aprendizagem das crianças. Acredite no potencial delas, incentive sempre as crianças para que participem e finalizem as atividades propostas. Considerando que os processos de aprendizagem são multifatoriais e envolvem aspectos cognitivos, ambientais e psicológicos, ressaltamos que o papel do professor da Escola Sabatina é essencial no desenvolvimento espiritual da criança. Um professor consagrado, que busca sabedoria em Deus, terá sua mente expandida e capacitada para ensinar princípios bíblicos. Na comunhão com Deus, encontrará êxito para vivenciar e aplicar conceitos e valores para a vida das crianças.

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Capítulo10

ValorizandooPotencialdeTodos:

UmOlharSobreasAltasHabilidades ouSuperdotação

AlinedosSantosFrançaVenancioGonçalves

DinalvaBarretoPereiraBarros

VanessadeJesusKrominski

INTRODUÇÃO

Este capítulo propõe a inclusão das crianças e adolescentes com altas habilidades ou superdotação no contexto da Escola Sabatina e pretende ajudar professores e demais líderes da igreja a perceber a importância da valorização do potencial de todos. Também propõe estratégias metodológicas necessárias para o acompanhamento de crianças e adolescentes com altas habilidades.

Pessoas com altas habilidades ou superdotação (AHSD) têm desenvolvimento acima da média em uma ou mais áreas do conhecimento em algumas tarefas que desempenham e têm a criatividade ampliada. Segundo documentos oficiais do Ministério da Educação do Brasil, “são aquelas que apresentam desempenho e/ou potencial elevado em qualquer área de domínio, isoladas ou combinadas, na criatividade e no envolvimento com a tarefa, podendo tais habilidades manifestar-se ao longo da vida” (DELOU, 2022).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que o número de pessoas com superdotação pode alcançar até 5% da população geral (FREITAS; PÉREZ, 2012), embora estudiosos do tema tenham encontrado números maiores. Assim como nas escolas de ensino regular, essas pessoas também estão presentes na Escola Sabatina e nos cultos da igreja. É muito importante que o professor da Escola Sabatina observe os alunos com extremo cuidado e tenha ciência dos três critérios combinados que se apresentam nas AHSD: desenvolvimento acima da média, envolvimento com a tarefa e criatividade.

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Entre as pessoas com altas habilidades ou superdotação, encontramos também casos de dupla especificidade ou dupla excepcionalidade:

Trata-se da situação em que as altas habilidades ou superdotação são identificadas junto a pelo menos um tipo de deficiência (exceto a intelectual) ou impedimento de longo prazo de natureza física, mental ou sensorial (LBI, 2015), transtorno do espectro autista ou transtornos específicos de aprendizagem (transtorno do déficit de atenção, dislexia/discalculia, entre outros) (DSM5, CID 11) (DELOU, 2022, p. 2).

Assim, estudantes com AHSD, com dupla especificidade ou não, são atendidos pelas escolas comopúblico da educação especial e podem frequentar o atendimento educacional especializado (sala de recursos) no contraturno.

Ângela Virgolim resume de forma brilhante:

Tratar do tema das altas habilidades e superdotação envolveum olhar complexo e sistêmico, dada a característica de heterogeneidade deste grupo. Crianças e jovens com altas habilidades e superdotação podem ter necessidades educacionais e afetivas diferenciadas, resultantes de sua complexidade cognitiva, maior intensidade de resposta, sensibilidade emocional, imaginação vívida, combinações de interesses únicos, características de personalidade e conflitos que destoam dos seus companheiros de idade. Em resposta a essa complexidade, pessoas com altas habilidades podem exibir comportamentos sociais desajustados, hostilidade, agressão, baixo autoconceito, insegurança, frustração, raiva e sentimentos de inadequação. Quando não reconhecidas e trabalhadas, tais características podem colocar o indivíduo em posição de vulnerabilidade e risco socioemocional. Torna-se importante um maior entendimento do mundo cognitivo, emocional, afetivo e social da pessoa superdotada, de forma a diminuir as vulnerabilidades desse grupo, trazendo consciência sobre sua forma específica de agir no mundo. O esclarecimento das características afetivas diferenciadas destes alunos e de suas necessidades específicas pode ajudar pais e professores adelinear um ambiente mais adequado ao seu desenvolvimento (VIRGOLIM, 2021).

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FUNDAMENTAÇÃOTEÓRICAEDEFINIÇÕES

Crianças e adolescentes com altas habilidades ou superdotação apresentam capacidade acima da média, criatividade ampliada e se envolvem de maneira intensa com o que fazem. Destacam-se pelo alto potencial, habilidade em resolver desafios e situações-problema, aprendem com facilidade, têm dedicação ampliada em relação aos assuntos de seus interesses e se mostram confiantes ao falar sobre esses assuntos.

Essas pessoas estão presentes na igreja, na mesma proporção em que se encontram nos demais espaços da sociedade. Elas precisam ter seus talentos valorizados, receber estímulos e ser encorajadas a produzir conhecimento e manifestar suas habilidades acima da média.

O percentual desses alunos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, é de 3% a 5% (DRULIS, 2021), e sua incidência é sobre toda a população de um país, não havendo distinção de classe social, etnia ou gênero. Porém, Renzulli (2004b), em seus estudos que o alçaram à maior referência mundial no tema “altas habilidades”, encontrou números mais significativos, por volta de 20%.

Portanto, percebe-se a importância da identificação precoce para que a pessoa seja acompanhada e encorajada a desenvolver suas habilidades e de forma mais ampla contribuir para o bem da humanidade (METTRAU, 2000).

Assim como na sociedade de forma geral, mitos e concepções equivocadas a respeito das pessoas com altas habilidades ou superdotação também são encontrados no meio religioso.

Quando se fala, porém, em superdotados, muitas são as ideias que esse termo sugere para distintas pessoas: para algumas, o superdotado seria o gênio,aquele indivíduo que realmente apresenta um desempenho extraordinário e ímpar em uma determinada área do saber e do conhecimento; para outros, seria um jovem inventor que surpreende pelo registro de uma nova patente; para outros, ainda, seria aquele aluno que sistematicamente se situa entre os primeiros da classe durante toda a sua formação acadêmica, ou a criança

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VindeaMim

precoce, que aprende a ler sem ajuda e que surpreende seus pais por seus interesses e indagações próprias de uma criança mais velha. O termo superdotado sugere, ainda, a presença de um talento, seja na área musical, literária ou de artes plásticas. O denominador comum em todas as diversas conotações do termo é a presença, pois, de um notável desempenho ou de habilidades ou aptidões superiores (ALENCAR, 2001, p. 119, 120).

Para entender as características e os comportamentos de uma pessoa com altas habilidades ou superdotação, é importante analisar as diferentes concepções de inteligência, o estudo do cérebro humano e suas capacidades e a forma como ocorre a aprendizagem. Esse assunto foi abordado minuciosamente no capítulo referente aos transtornos e dificuldades de aprendizagem. Dessa forma, neste capítulo vamos nos ater ao fato de que a definiçãode altas habilidades ou superdotação acompanha os diferentes conceitos de inteligência.

Howard Gardner (1995) se destaca por adotar uma definição contrária à dos estudiosos que acreditavam ser a inteligênciaalgo único e geral e apresenta a Teoria das Múltiplas Inteligências.

Gardner (2001), em sua Teoria das Inteligências Múltiplas, afirma que cada indivíduo tem formas diferenciadas de inteligência e em graus variados, logo, o autor relaciona as altas habilidades/superdotação à manifestação das várias inteligências do ser humano, dando ênfase à capacidade de resolver problemas e elaborar produtos. No entanto, esse indivíduo pode ser promissor em uma delas e não apresentar um desempenho tão bom emoutra (ALENCAR, 2001, p. 119, 120).

Assim sendo, ele traz para o debate por meio de suas pesquisas a possibilidade de existirem oito tipos de inteligência: musical, corporal-cinestésica, lógico-matemática, linguística, espacial, interpessoal, intrapessoal e naturalista. Posteriormente, Gardner apresenta o conceito de inteligência reformulado e admite a possibilidade da existência de uma inteligência espiritual.

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“Agora conceituo inteligência como um potencial biopsicológico para processar informações que pode ser ativado num cenário cultural para solucionar problemas ou criar produtos que sejam valorizados numa cultura” (GARDNER, 2001, p. 47).

Renzulli (2004, p. 85) afirma que as pessoas com altas habilidades ou superdotação são aquelas que pertencem à interseção de três anéis (criatividade, envolvimento com a tarefa e capacidade acima da média), que “possuem ou são capazes de desenvolver este conjunto de traços”.

ConcepçãopropostaporJosephRenzulli TeoriadosTrêsAnéis(1986)

COLEGAS FAMÍLIA

CAPACIDADE ACIMA DA MÉDIA SD

ENVOLVIMENTO COM A TAREFA

CRIATIVIDADE ESCOLA

As crianças que vivem em um ambiente inclusivo desde pequenas têm mais chances de desenvolver seu potencial em uma atmosfera de respeito à diversidade. Por outro lado, quando crianças ou adolescentes com altas habilidades ou superdotação não são identificados, seu potencial criativo e cognitivo não pode ser plenamente desenvolvido. Embora seja um grupo altamente heterogêneo, é importante considerar que nem todos os alunos vão apresentar todas as

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características aqui listadas, sendo algumas mais típicas de uma área do que de outras, conforme ressaltam Alencar e Fleith (2007).

• Grande curiosidade a respeito deobjetos, situações ou eventos, com envolvimento em muitos tipos de atividades exploratórias;

• Autoiniciativa, tendência a começar sozinho as atividades, a perseguir interesses individuais e a procurar direção própria;

• Originalidade de expressão oral e escrita, com produção constante de respostas diferentes e ideias não estereotipadas;

• Talento incomum para expressão em artes, como música, dança, teatro, desenho e outras;

• Habilidade para apresentar alternativas de soluções, com flexibilidade de pensamento;

• Abertura para realidade, busca de se manter a par do que o cerca, sagacidade e capacidade de observação;

• Capacidade de enriquecimento com situações-problema, de seleção de respostas, de busca de soluções para problemas difíceis ou complexos;

• Capacidade para usar o conhecimento e as informações, na busca de novas associações, combinando elementos, ideias e experiências de forma peculiar;

• Capacidade de julgamento e avaliação superiores, ponderação e busca de respostas lógicas, percepção de implicações e consequências, facilidade de decisão;

• Produção de ideias e respostas variadas, gosto pelo aperfeiçoamento das soluções encontradas;

• Gosto por correr risco em várias atividades;

• Habilidade em ver relações entre fatos, informações ou conceitos aparentemente não relacionados;

• Aprendizado rápido, fácil e eficiente, especialmente no campo de sua habilidade e interesse.

Entre as características comportamentais dos alunos com altas habilidades/superdotação, pode-se ainda ser notado(a), em alguns casos:

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• Necessidade de definição própria;

• Capacidade de desenvolver interesses ou habilidades específicas;

• Interesse no convívio com pessoas de nível intelectual similar;

• Resolução rápida de dificuldades pessoais;

• Aborrecimento fácil com a rotina;

• Busca de originalidade e autenticidade;

• Capacidade de redefinição e de extrapolação;

• Espírito crítico, capacidade de análise e Síntese;

• Desejo pelo aperfeiçoamento pessoal, não aceitação de imperfeição no trabalho;

• Rejeição de autoridade excessiva;

• Fraco interesse por regulamentos e normas;

• Senso de humor altamente desenvolvido;

• Alta exigência;

• Persistência em satisfazer seus interesses e questões;

• Sensibilidade às injustiças, tanto em nível pessoal comosocial;

• Gosto pela investigação e pela proposição de muitas perguntas;

• Comportamento irrequieto, perturbador, importuno;

• Descuido na escrita, deficiência na ortografia;

• Impaciência com detalhes e com aprendizagem que requer treinamento;

• Descuido no completar ou entregar tarefas quando desinteressado (BRASIL, 2006, p. 16, 17).

Algumas ideias errôneas que circulam na sociedade acerca desses alunos:

• Superdotado e gênio como sinônimos;

• O superdotado tem recursos intelectuais suficientes para desenvolver por conta própria seu potencial superior;

• O superdotado se caracteriza por um excelente rendimento acadêmico;

• A participação em programas especiais fortalece uma atitude de arrogância e vaidade no aluno superdotado;

• Estereótipo do superdotado como um aluno franzino, do gênero masculino, de classe média, com interesses restritos especialmente à leitura;

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VindeaMim

• A aceleração do aluno superdotado resulta mais em malefícios do que em benefícios;

• O superdotado tem maior predisposição a apresentar problemas sociais e emocionais (FLEITH, 2007).

QUESTÕESSOCIOCOGNITIVASEVULNERABILIDADES

De acordo com Virgolim (2021), é necessário olhar de forma complexa e sistêmica aoabordar o tema das altas habilidades ou superdotação, pois crianças e jovens pertencentes a esse grupo frequentemente apresentam necessidades afetivas e educacionais diferentes do habitual, resultado de sua complexidade cognitiva, sensibilidade emocional, imaginação aguçada, maior intensidade reativa, traços de personalidade, combinação de interesses singulares e conflitos diferentes da maioria das pessoas na mesma faixa etária.

Em resposta a esse funcionamento cognitivo diferenciado e complexo, essas pessoas podem apresentar comportamentos sociais desajustados, como agressividade, hostilidade, inseguranças, frustrações, baixa autoestima e sentimentos de não pertencimento. Quando essas características não são trabalhadas adequadamente, o indivíduo pode se encontrar em um estado de vulnerabilidade socioemocional.

Por essa razão, é de extrema importância a compreensão adequada do universo cognitivo, afetivo, emocional e social de uma pessoa superdotada, tomando consciência sobre sua forma única de agir no mundo, para que suas vulnerabilidades possam ser minimizadas. Entender de forma clara as características presentes nesse grupo de pessoas contribui para a compreensão e crescimento dele e auxilia pais e professores a proporcionar um ambiente favorável ao seu desenvolvimento.

As principais questões sociocognitivas e de vulnerabilidades são:

• Pensamento divergente e criativo;

O quadro 1 mostra os dois lados do divergente e do criativo, os quais Strip e Hirsch (2000) denominam “os altos e baixos da superdotação”:

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Quadro1–Osaltosebaixosdasuperdotação

Aspectos fortesO outro lado

Possíveis consequências Apresenta maior nível de compreensão do que os colegas de mesma idade

Habilidades verbais avançadas para a idade

Pensamento criativo

Acha que a forma de raciocínio e compreensão dos colegas são “bobas” e expressa sua opinião para eles.

Conversa mais do que os colegas, que não entendem sobre o que ela está falando. A criança quer falar sempre, não dando a vez aos outros.

Resolve problemas de seu próprio jeito, e não da forma ensinada pelo professor.

Os colegas a evitam; os adultos a percebem como faladora demais. A criança perde amigos.

Os colegas a percebem como pretensiosa e superior aos outros e a excluem. A criança fica solitária.

O professor se sente ameaçado, percebe a criança como desrespeitosa da figura de autoridade e decide reprimi-la, o que estabelece o palco para a rebelião.

Pensamento rápido

Torna-se facilmente entediada com a rotina e pode não completar suas tarefas. Por outro lado, pode acabar rapidamente suas atividades e ficar vagando pela sala, procurando o que fazer.

Alto nível de energia Pode ser muito distraída, começando várias tarefas e não terminando nenhuma.

O professor pode achar que a criança é desatenta, negativa ou com problemas comportamentais e que exerce má influência sobre os colegas.

A criança pode se desgastar tentando realizar muitos projetos de uma vez só. Sua alta energia pode ser confundida com Transtorno de Desordem de Atenção e Hiperatividade –TDAH.

Grande poder de concentração

Pensamento ao nível do adulto

Algumas vezes gasta tempo demasiado em um projeto; fica perdida nos detalhes e perde os prazos de entrega.

O pensamento ao nível do adulto não é acompanhado de habilidades ao nível do adulto, tais como a diplomacia. Pode falar coisas de forma rude ou desconcertante.

• Perfeccionismo;

• Percepção e insight;

• Introversão versus extroversão;

Notas baixas, uma vez que as tarefas não são completadas, o que causa frustração para a criança, seus pais e professores.

Tanto os colegas quanto os adultos podem achar a criança rude, ofensiva e sem tato, passando a evitá-la.

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Fonte: Helping gifted children soar (STRIP; HIRSCH, 2000, tradução nossa).

Quadro2–Diferenciaçãoentreointrovertidoeoextrovertido

Extrovertido

Introvertido

Obtém energia das interações com os outros Obtém energia dentro dele mesmo

Sente-se energizado pelas pessoas

Tem a mesma personalidade, tanto em público quanto em particular

É aberto e confiante

Pensa em voz alta

Sente-se drenado pelas pessoas

Tem uma persona e um self interno (mostra seu melhor self em público)

Precisa de privacidade

Ensaia mentalmente antes de falar

Gosta de ser o centro das atenções Detesta ser o centro das atenções

Aprende fazendo

Aprende observando

Sente-se confortável em situações novas Sente-se desconfortável com mudanças

Faz muitos amigos facilmente É leal aos poucos amigos íntimos que tem

É distraído

É impulsivo

É capaz de intensa concentração

É reflexivo

Em grupos, gosta de se arriscar Tem medo de ser humilhado; é quieto em grandes grupos

Fonte: Adaptado de Silverman (1993, p. 69-70, tradução nossa).

• Locus de controle interno;

• Assincronia;

• Supersensibilidades.

Quadro3–Formaseexpressõesdasuperssensibilidade

Área psicomotora

Excesso de energia

Grande excitabilidade do sistema neuromuscular

Fala rápida, entusiasmo acentuado; busca por atividade física intensa, como jogos e esportes rápidos; pressão para ação, como organizar atividades; expressão forte da vontade, competitividade acentuada.

Amor pelo movimento; capacidade de estar ativo e cheio de energia; inquietação; dificuldade em ficar parado no lugar.

Expressão psicomotora de tensão emocional

Fala compulsiva, tagarelice; ações impulsivas; hábitos nervosos (tiques, roer unhas), trabalhar compulsivamente (workaholic).

Buscadesaídaspsicomotorasparaaliviaratensãoemocional.

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ABÍBLIAEATEMÁTICADASALTASHABILIDADES

OUSUPERDOTAÇÃO

O relato bíblico inicia por nos apresentar um Deus criativo, com habilidades inigualáveis e muito envolvido em realizar a tarefa mais importante para nós seres humanos: a criação do mundo em toda a sua diversidade e a criação do ser humano (Gn 1).

Possuidor de todas as características descritas até aqui, Deus criou o ser humano à Sua imagem e semelhança. Inseriu no DNA da humanidade as condições para desenvolver habilidades que Adão e Eva nem sequer sabiam que tinham. “Os especialistas em DNA afirmam que seriam necessárias mil enciclopédias, de mil páginas cada, para armazenar toda a informação que se encontra nesse composto.

O disco rígido de um computador contém muita informação, mas não se compara a uma pequena célula” (VYHMEISTER, 2014, p. 33).

A criação perfeita de Deus sofreu as consequências da degradação, decorrente do pecado, mas, ainda assim, temos vislumbres do quanto o cérebro humano pode ser brilhante. Muitas vezes não se sabe explicar como uma criança que ainda não foi exposta à escolarização formal pode apresentar habilidades acima da média de seus pares. Como aprendem outros idiomas? Como tocam instrumentos musicais de ouvido? Como argumentam demonstrando um conhecimento com o qual aparentemente nunca tiveram contato?

A razão de tudo está na semana da criação. Um Deus criativo e talentoso dotou o ser humano com todas as possibilidades de desenvolvimento e, mesmo após a queda, traçou um plano para que pudesse utilizar os dons concedidos para crescimento pessoal e espiritual, em todas as áreas da inteligência (Ef 4:7-13), até que pudesse ter sua capacidade total restaurada aos moldes da criação (1Co 15:52, 53).

Ainda no Antigo Testamento, vemos relatos de personagens bíblicos utilizando a criatividade, seus dons e talentos em prol do desenvolvimento de sua comunidade. No livro de Gênesis, encontramos Noé seguindo um plano minucioso de Deus, que exigia habilidades e

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pensamento divergente, pois construía algo inovador com muita dedicação (Gn 6:14-16).

Joquebede foi uma mulher que precisou tomar decisões difíceis e, no momento certo, mostrou ter habilidades essenciais para a sobrevivência de seu filho, encontrando uma solução criativa para mantê-lo vivo (Êx 1, 2). No livro de Êxodo, vemos a comunidade envolvida com a construção do tabernáculo e vários artífices utilizando suas habilidades para finalizar a tarefa proposta (Êx 31:1-11).

Davi foi escolhido por Deus para governar o povo de Israel. Suas habilidades diante das adversidades, bem como suas habilidades como músico e poeta, já eram reconhecidas na comunidade em que estava inserido. Ao longo da vida, teve a oportunidade de desenvolver sua inteligência espiritual dedicando seus dons a Deus (1Sm 16, 17).

Salomão é descrito como um rei sábio entre as nações vizinhas, que buscou sabedoria e conhecimento diretamente de Deus (2Cr 1:710). Muitos iam até ele para admirar seu conhecimento, como no caso da rainha de Sabá (2Cr 9:1-8). Ele governava com sabedoria e discernimento (1Rs 3:9-28).

A mulher virtuosa descrita em Provérbios 31:10 a 31 é apontada como exemplo, apresentando várias habilidades que não são tão comuns, pois o próprio texto questiona: “quem encontrará uma mulher virtuosa?” Demonstrando que ela está acima da média.

No Novo Testamento, destaca-se Paulo, como uma pessoa que certamente estava acima da média de seus pares. É possível encontrar várias evidências disso em suas falas, já que o próprio Paulo apresenta seu currículo e relata suas viagens. Ele tinha dupla cidadania (At 22:3), estudou com o erudito Gamaliel em Jerusalém, conhecia várias línguas (v. 2). Ao ser acusado de pregar aos gentios, fez sua própria defesa (v. 1) e explicou as razões de suas viagens (v. 21). Paulo estava apenas aceitando o convite de Jesus e tornando sua mensagem acessível a todos. Ao mencionar osescritos de Paulo, Pedro aponta sua sabedoria e o teor difícil de seu texto (2Pe 3:15, 16).

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Encontram-se, ainda no texto bíblico, inúmeras referências aos dons espirituais concedidos por Deus ao ser humano (Ef 4:13; Rm 12:6, 8; 1Co 12:4-11). É impossível, porém, abordar esse assunto sem aludir à parábola dos talentos (Mt 25:14-30). A história alerta para os riscos de não utilizar os talentos ofertados segundo as capacidades de cada um.

Jesus designa, portanto, os discípulos, a quem Ele confiou a condução de Seus negócios na Terra [...]. Pertencemos a Deus, em virtude de Seu poder criativo e de Sua graça redentora. Nós e tudo o que temos pertencemos a Ele […]. Os talentos representam dons especiais do Espírito Santo, juntamente com todos os dotes naturais (NICHOL, 2013, v. 5, p. 545).

CONSIDERAÇÕESMETODOLÓGICAS

O professor da Escola Sabatina não deve apenas se preocupar em identificar alunos com altas habilidades ou superdotação, mas também se dedicar a identificar os apoios necessários e as estratégias metodológicas para oferecer aos alunos um melhor atendimento. Ao realizar atividades significativas para toda a turma, o professor reconhecerá o potencial de seus alunos e oportunizará o autoconhecimento em relação aos seus dons.

Toda pessoa tem direito ao máximo de desenvolvimento possível. A igreja precisa garantir a aprendizagem e ser um local em que as crianças e adolescentes poderão se perceber em um grupo, vivenciar experiências, descobrir, sentir e aprender conceitos bíblicos essenciais. Nesse espaço, a criança e o adolescente com altas habilidades ou superdotação poderão manifestar sua criatividade, envolver-se intensamente com as áreas de seu interesse e desenvolver todo o seu potencial.

O professor da Escola Sabatina deve acompanhar os interesses, as pesquisas e a descoberta dos talentos de seus alunos. Diferentes interesses, diferentes idades, diferentes habilidades, diferentes gostos. Todos atuando juntos em diversos projetos que podem ser elaborados para atender suas necessidades de aprendizagem.

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Dedicar-se aos temas relacionados à educação do estudante com altas habilidades ou superdotação é necessário. A igreja é espaço para o uso e desenvolvimento de múltiplos saberes e linguagens: o lúdico, o artístico e o científico são apenas alguns dos aspectos que favorecem a inclusão e a diversidade no ambiente religioso.

As igrejas devem procurar investir em uma infraestrutura adequada para atender a todas as crianças e adolescentes. Projetos diferentes em áreas como saúde, lazer,esporte, assistência social e trabalho evangelístico, integrando vários ministérios, despertarão o desejo de envolvimento das crianças e adolescentes com altas habilidades ou superdotação, conforme suas áreas de interesse.

As salas que atendem às crianças com altas habilidades ou superdotação na Escola Sabatina precisam ter espaços adequados para as diversas atividades que serão realizadas regularmente. Esses espaços devem ser organizados de forma funcional para propiciar bem-estar aos participantes. As igrejas têm realidades diferentes no que diz respeito a esse assunto, mas todas podem ser organizadas de forma atrativa e prática para que os alunos tenham autonomia, capacidade para guardar e manipular seu próprio material, tendo acesso a elementos lúdicos que despertem a curiosidade, o prazer de aprender e a chance de desenvolver projetos variados. As classes da Escola Sabatina são espaços de convivência em que os alunos podem encontrar oportunidades de interação,trocar experiências e ter acesso aatividades variadas, significativas e oferecidas de forma prazerosa.

O currículo para a Escola Sabatina contempla as necessidades para o aluno com altas habilidades ou superdotação e deve ser oferecido pensando em suas especificidades. Ao receber um aluno com AHSD na Escola Sabatina, o professor precisa ter um olhar sensível, pois ele será o mediador para a construção do conhecimento desse aluno que tem necessidades específicas.

Em algumas situações, o professor poderá perceber os indicativos de AHSD em crianças e adolescentes que ainda não foram identificados

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em sua trajetória na escolarização formal e poderá orientar a família acerca de suas características para que procure profissionais especializados em busca de uma identificação. Para adotar uma política inclusiva, as igrejas precisam atentar ainda para as pessoas que não se declaram como público da educação especial, talvez por nunca terem sido identificadas. Esse fato é muito comum, principalmente no que se refere a pessoas com altas habilidades ou superdotação. Porém, essas pessoas precisam de apoio tanto quanto os demais.

Fleith (2007, p. 58) destaca a importância da participação da família e suas contribuições como fonte de informações muito útil na identificação das AHSD: “Os pais podem ser solicitados a indicar atividades, na escola e fora do contexto escolar, que seu filho gosta de realizar, descrever características, áreas de interesse e de destaque do filho”. Nesse contexto, podem ser consideradas as atividades religiosas como áreas de interesse das crianças e dos adolescentes.

Ao apresentar a lição bíblica, o professor poderá mostrar para a criança ou o adolescente com AHSD diversas áreas de interesse e campos de estudo a fim de estimular seu desenvolvimento e o acesso a conhecimentos e conteúdos mais avançados, oferecendo o enriquecimento curricular (RENZULLI; REIS, 1994). Na Escola Sabatina, também é possível realizar o enriquecimento curricular, ampliando o conhecimento bíblico conforme interesse de cada um.

Esse olhar atento é fundamental para evitar que as crianças e os adolescentes fiquem entediados durante a apresentação da lição bíblica e determinar a maneira com que respondem aos desafios propostos, de modo que possam desenvolver todo o seu potencial. Quando as crianças e adolescentes consideram as atividades propostas entediantes ou repetitivas pode resultar em várias implicações, como o desinteresse do aluno, que gera comportamento inapropriado ou o não desenvolvimento das habilidades. Outros insistem, perseveram, procuram se enquadrar, mas, se suas habilidades não são valorizadas, podem perder o desejo de participar dos encontros.

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Em uma perspectiva inclusiva, devem ser utilizadas estratégias de atendimento e tomada de decisões acerca das características das pessoas com AHSD. Isso nos direciona para suas potencialidades, permitindo o entendimento de como aprendem e se apropriam das lições bíblicas.

A Escola Sabatina inclusiva precisa ser adequada à diversidade dos alunos, considerando seus interesses, necessidades, desenvolvimento, os diferentes ritmos e estilos de aprendizagem (LEFEVER, 2012). Para que ofereça um atendimento inclusivo e adequado às peculiaridades de cada um, deve ser um espaço de convivência em que as crianças e os adolescentes possam encontrar oportunidades de interação, realizar a troca de experiências e o acesso a atividades variadas, significativas e oferecidas de forma prazerosa.

Pessoas com altas habilidades ou superdotação demonstram notável desempenho escolar, com competências adquiridas antes do período previsto para toda a turma. Esses alunos têm um alto desempenho em determinadas áreas, e isso é reconhecido por seus pares nos grupos sociais aos quais pertencem, inclusive nas igrejas.

Se pensarmos nas crianças pequenas, das classes do Rol do Berço ou Jardim da Infância, alguns podem considerar mais difícil identificar as altas habilidades, porém, essas crianças também merecem um olhar atento, observando se a criança demonstra domínio de habilidades que as demais crianças de sua faixa etária ainda não apresentam. É importante que ela seja acompanhada e seu alto potencial seja desenvolvido e confirmado.

É importante considerar o que a família pensa sobre o assunto, como percebe o comportamento superdotado da criança, como encara a aprendizagem, quais são os sentimentos envolvidos diante do desafio de conviver com um indivíduo superdotado.

Da qualidade da interação do professor da Escola Sabatina com seus alunos, surgirão oportunidades para que essas crianças e adolescentes demonstrem seu potencial e, mais tarde, venham a desenvolvê-lo plenamente.

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Muitas vezes, as crianças e os adolescentes com altas habilidades ou superdotação enfrentam desafios ao tentar conviver com seus pares. Sofrem intimidação, são julgados como arrogantes ou mesmo ficam entediados ao serem apresentados conteúdos que já dominam, mostrando-se desinteressados pelas atividades propostas. Seus desejos, suas habilidades são fatores prioritários a ser analisados. Sandra Manning (2006) relaciona algumas situações problemáticas que podem ocorrer em sala de aula:

• Trabalhos inacabados podem ser o resultado do foco em vários interesses. Maus hábitos de trabalho também podem revelar sentimentos do estudante que ele ou ela já sabe sobre determinado tópico e não sente a necessidade para a prática.

• Trabalho da classe pobre por alunos superdotados é frequentemente um sinal de desinteresse no assunto.

• Perfeccionismo por temer o fracasso. Esses sentimentos podem levar a não terminar o trabalho, procrastinação ou insucesso.

• Trabalho em grupo pobre muitas vezes pode ser o resultado de sentimentos de alunos superdotados que acreditam que terão que levar a carga de trabalho do grupo. Alunos superdotados também podem preferir trabalhar sozinhos por causa de sentimentos de que suas ideias serão mal compreendidas ou não serão apreciadas pelo grupo.

• Prepotência no trabalho de grupo poderiaser um indicador de alunos mais jovens praticando suas habilidades de liderança para encontrar o estilo de liderança mais eficaz. Comportamento arrogante também pode decorrer de desejo dos alunos superdotados para o controle de suas vidas e suas características de independência e não conformidade.

• Trabalhadores lentos que são superdotados podem garantir que seu trabalho é perfeito.

• Problemas de comportamento de alunos superdotados poderia ser um resultado de tédio ou a sensação de que o trabalho da classe é muito fácil ou abaixo deles.

• Explosões emocionais podem ocorrer devido à sua natureza altamente sensível (MANNING, 2006, p. 67, 68).

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Pessoas com AHSD constantemente convivem com sentimentos antagônicos de admiração e rejeição provenientes de seu próprio grupo social. Na Escola Sabatina, são aqueles alunos que completam a frase antes de o outro concluir, acertam as respostas antes dos demais, têm um profundo senso de justiça social, quando lutam por um direito o fazem pelo bem de todos, frequentemente entram em conflitos por defender os menos favorecidos, são colecionadores meticulosos, são surpreendentes pelo seu brilhantismo, quando crianças argumentam como adultos, são muito dinâmicos e bons líderes, mas não gostam de se submeter à liderança, têm apurado senso de julgamento, pois sabem o que fazem e por isso sempre justificam suas ações.

Esses alunos precisam se sentir acolhidos, abraçados, valorizados, compreendidos e encorajados na Escola Sabatina. Necessitam saber, por vivência, que sua igreja é um lugarpara pertencer. O professor deve manter a mente e o coração abertos para vivenciar os desafios e as conquistas que esse relacionamento proporciona. O principal objetivo do professor da Escola Sabatina é mostrar Jesus. Muito mais do que ser o exemplo, de indicar ocaminho, o professor tem que caminhar com seus alunos até ao Mestre maior.

O professor da Escola Sabatina precisa estar disposto a experienciar as diversas possibilidades de atender às crianças e aos adolescentes com AHSD. Para isso, é necessário:

• Dar acesso à utilização de diferentes materiais;

• Encaminhar as famílias de alunos com altas habilidades ou superdotação ao suporte emocional e psicológico, quando necessário;

• Criar oportunidades para que os alunos possam expandir as relações interpessoais e desenvolver plenamente seu potencial;

• Manter um ambiente de respeito;

• Promover a interação entre os pares, visando a uma inclusão eficaz;

• Desenvolver um relacionamento empático com o aluno com AHSD;

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• Acolher todos em suas diferenças, sem distinção;

• Promover o pertencimento da criança e do adolescente com AHSD para que percebam que são pessoas importantes para sua comunidade;

• Considerar a interdisciplinaridade do processo de ensinoaprendizagem;

• Valorizar a aprendizagem significativa;

• Permitir o desenvolvimento de competências;

• Descobrir e colaborar com o desenvolvimento de talentos;

• Identificar as habilidades de cada aluno;

• Manter o foco no desenvolvimento de aptidões variadas;

• Aproveitar as oportunidades do entorno, realizando passeios e projetos de enriquecimento;

• Realizar entrevista com a família para determinar o nível de envolvimento com as tarefas de seu interesse;

• Realizar entrevista com o aluno para acompanhar seu potencial criativo;

• Observar o aluno em ação ao realizar tarefas propostas ou livres;

• Priorizar atividades de cooperação e evitar atividades de competição.

CONSIDERAÇÕES

A identificação adequada é necessária, e a multiplicidade de opções para trabalho e pesquisa nesse campo precisa ser explorada e ampliada de forma a progredirmos no entendimento do valor das crianças e dos adolescentes potencialmente talentosos.

Professores da Escola Sabatina têm a responsabilidade de promover a reflexão por parte dos alunos e estimular o pensamento criativo, através da introdução das atividades propostas pelo manual, que contemplam diferentes linguagens, como a literária, a artística, a musical, e outras. Essa postura pode ter como resultado a aceitação dos alunos ao convite de Jesus.

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É fundamental identificar esses alunos. Seus direitos de atendimento diferenciado devem ser reconhecidos e aplicados nas igrejas. Suas necessidades devem ser atendidas, suas peculiaridades respeitadas, e seu perfil não deve ser ignorado como se nem mesmo estivessem presentes entre os demais.

Não realizar a identificação das crianças e dos adolescentes com altas habilidades ou superdotação pode resultar em várias implicações, como o desinteresse, que gera comportamento inapropriado, o não desenvolvimento das habilidades e, consequentemente, o desperdício do que deveria ser a maior riqueza de uma sociedade: os talentos, que, se adequadamente desenvolvidos, a beneficiariam.

Pessoas altamente capazes, mas que não tiveram oportunidade de expressar suas habilidades de maneira produtiva, ou não tiveram seus talentos reconhecidos, acabam por direcionar suas habilidades para outras atividades, afastando-se da igreja. Esse, então, deve ser um ponto de preocupação da igreja.

Falando de forma mais ampla, mas plenamente aplicável ao público com altas habilidades ou superdotação, Ellen G. White escreveu:

O futuro dasociedade é indicado pelos jovens de hoje. Neles vemos os futuros mestres, legisladores e juízes, os líderes e o povo que determinam o caráter e o destino da nação. Quão importante, pois, é a missão dos que devem formar os hábitos e influenciar a vida da geração nascente! Tratar com a mente é a maior obra já confiada aos homens [...] Pôs-lhes Deus nas mãos a preciosa juventude, não somente para ser preparada para um lugar de responsabilidade nesta vida, mas para as cortes celestes (2013, p. 4).

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PARTEIII

EscolaSabatina:Adaptações

CurriculareseOrientações aoProfessor

AngieValdezPajuelo

CarlosFrancescoMarquinaVergara

QueleonElmerMamaniQuispe

WilmaVillanuevaQuispe

INTRODUÇÃO

As adaptações curriculares, no contexto da Escola Sabatina infantojuvenil, são as estratégias voltadas para pessoas com deficiência. Tais adaptações têm como objetivo tornar os conteúdos e a metodologia do currículo da Escola Sabatina mais acessíveis a cada membro da igreja, principalmente para crianças e adolescentes, de acordo com as características e necessidades de seu meio sociocultural.

As adaptações curriculares para as crianças com deficiência devem auxiliá-las a se sentirem úteis, valiosas e participarem ativamente nos diferentes programas de adoração (cultos) e atividades relacionadas desenvolvidas pela igreja. Isso produzirá o envolvimento de todos os membros na missão e permitirá que o Espírito Santo atue em todos os corações, com o propósito de fazê-los entender e agir em favor deles, assim como a Bíblia declara: “Fale em favor daqueles que não podem se defender; garanta justiça para os que estão aflitos” (Pv 31:8), pois cada pessoa aguarda a mensagem de esperança e salvação.

Os professores de Escola Sabatina e os membros da igreja em geral devem quebrar as barreiras existentes para que crianças e adolescentes com deficiência possam participar dasatividades da igreja e compartilhar a mensagem e o desejo do breve retorno de Jesus.

É importante ressaltar que todas as pessoas com deficiência também precisam ser evangelizadas, conhecer a Cristo e aceitá-Lo e ter o direito de participar das diversas atividades espirituais e sociais

178 Capítulo11

EscolaSabatina:AdaptaçõesCurriculareseOrientaçõesaoProfessor da igreja. Jesus nos dá o privilégio de promover o amor. Ele pode nos capacitar em nossas limitações e imperfeições para compartilharmos Seu amor sobre a mensagem de salvação.

“Se você rir de uma criança especial, ela vai rir com você porque a inocência dela supera a sua ignorância” (Anônimo).

Esse ditado pode parecer duro, mas é verdadeiro. João estuda no quarto ano de uma escola regular. Ele é uma criança com transtorno do espectro autista. Infelizmente, um de seus professores subestimava a capacidade de entendimento dele e nunca incentivava a participação do menino em sala de aula. Um dia, porém, ao fazer uma pergunta para a turma, ficou surpreso com a iniciativa de Joãozinho em responder fazendo movimentos com as mãos. O menino respondeu de maneira correta à pergunta que o professor havia feito para a turma e várias outras que ele direcionou apenas para João. As outras crianças da sala também ficaram surpresas e aplaudiram o colega. O professor pôde refletir sobre sua prática pedagógica e percebeu que João poderia ser mais ativo e participativo em sala de aula. Ele só precisava de incentivo para que isso acontecesse.

Esse relato nos ajuda a refletir que atender à diversidade significa romper com o esquema tradicional de ensino em que todas as crianças fazem o mesmo, ao mesmo tempo, da mesma forma e com materiais já conhecidos.

ADAPTAÇÕESCURRICULARES

A adaptação curricular envolve fazer ajustes ou modificações no currículo da Escola Sabatina desenvolvido para o aluno com o propósito de responder às suas necessidades educacionais. O currículo engloba objetivos, sequência natural de aprendizagem, experiências ativas, uso de equipamentos e materiais, atenção e ajuda pessoal e grupal, estilos de aprendizagem e outros aspectos didáticos de ensino e aprendizagem. Por meio das adaptações, o processo de ensino-aprendizagem é modificado e ajustado com o objetivo de transmitir o ensino

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bíblico de maneira clara, atrativa e compreensível para os diferentes tipos de aprendizes. Cada lição é preparada com base em indicadores ou princípios que permitem que todos participem (incluindo crianças e adolescentes com deficiência) e tenham interesse em aprender:

a) Planejamento. Planeje e prepare lições que apresentem Jesus de maneira atrativa. Como fazer isso?

• Use palavras simples, descrições claras e linguagem objetiva;

• Apresente o amor infinito de Cristo por cada criança, revelando que Jesus é seu amigo;

• Seja gentil com todas as crianças, sem preferências. Caso alguma apresente dificuldade para cumprir com algo proposto, mude a abordagem até que ela consiga compreender e responder de maneira positiva.

• Seja sensível, respeite a diversidade cultural e planeje abordagens, apresentações de conteúdos e expressões artísticas que favoreçam o ensino e a aprendizagem de todos.

b) Clareza. Apresente a história e o ensino da Bíblia de forma clara e precisa. Como fazer isso?

• Apresente o caráter justo e misericordioso de Deus, conforme revelado em Cristo, em Sua bondade e glória.

• Use uma linguagem clara, fácil de entender e adequada à idade das crianças.

• Evite usar clichês, a menos que sejam acompanhados de uma explicação simples.

• Permaneça fiel à mensagem bíblica, incluindo os principais ensinamentos doutrinários adventistas (28 crenças fundamentais), enquanto escreve ou fala em um estilo envolvente.

• Extraia os temas e as lições da Bíblia.

• Use versões bíblicas contemporâneas e com linguagem acessível, como a Nova Versão Transformadora (NVT), por exemplo, mantendo um verdadeiro diálogo nas histórias da Bíblia.

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EscolaSabatina:AdaptaçõesCurriculareseOrientaçõesaoProfessor

• Leia a Bíblia para a criança e o adolescente. Inclua pelo menos uma leitura da Bíblia, pode ser uma citação de verso em cada lição diária, de acordo com a linguagem para as necessidades especiais.

c) Descoberta. Desafie o pensamento, promova o aprendizado profundo e incentive a reflexão. Como fazer isso?

• Promova rodas de conversa e faça perguntas para instigar a participação das crianças, incluindo as que têm deficiência.

• Crie oportunidades para as crianças memorizarem e aprenderem detalhes da história, compartilhando-a com suas próprias palavras.

• Ofereça uma variedade de atividades criativas com perguntas e respostas e diferentes opções baseadas nas inteligências múltiplas.

• Promova forte conexão entre a história da Bíblia, o verso para memorizar, o objetivo de cada lição e o foco do programa planejado pelo professor.

• Use recursos da natureza para ilustrar as aulas e incentive as crianças a ficarem ao ar livre, em contato com elementos naturais.

d) Convicção. Fale ao coração da criança e ajude-a a ter um relacionamento de amizade com Jesus. Como fazer isso?

• Use as histórias bíblicas para ensinar lições que contribuam para o crescimento espiritual das crianças.

• Relacione a mensagem bíblica com o cotidiano da criança e do adolescente.

• Ofereça mensagens adequadas ao desenvolvimento de cada criança e promova oportunidades para reflexão pessoal.

• Faça apelos e convide as crianças a responder com o coração ao que elas estão descobrindo.

• Incentive o uso da primeira pessoa do singular nas respostas (“eu” em vez de “nós”).

• Ofereça sugestões de oração que se conectem com o que as crianças estão aprendendo.

• Ajude as crianças a construir uma relação com Deus, em seu nível de desenvolvimento.

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e) Ação. Encoraje as crianças a responder ao chamado de Deus para crescer, compartilhar e fazer Sua vontade. Como fazer isso?

• Incentive a busca pessoal e contínua por Deus.

• Mostre como a obediência amorosa a Deus traz paz, alegria e bênção.

• Mostre o convite de Deus para que as crianças coloquem em prática o que estão aprendendo. Faça apelos à ação apropriados à idade e às condições diferenciadas de cada criança ou adolescente.

• Incentive a ação individual e o testemunho de acordo com a idade e as deficiências.

• Promova a consciência, a sensibilidade para com as necessidades dos outros em casa e na comunidade. Incentive os bons relacionamentos na convivência.

ADAPTAÇÕESCURRICULARESNA CLASSEDEESCOLASABATINA

O currículo da Escola Sabatina busca nutrir a vida espiritual de nossas crianças e jovens, seguindo o princípio de que o mais importante na educação deve ser a conversão de seus alunos, para que tenham novo coração e vida. O objetivo do Grande Mestre é a restauração da imagem de Deus na alma, e todo professor da Escola Sabatina deve trabalhar em harmonia com este propósito.

Na transmissão dos conhecimentos bíblicos na Escola Sabatina, devemos focar tanto no processo (como ensinamos) quanto no conteúdo (o que ensinamos). Também é preciso ficar atento a como as crianças aprendem. Tudo deve estar alinhado aos objetivos de estudo da lição semanal.

Sequênciadoprocessodeensino,divididoemcincoetapas,de acordocomoCurrículodaEscolaSabatinaVivosemJesus:

a) Gancho

b) Cabeça

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EscolaSabatina:AdaptaçõesCurriculareseOrientaçõesaoProfessor

c) Coração

d) Mãos

e) Celebração da aprendizagem (Viva!)

O tratamento e o cuidado para com todas as crianças, descritos no texto a seguir, refletem a abordagem geral do quadro de ensino-aprendizagem:

GANCHO

Tem por objetivo que todas as crianças se sintam bem-vindas na Escola Sabatina. Esse momento prepara o cenário para a lição semanal, envolvendo o aluno desde o início, com o objetivo de despertar seu interesse e apresentar o contexto da lição, de acordo com o que ensina a educadora Ellen G. White: “A verdadeira educação não consiste em forçar a instrução a uma mente despreparada e não receptiva. As faculdades mentais e o interesse devem ser despertos” (WHITE, 2021, p. 27 [41]).

Essa parte da Escola Sabatina foi pensada para criar ou gerar o vínculo afetivo e emocional de aproximação e interesse a fim de despertar a curiosidade e a expectativa dos alunos. Por isso, devemos planejar cuidadosamente atividades ou experiências para ativar o interesse de todos.

Veja algumas ações que podem ser feitas na Escola Sabatina: No momento das boas-vindas, ajude as crianças com deficiência a se sentirem bem. Procure despertar o interesse delas, a curiosidade, a imaginação e tente envolvê-las.

• Se a criança for cega, por exemplo, aproxime-se, abrace-a e faça com que ela sinta sua presença e seu acolhimento.

• Se a criança for cadeirante, por exemplo, coloque a criança em um lugar em que consiga ver o que será proposto e participar das atividades.

• Se a criança for surda, por exemplo, use imagens e gestos para se comunicar com ela. Confeccione plaquinhas com símbolos

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que possam ser usados para facilitar a comunicação entre vocês e disponibilize para a criança.

Com o ambiente: Ofereça ambientes seguros e confortáveis nos quais todas as crianças tenham a oportunidade de adorar a Deus. A decoração e a organização do ambiente devem ser pensadas considerando as necessidades de todas as crianças.

Com relacionamentos interpessoais: Ofereça oportunidades para que as crianças com deficiência interajam com os outros colegas da classe, desfrutando de uma convivência saudável e de total respeito. Planeje atividades de interação entre todas as crianças, divida-as em pequenos grupos para que desfrutem da proximidade daquela criança de quem, a princípio, tinham receio, medo ou preconceito.

Com a história: Planeje ações de envolvimento ativo nodesenvolvimento da história. Incentive a participação de acordo com as habilidades individuais, com atenção às necessidades de cada criança. Fortaleça o contato com a verdade bíblica que você quer ensinar, dando-lhes a oportunidade de atuar em encenações, com a ajuda de outras crianças. Elas podem narrar as histórias, ilustrar, mostrar objetos enquanto o professor apresenta o relato, ou fazeroutrascoisas criativas. O importante é que todos sejam envolvidos.

A CABEÇA

Deus apela ao Seu povo para buscá-Lo em primeiro lugar e amá-Lo acima de tudo. Devemos esconder Suas palavras em nosso coração para não pecar contra Ele (Sl 119:11) e ensinar essas palavras diligentemente aos nossos filhos, “converse a respeito delas quando estiver em casa e quando estiver caminhando, quando se deitar e quando se levantar” (Dt 6:7).

O objetivo dessa parte é ampliar o que nossos alunos já estudaram. Embora seja principalmente liderada por professores, os alunos

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EscolaSabatina:AdaptaçõesCurriculareseOrientaçõesaoProfessor são convidados a descobrir, explorar e interagir com o que aprenderam de várias maneiras.

Durante essa parte, promova a exploração e a reflexão profunda sobre o conteúdo bíblico. Faça isso por meio de perguntas e incentive a participação ativa, para que o aprendizado seja realmente significativo. Esse é o momento de encher a mente das crianças com as verdades bíblicas, fazendo com que as crianças com deficiência estejam totalmente envolvidas e participem ativamente. Para elas, será necessária uma abordagem especial, gentil e sempre com um gesto de aprovação para sua participação. Afinal, refletir é uma ação cognitiva que todo ser humano pode realizar.

CORAÇÃO

Dizem que, se tocamos o coração, abrimos a mente de nossos filhos para o aprendizado. Ao compartilhar as histórias e as verdades da Bíblia, o Espírito Santo poderá agir nos corações abertos para a transformação. Em Oseias 6:3, lemos: “Ah, como precisamos conhecer o Senhor; busquemos conhecê-Lo! Ele nos responderá, tão certo como chega o amanhecer ou vêm as chuvas da primavera.”

É preciso marcar a vida e a fé da criança por meio do afeto, do amor que pode ser fomentado com um único gesto ou uma única palavra ou um toque que marca positivamente a vida das crianças e adolescentes. Para esse momento, é importante considerar a necessidade da conversão do coração.

A razão e a reflexão são importantes, mas não são tudo. Temos que tocar o coração falando de vida para vida, como Jesus fazia, porque Ele tocava profundamente o coração das pessoas, conhecia suas necessidades, suas dores ou alegrias. O objetivo dessa parte é levar as crianças aos pés de Jesus por meio da adoração, reflexão, lições práticas e discussão, para que não apenas conquistem conhecimento, mas sejam pessoalmente convencidas do que aprenderam.

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O coração é um ponto de conexão com Deus. É tempo de promover o amor a Deus, para que as crianças tenham um profundo desejo de adorá-Lo. Essa ação é muito importante para uma criança com deficiência.

A MÃO

Se tocamos o coração, abrimos a mente. Portanto, a resposta natural a uma conversão de coração é agir. Em Tiago 1:22, lemos: “Não se limitem, porém, a ouvir a palavra; ponham-na em prática.”

Nessa parte, cada criança terá a oportunidade de aprender como pode contribuir com sua família, igreja, comunidade e missão. O objetivo é envolver todas as crianças na missão da igreja, por meio de histórias missionárias inspiradoras e oportunidades práticas de servir ao próximo, como resultado do que foi ensinado na história ou tema da lição.

O currículo oferece muitas ideias práticas de serviço com foco no cumprimento da missão. Essas atividades devem ser cuidadosamente pensadas e selecionadas para as crianças com deficiência. O surdo, por exemplo, deve ter instruções claras e precisas (com gestos ou imagens) para realizar a atividade. O cego que precise fazer uma atividade de recorte pode contar com o auxílio de uma agulha de ponta romba para pontilhar a silhueta a ser recortada ou colorida. Envolva os pais para que ajudem de acordo com a necessidade e a atenção que a criança pequena requer. Envolva também as outras crianças em atividades colaborativas e cooperativas, para que aprendam a ser solidárias.

CELEBRAÇÃO DAS LIDERANÇAS (VIVA!)

Estudos da área educacional evidenciam que o aprendizado é mais eficaz e mais provável de ser assimilado quando acompanhado de alegria. “As pessoas aprendem mais e aprendem a gostar de aprender quando gostam do processo” (SCHULTZ, 1999, p. 169).

Nessa última etapa, as crianças terão a oportunidade de reconhecer o que aprenderam de Deus em Sua Palavra, e o que Ele fez por elas

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EscolaSabatina:AdaptaçõesCurriculareseOrientaçõesaoProfessor ou por outra pessoa (no contexto da missão). Nessa parte também será possível ajudar as crianças a demonstrar o que aprenderam. Elas podem ser estimuladas a fazer breves explicações sobre os temas apresentados.

O objetivo é que a criança saia da Escola Sabatina com uma clara aplicação para sua vida. Elas devem revelar o que aprenderam de maneiras diferentes e com bastante alegria, pois “[...] a alegria do Senhor é sua força” (Ne 8:10).

Em Deuteronômio 6:4 e 5, lemos: “Ouça, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, o Senhor é único! Ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de toda a sua força.” Então, juntos, vamos celebrar a aprendizagem de amor a Deus na Escola Sabatina.

ADAPTAÇÕESCURRICULARESINDIVIDUAIS

Fazer uma programação de ensino individualizada é fundamental para que o desempenho das crianças com deficiências alcance os objetivos propostos. Para isso, também precisamos sensibilizar os pais, os professores e demais membros da igreja, ou seja, envolver o máximo de pessoas que interagem com a criança. Todas as pessoas envolvidas no processo de ensino precisam ter consciência de suas responsabilidades, convicção de seu chamado e devem dar real apoio. É fundamental que todos saibam quais objetivos precisam ser alcançados e conheçam o planejamento do programa de ensino da Escola Sabatina. O processo de ensino-aprendizagem deve ser preparado e organizado. O educador deve se perguntar constantemente se seus alunos estão respondendo ao que é ensinado. Com base nessa reflexão, o processo pode ser aprimorado, e a criança é auxiliada na maneira correta para aprender.

As atividades dadas em classe devem promover a participação ativa, a iniciativa, o interesse e a criatividade. É importante estabelecer um tempo para cada atividade, tendo em conta as necessidades de cada criança. Por fim, a avaliação deve ser feita. É importante comparar as necessidades iniciais diagnosticadas e o nível de desenvolvimento adquirido, o que permite avaliar os resultados.

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Diretrizesparaadaptação

Cada ser humano é diferente e único. Deus nos fez assim e devemos aprender a respeitar e aceitar nossas diferenças, principalmente quando nos encontramos na posição de professores e líderes. Sabemos que pode ser muito frustrante adotar uma abordagem diferente para ensinar verdades espirituais a crianças com deficiência. A tarefa é desafiadora, muitas vezes assustadora e com resultados lentos. No entanto, o fato de você estar lendo este livro mostra que o amor de Deus está em seu coração.

Como professor e líder da igreja, considere esses pedidos e procure recursos e estratégias para ensinar as crianças com deficiência. Nosso compromisso é com o Deus que nos chamou para ensinar Sua verdade. Portanto, tenha coragem, continue aprendendo e se preparando para ministrar a todos com amor. Somos chamados a ser os olhos, as mãos, os pés e o coração de Jesus. Por isso, nossas ações devem refletir Seu amor e cuidado com as crianças e os adolescentes de nossa igreja.

A seguir, apresentamos algumas orientações, sugestões e alguns conhecimentos básicos e sugestões para que o professor possa:

• Ter expectativas sobre o aprendizado e envolver a família no processo;

• Selecionar estratégias e materiais considerando a diversidade do grupo e de cada participante;

• Identificar as barreiras educacionais para fornecer os suportes necessários: glossários, atividades diferenciadas, etc.;

• Ter boa disposição para ajudar e orientar o processo de aprendizado, tirar as dúvidas das crianças, desenvolver atividades respeitando a autonomia individual e reconhecer os esforços de cada um para atingir as metas;

• Oferecer um bom tratamento para todos os alunos. Ser paciente e demonstrar carinho para criar um vínculo que favoreça o aprendizado. No processo de ensino das verdades bíblicas, é importante ter clareza sobre os objetivos e avaliar o aproveitamento demonstrado pelo aluno. Por isso, reflita sobre os temas e organize as atividades com base nas seguintes questões:

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EscolaSabatina:AdaptaçõesCurriculareseOrientaçõesaoProfessor

• O que eles vão aprender hoje?

• Como vou fazer para que todos aprendam?

• Que materiais ou recursos usarei para envolver a todos no aprendizado?

• Que potencialidades ou pontos fortes meus alunos têm para a aprendizagem?

• Que barreiras vou enfrentar e como posso superá-las?

Também é importante mencionar que cada pessoa se desenvolve em pelo menos quatro áreas que interagem entre si. De acordo com a narrativa bíblica de Lucas 2:52, somos seres com aspectos físicos ou biológicos; mentais e emocionais; sociais e espirituais. Por isso, para que uma pessoa tenha o desenvolvimento integral, deve haver o equilíbrio em todas essas áreas. Quando uma delas é fraca e a outra é forte, ocorrem instabilidades, e os problemas surgem atrapalhando a vida. As crianças com deficiência também precisam desenvolver essas quatro áreas para crescer e se desenvolver harmoniosamente.

Veja, a seguir, algumas diretrizes gerais, divididas nas quatro áreas mencionadas anteriormente, que devem ser usadas para tornar as lições da Escola Sabatina mais inclusivas:

Área física

• As classes da Escola Sabatina de crianças e adolescentes devem estar localizadas em ambientes de fácil acesso, preferencialmente no piso térreo da igreja e próximas a rampas ou elevadores especiais, para facilitar a mobilização das pessoas.

• Dependendo da dificuldade física ou biológica de seu aluno, é aconselhável contar com o apoio dos próprios pais ou responsáveis. Isso lhe dará maior controle da situação e evitará contratempos ou situações constrangedoras.

• Peça ajuda aos pais e aos profissionais de saúde para conhecer mais detalhes sobre como lidar com a criança e sua deficiência.

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VindeaMim

• Mantenha o aluno perto de você. Dê a ele a atenção necessária para sua aprendizagem. Sempre que possível, olhe para ele e ajude-o a participar das aulas e se integrar ao grupo em geral.

• Sempre tenhaassistentes voluntários (os próprios pais ou outras pessoas preparadas para isso) que possam ajudá-lo a carregar, mover, explicar conceitos e/ou ajudar no comportamento da criança, caso seja necessário.

• Fale de maneira clara e compreensível para que todos na sala possam entendê-lo. Pratique para aperfeiçoar sua técnica de transmissão de conteúdos.

• Procure usar recursos que chamem a atenção: itens coloridos, chamativos e interessantes para despertar a curiosidade e estimular a participação.

Área mental

• Algumas crianças com deficiência podem ter dificuldade para interagir com outras pessoas e entrar e permanecer nos ambientes de ensino. Tenha paciência, planeje ações de ajuda e comemore os pequenos resultados.

• A autoestima da pessoa com deficiência deve ser fortalecida. Em alguns casos, sua deficiência as leva a pensar em inutilidade e derrota. Isso pode ser devido a vários fatores. Quanto maior a deficiência e a necessidade de ajuda de outras pessoas, maiores serão as emoções negativas ligadas à autoestima. Ajude a criança com deficiência a aprender a se amar e a se aceitar e a conhecer o amor que Deus tem por ela.

• Ensine conceitos complexos de maneiras simples e compreensíveis. Fazer isso requer preparação prévia e estudo aprofundado do assunto.

• Lidar com crianças com deficiência é um trabalho árduo, mas extremamente recompensador. Lembre-se de que o que você faz tem muito valor para Deus e para a vida dessas pessoas.

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EscolaSabatina:AdaptaçõesCurriculareseOrientaçõesaoProfessor

Quando se sentir cansado e desanimado, ore e peça a Deus por paciência e sabedoria. Deus certamente responderá sua oração. Descanse e faça pausas. Busque ajuda dos pais, de seus líderes e de outros irmãos da igreja, caso seja necessário.

Área social

• Os pais de crianças com deficiência são uma peça fundamental para ajudar você na Escola Sabatina. Eles conhecem o filho e sabem lidar com as dificuldades que ele enfrenta. Solicite o apoio deles sempre que necessário e deixe-os ciente de suas metas e estratégias de ensino. Avalie a melhor forma de agir em cada caso. Cada situação é diferente e requer uma intervenção especial.

• Pessoas com deficiência geralmente se isolam das outras pessoas. Use estratégias para que seu grupo de alunos se integre positivamente. Crie possibilidades para que os amigos mais próximos da criança ajudem. Incentive também a criança a formar novas amizades. A amizade nem sempre surgirá imediatamente, mas, com o tempo, você verá os resultados positivos do que bons amigos podem fazer para pessoas com deficiência.

• Certifique-se de que os outros alunos da classe tenham um relacionamento positivo com a criança com deficiência. Monitore qualquer situação de escárnio, bullying ou maus-tratos. Não permita ou participe de piadas entre as crianças. Ensine, com explicações objetivas e diretas, que não é certo humilhar e maltratar outras pessoas.

• Faça um plano de visitação para todos os seus alunos. Converse com os pais para definir a melhor data e horário para a visita. Isso trará alegria e motivação para as crianças com deficiência. Ver que seu professor cuida dela será um ato de amor muito marcante em sua vida.

• Fale com o pastor distrital para que a igreja participe de treinamentos sobre como ajudar as pessoas com deficiência. É sempre

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bom que os líderes e membros da igreja saibam como entender e ajudar em casos especiais e específicos.

• As pessoas com deficiência devem se sentir amadas e respeitadas por seus professores, líderes e membros da igreja em geral. Encontre maneiras de tornar sua igreja local mais receptiva e solidária. As crianças e suas famílias devem encontrar na igreja e em seus membros um lugar de refúgio e auxílio, um lugar em que se sintam abraçadas e ajudadas da maneira que Jesus faria com elas.

• Fique atento às datas dos treinamentos do Ministério Adventista de Possibilidades. Esses encontros poderão ajudar em seu próprio treinamento e no de sua equipe. O estudo sobre o tema é muito importante para conseguir um bom atendimento às pessoas com deficiência.

Área espiritual

• O aspecto espiritual é um eixo fundamental na assistência às pessoas com deficiência. A fé é um componente que enche o coração de esperança de um futuro melhor. Só quem tem um encontro pessoal com Cristo pode ter o coração repleto de felicidade. A vida é passageira. Jesus prometeu que, um dia, não muito distante, viveremos em um novo mundo onde não haverá doenças e sofrimentos. Esse tipo de pensamento alivia a dor e o sofrimento que uma deficiência pode causar e enche o coração de alegria e esperança.

• Lembre-se sempre de que você, professor, é um reflexo de Jesus para as pessoas com deficiência. Para aqueles que não podem se mover, você representa os pés que os conduzem a Jesus; para aqueles que não podem ver, você representa os olhos que os guiam até Jesus; para aqueles que não podem ouvir, você é a voz de Jesus, e para aqueles que não podem falar, você é o canal de bênção de Jesus.

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EscolaSabatina:AdaptaçõesCurriculareseOrientaçõesaoProfessor

• Nunca negligencie sua vida espiritual. Somente por meio de seu relacionamento pessoal com Jesus é possível encontrar força e clareza de pensamento para ajudar seus alunos com deficiências. As pessoas verão em você um reflexo de Jesus e sentirão a presença Dele em sua vida. O segredo para ser um professor de Escola Sabatina bem-sucedido depende desse relacionamento diário com o Céu. Ninguém pode fazer isso por você. A comunhão é cultivada individualmente e tem uma influência incrível no modo como lidamos com os outros. Seus alunos deficientes sentirão facilmente o amor que brota de seu coração e serão atraídos a Jesus por sua causa.

• Ao ensinar verdades espirituais, use exemplos bíblicos. Nas histórias dos personagens com deficiências e necessidades especiais, você encontra grandes exemplos de pessoas que passaram por situações semelhantes a que alguns de seus alunos passam. Por meio das histórias bíblicas, você mostrará que Deus tem compaixão e misericórdia por aqueles que sofrem. Leia para seus alunos as histórias dos milagres de Jesus. Cada relato é um poderoso testemunho do amor de Deus. Essas histórias assumem aspectos especiais para quem se vê sofrendo com carências. Você sempre deve ajudar as crianças a saber que Deus tem o poder de ajudá-las e que também tem um propósito planejado para cada um. Só precisamos nos aproximar Dele para descobrir Sua vontade em nossa vida.

Depois de ler essas diretrizes gerais, você pode ter outras ideias que não foram abordadas aqui. É sempre bom implementar estratégias que tragam melhorias para as pessoas com deficiência. As estratégias podem variar muito, dependendo da idade, do gênero, nível educacional, nível econômico, nível de conhecimento bíblico, etc. Por esse motivo, quando houver alguém com deficiência em sua classe, você deve considerar a melhor maneira de ajudá-lo a aprender as verdades espirituais e a encontrar Jesus.

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Com o tempo, você vai perceber que, quando fizer suas aulas pensando em ajudar as pessoas com deficiência, os outros alunos também serão beneficiados.Isso porque, agora, você sabe que preparar suas aulas vai exigir mais estudo e planejamento. Ao se dedicar cada vez mais, você aprimorará seus dons espirituais, e Deus multiplicará suas habilidades e lhe dará outras quantas forem necessárias para que você continue ajudando e sendo uma bênção para os outros.

A maior alegria que você terá será ver seus alunos entregando o coração a Jesus para sempre. Você pode imaginar como será esse encontro no Céu? Quando aquele que não conseguia se mexer vier correndo ao seu encontro, abraçando-o tão forte que deixará você sem fôlego? Ou quando seu aluno que não enxergava segurar sua mão para levá-lo para ver os lugares mais lindos do novo Éden? Só no Céu você saberá a poderosa influência que foi para crianças e adolescentes com deficiência. Então, não desanime! Lembre-se de que nada nesta vida acontece por acaso, mas tudo o que nos acontece cumpre um propósito maior no plano divino para nossa vida.

CONSIDERAÇÕES

Existem muitas ferramentas e estratégias para ajudar crianças e adolescentes com deficiência. Aprenda a entendê-los; use mensagens simples, claras e diretas para se comunicar com eles. Use também métodos alternativos: imagens, vídeos, música ou gestos. Crie rotinas para que eles organizem suas atividades e, por fim, parabenize-os pelas conquistas. Suas palavras de apreciação vão gerar confiança, segurança e motivação para que seus alunos se desenvolvam e avancemno conhecimento de Deus.

Todos precisam aprender que são filhos de Deus. Eles devem refletir, escolher e se comprometer com os princípios e as crenças fundamentais da igreja e devem ser incentivados a tomar decisões ao lado de Cristo.

Atender às demandas de todas as crianças é, sem dúvida, uma tarefa árdua e desafiadora. Porém, com o devido preparo, o professor

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EscolaSabatina:AdaptaçõesCurriculareseOrientaçõesaoProfessor da Escola Sabatina pode se tornar um agente de esperança e salvação. A ação da liderança vai ajudar meninos e meninas, adolescentes e jovens a encontrar na igreja um lugar de refúgio e amparo, onde queiram sempre voltar para ter experiências positivas e significativas e, sobretudo, para descobrir o verdadeiro amor cristão entre seus irmãos e irmãs espirituais.

GLOSSÁRIO

• Adaptação pedagógica. São as modificações em metodologias, estratégias, materiais e avaliações que permitem a participação e a interação do aluno no processo de aprendizagem. Implica preparar materiais e recursos pedagógicos e instrumentos de avaliação para atender à diversidade dos alunos.

• Adaptação curricular. É a adaptação ou modificação que é feita no currículo. Isso é feito priorizando os objetivos e flexibilizando o desenvolvimento alcançado pelo aluno em relação à sua turma. Esse processo é realizado tendo em conta as potencialidades, necessidades e barreiras que cada aluno enfrenta.

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EstratégiasInclusivaspara

aAdoraçãoInfantil

JaniceDuarteMoraisPareja

INTRODUÇÃO

Era o lugar mais improvável para ouvir um testemunho sobre o momento da Adoração Infantil. Mas, além de amoroso, Deus Se revela surpreendente.

Enquanto a cabeleireira cortava o cabelo da cliente (uma líder do Ministério da Criança), começou a contar como havia conhecido a igreja adventista e quantas pessoas já haviam feito o convite para que ela assistisse a alguma programação, até que, certo sábado, ela decidiu fazer uma “visita” à igreja. Ela gostou muito da programação. Mas ficou impressionada mesmo e sentiu Deus falando diretamente com ela por meio da história contada no momento da Adoração Infantil. Empolgada, ela reproduziu a história para sua cliente, falando dos detalhes e da criatividade da professora ao contar a história, bem como da interação com as crianças e os adultos. Todos foram envolvidos, e a mensagem tocou profundamente seu coração. Suas palavras literais foram: “Entendi que aquele era o apelo que Deus estava fazendo para mim e não pude resistir.”

Com o semblante iluminado, ela contou de seu envolvimento desde então com a igreja e mencionou, entusiasmada, a data que se tornou tão especial: o dia do seu batismo. Quem poderia imaginar que um momento dedicado às crianças ajudaria na conversão de um adulto? Deus tem Seus meios, e não devemos subestimar nenhum deles. Essa experiência demonstra o quão inclusiva essa parte da programação deve ser.

Não é de hoje que a Igreja Adventista do Sétimo Dia tem uma preocupação especial com as novas gerações. Por isso, tem desenvolvido de maneira organizada, sistemática e linear inúmeros projetos no Ministério da Criança e no Ministério do Adolescente com o objetivo de contemplar esse público. Entre esses projetos, encontra-se

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Capítulo12

EstratégiasInclusivasparaaAdoraçãoInfantil

a Adoração Infantil. Esse momento é tão relevante que há apoio por meio de um voto específico, feito no ano de 2010 (voto 106), para que ele seja implantado em todas as igrejas: “Votado, que o espaço chamado Adoração Infantil seja desenvolvido regularmente dentro da hora do culto divino, como parte da liturgia eclesiástica em cada igreja e grupo da DSA.”

No livro Orientação da Criança, de Ellen G. White, também temos respaldo para essa iniciativa:

Que seja repetido às crianças, em todas as ocasiões oportunas, a história do amor de Jesus. Reserve-se em cada sermão um tempo para benefício delas. [...] Isso contribuirá mais do que avaliamos para impedir o caminho às armadilhas de Satanás. Se as crianças se familiarizam cedo com as verdades da Palavra de Deus, será erguida uma barreira contra a impiedade, e elas serão habilitadas a enfrentar o inimigo com as palavras: ‘Está escrito’ (WHITE, 2021, p. 383, 384 [552]).

PORQUEAADORAÇÃOINFANTILÉTÃOIMPORTANTE?

• Dá à criança um senso de inclusão no culto. Aliás, seria importante que os pregadores, ao prepararem os sermões, pensassem também nas crianças e transmitissem a mensagem de forma simples e didática, de forma que todos entendam. Se as crianças são alcançadas, toda a igreja é beneficiada, e não apenas uma parte dela.

• Valoriza, reconhece, envolve a criança na adoração.

• Ajuda a criança a crescer com a ideia de que prestar um culto é uma experiência agradável.

• Contribui para seu ensino, crescimento espiritual, comprometimento com a igreja e o desenvolvimento de uma correta adoração.

• A Bíblia é ensinada de maneira simples e compreensível para as crianças (e até mesmo para os que são novos na fé).

Infelizmente, em seu zelo para cumprir o programa do sábado de manhã, algumas igrejas não dão o devido valor ao momento da

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Adoração Infantil. São comuns comentários como: “A Escola Sabatina das crianças já preenche essa necessidade”, “Já estamos atrasados e hoje temos muita coisa na programação...”

É preciso lembrar que estamos envolvidos em uma batalha desleal pela atenção das crianças. Milhões de dólares têm sido investidos na produção de todo tipo de material para atraí-las e mantê-las entretidas por horas e horas, afastando-as cada vez mais do caminho para o Céu. São games, filmes, séries, desenhos, músicas, livros, brinquedos... E a igreja, que possui os valores eternos, os princípios de vida e salvação, às vezes não se vale dos recursos disponíveis para ensinar as histórias bíblicas lindas e fascinantes que podem fazer a diferença na construção da espiritualidade dos pequenos e no desenvolvimento de um relacionamento especial com Deus.

Quemcoordenaessemomento?

A coordenadora do Ministério da Criança da igreja local é a responsável direta por esse projeto. Para que o programa funcione bem, é importante fazer antecipadamente uma escala com o nome das pessoas que contarão as histórias cada sábado. A escolha deve estar baseada nas habilidades dessas pessoas de serem práticas, criativas, objetivas e espirituais. Precisam ter o dom para contar histórias e conseguir atrair a atenção não só das crianças, mas também da igreja em geral. Podem ser homens, mulheres, jovens, idosos. O critério é a identificação com esse momento.

Uma atenção especial precisa ser dada às crianças que tenham necessidades diferenciadas. Quem estiver contando a história deve ser sensível para lidar com imprevistos. O ideal é ter alguém que possa auxiliar discretamente nesse momento para não causar distração entre as demais crianças.

É normal as crianças se movimentarem um pouco mais ou até se assustarem com alguma situação encenada. Por isso, é importante a pessoa transmitir segurança. Uma sugestão é fazer um rodízio no ano

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ou no semestre envolvendo no máximo quatro pessoas na contação de história. Restringir o número de participantes aumenta a familiaridade e ajuda a criar um vínculo maior entre as crianças e a pessoa que vai contar a história – esse detalhe é ainda mais relevante para as crianças com deficiência.

QuantotempodeveduraromomentodaAdoraçãoInfantil?

O tempo dedicado a esse momento deve ser curto, pois a concentração e a retenção de conteúdo por parte das crianças são bastante reduzidas. As crianças com deficiência podem ter um tempo de atenção mais reduzido ainda. Então, manter-se no tempo sugerido de 5 a 7 minutos é de fundamental importância para o sucesso da história.

É nesse quesito que muitos bons contadores de história na Adoração Infantil “pecam”. Às vezes, a história fica longa demais, e as crianças acabam se distraindo e perdendo o interesse. É preciso foco e objetividade na transmissão da mensagem para que a mente das crianças seja impressionada positivamente. Pode-se combinar com os pais ou responsáveis que reforcem a mensagem principal ao longo do dia, para que a história produza um efeito mais duradouro.

É válido ressaltar que o culto é organizado para atender à programação proposta, e cumprir os horários também é uma forma de demonstrar ordem e respeito na casa de Deus. Quando o tempo determinado para a Adoração Infantil é extrapolado, toda a programação do culto fica comprometida. Respeitar esse horário é educativo não só para os adultos, mas também para as crianças.

Comousaressemomento?

O momento da Adoração Infantil deve ser especialmente dedicado para as crianças. Ele pode ser usado para o testemunho de uma criança, para a dedicação infantil. No entanto, o mais apropriado é que seja usado para contar uma história bíblica que desperte na criança o encanto pela Palavra de Deus.

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EstratégiasInclusivasparaaAdoraçãoInfantil

Uma criança pode até ser escolhida para contar a história, uma vez ou outra, mas nesse momento é interessante que ela ouça a história. A criança também poderá não estar preparada para lidar com situações inusitadas. Assim, o adulto deve ter a prioridade na condução da Adoração Infantil.

Contar histórias na era digital tem se tornado um desafio cada vez maior. A maioria das crianças são nativas digitais, acostumadas com movimento, luzes, cores, ações em alto padrão advindas de seus aparelhos digitais. E agora? Como alcançar os objetivos em apenas 5 minutos? Como prender a atenção de crianças de 0 a 12 anos e também das crianças com necessidades especiais, além de ensinar valores e princípios que as motivem a amar e servir Jesus?

Há mais de 100 anos, Deus já nos deu a dica:

Por meio das ilustrações mais bem adaptadas à compreensão da criança, pais e professores podem começar bem cedo a cumprir a ordem do Senhor. [...] O uso de comparativos, lousas, mapas e gravuras será de grande auxílio na explicação dessas lições e para fixálas na memória. Pais e professores devem constantemente procurar métodos aperfeiçoados. O ensino da Bíblia deve ter nossos pensamentos mais claros, nossos melhores métodos e nosso mais empenhado esforço (WHITE, 2021, p. 358 [514, 515]).

O que Ellen White quis dizer com “procurar métodos aperfeiçoados”? Não seriam os recursos que temos hoje ao nosso dispor? A tecnologia, encenações, inovações – desde que estejam dentro dos nossos princípios.

Qualmaterialusar?

O Ministério da Criança da Divisão Sul-Americana tem preparado anualmente um Manual com 52 histórias, uma paracada sábado do ano, para atender todas as igrejas desse território. Ele é impresso e distribuído gratuitamente para todas as igrejas e grupos das

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EstratégiasInclusivasparaaAdoraçãoInfantil

Associações e Missões. Também é disponibilizado on-line no site da Divisão Sul-Americana.

O objetivo do Manual é garantir uma boa história, com o uso de recursos didáticos apropriados, que contemplem também as crianças com deficiência, além de transmitir informações corretas e proporcionar maior chance de ficar dentro do tempo estabelecido para a Adoração Infantil.

OqueNÃOusarnessemomento:

• Contos, lendas e fábulas.

• Histórias seculares que envolvam fantasia, terror e ficção.

• Evitar o uso de fantoches: algumas crianças com deficiência não se sentem à vontade com esse tipo de instrumento para a história; muitas ficam com medo e apreensivas.

É importante ressaltar que não devemos fazer as crianças aprenderem as verdades bíblicas como se fossem apenas mais outro passatempo e diversão. Ensinar sobre Jesus é uma responsabilidade tão sagrada que deveríamos tremer, dentro de nós mesmos, diante da solene tarefa que temos diante de Deus. Ensinar e dirigir crianças deveria nos levar a dobrar os joelhos em busca de sabedoria e direção.1

• Ilustrações contrárias à filosofia adventista.

• Linguagem secular, gírias e vocabulário acima do nível das crianças.

• Saudações exageradas que comprometem a reverência. Crianças com TEA (transtorno do espectro autista) são bastante sensíveis ao barulho; precisamos estar atentos quanto ao volume do microfone, música e saudações.

• Distribuição de alimento durante ou ao final da Adoração Infantil. Isso compromete a reverência.

• Não vestir alguém do sexo feminino para representar um personagem bíblico do sexo masculino ou vice-versa.

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• Jamais enfatizar a violência das histórias. Por exemplo: ao contar a história de Davi e Golias, não se faz necessário contar detalhes da morte de Golias; ao contar a história do Dilúvio, não se faz necessário dizer que todos os animaizinhos morreram afogados. Talvez esses detalhes até chamariam mais a atenção das crianças; no entanto, a atenção delas também será atraída quando a história for contada de maneira que enalteça o amor, a bondade, generosidade, honestidade. O uso do Manual ajudará nessa questão.

• Sempre que possível, no momento da Adoração Infantil, não coloque as crianças para se sentarem no chão. Alguns pais de crianças irão acompanhá-las e não é confortável sentar-se no chão, não só para os adultos, para as crianças também.

Mais algumas questões sobre esse ponto:

• O chão é um lugar sujo. No inverno (em muitos lugares) é gelado. Não é um lugar feito para sentar-se, e sim para pisar.

• A maioria das meninas estão de vestidos e saia, são pequenas e muitas vezes sentam-se de maneira mais à vontade. A roupa íntima pode em algum momento ficar exposta.

Quem conta a história precisa ficar em pé e de frente para a igreja. Sim, a história é para as crianças; porém, os adultos também estão na igreja. Se a pessoa que conta a história estiver sentada e também de costas para a igreja vai contribuir para a irreverência. Os adultos também devem participar desse momento com atenção e reverência (lembre-se do testemunho no início do capítulo). É válido reservar os primeiros bancos da igreja para que, na hora da Adoração Infantil, as crianças possam estar confortavelmente sentadas para ouvir a história. Alguns sugerem colocar um tapete. Mas também não é recomendado, pois a questão das meninas expostas vai permanecer.

Mesmo estando em pé, o contador deverá manter o olhar voltado para as crianças.

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Comotersucessonahistória?

• Estude a história com antecedência. Ela deve ser contada em vez de lida.

• Enriqueça os detalhes das histórias com onomatopeias. Solicite que a igreja participe de alguma forma da história. Especialmente as crianças com TEA apreciam histórias com músicas e ilustrações. Valorize esses recursos.

• Conte a história olhando nos olhos das crianças. Essa atitude faz com que elas se sintam acolhidas. Evite o uso de vídeos. Por mais interessantes que sejam, nada substitui o olho no olho!

• Pronuncie bem as palavras. As crianças precisam entender cada palavra que está sendo dita.

• Adeque a ilustração ao tamanho do público. Levar pequenos objetos para mostrar para as crianças em momentos e locais em que elas precisem se esforçar para enxergar não é adequado. Se há crianças com deficiência visual, é muito importante que o objeto seja descrito. Se há crianças com deficiência auditiva, é importante que elas toquem no que está sendo apresentado. É de suma importância ter um intérprete de libras na hora da história, caso haja crianças com deficiência auditiva.

• Use encenações, não dramatizações. Muitos juvenis não se sentem mais à vontade de ir à frente para participar do momento da Adoração Infantil. Então, convide-os para participar de encenações quando houver. Eles gostam muito. A encenação não exige diálogo, o que é melhor nesse momento, que é rápido.

• O cuidado com a aparência pessoal também merece atenção. As crianças estão atentas a tudo. Procure não causar “ruídos” com vestimentas e adornos. Evite usar coisas que desviem a atenção da criança.

• Providencie todo o material necessário para a história com antecedência: roupas de época limpas, passadas e de tamanho correto para quem estiver usando. Aos poucos, a igreja pode ir

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EstratégiasInclusivasparaaAdoraçãoInfantil

montando um “guarda-roupa” para esse momento. Esse investimento demonstra na prática a valorização dos pequenos.

• Conte a história com entusiasmo. Ascrianças percebem se realmente o contador está animado, seguro e confiante na história.

• Comunhão. Satanás sabe que pouco tempo lhe resta, e ele está investindo cada vez mais nas novas gerações. Quando perceber que há dedicação e compromisso por parte da igreja com as crianças, ele provavelmente atacará sem escrúpulos. Oração e leitura da Bíblia são a base de todo contador de histórias na igreja. Jesus ama os pequeninos e estará cuidando daqueles que apascentarem Seus cordeirinhos. Jamais duvide disso.

A Adoração Infantil é um excelente meio de apresentar às crianças (e aos adultos) os atributos divinos, como justiça, misericórdia, amor e sabedoria.

Se estiver envolvido com esse momento tão especial para as crianças da igreja, saiba que este texto também é para você: “Os sábios brilharão intensamente como o esplendor do Céu, e os que conduzem muitos à justiça resplandecerão como as estrelas, para sempre” (Dn 12:3).

Referências

1 Extraído do arquivo dos Ministérios da Igreja da Conferência Geral.

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EsperamdaComunidadeReligiosa

INTRODUÇÃO

No dia 26 de dezembro de 2004, a Terra se agitou com um terremoto gigantesco que atingiu 14 países, a maioria na Ásia. As águas do Oceano Índico foram sacudidas com uma força devastadora, em um terremoto de 9,1 graus de magnitude que durou vários minutos. Bilhões de toneladas de água foram movimentadas, liberando uma energia equivalente à gerada por milhares de bombas atômicas, como a lançada sobre a cidade japonesa de Hiroshima em 1945. Foi o terceiro maior terremoto desde 1900 e o maior desde um tremor que abalou o Alasca em 1964.

Imediatamente após o terremoto, uma série de ondas gigantes, conhecidas como “ondas de morte e destruição”, tomaram conta das regiões afetadas. Em meio ao caos, paisagens inteiras foram transformadas, e 226 mil pessoas perderam a vida. Foi um dos piores desastres naturais já registrados, segundo a ONU. Aqueles que sobreviveram a essa tragédia tiveram que lidar com as consequências psicológicas do evento e trabalhar para reconstruir suas vidas em meio à devastação.

O terremoto aconteceu exatamente às 7h59, horário local. Uma falha geológica provocou os movimentos da placa tectônica indoaustraliana, que se movimentou avançando pela parte de baixo da placa eurásia, numa extensão de 1.200 quilômetros. Como resultado, o fundo do mar se elevou em 20 metros. Esse fenômeno ocorreu no meio do oceano, nas entranhas do mar, a 30 quilômetros da superfície terrestre, e a 160 quilômetros a oeste da ilha Sumatra.

Milhares de pessoas morreram, e os sobreviventes carregam as marcas e as cicatrizes pelo resto da vida. Além disso, há o elemento

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material envolvido. Leva anos para se reconstruir o que foi destruído em uma tragédia dessa dimensão.

Não é diferente na vida das pessoas com deficiência e seus familiares. Algumas pessoas com deficiência são sobreviventes, outras venceram a morte. No âmbito pessoal, determinadas enfermidades podem ser tão devastadoras quanto os piores tsunâmis. Podem deixar vestígios como cegueira, surdez, deficiências intelectuais e físicas, entre outras.

É possível que uma fatia imensa de deficiências físicas surja como resultado de acidentes de toda espécie: alguns graves e outros simples. Em meio a tudo isso, as pessoas com deficiência e suas famílias precisam desenvolver confiança em Deus.

Cada ser humano passa por seu tsunâmi. Eu fui atingido pelo meu quando ainda era apenas um bebê. Tudo aconteceu numa noite. E que noite foi aquela! Ao amanhecer foi possível vermos os efeitos devastadores daquela tempestade. Houve uma lesão ou destruição dos gânglios dos meus neurônios motores.

Quando meus neurônios espinais morreram, eu experimentei a chamada Degeneração Walleriana (degeneração distal dos neurônios em seus axônios, que são as células do sistema nervoso responsáveis pela condução do impulso nervoso). Com a destruição desses axônios, os músculos deixaram de receber sinais do cérebro e da medula espinhal; sem estimulação nervosa, os músculos das minhas pernas se tornaram fracos, moles e descontrolados e, finalmente, completamente paralisados, com severa atrofia muscular e sem nenhuma possibilidade de cura.

As pernas não se firmavam mais em sua estrutura, os braços pendiam por entre os vãos do berço, o corpo inteiro queimava de febre, os músculos estavam flácidos, os pés retorcidos, o rosto se contorcia de dor, sem falar do mal-estar, dor de cabeça, diarreia e vômitos. Eu chorava muito, enquanto minha mãe, com o coração quase saindo pela boca, não sabia o que fazer. Para meus pais, era o despertar de uma das mais difíceis noites do mês de agosto de 1962.

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Ao amanhecer, meus pais chegaram ao hospital da cidade comigo no colo. Eu tinha apenas 11 meses de idade. Minha mãe esperava ouvir boas notícias, mas os médicos estavam tristes, o diagnóstico havia sido devastador: a tormenta tinha passado, deixando um rastro de terríveis sequelas, as sequelas de poliomielite ou “paralisia infantil”, a doença mais temida da época.

As ondas da poliomielite devastaram meu corpo, mudaram totalmente minha existência e me transformaram numa “pessoa com deficiência”. Essa tempestade afetou também toda a minha família. Como minha mãe chorava, como meu pai sofria! “Por que isso, Deus?”, era a pergunta que não queria calar.

Desde aquela fatídica noite, 60 anos já se passaram com grandes conquistas, demasiadas frustrações, ajustes emocionais, grandes adaptações e muita superação. Se existe uma palavra que me define, essa palavra é “resiliência”. Contudo, não posso negar que, ainda hoje, meu ego e minha autoestima são minhas placas tectônicas que se movimentam a quilômetros dentro do meu ser, provocando ondas psicológicas e emocionais que me assustam tremendamente.

Riso (2011) apresenta os quatro fundamentos da autoestima para a construção de um ego sólido e saudável. Desde o dia em que adoeci, esses quatro fundamentos se moveram muitas vezes em minha vida. Os fundamentos são: autoconceito (o que se pensa de si mesmo), autoimagem (opinião pessoal sobre a própria aparência física), autorreforço (a medida que se premia e se gratifica) e autoeficácia (quanta confiança se tem em si mesmo).

É preciso aprender a manter o equilíbrio desses quatro fundamentos da autoestima. Se um desses quatro pilares faltar ou estiver mal equilibrado, a autoestima se mostrará manca e instável, comprometendo toda a estrutura da vida. Ao longo de minha existência, um ou mais desses pilares não estiveram bem, afetando a maneira de me ver como pessoa com deficiência.

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Sou pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia há 30 anos. Recentemente, participei de um encontro de líderes de minha igreja. Estavam reunidos pastores, administradores, colaboradores em geral e anciãos. Cerca de mil pessoas. Embora esteja acostumado a me reunir com eles em diferentes ocasiões, toda vez que me erguia de minha cadeira para me apoiar em minhas muletas, percebia o olhar indiscreto de colegas e desconhecidos mirando minhas pernas e meu jeito desconcertante de andar. Minha maneira de andar chama a atenção das pessoas, e isso me incomoda. Talvez o que se passa na mente deles é apenas uma curiosidade pelo diferente, enquanto, no meu íntimo, habita um sentimento de culpa.

Ao escrever este capítulo, tenho como base dois cenários: a pessoa com deficiência e sua família, pedindo socorro no palco da existência, e a comunidade religiosa, a força-tarefa divina, atuando como socorristas altamente gabaritados para aliviar os sofrimentos humanos.

APESSOACOMDEFICIÊNCIAESUAFAMÍLIA:OQUE

PRECISAMEESPERAM

O custo para a reconstrução das vidas e das cidades devastadas pelos terremotos e tsunâmis é muito alto erequer o envolvimento do mundo: países, governadores, prefeitos, amigos e familiares. Mas o esforço maior, a vontade de superar, a capacidade de sobreviver e reconstruir a partir do que se perdeu sempre partem da comunidade atingida.

Não é diferente nas famílias atingidas pelo tsunâmi das deficiências físicas. A reconstrução das perdas emocionais, dos prejuízos físicos, dos desgastes psicológicos, dos traumas e de todas as demais feridas da pessoa com deficiência requer a união e a ação de todo mundo ao redor, mas tudo deve começar pela família. Não somente as pessoas com deficiência são afetadas; a família é diretamente atingida eassolada.

O preço pago pela família da pessoa com deficiência é incalculável e demanda um esforço contínuo para se erguer em meio aos

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escombros e entulhos deixados pela tempestade. Cabe à família criar estratégias de reconstrução, cumprindo seu papel.

Segundo Carder (1995, p. 58-68), não são somente as pessoas com deficiências que necessitam de cuidado, mas seus familiares também. Ele enumera diversas situações que os familiares enfrentam:

• Familiares de forma geral: Os pais trabalham 24 horas por dia; a fadiga resulta em doenças; é muito difícil encontrar alguém que seja uma babá apropriada; vizinhos, amigos e parentes próximos se sentem desconfortáveis por não saberem como agir e tendem a se afastar; uma simples ida ao supermercado será acompanhada de olhares estranhos e cochichos; outras crianças tendem a ser cruéis; pessoas de forma geral agem sem refletir na situação; tarefas diárias têm que ser feitas em função do cuidado com a criança; há uma constante drenagem financeira; a família é geralmente excluída pelos vizinhos, pela comunidade e das atividades da igreja.

• O casamento: A mãe precisa dormir com a criança para mantêla calma e descobre que não consegue suportar a separação noturna; cônjuges passam por diferentes estágios e experimentam raiva; todos chegam a sofrer de fadiga; nunca estão juntos, sempre existindo uma sensação de solidão; ninguém se habilita a aliviar o sofrimento dos envolvidos num feriado ou fim de semana; a saúde do casamento depende da aceitação mútua da família e da disposição de ajudar um ao outro.

• As mães se sentem culpadas por negligenciar a casa, o cuidado dos demais filhos e do marido; experimentam alto grau de desgaste físico; passam por grande estresse emocional; podem passar a maior parte do tempo de sua vida com a criança portadora de deficiência; são deixadas de fora de cafés e almoços especiais; estão a todo tempo tendo que lidar com a ansiedade; podem adoecer ou, em casos extremos, até cometer suicídio.

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• Os pais podem se sentir negligenciados; precisam, muitas vezes, arranjar um segundo emprego; tendem a se envergonhar da criança ou de seus próprios sentimentos; raramente são incluídos nas atividades médicas, terapêuticas ou educacionais; muitas vezes mergulham em uma dor silenciosa.

• O desajustamento dos irmãos de uma pessoa com deficiência é quatro vezes maior que nos irmãos que não possuem deficiência em casa; muitas vezes se espelham nas atitudes dos pais para lidar com pessoas com deficiência; com frequência não lhes contam a verdade a respeito da real situação; sentem-se culpados; sentem-se enciumados; são chamados de pequenos pais por serem normais; sentem-se embaraçados diante dos amigos pelo irmão que tem uma deficiência; sentem insegurança à medida que adentram a fase adulta.

• A criança com deficiência luta com a angústia da rejeição dentro da própria casa; pode ser superprotegida ou indisciplinada; pode sofrer abuso; pode ser difamada em vez de amparada; à medida que cresce, descobre que deixa de ser abraçada e passa a ser deixada com mais frequência em casa; desesperadamente deseja ser capaz de ser ela mesma.

As histórias a respeito das lutas das pessoas com deficiência e seus familiares são inumeráveis. Apresento a seguir a síntese de diversos depoimentos, colhidos por Santos (2023), em que eles expõem seus sentimentos, suas necessidades, expectativas e frustrações. Optei por manter o anonimato para evitar qualquer constrangimento.

Uma pessoa com deficiência visual da Igreja Adventista do Sétimo Dia expõe seus sentimentos mais sinceros a respeito da maneira como as pessoas com deficiência são vistas e tratadas na igreja:

“Os líderes e administradores da igreja ainda não estão preparados para lidar com as pessoas com deficiência. Somos o jarro esquecido em um canto, notados apenas quando alguém vem colocar um

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arranjo e cuidar. Nós, cegos, entramos na igreja e ficamos de lado, a menos que a gente prove o valor e se imponha. Eu espero ainda ver um dia um respeito maior da nossa igreja em termos de acessibilidade, de oportunidades para trabalhar na igreja e que quando formos cogitados para algum cargo não se tenha pena de nós ou se pense que não temos competência.”

De maneira mais abrangente, o que as pessoas com deficiência e seus familiares precisam e esperam?

PrecisamdeDeus

Pessoas com deficiência e seus familiares precisam de Deus. A grande e urgente responsabilidade da igreja é de unir forças para um processo de total inclusão das pessoas com deficiência em todas as frentes missionais da igreja, a fim de que o senso de pertencer os leve a agir com responsabilidade no resgate de outros que ainda não conhecem Jesus.

Os maiores desafios da pessoa com deficiência muitas vezes não são relacionados ao corpo, mas à espiritualidade. Muitas vezes, ocorre o senso de culpa, de incompetência e o sentimento de ser rejeitado pelas pessoas e por Deus. Somente quando Deus entra na vida delas é que o milagre acontece. Com Deus tudo passa a fazer sentido.

Precisamdecura

A cura mais importante que uma pessoa com deficiência precisa é emocional, pois ela pode carregar cicatrizes psicológicas, sentimentos negativos, falta de propósito, de motivação e de visão mais abrangente da vida. Pode ser que, em alguns casos, Deus demonstre que a cura física é necessária.

Precisamdeconexão

Defendendo a ideia de se adotar o braile como uma disciplina para pessoas com deficiência visual, um deficiente visual afirma:

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“No Brasil, tem cerca de 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual. Já participei de vários conselhos sobre os assuntos da pessoa com deficiência e sempre falei sobre a importância do braile.Dentro da nossa igreja nem toda pessoa com deficiência visual sabe braile, mas se fosse uma disciplina mais divulgada, mais pessoas saberiam.”

Nesse mesmo depoimento, aparece outra preocupação, a acessibilidade: “A igreja ainda deixa muito a desejar. Penso que se não partir da liderança maior, se não partir deles, a gente fica em segundo plano. A força maior é dos ministros ordenados, tem que partir deles.”

Precisamdeinclusãosocial:nadasobrenóssemnós

Um depoimento que faz ecoar a voz de uma pessoa com deficiência é muito significativo: “Nada sobre nós sem nós.” Isso tem a ver com a bandeira da acessibilidade, rampas, comunicação acessível, braile e muito mais. Contudo, o que mais chama a atenção em sua fala é a questão da falta de inclusão social. Ele afirma: “É possível resolver isso através de palestras, de capacitação e colocar pessoas com deficiência em cargos de liderança. Assim haverá pessoas com deficiência fazendo a inclusão acontecer (nada sobre nós sem nós). Precisamos nos tornar protagonistas e de boa maneira dizer quais são as nossas necessidades.”

Enquanto essas considerações não forem atendidas, acatando as sugestões de nomear pessoas com deficiênciaem funções de liderança, a inclusão social de fato nunca ocorrerá. Levará muito tempo para avançar, e, por certo,a inclusão social ficará comprometida.

Precisamdevisão,sensibilidade,instrução,motivaçãoerespeito Um dos mais significativos depoimentos advém de uma pessoa com deficiência visual, esposa de pastor distrital.

Para que a igreja cumpra a missão junto à pessoa com deficiência e seus familiares, ela sugere:

• Capacitação da igreja em diferentes momentos do ano para conviver com as pessoas com deficiência.

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• Ensino e uso das terminologias corretas para se referir às pessoas com deficiência, eliminando palavras deceptivas, como coxo, paralítico, “o cego”, “o surdo”, inválido, lunático, débil mental,etc.

• Criação de uma disciplina nos seminários de teologia que ensine os pastores sobre os fundamentos, a estrutura e os objetivos do Ministério Adventista das Possibilidades (MAP), libras e outras formas de comunicação acessível.

• Produção de uma série de sermões bíblicos sobre os temas referentes às sete áreas que envolvem o MAP.

• Produção de materiais evangelísticos ou de desenvolvimento espiritual acessíveis a todos, incluindo as pessoas com deficiências.

Precisamdetemploscomacessibilidade

“Às vezes a gente fica sentada sozinha no banco da igreja, isso acontece comigo, eu fico ali sozinha, as pessoas todas sentadas no banco de trás e aí eu não tenho nenhuma acessibilidade. [...] Eu toco na orquestra, e para descer quando termino de tocar, às vezes ninguém se aproxima para me ajudar a descer ou me dar alguma orientação sobre as escadas que existem, eu fico ali um tempão sozinha, de pé, esperando ajuda e ninguém ajuda. Isso precisa melhorar com urgência.”

Assim se expressa outra pessoa com deficiência. Que comovente! Que constrangedor! Bastava ter “paredes com orientações para tatear ou piso podotátil para poder andar com autonomia na igreja”, conclui.

Precisamdemateriaisadaptadosàsuarealidade

Existe um clamor por parte das pessoas com deficiência visual por vídeos com audiodescrição, como os do Provai e Vede, por exemplo. Poderiam ser preparados boletins em braile sobre motivação, folders a respeito de foco nos pontos fortes, disciplina financeira, amor-próprio, autoconhecimento, visão, respeito, tratamento igualitário, orientações a respeito de piso podotátil, entre outros.

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Precisamaceitararealidadeesaberlidarcomela

Nem sempre as famílias sabem o que fazer ou como agir. Na cidade onde eu trabalho, uma família tem filhas gêmeas siamesas. É uma família muito amorosa, mas no receio de que as meninas sejam desrespeitadas de alguma forma, os pais não permitem que as filhas frequentem a casa de outras pessoas ou qualquer outro local, ou mesmo que façam qualquer tipo de passeio. As meninas parecem aceitar as coisas dessa maneira. Imagino que muitas outras pessoas com algum tipo de deficiência talvez se isolem. Cabe anós descobrirmos como acessá-las.

Precisamserfortes

Pessoas com deficiência podem percorrer uma trajetória de silêncio. Famílias em que há pessoas com deficiência precisam redobrar a atenção para não serem consumidas pela culpa, pelo vitimismo ou pela baixaautoestima.

As deficiências físicas podem ser vistas como marcas das enfermidades que assolam os seres humanos, mas tais situações também podem ser utilizadas por Deus para tornar pessoas e famílias mais fortes.

As maiores forças costumam ser extraídas dos maiores sofrimentos. “Minha graça é tudo de que você precisa. Meu poder opera melhor na fraqueza” (2Co 12:9).

Precisamseapoiarentresipormeiodepalavras deaprovaçãoemuitoamor

Meu pai e meus irmãos, talvez o lado mais forte da família, conseguiram se unir e formar uma corrente do bem para me erguer do abismo que estava debaixo de meus pés. Meu pai, pernambucano, homem destemido, de coragem e fé, sempre muito solícito, afetuoso e criativo para melhorar o meu futuro. Homem de comunhão comDeus, recebeu Dele a visão de que eu nunca deveria permitir que as dificuldades fossem desculpas limitantes para mim.

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Dos lábios de meu pai eu ouvia constantemente: “Você é muito inteligente, nunca vou permitir que fique sem estudar.” Não somente afirmava, mas agia. Fez arranjos para eu morar na cidade. Pensando em mim, separava todos os fins de semana para fazer as compras da família, justamente para me encontrar e me levar de volta para casa na sexta-feira à tarde para passar o fim de semana com minha família e, no domingo à noite, me conduzia de volta para a cidade.

Meus irmãos, sempre ao meu redor, eram oito ao todo, comigo nove. Não consigo contar as vezes em que cada um deles atendia minhas necessidades da forma como podiam. Eu tinha irmãos menores que serviam como “pernas” para mim sempre que eu precisava.

Precisamreconstruirsuasvidas

Revirando as páginas do meu passado, ouço partes dos diálogos de minha mãe com cada nova pessoa que me via arrastando-me pelo chão sem poder andar enquanto as demais crianças corriam pelo quintal da casa. Minha mãe foi uma pessoa adorável. Pernambucana de nascimento, mãe de nove filhos, guerreira e insegura ao mesmo tempo. De cor branca, cabelos negros e lisos, olhar cheio de ternura, 1,58 m de altura e um sorriso meigo na face. Ela amava cada um de seus filhos, e eu sentia que seu amor por mim era incomparável.

Era comum alguém olhar para mim, sem possibilidade alguma de andar por causa daquelas perninhas finas, e fazer para minha mãe a seguinte pergunta: “O que aconteceu com seu filho, dona Valdenice?” Minha mãe sempre respondia a mesma coisa: “O Osvaldo nasceu forte e saudável, conseguia ficar em pé no berço balançando-o com energia e muita força e até já podia dar seus primeiros passos. Mas, com 11 meses de idade, essa terrível doença o deixou assim”, referindo-se à poliomielite.

Depois da fala de minha mãe, as pessoas ficavam sem palavras, olhando-a em seu rosto, enquanto digeriam cada uma de suas palavras. Era sempre nesse momento que minha mãe mais sofria. Muito

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angustiada, deixava escapar de seus lábios uma fatídicafrase: “Mas ele não saiu assim de mim.” Essa era a maneira que minha mãe encontrava para extravasar sua angústia, seu medo, seu sentimento de culpa por não ter podido me salvar daquela tragédia pessoal.

A reconstrução da vida pós-devastação física, seja de que ordem for, vai além da pessoa com deficiência. Começa com os pais e alcança toda a família. Quanto mais seguros estiverem os familiares, mais unidos estarão e mais vidas poderão reconstruir.

Precisamcompreenderprofundamenteotemadapessoacom defciência

Atender uma pessoa com deficiência não é tarefa para amador. É preciso aprofundar os conhecimentos a respeito do tema. Foi estudando esse assunto que descobri muitas formas equivocadas de tratar pessoas com deficiências e, como pessoa com deficiência, também compreendi as formas estranhas de agir.

Eu tinha um professor formidável no seminário de teologia, Pedro Apolinário. Ele gostava de repetir a frase: “A ignorância é atrevida.” A falta de conhecimento sobre o mundo da pessoa com deficiência leva a erros cruéis e gera sofrimentos desnecessários.

Historiadores e antropólogos afirmam que, na história do Brasil, os indígenas rejeitavam os bebês que nasciam com algum tipo de deficiência. Para se livrarem deles, os abandonavam nas matas, ou os atiravam das montanhas abaixo, e, em atitudes mais radicais, sacrificavam-nos em rituais de purificação.

Por muito tempo, no Brasil, as pessoas com deficiência, de famílias menos afortunadas, foram consideradas dentro da categoria dos miseráveis, os mais pobres dos pobres. Os mais afortunados, que nasciam em berço de ouro, tinham que viver escondidos atrás dos portões e das cercas vivas das grandes mansões ou escondidosvoluntária ou involuntariamente nas casas de campo ou nas fazendas, sem vida social ou política, vistos comoum peso para seus familiares.

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Havia ainda a crença de que um homem com deficiência nunca seria um bom caçador, não poderia ir para o campo de batalha, não era digno de uma esposa nem de gerar novos e bons guerreiros. Tudo com base no tripé do preconceito, estereótipo e estigma. Quando obtive essas informações, passei a dar graças a Deus por ter nascido no século 20 e não naqueles tempos. Cada família de posse de informações como essas terá mais condições de superar as pressões e cuidar melhor de seus queridos.

Não há espaço suficiente neste capítulo para falar da violência e más condições de vida que geravam deficiências físicas nos escravos brasileiros, como os castigos corporais comuns (açoites, mutilação e execução), permitidos por lei; dos coxos, cegos, zambros e corcundas do Brasil do século XVI; do asilo dos inválidos da pátria em 1794, no Rio de Janeiro; da primeira constituição do Brasil Imperial, de 25 de março de 1824, em que a pessoa com deficiência é lembrada pela primeira vez, mas de forma negativa, na primeira Carta Magna do país, artigo 8o, que dizia: “suspende-se o exercício dos direitos políticos: 1o por incapacidade física ou moral”; do tratamento das pessoas com deficiência do século XIX, apelidadas de “aleijadas”, “manetas”, “pernetas”, “cambaias”, “mancas”, “paralíticas”, “ceguinhas”, “loucas”, “bobas” e “defeituosas”, que de um modo geral ficavam sendo problema de seu grupo familiar, e nunca do Estado ou da sociedade (p. 278).

De posse desse universo de informações a respeito das necessidades das pessoas com deficiência e de seus familiares, como deve ser a comunidade religiosa, o que ela pode oferecer e como pode atuar sendo uma força-tarefa divina a favor dos sofredores? Vejamos a seguir.

ACOMUNIDADERELIGIOSA:AFORÇA-TAREFADIVINA

Como a comunidade religiosa impactou e moldou minha vida e a vida de minha família! Jamais vou me esquecer dos momentos mais incríveis vividos na infância indo à igreja. Morávamos numa área

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rural distante 7 km da igreja. Eu era apenas um garoto de 8 para 9 anos de idade e um dos nove filhos da família. Juntos vivíamos momentos incríveis, mas na escala dos “top 10”, o momento mágico, o número um na escala, era a chegada de cada sábado. Juntos, saíamos muito cedo de casa, numa longa caminhada rumo à cidade, para chegar a tempo à Escola Sabatina. Eu me sentia a criança mais feliz do mundo por estar na “escolinha sabatina”, como denominávamos naquela época.

A comunidade religiosa é a força-tarefa divina, criada para socorrer, animar, erguer, unir, amar e desenvolver as famílias atingidas pelas ondas da deficiência física. Assim como Jesus fazia em Seu ministério, ouvindo, tocando e edificando as pessoas que padeciam de todo tipo de enfermidade, sua igreja deve ser uma igreja para todos.

A comunidade religiosa deve ser um lugar em que a dor termina. Mas, se ignorar as demandas inerentes à pessoa com deficiência, a igreja será fatalmente vista comoum lugar que gera dor. Talvez seja por isso que algumas pessoas com deficiência ainda procuram não estar na igreja; preferem não estar em um local em que suas especificidades não sejam atendidas.

No livro A Igreja para Todos (FERREIRA, 2021), há cinco passos fundamentais para a criação de um ministério inclusivo bem-sucedido:

• Verifique os pré-requisitos do projeto;

• Forme uma visão;

• Equipe os líderes para um ministério inclusivo eficiente;

• Crie uma comunidade multiplicadora;

• Desafie e engaje a igreja local.

Os departamentos devem ser formatados como forças-tarefas de ação, como unidades de inclusão, envolvimento e desenvolvimento da pessoa com deficiência. A meu ver, a comunidade religiosa é composta por diversos ministérios que são os pelotõesde elite que podem atuar na vida da pessoa com deficiência de maneira direta.

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Arecepçãoeodiaconato

“Se eu não fosse adventista eu teria me tornado um naquele dia. Receberam-me muito bem, conseguiram alguém para me acompanhar, essa pessoa ficou comigo durante todo o tempo em que eu estive ali na igreja e só me deixou na calçada quando eu já estava voltando para casa. Foi um negócio, assim, utópico.”

Essas são as palavras de uma pessoa com deficiência visual. O caminho para alcançar as pessoas com deficiência já foi aberto. Muita coisa boa já está acontecendo e, de forma magistral, existem igrejas fazendo um trabalho extraordinário, e muitas outras também o farão dentro em breve.

Sempre, em todo lugar, a primeira impressão é a que fica. As equipes de recepção e do diaconato são o cartão de visitas para todos os que vão adorar a Deus nas igrejas. São o sorriso de Deus, os pés, as mãos, os olhos, os representantes de Deus na Terra. Essas duas equipes são as que deixam as primeiras impressões sobre a comunidade religiosa.

AUnidadedaEscolaSabatina

“Tudo começou com o convite para participar de partidas de vôlei, com um grupo de amigos de uma comunidade adventista na minha cidade.” Foi assim que ele fez novos amigos, todos integrantes de um pequeno grupo da Igreja Adventista do Sétimo Dia, que se reúne há 19 anos. Aquele foi o início de uma nova vida espiritual. Foi batizado e se casou com uma integrante do pequeno grupo.

As coisas caminhavam bem até 2016, quando um acidente o deixou tetraplégico. Ficar sozinho parecia ser a sua sorte. Como suportaria a ideia? Essa era uma realidade inconcebível. Tudo mudou a partir do dia em que conheceu sua comunidade religiosa: “Nunca mais estarei sozinho, porque faço parte de uma comunidade especial”, desabafa.

A comunidade especial a qual se filiou é uma Unidade da Escola Sabatina, o centro de preparo espiritual. Uma Unidade da Escola

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Sabatina é o lugar em que as pessoas aprendem a planejar e executar os sonhos de Deus em sua vida.

AEscolaSabatinainfantojuvenil:ondetodossomosum

Por que como criança eu amava tanto estar na reunião da “escolinha sabatina?” Porque no encontro da Escola Sabatina as crianças podiam ser elas mesmas: cantar, recitar os versos áureos da semana, ensaiar novas músicas, preparar dramatizações para a apresentação infantil do 13o sábado na nave principal da igreja, comer juntos, enfim, desenvolver os mais variados talentos pessoais, adorando a Deus.

Olhando pelo retrovisor da vida, posso afirmar que a Escola Sabatina foi o meu primeiro ambiente a promover aceitação, autoafirmação, respeito e igualdade na diversidade. Por ter contraído poliomielite aos 11 meses de idade, sempre fui uma criança diferente no meu jeitode andar. Posso me lembrar de cada olhar de todos os que se aproximavam de mim desde os meus 6 a 10 anos para cá. Muitas vezes me senti deixado de lado, muitas vezes me senti fora do padrão das demais pessoas, mas nunca foi assim na salinha da Escola Sabatina. Ali eu podia ser igual a todos, ali eu realmente me encontrava com Deus e comigo mesmo. Ali eu era feliz.

AEscolaSabatinajuvenil:ondesealinhamosdons Já na idade juvenil, agora em outra cidade e em outra igreja, a Escola Sabatina continuou sendo meu laboratório da existência. Dos 13 aos 15 anos de idade, tive as mais belas experiências da vida graças à sabedoria e visão de uma querida professora da Escola Sabatina, chamada Maria de Lourdes. Eu não sei explicar bem, mas parece que ela enxergava em mim o que eu mesmo não podia ver. Ela me confiava as mais importantes responsabilidades. Naquela época, não havia muletas confortáveis como hoje. Para eu andar, meu pai preparava minhas muletas com dois pedaços de árvores ainda finas, tirava a casca, secava ao sol e ajustava o tamanho delas ao meu

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OQueasFamíliasPrecisameEsperamdaComunidadeReligiosa tamanho para servirem como suporte de locomoção. A professora Maria de Lourdes não olhava para minhas limitações, ela via além da sua época. Ela enxergava a pessoa que eu era e o potencial que carregava dentro de mim.

Fui muitas vezes convidado por ela para passar a carta missionária. Depois, fui escolhido para ser o diretor da Escola Sabatina juvenil. Aquele foi o pequeno laboratório de minha vida.

AEscolaSabatinadosAdultos:ondesefazummissionário

Quando me tornei jovem, passei a ser professor da Escola Sabatina jovem, diretor da Escola Sabatina dos adultos, pregador da igreja, líder dos jovens, líder missionário da igreja e, hoje, pastor há 30 anos. Foi seguramente a Escola Sabatina o primeiro veículo escolhido por Deus para me transportar pelas avenidas da vida pessoal e da liderança espiritual.

As ênfases da Escola Sabatina são basicamente quatro: discipulado, integração, missão e estudo. A Escola Sabatina é o lugar perfeito para se fazer um missionário; por isso é conhecida como o coração da igreja.

OClubedeAventureiros:olaboratórioinfantil dashabilidadeshumanas

Em 1972, a Igreja Adventista do Sétimo Dia tentou, pela primeira vez, criar um programa específico para as crianças menores de 10 anos. Coincidentemente foi o ano em que me batizei. Eu estava com 11 anos de idade. Como visto, eu não tive o privilégio de pertencer ao Clube dos Aventureiros. Somente em 1991 a Associação Geral o autorizou como programa mundial, estabelecendo seus objetivos, currículo, bandeira, uniforme e ideais. Desde então, esse projeto da igreja tem abençoado milhares de crianças ao redor do mundo. E pode também ser uma bênção para as crianças com deficiência. Toda criança com deficiência deve ter a oportunidade de ser um aventureiro com todos os direitos e privilégios.

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OClubedeDesbravadores:afábricadenovoslíderes

Eu tenho um profundo respeito pelos Desbravadores e o ministério que é realizado nas igrejas e comunidades, mas tenho uma grande frustração envolvendo a época em que eu tinha a idade de um desbravador. Nunca me senti incluído, mas atualmente os líderes dos clubes têm ferramentas à sua disposição para incluir todas as crianças e adolescentes.

Eu até ia para as reuniões com meus primos e meus irmãos. Acompanhava as atividades deles, ficava com os olhos estatelados quando realizavam os ensaios de ordem unida e saíam pela cidade tocando harmoniosamente os instrumentos da fanfarra, chamando a atenção de todos os moradores da cidade. Essas duas atividades eram tudo o que eu queria realizar, mas não sei se era a limitação física ou a limitação humana que me impedia. Será mesmo que não havia alguma forma de me envolver? Ainda hoje reflito sobre isso.

OMinistérioJovem:umexércitodesoldados preparadosparaocombate

O Ministério Jovem é composto de um exército de soldados em forma para a conquista das batalhas pessoais e espirituais. Em minha adolescência, os desafios aumentaram assustadoramente. Era a fase da conquista do sexo oposto. Quanto mais amizades eu fazia, maior passava a ser minha insegurança, especialmente quando relacionada ao sexo oposto.

Havia chegado a fase de me interessar pelas meninas, tinha vontade de me aproximar delas, mas quando olhava para elas, não me achava digno. Se alguma garota me elogiava, acreditava que estava fazendo isso por pena. Eu desprezava qualquer vantagem que a idade me proporcionasse. Os traumas e os complexos pessoais quando não trabalhados crescem, geram o medo, o qual paralisa os projetos e os sonhos.

O Ministério Jovem poderá descobrir como neutralizar essas tendências no coração das pessoas com deficiência, restaurando nelas o valor

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próprio, quando necessário, o senso de missão e o respeito. Os jovens devem se aproximar dessas pessoas, convivendo com elas, incluindo-as. Minha esposa, quando ainda era minha noiva, estava muito ansiosa sem saber como lidar comigo, uma pessoa com deficiência. Diante disso, resolveu perguntar a um psicoterapeuta como deveria agir. A resposta dele foi surpreendente: converse com tranquilidade e naturalidade fazendo perguntas sobre como se tornou uma pessoa com deficiência, deixe a pessoa se sentir livre para contar sua história e, se não for inconveniente, toque na pessoa, fazendo um carinho leve, enquanto conversam.

Preciso dizer que deu certo. Quando ela seguiu esses passos comigo, enquanto conversávamos com alguns parentes, eu passei a me sentir a pessoa mais amada deste mundo. Acabei me casando com ela.

Osanciãosdaigreja:instrutoresespirituais

Os anciãos são os instrutores espirituais das famílias e da igreja. Não sei se o ancião da igreja que eu frequentava entre os anos 1975 a 1982 ainda vive, mas seguramente suas palavras e orientações nunca sairão de minha mente.

Ele foi a primeira pessoa que deixou escapar de seus lábios as palavras que eu precisava ouvir: “Você tem que ir estudar no colégio para ser pastor.” Ele me permitia atuar na igreja com minhas muletas de cabo de pau. Era um homem simples, sério e sorridente ao mesmo tempo. Sabia ser firme como ninguém e soube conquistar minha confiança e respeito. Era um homem que enxergava além do preconceito e das limitações. Assim devem ser todos os anciãos.

AUniversidadedacolportagem:ocampodebatalhas, desafosevitórias

Por fim, não poderia deixar de falar da maior universidade de minha vida: a colportagem. Foram cerca de 20 férias no campo de batalhas, com imensos desafios e vitórias. Abandonei uma bolsa de estudos

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integral no antigo IAE e fui como um verdadeiro soldado para uma guerra na linha de frente no combate contra o mal.

Foi na colportagem que aprendi a acreditar em mim mesmo, rompendo com os traumas, as limitações físicas, os complexos e as crenças limitantes. Deus me colocou na colportagem para me preparar para o ministério pastoral. Foi na colportagem que consolideio chamado de Deus para ser pastor. Depositei no campo de batalhas todas as barreiras que me impediam de ser eu mesmo e tive a chance de calar os que não acreditavam em mim.

Opastor:oeloqueuneacorrente

Há muito a aprender sobre como lidar com as pessoas com deficiência e seus familiares. O pastor deve ser o elo da corrente, agindo como elemento integrador entre as pessoas com deficiência e seus familiares e a comunidade religiosa. O pastor pode unir essas duas correntes por meio de sua sensibilidade e habilidade para desenvolver pessoas.

Nem sempre vamos acertar em tudo porque cada pessoa é única, e cada um tem sua história. Quanto mais nos envolvermos nesse ministério, mais habilitados estaremos, mais pessoas salvaremos e maior será a honra e a glória donome de Deus.

Recentemente um cantor de uma das igrejas que pastoreio me procurou e me pediu para convencer um rapaz que canta em seu quarteto a cortar seus cabelos, com comprimento e corte não convencional, porque pastores e líderes de igrejas não estavam mais dispostos a permitir que o quarteto cantasse em suas igrejas.

Conversei com a mãe desse rapaz, e ela me disse: “Pastor, não faça isso, por favor! Meu filho é autista e usa os cabelos como uma espécie de refúgio, para se sentir seguro.” Foi aí que entendi que estava prestes a cometer um erro e que, na verdade, o que eu precisava era conscientizar outros da necessidade de apoiá-lono exercício de seu dom, que é a música.

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Pessoas com deficiência precisam participar na igreja, precisam ser incluídas e tratadas com respeito. Eu tenho uma igreja sensível e amorosa, que tem aprendido a cuidar das pessoas com deficiência.

Tive um ancião que teve um braço amputado num acidente e por isso usa uma prótese. Passou um período muito difícil de adaptação. Nesse tempo, inclusive questionou muito a Deus pelo que tinha acontecido. Mas recebeu o carinhoso apoio de seus irmãos na fé. Com o tempo, foi reaprendendo a confiar em Deus e descobriu a alegria de servir-Lhe, percebendo talentos que não sabia que tinha. Ele era o primeiro-ancião da igreja. Fazia um grande ministério e me ajudou muito no plantio de outras igrejas.

Anos atrás, pastoreei um distrito em que vi os membros receberem com carinho uma nova irmã na fé. Os irmãos valorizaram seu sorriso e simpatia e a elegeram como recepcionista. Sentada em sua cadeira de rodas por ter as pernas amputadas, recebia com carinho as pessoas que chegavam à igreja.

Quando trabalhei como evangelista num dos campos do estado do Paraná, estava realizando uma série de conferências, e entre os que se batizaram havia uma mulher que só ia à igreja com calças compridas. Isso incomodava muito os membros. No dia da inauguração da nova igreja, o presidente convocou todos os novos membros para irem até à plataforma, e os irmãos ficaram indignados por vê-la de calça comprida e foram questioná-la: “Por que você só usa calça comprida? Você deve vir à igreja usando saia ou vestido”, retrucaram.

Então ela, entre magoada e constrangida, explicou que tinha sofrido um acidente que a deixara com horríveis marcas de queimadura nas pernas e que se sentiria muito desconfortável em expô-las. Como você vê essa situação? Como momentos desagradáveis como esse podem ser evitados mesmo nos dias de hoje?

Temos que entender que pessoas com deficiência de qualquer natureza devem ser convidadas a fazer parte da comunidade cristã, não

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apenas serem recebidas com amor e respeito, mas terem seu espaço para descobrir seus talentos e, com eles, contribuir na causa de Deus. Isso não deve ser uma meta a longo prazo, mas, tão logo a pessoa dê seus primeiros passos na jornada cristã, deve sentir que tem uma parte a desempenhar porque tem valor, um chamado de Deus, dons e talentos para servir.

CONSIDERAÇÕES

Concluo fazendo duas perguntas básicas:

A primeira: Por que devo me importar em ministrar às pessoas com deficiências?

A resposta consiste em três razões:

• Os crentes devem reproduzir o modelo de Cristo nos outros: a marca registrada de Cristo para com os sofredores era a compaixão.

• Os que são fisicamente diferentes de nós também foram feitos à imagem de Deus.

• Todos somos pessoas com deficiências: alguns são menos marcados por algum tipo de deficiência, outros mais, mas nenhum de nós é a exceção.

A segunda pergunta: O que podemos aprender e ensinar ministrando às pessoas com deficiência e seus familiares?

A resposta é extensa, mas condenso em alguns aspectos básicos:

• Felicidade não depende do corpo que temos.

• Pessoas com deficiência podem saber esperar mais tempo do que a maioria das pessoas.

• A vida é uma caixinha de surpresa: quando você menos espera, um acidente pode acontecer.

• Pessoas com deficiência nos ensinam: pode-se cair muitas vezes, mas é preciso se levantar sempre.

• Ser diferente é uma oportunidade.

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• Você pode ser o que quiser ser, dentro de suas capacidades.

• Julgue as pessoas pelo que elas são, e não pelo que elas aparentam fisicamente.

• A vida é curta e deve ser aproveitada ao máximo.

• A fraqueza aparente nem sempre é negativa.

• Deus enviou Seu único e amado Filho para morrer por todos.

• Dos 35 milagres realizados por Cristo, 27 foram curando pessoas com deficiência.

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Capítulo14

MinistérioAdventista

DasPossibilidades

AlacyMendesBarbosa

JulianaSantos

INTRODUÇÃO

O objetivo deste capítulo é apresentar um pouco da história, as bases e os objetivos do Ministério Adventista das Possibilidades (MAP). Um movimento guiado pelo Espírito Santo, que tem como proposta conscientizar e sensibilizar a igreja para a aceitação e ação no que diz respeito à saúde mental e bem-estar das pessoas com deficiência, crianças órfãs e em situação de vulnerabilidade, enlutados e cuidadores.

O lema oficial do Ministério Adventista das Possibilidades a nível global é: “Todos são talentosos, necessários e valiosos.” Assim, todos devem ser contados para a comunhão, o relacionamento e a missão da igreja.

No Ministério Adventista das Possibilidades, o valor e a importância de cada pessoa são enfatizados. Aos olhos de Deus, cada indivíduo tem um propósito, e todos são especiais. Quando esse assunto é compreendido, o pensamento e as ações mudam. Com Deus no centro, a esperança é reavivada, e a vida passa a ser vista sob a ótica das possibilidades no lugar das impossibilidades.

Cada pessoa é única e tem um propósito dado por Deus. Incluído nesse propósito está o chamado a enriquecer a vida de outras pessoas. O Ministério Adventista das Possibilidades ensina que o ser humano pode ser completo em Cristo e chamado sempre para o serviço, independentemente das limitações ou deficiências que possam existir.

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HISTÓRICOEFINALIDADE

DeondeecomosurgiuesseMinistério?

O Ministério Adventista das Possibilidades está fundamentado na Bíblia. Desde o Antigo Testamento, o povo de Israel foi orientado e advertido sobre o cuidado de Deus para com as pessoas em circunstâncias de vulnerabilidade. E o ministério de Cristo foi a demonstração viva e inquestionável da atenção divina para com os enlutados, as pessoas com deficiência, as crianças órfãs e toda classe de indivíduos considerados sem valor e indignos pela sociedade da época.

Na igreja adventista, esse ministério teve início há muitos anos, quando ainda nem tinha nome. Ele nasceu por meio de iniciativas isoladas de irmãos que foram chamados por Deus para atender às necessidades específicas de pessoas da igreja e da comunidade.

Ao perceber esse crescente movimento ao redor do mundo, no ano de 2011, a Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia instituiu o Ministério Adventista das Necessidades Especiais, que, naquele momento, pertencia ao departamento da Escola Sabatina. Na ocasião, o Pr. Larry Evans foi convidado para trabalhar como assistente da presidência da igreja mundial à frente do recémcriado ministério.

Em 2015, o movimento tomou proporções maiores e precisou de mais espaço para continuar se desenvolvendo. Assim, foi separado do departamento da Escola Sabatina, ganhando mais autonomia para se organizar como um novo ministério da igreja.

Em 2019, o nome passou de Ministério Adventista das Necessidades Especiais para Ministério Adventista das Possibilidades. A mudança do nome é um reflexo do respeito, da atenção e do reconhecimento por parte da igreja; Deus enxerga em Seus filhos muito mais possibilidades que limitações. Também evidencia a importância desse aspecto da missão que o Senhor nos confiou.

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MinistérioAdventistaDasPossibilidades

A Igreja Adventista do Sétimo Dia é cada vez mais reconhecida globalmente como um movimento que leva esperança a muitos que por vezes vivem solitários, desprezados e isolados.

Vi que é pela providência de Deus que as viúvas e órfãos, cegos, surdos, coxos e pessoas atribuladas de diversos modos foram postos em íntima relação cristã com Sua igreja; com o propósito de provar Seu povo e desenvolver o verdadeiro caráter dele. Os anjos de Deus estão observando para ver como tratamos essas pessoas carentes de nossa solidariedade, amor e desinteressada generosidade. Essa é a maneira de Deus provar nosso caráter (WHITE, 2023, p. 26 [35, 36]).

No contexto da Divisão Sul-Americana, o primeiro ministério a ser reconhecido e oficializado foi o de surdos, em 2012. Em seguida, no ano de 2015, foi votado o Ministério Adventista de Cegos e Baixa Visão.

Logo veio a necessidade de absorver e reorganizar os trabalhos isolados que já estavam em andamento. Nesse sentido, no ano de 2020, veio a subdivisão do Ministério Adventista das Possibilidades em sete áreas:

• Ministério Adventista de Surdos;

• Ministério Adventista de Cegos e Baixa Visão;

• Ministério Adventista de Deficiência Física e Mobilidade Reduzida;

• Ministério Adventista de Saúde Mental e Bem-Estar;

• Ministério Adventista de Enlutados;

• Ministério Adventista de Crianças Órfãs e em Situação de Vulnerabilidade;

• Ministério Adventista de Cuidadores.

O Ministério Adventista das Possibilidades da Associação Geral estabeleceu um modelo de trabalho com membros voluntários escolhidos para auxiliar nas demandas de cada uma das áreas desse ministério. Esse modelo tem sido seguido pela Divisão Sul-Americana, suas Uniões e Associações/Missões.

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Em 2020, na Associação Geral, foram criados grupos de trabalho chamados Taskforce para cada uma das sete áreas. Esses grupos são conduzidos pelo líder mundial desse ministério juntamente com o associado de cada área. Os integrantes de cada grupo são pastores e membros da igreja convidados de diferentes partes do mundo, que atuam em algum projeto específico relacionado ao Ministério Adventista das Possibilidades. Os grupos se reúnem periodicamente para tratar sobre o avanço do ministério e trocar ideias de como proceder. Dessas reuniões se originam as bases para os materiais e procedimentos que são utilizados nas igrejas locais.

Na noite de 8 de junho de 2022, quarta-feira, na 61a Sessão da Conferência Geral realizada em Saint Louis, nos Estados Unidos, os delegados presentes votaram a inclusão do capítulo que trata sobre o Ministério Adventista das Possibilidades no Manual da Igreja. Assim, o ministério está oficialmente reconhecido pela igreja mundial e deve fazer parte de cada igreja local.

OqueéesseMinistérioeporqueétãonecessário?

O lema do Ministério Adventista das Possibilidades afirma claramente um princípio no qual se baseia a sua existência: todos são talentosos, necessários e valiosos. Esse ministério envolve educação e aceitação para toda a igreja e o desenvolvimento de planos que ajudem na criação de oportunidades de envolvimento e um sentimento de pertencimento para as pessoas com necessidades específicas. Nele todos são chamados para uma vida de serviço.

Por muitos séculos, as pessoas com deficiência foram caracterizadas pelas sociedades como quem não consegue ver, ouvir, andar, compreender ou se comunicar. Termos depreciativos como “inválido”, “deficiente”, “aleijado”, “retardado”, entre outros, ainda são utilizados em alguns lugares por desconhecimento ou costume popular.

Com frequência, a atenção é voltada apenas para o que a pessoa não é capaz de fazer ou não tem; pouca ou nenhuma ênfase é dada

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às suas perspectivas. A vida de uma pessoa e suas muitas possibilidades não se resumem a apenas uma de suas características. As percepções tornam-se enriquecedoras quando a dignidade e as habilidades de cada pessoa são priorizadas. Isso pode ser explicado de pelo menos três formas:

• O valor e a importância de cada pessoa devem ser enfatizados. Aos olhos de Deus, cada pessoa tem um propósito. Ele tem um plano para cada indivíduo. Quando isso é compreendido, o pensamento e a forma de agir mudam. Colocando Deus no centro, e não as deficiências ou limitações, a esperança se renova, e a vida passa a ser vislumbrada mais sobre possibilidades do que impossibilidades.

• A naturalização da convivência é a chave para aprender com as diferenças. Quando a igreja abre suas portas e provê um ambiente propício para a convivência entre pessoas com e sem deficiência, todos crescem aprendendo uns com os outros. Nesse sentido, muitas barreiras, preconceitos e conceitos equivocados são desconstruídos e dão lugar a um mundo de novas possibilidades. Uma autoestima saudável e a motivação crescem quando as pessoas entendem que alguém acredita em seu potencial e as compreende. Construir relacionamentos é importante, pois ninguém deve ser deixado sozinho para enfrentar as dificuldades da vida. Afirmação e aceitação são importantes na medida em que seres humanos precisam uns dos outros.

• Cada pessoa importa. Independentemente dadeficiência, de um processo de luto, abandono ou qualquer circunstância adversa, a ideia de possibilidade busca oportunidades e procura inspirar confiança. O foco do Ministério Adventista das Possibilidades é sobre libertar a pessoa dos estigmas e da exclusão a fim de que ela experimente o que Deus coloca ao alcance dela.

Esse é um ministério sobre cuidar promovendo atitudes e práticas de inclusão. Trata-se de ajudar as pessoas, independentemente

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de suas limitações físicas, emocionais ou mentais, a descobrir suas possibilidades inexploradas ou que ainda não foram notadas pelos demais.

É sobre cuidar de quem passou pelo luto ou separação, seja dos pais (crianças órfãs e em situação de vulnerabilidade), seja do cônjuge ou outros familiares (enlutados). Cuidar de quem cuida (cuidadores), pois muitas vezes essas pessoas doam sua vida e se esquecem de cuidar de si mesmas ou não dispõem de tempo e condições para isso. Rótulos depreciativos da autoestima e dignidade de uma pessoa são substituídos por confiança, esperança, respeito e encorajamento.

O Ministério Adventista das Possibilidades está ancorado na restauração do propósito e da dignidade que Deus deu a cada vida. Esse tipo de serviço ao próximo nada mais é do que entender o ministério de Jesus e dar continuidade a ele.

A Bíblia apresenta a verdade de que, em Cristo, o ser humano pode ser completo e vencedor, sendo chamado a servir a despeito de suas deficiências. O evangelho transforma a maneira como vemos a nós mesmos, aos outros e a Deus. Assim, o Ministério Adventista das Possibilidades entende que as pessoas vão aonde são bem-vindas e permanecem onde são valorizadas.

O valor do ser humano é resultado da criação e redenção em Jesus Cristo e não está determinado pelo que uma pessoa pode ou não fazer. Assim, cada pessoa é única e tem um propósito dado por Deus, e, incluído nesse desígnio, está o chamado para tocar a vida de outros.

O Ministério Adventista das Possibilidades deve ser visto e tratado como um movimento, e não um programa ou apenas um departamento da igreja. Por isso, deve fazer parte de todos os outros ministérios e dos diferentes departamentos da igreja. É um ministério guiado pelo Espírito Santo para ajudar a igreja a ver, através dos olhos de um Deus amoroso, as maravilhas que Ele é capaz de operar por intermédio desses sete grupos de pessoas únicas.

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ComotrabalharaspossibilidadesnaEscolaSabatina daigrejalocal?

O modelo de trabalho do Ministério Adventista das Possibilidades é simples, porém poderoso, e foi concebido com o objetivo de ajudar os líderes, pastores e membros a iniciar e desenvolver o processode implantação desse ministério em sua igreja local.

A estratégia foi criada originalmente utilizando palavras do idioma inglês e, para facilitar a assimilação dos conceitos,o modelo recebeu o nome de 3As: awareness (“conscientização”), acceptance (“aceitação”) e action (“ação”).

É necessário que toda a igreja passe por esses três estágios a fim de que experimente uma resposta diferente ao entrar em contato com as pessoas que integram uma ou mais das sete áreas desse ministério e assim possa criar uma mudança real e relevante.

• Conscientização ou sensibilização (awareness): iniciar o trabalho com a conscientização e sensibilização de todos os membros da igreja para que assumam o compromisso de orar e se envolver com esse ministério a fim de tornar o ambiente da igreja mais acessível e acolhedor. Capacitar a igreja para a promoção da inclusão social na família, igreja e comunidade. Oferecer cursos, palestras e capacitações sobre cada área do Ministério Adventista das Possibilidades para toda a igreja, bem como de forma específica para os envolvidos no departamento da Escola Sabatina. Convidar pessoas com deficiência para que participem nas classes, tanto dos adultos quanto das crianças, adolescentes e jovens, contando sua história, capacitando com técnicas de abordagem ou falando sobre o que esperam da igreja.

• Aceitação (acceptance): orientar a igreja a fim de buscar formas de adequar os espaços físicos e os materiais utilizados com o objetivo de torná-los acessíveis para que possam ser utilizados com segurança, conforto e autonomia. Identificar as pessoas que já são membros da igreja e que fazem parte de uma ou mais

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das sete áreas, a fim de convidá-las a participar dos trabalhos desse ministério na igreja e auxiliar em sua aplicação na Escola Sabatina. Buscar informação e conhecimento sobre os assuntos referentes à pessoa com deficiência em organizações e instituições que atendem a esse público. Promover capacitação periódica aos diretores e professores da Escola Sabatina sobre como atender às necessidades de acessibilidade e inclusão nas classes, incluindo a Lição da Escola Sabatina e os materiais de apoio em formato acessível de acordo com cada necessidade.

• Ação (action): antes de realizar qualquer iniciativa relacionada à abordagem da pessoa com deficiência noâmbito da Escola Sabatina, buscar o apoio e a assessoria da equipe do Ministério Adventista das Possibilidades da igreja local. Caso a igreja ainda não tenha um ministério formado ou necessite de uma ajuda mais especializada, deve-se procurar o responsável por esse ministério na Associação/Missão, União ou Divisão Sul-Americana.

Conversar com as famílias de alunos com deficiência matriculados na classe da Escola Sabatina é de grande ajuda. Conhecer as necessidades específicas de cada pessoa de acordo com as suas características e, sempre que possível, perguntar a ela se precisa de ajuda e qual é a melhor forma de fazer isso. Desenvolver a paciência e atitude de escuta atenciosa é a maneira mais eficiente de demonstrar interesse sincero e humildade para aprender. Manter um registro de cada estudante matriculado na classe, realizando um breve relatório das abordagens utilizadas, dos avanços e das ideias para adaptação ou confecção de materiais é uma boa forma de se organizar. Incentivar a participação das crianças e adolescentes com deficiência nas atividades das reuniões regulares da classe e nas apresentações do 13o sábado, designando-lhes responsabilidades a fim de que sejam de fato protagonistas no evento. É importante levar em consideração as habilidades e possibilidades evitando, assim, a falsa

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inclusão, quando essas crianças são colocadas apenas para figurar, ignorando-se completamente seu potencial.

O planejamento para a conscientização enfatiza a necessidade de estar informado sobre as características, perspectivas, valores e necessidades de um grupo específico de pessoas. O plano para a aceitação implica um entendimento daqueles com quem e para quem se está ministrando. O objetivo é ajudar a criar um senso de pertencimento. Os dois primeirospassos levarão naturalmente à ação a fim de alcançar, inspirar e trazer um senso de propósito e possibilidade para cada pessoa.

Os projetos e métodos serão desenvolvidos de acordo com a realidade e a necessidade de cada igreja local, sempre cuidando de manter-se dentro dos princípios bíblicos e do exemplo deixado por nosso Senhor Jesus; afinal, essas são as bases que norteiam as ações e os objetivos do Ministério Adventista das Possibilidades.

CONSIDERAÇÕES

Por intermédio do trabalho realizado pelas sete áreas do Ministério Adventista das Possibilidades, a igreja está se tornando cada vez mais acessível, inclusiva e relevante, criando espaços e oportunidades para mais pessoas.

Quando Jesus falou com os fariseus, Ele disse a eles quais são os dois mandamentos que devem nortear a vida, as açõese atitudes do cristão. Ali Jesus falou sobre amar a Deus sobre todas as coisas e acrescentou: “O segundo é igualmente importante: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’” (Mt 22:39; ver v. 36-38).

O Ministério Adventista das Possibilidades é aquela dimensão da igreja que deve permear a vida de cada um deseus membros. Não é um departamento, mas deve ser o estilo de vida de cada crente ao compreender que amar o próximo é a coisa mais importante na dimensão humana, depois de amar o Senhor.

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Amar o próximo, independentemente de suas singularidades, é uma ferramenta de Deus para que o ser humano possa ser abençoado. A seguir, destacam-se quatro atitudes essenciais que abençoam as pessoas que as praticam e aquelas que as recebem:

• Entender que diante de Deus somos todos iguais. Deus trata cada indivíduo de maneira igual no tocante à salvação, apesar de todos serem diferentes uns dos outros. O Senhor sonda a cada pessoa e conhece cada umas de suas singularidades. Para Deus todos são dotados de talentos necessários e valiosos diante de Seus olhos, independentemente de qual seja a condição ou circunstância.

• Abrir as portas do coração, da vida e da igreja. A fim de ter êxito nesse ministério, cada membro da igreja deve abrir seu coração e sua vida antes de abrir as portas da igreja para esses sete grupos de pessoas. Dessa forma, todos se sentirão chamados e aceitos ao encontrar uma igreja acessível e acolhedora.

• Ir além da simpatia. A fim de amar, abençoar e ser abençoado, o membro da igreja precisa ir além da simpatia. Ser simpático com a pessoa com deficiência, a pessoa com depressão, a criança órfã, o surdo, o enlutado ou o cuidador é desejável. Mas é necessário ir além da simpatia e avançar para a empatia quando, na medida do possível, a pessoa faz a tentativa de se colocar no lugar do outro para amá-lo conforme ele precisa, e não como se acredita que deve ser. A simpatia é importante na aproximação. Contudo, a empatia é fundamental para que haja identificação com as lutas do outro. A mudança e a bênção virão para ambos quando houver respeito e aceitação, quando o outro é introduzido na vida e no coração de cada membro da igreja.

• Enfrentar o medo. No início das atividades com o Ministério Adventista das Possibilidades, quando acontecem as primeiras interações com o que é diferente, pode surgir medo. É comum não saber o que dizer ou como agir. Isso é resultado de séculos

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de exclusão e segregação praticados pelas sociedades ao redor do mundo. Esse ministério e as pessoas que já atuam nele há mais tempo estão dispostos a ensinar, apoiar e ajudar. Quando o membro da igreja se permite aproximar com sinceridade de coração, o amor lança fora o medo e dá lugar ao aprendizado.

Aproximar-se das pessoas, aproximar-se de suas famílias com um olhar sincero e o desejo de aprender com elas, sobre suas histórias de vida, força, lutas, vitórias, necessidades, temores e potencialidades fará a diferença.

O Ministério Adventista das Possibilidades existe para ajudar a todos os departamentos e demais ministérios, bem como a cada membro e pastor da igreja, a cumprir a missão que Jesus deixou: pregar o evangelho eterno a todas as pessoas.

Esse ministério convida todos a buscar aprender mais sobre esses temas a fim de descobrir um universo de possibilidades que o Senhor tem para cada um de Seus filhos.

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FICHATÉCNICA

Alacy Mendes Barbosa

Graduado em Educação e Teologia pelo Unasp, com especialização em Gestão de Pessoas. Atua como diretor do Ministério da Família e Ministério Adventista das Possibilidades para o território da Divisão Sul-Americana da IASD.

Aline dos Santos França Venancio Gonçalves

Mestre em Diversidade e Inclusão pela Universidade Federal Fluminense. Psicopedagoga Clínica e Institucional pela Faculdade Unyleya. Psicomotricista com ênfase em Educação Especial pela Unilins. Especialização em Docência do Ensino Superior pela Universidade Cândido Mendes. Pedagoga pela Unirio. Pós-graduanda em Neuropsicopedagogia Institucional pelo Unasp. Atua como voluntária na coordenação do Ministério Adventista das Possibilidades da Associação Rio de Janeiro (ARJ).

Angie Valdez Pajuelo

Enfermeira, teóloga, mestre em Saúde Pública, com estudos do mestrado em Terapia Familiar, e doutoranda em Teologia pela Universidad Peruana Unión (UPeU). Atualmente é diretora da Escola de Idiomas da Faculdade Adventista da Bahia.

Carlos Francesco Marquina Vergara

Psicólogo, teólogo e mestre em Teologia Bíblica pela UPeU. Atua como coordenador do Serviço Voluntário Adventista da União Leste Brasileira.

Claudia Beatriz Soares Pereira Camilo da Silva

Graduada em Pedagogia pela Unijuí. Atualmente é voluntária da RAAFA – Rede Adventista de Apoio à Família de Pessoas com Autismo –, lidera o grupo RAAFA Materiais Pedagógicos e o Grupo Down Abraço

252

FichaTécnica

– Rede Adventista de Apoio à Família de Pessoas com Síndrome de Down. Atua como regional de Desbravadores e Aventureiros para a área de inclusão no Ministério de Desbravadores e Aventureiros (MDA) da Associação Paulistana.

Dinalva Barreto Pereira Bastos

Graduada em Psicologia e Licenciatura em Psicologia pela FACHO – Faculdade de Ciências Humanas de Olinda. Pós-graduanda em Terapia de Casal, Sexualidade e Família (CDE – Cursos), atua como Psicóloga Clínica e Facilitadora do Programa Encorajando Pais.

Edna Rosa Correia Neves

Doutora em Psicologia Escolar pela USP, mestre e especialista em Psicologia e Educação pela Unicamp. Graduada e licenciada em Psicologia pela Unimep. É responsável pela coordenação e pela implantação de projetos na área da psicologia organizacional e do trabalho e da psicopedagogia institucional. Atua como consultora de conteúdos em materiais didáticos educacionais e em programas de treinamento para docentes e discentes.

Eliana Firmino Burgarelli

Mestre em Linguística pela UFES. Especialista em Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva pelo IFTM e em Educação Especial e Inclusiva pela Facibra, pós-graduanda em Práticas Pedagógicas pelo IFES. Bacharela em Letras-Libras pela UFES. Doutoranda em Estudos Linguísticos na UFES. Ocupa o cargo de Tradutora e Intérprete de libras no IFES. Integra grupos de pesquisas e desenvolve trabalhos relacionados com a tradução e interpretação de línguas de sinais e educação de pessoas surdas. Atualmente é conselheira geral voluntária do Ministério Adventista das Possibilidades na USEB e coordena o Ministério Adventista dos Surdos na ASES.

253

Fabio Venancio Gonçalves

Bacharel em Teologia pelo Unasp, pós-graduado em Terapia Familiar pela Unyleya, pós-graduando em Psicologia da Família pela FADBA, cursando MBA em Gestão de Voluntariado e Projetos Sociais pelo Unasp. Atualmente é pastor distrital da Associação Rio de Janeiro.

Glaucia Clara Korkischko

Pedagoga, com especialização em Psicopedagogia. MBA em Novas Gerações e mestranda em Educação pelo Unasp. Atualmente é diretora do Ministérioda Criança e Ministério do Adolescente para o território da Divisão Sul-Americana da IASD.

Jackeline Mennon

Graduada em Enfermagem pelo Unasp. Atua como conselheira do Ministério Adventista das Possibilidades da Divisão Sul-Americana.

Janice Duarte Morais Pareja

Graduada em Pedagogia pelo Unasp. Atualmente é orientadora educacional do Colégio Adventista de Vila Matilde (SP).

Juliana Santos

Graduada em Música e Pedagogia pela UNACH e em Jornalismo pela Unifran. Trabalha em sua própria empresa na área de Comunicação Social e como professora de Música, em uma escola particular. Como voluntária, é conselheira geral para o Ministério Adventista das Possibilidades da Divisão Sul-Americana da IASD e líder da Taskforce for the Blind and Low Vision Ministry da Associação Geral da IASD.

Keiny Goulart Oliveira

Graduada em Jornalismo e Marketing pela Uniasselvi, pós-graduada em Neuropsicologia e Comunicação Empresarial.Em família montou a RAAFA, unindo cerca de 60 famílias em mais de 10 países.

254 VindeaMim

Keiko Shikako

Atualmente é professora doutora da cátedra de Deficiência Infantil, na Universidade McGill, no Canadá.

Keyla Ferrari Lopes

Pedagoga com especialização em Deficiência da Audiocomunicação, especialista em Atividade Motora Adaptada, especialista em Educação Especial pela Universidade Técnica de Lisboa. Especialista em libras, mestre e doutora em Atividade Motora Adaptada pela Unicamp. Atua como docente em universidades nas áreas de Educação Especial, Inclusão e Libras, Ensino e Pesquisa. Palestrante convidada e docente em curso de pós-graduação e congressos no estado de São Paulo, Portugal, Itália e Suíça.

Magda Jaciara de Andrade Araújo

Doutoranda em Medicina pela Unicamp. Pesquisadora no Centro de Investigação em Pediatria/Crescimento, Desenvolvimento e Aprendizagem da Unicamp. Docente no Unasp.

Osvaldo de Lima Ferreira

Doutor em Ministérios pela Universidade Andrews. Doutor em Missiologia pela FTSA. Mestre em Teologia, bacharel em Pedagogia e Teologia pelo Unasp. Master coach pela Sociedade Latino-Americana de Coaches, (SLAC). Pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia em São Roque-SP, Associação Paulistana. É professor adjunto da Univeridade Andrews no programa de doutorado em Discipulado para a ala hispana e conselheiro do Ministério Adventista das Possibilidades para a União Central Brasileira.

Queleon Elmer Mamani Quispe

Doutor em Psicologia Educacional e Mentoria. Mestre em Docência Universitária e professor titular da FACIHED. Diretor da Coordenação de Acreditação e Avaliação Universitária da UPeU.

255 FichaTécnica

Suzete Araújo Águas Maia

Doutora em Educação pelo Mackenzie. Graduada em Pedagogia, especialista em Didática e Prática de Ensino pela Universidade de Genebra. Mestre em Educação pelo Unasp. Diretora do Ministério da Criança e Ministério do Adolescente na União Sudeste Brasileira.

Vanessa de Jesus Krominski

Pedagoga pela Universidade de Brasília com extensão em Psicologia Escolar, especialista e doutora pela Unesp. Graduada em Coaching Life. Atualmente é professora especialista na Secretaria de Educação do Estado.

Wilma Villanueva Quispe

Bacharela em Educação com especialização no Ensino Fundamental I e mestre em Educação com orientação em Administração Educacional pela Universidad Peruana Unión (UPeU). Doutora em Psicologia

Educacional e Mentoria pela Universidad Nacional de Educación. Professora titular da Faculdade de Ciências Humanas e Educação da UPeU. Diretora da Mentoria Universitária da UPeU.

256 VindeaMim
“TODOS SÃO TALENTOSOS, NECESSÁRIOS E VALIOSOS.”

Essa é a mensagem central deste livro, produzido pelos Ministérios da Criança e do Adolescente em parceria com o Ministério Adventista das Possibilidades. Seu objetivo é capacitar líderes, membros e professores da Escola Sabatina a trabalhar pelas novas gerações reconhecendo as potencialidades e características únicas de cada criança e adolescente.

Especialistas de diversas áreas apresentam nesta obra a riqueza do aprendizado e crescimento mútuo experimentados na convivência entre as pessoas em sua singularidade. Abra a mente e o coração a fim de descobrir as incontáveis possibilidades de como apresentar Jesus a todos.

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