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PDF_Ministério da Criança_N7 M4

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CURSO DE LIDERANÇA

Ministério da Criança

Nível 7 • Módulo 4

ORIENTAÇÕES SOBRE

SEXUALIDADE E IDENTIDADE

FICHA TÉCNICA

Coordenação Geral

Divisão Sul-Americana

Glaucia Korkischko

Autores

Ma. Aline dos Santos França Venancio Gonçalves

Me. Daniel Hidalgo

Pr. Fabio Venancio Gonçalves

Coordenação Técnica

Dra. Suzete Araújo Águas Maia

Revisão Textual e Colaboração – Espanhol

Pp. Cuca Lapalma

Revisão Textual – Português Esp. Mara Moraes

Diagramação

EWIG Studios

3 Ministério da Criança • Divisão Sul-Americana
SUMÁRIO INTRODUÇÃO......................................................................................................................................... 5 1. SEXUALIDADE: DEFINIÇÃO E CONCEITOS ATUAIS 6 1.1 Sexualidade ................................................................................................................................ 6 1.2 Gênero 6 1.3 Heterossexualidade .................................................................................................................... 7 1.4 Homossexualidade 7 1.5 Bissexualidade ........................................................................................................................... 7 1.6 Binaridade 7 1.7 Não-binaridade ........................................................................................................................... 7 1.8 Atração pelo mesmo sexo (AMS) 7 1.9 Homofobia.................................................................................................................................. 8 1.10 LGBTQIAPN+ 8 2. O QUE DIZ A BÍBLIA? .......................................................................................................................... 9 3. O PAPEL DOS LÍDERES DA IGREJA 13 4. RESUMO DE AÇÕES IMPORTANTES EM RELAÇÃO A PESSOAS QUE POSSUEM ATRAÇÃO PELO MESMO SEXO .............................................................................................................................16 CONCLUSÃO ........................................................................................................................................17 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................... 18 4 Ministério da Criança • Divisão Sul-Americana

INTRODUÇÃO

Embora as questões relacionadas a sexualidade humana não façam parte diretamente do currículo do Ministério da Criança e do Adolescente, este é um tema de grande relevância a ser estudado pelos líderes, considerando que os alunos da Escola Sabatina, no decorrer de suas vidas, ao passarem pelas diferentes classes, passarão também por diferentes estágios do desenvolvimento humano. É importante que os professores da Escola Sabatina conheçam estes estágios e compreendam os comportamentos e sentimentos relacionados ao desenvolvimento da sexualidade em crianças e adolescentes. Considerando os períodos de desenvolvimento humano, Papalia (2022), apresenta muitas características relevantes em relação a sexualidade, desde o nascimento até a vida adulta.

As mudanças pelas quais o ser humano passa entre a infância e a idade adulta, acontecem como uma espécie de programação em que alterações físicas e emocionais acompanham o amadurecimento e a possibilidade de lidar com tais questões de forma responsável. É natural que crianças e adolescentes expressem curiosidade quanto a sexualidade, assim como é natural que conforme cresçam tenham sentimentos românticos e se sintam atraídas sexualmente por outras pessoas.

É necessário atentar para o fato de que acreditamos que Deus é o criador do ser humano e o fez dotado de sexualidade, que lhe foi ofertada com finalidades específicas. Deus criou o corpo humano e fez homens e mulheres com os órgãos sexuais diferentes. Os órgãos sexuais foram planejados por Deus para unir o homem e a mulher, proporcionar prazer físico, alegria e permitir a procriação – o ser humano possui, inclusive, a habilidade de escolher reproduzir-se.

O plano da criação de Deus para o casamento é que um homem e uma mulher se casem e se relacionem sexualmente, exclusivamente um com o outro. Embora homens e mulheres possam ter atração sexual por pessoas do mesmo sexo, não é plano de Deus que pessoas do mesmo sexo se envolvam em relacionamento sexual.

Ao criar a primeira família, Deus os fez com propósitos definidos e os professores da Escola Sabatina, no decorrer das atividades propostas, tem a oportunidade e responsabilidade de ensinar as crianças e adolescentes que Deus tem um plano para a vida de cada um. Este plano inclui o desenvolvimento de sua sexualidade.

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1. SEXUALIDADE: DEFINIÇÃO E CONCEITOS ATUAIS

Para o entendimento deste tema é fundamental a apresentação da definição de alguns conceitos e termos utilizados atualmente.

1.1 Sexualidade

De acordo com Figueroa, entende-se por sexualidade: “O desejo de contato, calor, carinho ou amor. Isso inclui beijo, afeto e produção de prazer. É um aspecto central e importante do ser humano, que abrange não só o ato sexual em si, mas as questões de identidade, orientação sexual, reprodução, valores, comportamentos e sofre influência dos fatores biológicos, sociais, psicológicos, religiosos e políticos”. (Figueroa, et al., 2017)

1.2 Gênero

O termo gênero refere-se a uma construção social que foi feita a partir das diferenças sexuais para o estabelecimento de diferentes papéis sociais de homens e mulheres. Segundo esse raciocínio, é a sociedade – e não a natureza ou a biologia – que diz como ser homem ou mulher. Gênero é diferente da ideia de sexo determinado pela biologia: é uma identidade. Portanto, identidade de gênero tem a ver com a forma como uma pessoa deseja ou acredita que deva exercer sua sexualidade. Por exemplo, mesmo tendo nascido com as características biológicas de um homem, alguém pode não se identificar com o papel socialmente atribuído a esse sexo e decidir viver e se comportar como uma mulher.

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1.3 Heterossexualidade

Orientação sexual de pessoas que se sentem consistentemente atraídas sexualmente por outras de sexo oposto.

1.4 Homossexualidade

Orientação sexual de pessoas que se sentem consistentemente atraídas sexualmente por outras de mesmo sexo.

Em relação ao uso do termo homossexualidade, e não homossexualismo, é importante esclarecer que o termo homossexualismo deixou de ser usado, pois o sufixo “ismo” teria uma conotação negativa, de doença, dependência ou desequilíbrio (por exemplo, quando se fala em alcoolismo, não estamos nos referindo a alguém que gosta de álcool, mas a alguém que faz uso da bebida de forma prejudicial). Por isso a terminação mais apropriada para se referir as sexualidades é “dade”, não “ismo”.

1.5 Bissexualidade

Orientação sexual de pessoas que se sentem consistentemente atraídas sexualmente por outras de ambos os sexos.

1.6 Binaridade

É o entendimento de que existem apenas dois sexos biológicos – homem e mulher – e que eles possuem diferenças naturais fundamentais. Os casos de pessoas que nascem com aparelhos reprodutores não claramente definidos são a exceção e não a regra. São casos de más formações, problemas de saúde e não são evidências de um terceiro sexo.

1.7 Não-binaridade

Não-binário é alguém que não se identifica com nenhuma das duas principais ideias de gênero pré-estabelecidas (homem/mulher - binaridade). Essa pessoa considera que não se enquadra nos rótulos atribuídos a nenhum dos dois sexos biológicos e prefere não ser identificada com nenhum deles. É para esses, que se propõe a “linguagem neutra” (elu, elx, todes etc.), pois não se identificam nem como ‘ele’, nem como ‘ela’.

1.8 Atração pelo mesmo sexo (AMS)

Diz respeito a atração física, emocional e sexual por outra pessoa do mesmo sexo.

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1.9 Homofobia

Atitudes e sentimentos negativos, intolerantes e de discriminação em relação às pessoas que assumem identidade de gênero diversificadas.

1.10 LGBTQIAPN+

Esta é a sigla que identifica as diferentes “identidades de gênero”. O símbolo matemático + no final dela é uma forma de dizer que há outras identidades não descritas na sigla, isso é uma referência a possível diversidade sexual do ser humano. Em um artigo da UFSC (2021) é possível consultar uma lista com o significado de cada letra.

Diante de tantas terminologias e conceitos, abordar este assunto no cenário atual em que a sociedade está inserida, pode ser um desafio, entretanto percebe-se que as famílias precisam de orientações neste sentido. Dados apresentados por Krzyzanowski Júnior e Santos (2022), acerca do assunto, indicam que não é tempo de omissão. Nas pesquisas citadas pelos autores, percebe-se um aumento de transtornos do humor, automutilação suicida, risco maior de suicídios em adolescentes homossexuais e desordens emocionais. Deus tem despertado os líderes e as famílias para se posicionarem em seu direito de exercer a sexualidade conforme o plano original de Deus. Crianças e adolescentes precisam saber que é importante respeitar aqueles que pensam de forma diferente, mas também precisam saber que todos tem o direito de escolher os princípios e comportamentos que querem adotar em suas vidas.

Percebe-se a necessidade de que os professores da Escola Sabatina estejam atentos aos sinais de ideação suicida em adolescentes que tem atração pelo mesmo sexo e dúvidas em relação a sua identidade. Muitas vezes eles não compreendem seus sentimentos, vivenciando sofrimento emocional ao tentar entender qual a melhor forma de lidar com as questões de sua sexualidade.

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2. O QUE DIZ A BÍBLIA?

Como cristãos, temos a Bíblia como base para o estabelecimento de valores pessoais que podem ser compartilhados por pais e professores cristãos através do ensino, do exemplo e do diálogo. A Bíblia não apresenta orientações sobre cada nova orientação sexual moderna, mas apresenta princípios suficientemente claros sobre o assunto.

Quando Deus criou o ser humano (Genesis 1-2), e o fez segundo a sua imagem, dentre outros dons, o dotou de sexualidade. Essa característica física, social e emocional passou por diversas intervenções do próprio Criador, em sua palavra. No livro de Gênesis por exemplo, capítulo 1:27 e 28, lemos:

Assim Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.

E Deus os abençoou e lhes disse:

— Sejam fecundos, multipliquem-se, encham a terra e sujeitem-na. Tenham domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra. (Gênesis 1:27,28)

Numa continuidade do processo de criação, Deus instituiu e oficiou o primeiro casamento, e como meio de realização pessoal e para fins de procriação, Ele concede à sexualidade humana essa atribuição.

A finalidade da distinção sexual é a reprodução, por isso Deus abençoou ao homem e a mulher dizendo para que fossem férteis e se multiplicassem (Gênesis 1:28). Então, o sexo entre homem e mulher faz parte do plano de Deus desde antes do pecado e tem dupla finalidade: uma é a de reprodução e a outra, a da confirmação da aliança de casamento, o que pode ser entendido a partir da afirmação do Gênesis, repetida por Jesus sobre o casamento: “Por isso, o homem deixa pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne”. (Gênesis 2:24)

O texto diz que “por essa razão”. A razão, portanto, é a que está referida nos versos anteriores: a forma como a mulher foi criada. Ela foi feita de uma parte retirada do homem quando este percebeu que não tinha uma companheira. Quando Adão se sentiu só, Deus fez cair sobre ele um sono pesado. Retirou dele uma parte e a partir dela formou a mulher. Adão entendeu bem o significado disso. Ao olhar para Eva, afirmou que “agora, sim” ele tinha uma companheira de sua natureza. Fazer Eva da costela de Adão carrega esse significado profundo: o homem é incompleto sozinho (como simbolizado por se retirar a costela de Adão) e só se torna completo de novo quando se une a mulher (a costela de Adão foi usada para fazê-la, então unir-se a sua mulher é o que restaura a completude do homem).

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Essa união entre homem e mulher forma uma só carne. Portanto, cada relação sexual deveria ser a celebração da união indissolúvel entre homem e mulher através do casamento. O sexo é uma celebração. Mas o símbolo só funciona entre homem e mulher, dentro do contexto do casamento. Qualquer relação sexual fora desse contexto é transgressão do mandamento de “não adulterar”.

O sexo está sendo tirado de seu propósito: a celebração da criação de homem e mulher que se unem e se completam diante de Deus, assim como relações heterossexuais fora do casamento (traições, relação entre pessoas que ainda não são casadas etc.) têm o mesmo efeito de adulterar o símbolo e o propósito de Deus. Por isso, qualquer dessas relações tem efeito de apagar da mente das pessoas um memorial da criação e do Deus criador. Assim, a imagem de Deus vai se tornando cada vez mais difícil de distinguir no ser humano e Sua autoridade sendo esquecida.

No mesmo livro de Gênesis, vemos a descrição dos limites sexuais sendo ultrapassados pela própria humanidade com a influência maléfica do pecado, como por exemplo o relato bíblico e histórico em que “Lameque tomou para si duas mulheres” (Gênesis 4:19). Ainda no livro do Gênesis temos as histórias do juízo de Sodoma e Gomorra, assim como o relato dentro do contexto de um dos filhos de Jacó, José e sua fuga da mulher de Potifar.

Em um contexto mais ampliado, temos no pentateuco, a própria entrega dos oráculos sagrados aos Hebreus, dados por Deus a Moisés no Monte Sinai e as restrições e condenações quanto ao adultério, incesto, sexo proibido e a própria homossexualidade. Esta última, de uma clareza sem igual, foi pontuada no livro de Levíticos 18:22 como proibida nas relações humanas, o texto diz o seguinte: “Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é”.

Este verso se encontra entre outras descrições de relações sexuais que Deus chama de ilícitas, tais como relações com familiares e com animais. O contexto, portanto, se refere a práticas sexuais inaceitáveis, o que tornaria essa uma afirmação incontestável sobre o assunto. Porém, alguns argumentam que o verso anterior (21), proíbe a adoração a Moloque e que isso indicaria uma mudança de assunto. Dizem, portanto, que a questão das relações sexuais proibidas se encerrou no verso 20 e que a partir do verso 21 o foco é a idolatria, assim os versos 22 e 23 (no verso 23 Deus proíbe a relação sexual com animais) estariam sendo citados como parte de cultos idólatras (havia religiões pagãs em que diferentes tipos de relações sexuais eram ritualísticas).

A palavra traduzida por “abominação” nesse verso, de fato, como em português, admite dois sentidos: um espiritual, como um culto a um deus repugnante, inaceitável; e outro sentido moral, ético, em que abominação seria algo inaceitável em qualquer contexto, uma maldade muito grande. Tomando abominação no primeiro sentido e ligando os versos ao contexto da idolatria, o texto não apontaria para as relações entre pessoas do mesmo sexo como pecado. Mas, esses argumentos são equivocados. O contexto em relação a idolatria existe de forma adjunta às orientações comportamentais.

Ainda no Antigo Testamento, vemos a sexualidade sendo celebrada e abençoada nos Cânticos de Salomão com um pano de fundo romântico e sacro, dentro do casamento entre homem e mulher.

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O Novo Testamento ratifica todas as atribuições e conceitos que o Antigo Testamento estabelece como normativo e moral no que diz respeito a sexualidade na família. Jesus defende os conceitos e as definições que o Antigo Testamento apresenta na lei de Moisés assim como no Gênesis quanto ao casamento. É na passagem de Mateus 19:1-6 que Ele afirma que o casamento é definido na relação entre homem e mulher, sendo assim, posicionando a sexualidade humana em padrões éticos pertinentes ao desenvolvimento humano.

Quando Jesus acabou de proferir estas palavras, deixou a Galileia e foi para o território da Judeia, além do Jordão.

Grandes multidões o seguiram, e ele as curou ali.

Alguns fariseus se aproximaram de Jesus e, testando-o, perguntaram:

— É lícito ao homem repudiar a sua mulher por qualquer motivo?

Jesus respondeu:

— Vocês não leram que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher e que disse: “Por isso o homem deixará o seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne?”

De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, que ninguém separe o que Deus ajuntou. (Mateus 19:1-6)

Jesus ainda condena, registrado nos evangelhos, a fornicação e o adultério. Contudo, é nas cartas paulinas que vamos encontrar algumas recomendações sobre a prática da sexualidade. Logo em sua primeira epístola, Paulo deixa claro no primeiro capítulo, que o sexo impróprio é resultado da ira e da distância que o homem vem tomando de Deus ao longo dos séculos.

Existem argumentos condenatórios na maioria das cartas públicas de Paulo, portanto é no capítulo 1 de Romanos que o assunto da homossexualidade é introduzido em seu compêndio.

Por isso, Deus os entregou à impureza, pelos desejos do coração deles, para desonrarem o seu corpo entre si.

Eles trocaram a verdade de Deus pela mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito para sempre. Amém!

Por causa disso, Deus os entregou a paixões vergonhosas. Porque até as mulheres trocaram o modo natural das relações íntimas por outro, contrário à natureza.

Da mesma forma, também os homens, deixando o contato natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo indecência, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro. (Romanos 1:24-27)

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Paulo traz à tona, em termos claros, o que a falta de confiança em Deus pode causar aos seres humanos. Ele diz no capítulo 1 verso 28, o seguinte: “E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a um modo de pensar reprovável, para praticarem coisas que não convêm”.

Romanos 1 está dizendo que, quando uma sociedade rejeita a autoridade de Deus, autoridade que deriva da criação, nada impede o homem de seguir suas próprias paixões. Homens com homens e mulheres com mulheres se entregaram a paixões que não são doenças, nem maldições divinas, mas que apareceram no coração do homem como consequência natural de tirarem de Deus – como sociedade – a autoridade de legislador.

O novo testamento segue fazendo referências ao assunto, como em 1 Coríntios 6:9 e 10.

Ou vocês não sabem que os injustos não herdarão o Reino de Deus? Não se enganem: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem afeminados, nem homossexuais, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o Reino de Deus. (1 Coríntios 6:9,10)

Além da intervenção bíblica no assunto da sexualidade humana, temos também o pensamento pós-moderno com sua influência cultural estruturando negativamente os conceitos previamente estabelecidos por Aquele que não pode errar. É na cultura atual e pós-moderna que o pensamento liberal e relativo, no que diz respeito ao sexo, fomenta a descrença e induz e/ou conduz o pensamento tortuoso da prática das relações sexuais. Dentro desse contexto está o Niilismo, apresentando um pensamento do desaparecimento das grandes explicações vindas de Deus ou da Bíblia, quando por exemplo o filósofo Nietzsche denomina a morte de Deus. Logo, se Deus está morto, tudo é permitido. Ainda temos como fruto do pensamento pós-moderno, influenciando a sexualidade humana e suas escolhas dentro das relações, o situacionismo, que diz que todas as decisões éticas devem ser feitas com base na situação e não na prescrição. Esse ataque é direto aos estatutos e prescrições bíblicas, quanto a decisão de com quem se relacionar sexualmente.

Em seu livro “Como a Igreja Pode Acolher Pessoas Homoafetivas: Entendendo Suas Necessidades Mais Profundas”, Krzyzanowski Júnior e Santos (2022), apresentam uma proposta interessante para a abordagem do assunto na sociedade e no contexto eclesiástico. O objetivo é apresentar “formas de como a igreja pode auxiliar as pessoas que lutam contra a atração pelo mesmo sexo (AMS) e não desejam viver a prática homossexual contra aquilo que creem ser a vontade de Deus para a sua sexualidade”. De acordo com os autores, a igreja é um ambiente perfeito para as amizades verdadeiras se desenvolverem, sendo assim uma ferramenta para acolhimento dessas pessoas. Dentre outras sugestões a igreja deveria “apoiar e incentivar a formação de mentores e grupos de apoio, dando a chance àqueles que tem a tendência a homossexualidade se desenvolverem em um ambiente cristão e acolhedor”.

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3. O PAPEL DOS LÍDERES DA IGREJA

Em tudo o que diz respeito a comportamento, há apenas um exemplo seguro a seguir: o de Cristo. Ser cristão é buscar ser como Ele.

Abordaremos algumas orientações práticas sobre como os líderes devem lidar com o assunto da sexualidade humana e com as crianças e adolescentes que tem dúvidas sobre o tema em pauta.

O que o líder pode fazer quando alguém o procura e se apresenta confuso sobre sua sexualidade, ou mesmo diga que se identifica com qualquer “gênero” que não a heterossexualidade? O que se pode dizer? Como deve-se agir?

Em primeiro lugar, é importante assegurar à criança ou adolescente, que ela é amada por Deus e por seu círculo de familiares e amigos, independente de suas escolhas. Deus não as ama porque escolhem fazer o certo, ou porque são bons. O amor de Deus é incondicional, porque Deus ama o pecador, não o pecado. Ele ama a todos, somos Seus filhos, independente das nossas escolhas, ações e preferências. Não há boas ou más decisões que mudem esse fato.

Os líderes têm a obrigação de seguir o exemplo de Cristo e de demonstrar amor pelas crianças e adolescentes que atravessam esses conflitos. Não se deve transmitir a ideia de que eles não serão acolhidos ou não poderão manter a amizade de seus pares, como sempre foi. É preciso afirmar claramente, antes de qualquer coisa que Deus as ama, independentemente de qualquer questão ligada a sexualidade e que nada na conversa que se seguir ou nas decisões que ela tomar mudarão o sentimento que Deus têm por elas. Essa garantia é muito importante para deixar as crianças e adolescentes seguros e confiantes. É necessário ouvir atentamente o que tiverem a dizer sobre o assunto (isso faz parte de amar e acolher). Não discutir, interromper ou repreender.

Depois de ouvir e compreender a mensagem, as dúvidas e inquietações, solidarize-se com a criança ou adolescente nos pontos em que percebe sofrimento ou nas dúvidas que existirem, é importante apresentar o que a Bíblia diz. Talvez o adolescente que procure auxílio sobre o assunto já tenha pesquisado contra-argumentos aos textos bíblicos na internet, por isso é importante que os líderes estejam familiarizados com o cenário atual que a sociedade vivencia sobre o tema. É muito importante, apresentar a Bíblia como a Palavra inspirada de Deus, e oferecer um estudo para fortalecer a fé na Bíblia, conforme o nível de cognição de cada um.

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É fundamental esclarecer que Deus não rejeita as pessoas por suas escolhas e possuir atração pelo mesmo sexo, não é o mesmo que vivenciar a prática da homossexualidade. O líder deve trabalhar para reafirmar a fé da criança e adolescentes em Deus, incentivando a se relacionarem com Ele. Lembrando que a salvação vem pelo relacionamento com Jesus.

Algumas atitudes devem ser evitadas e combatidas, não somente porque a legislação está cada vez mais dura e restritiva sobre o que se pode ou não dizer sobre o assunto, mas principalmente, porque diante de Deus é preciso que os líderes se posicionem de forma adequada.

Não se deve agredir, ofender ou excluir. Quando o assunto for abordado, deve ser com propósito de oferecer informação e esclarecimento de forma gentil e respeitosa. O amor deve ser a regra áurea da liderança. É por amor, e com amor, que se deve apresentar os planos de Deus.

Romanos 1 esclarece que desejos sexuais impróprios estão no coração do homem. Não se deve tratar a homossexualidade como doença ou desvio. Este discurso já foi superado na psicologia e nunca teve embasamento bíblico. O CFP (Conselho Federal de Psicologia) proibiu, através da resolução nº 01/99 de 22 de março de 1999, qualquer intervenção no sentido de reorientação sexual, pois não se pode tratar aquilo que não é doença. Desse ponto de vista, isso seria tão cruel quanto tentar alterar a personalidade de alguém. Intervenções de reorientação sexual seriam intervenções com o objetivo final de mudar o objeto pelo qual um ser humano se sente atraído (por exemplo, intervir para que um homem deixe de ser atraído por homens e passe a ser atraído por mulheres).

Também é preciso atentar com os julgamentos em todos os níveis. Sentirem-se julgadas, confrontadas ou questionadas não irá colaborar para dirimir as dúvidas que surgirem sobre sexualidade e identidade. Crianças sensíveis podem ser levadas a ter dúvidas sobre sua identidade. Culturalmente, são estipulados papeis de gênero e estereótipos que atribuem tarefas e comportamentos específicos a homens e mulheres assim, equivocadamente; meninos sensíveis, amantes da música e/ou artes, recebem a identificação de homossexuais, sofrem bullying, são intimidados e compelidos a adotar atitudes “mais masculinas”. Tais ações são extremamente prejudiciais ao desenvolvimento de crianças sensíveis.

Igualmente, de meninas, são esperados comportamentos considerados femininos, porém meninas que gostam de esportes, que tem um espírito aventureiro, que se mostram mais práticas, também são cobradas para que atendam expectativas sociais quanto a sua identidade. Em seu artigo científico sobre a homossexualidade, Krzyzanowski Júnior (2021), aborda mais detalhadamente este assunto da hipersensibilidade.

Portanto, não é correto impor a meninos ou meninas determinados comportamentos baseados no sexo masculino ou feminino, não se deve impor uma cartilha do que são comportamentos masculinos e femininos por causa da cultura. Em muitos casos, por exemplo, meninas são identificadas como homossexuais muito novas por gostarem de correr, subir em árvores e jogar bola. Mas nenhum desses comportamentos tem significação sexual para a criança. Ela está apenas brincando. Acontece que, muitas vezes, essa menina ouve desde muito cedo que ela “é um moleque” e coisas do tipo. E acredita nisso. Acredita que seus comportamentos são masculinos, quando apenas é uma menina que gosta de correr e brincar. Mas como ensinaram para ela papéis rígidos, ela entendeu que não era uma “boa menina”, não era “feminina”. Como se toda mulher, ou homem, precisasse ter a mesma personalidade e

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gosto. Ser homem ou mulher, segundo o Gênesis, tem mais a ver com aceitar o sexo biológico do que cumprir uma cartilha de comportamentos. A cartilha de comportamentos, essa sim, tem uma carga muito mais cultural.

Os professores da Escola Sabatina, os responsáveis ou outros conselheiros de confiança, como o pastor da igreja, podem orientar adolescentes cristãos que tem dúvidas sobre sua tendência sexual. Inclusive, em uma pesquisa realizada em 2017 pela Bayer com pessoas de 15 a 25 anos de todas as regiões brasileiras, verificou-se que apenas 8% dos jovens recorrem aos pais quando querem tirar dúvidas sobre sexo; 60% deles preferem a internet, enquanto 15% dos entrevistados procuram os amigos.

A família, a igreja e a escola são ambientes que podem proporcionar interação social entre as pessoas de ambos os sexos, estabelecendo vínculos de amizade que as auxiliam a se sentir bem a respeito de si mesmos. Nestes relacionamentos aprenderão sobre companheirismo, aprofundamento da amizade e desenvolverão habilidades sociais necessárias ao convívio com seus pares.

De acordo com o plano de Deus, a intimidade sexual está reservada para o casamento, esta é uma maneira de proteger as pessoas da dor emocional, da gravidez precoce ou fora do casamento e de doenças sexualmente transmissíveis. A pesquisa acima citada revela que:

Apenas 4% dos jovens aprenderam sobre sexo e preservativos com profissionais de saúde.

11% dos jovens preocupam-se com a satisfação de seus parceiros.

31% disseram usar sempre a camisinha.

82% dos entrevistados em Brasília responderam que já tiveram relações sexuais sem usar qualquer método contraceptivo.

A igreja pode apoiar os responsáveis providenciando programas de educação sexual para famílias e jovens. Os Ministérios da Família, da Criança e Adolescente, Ministério Jovem, Clubes de Desbravadores e Aventureiros, podem estar envolvidos em tais projetos. O Ministério Adventista das Possibilidades também pode contribuir com as orientações devidas, pois crianças e adolescentes com deficiência ou transtornos também passarão por mudanças físicas e emocionais e poderão sentir atração sexual ou curiosidade, conforme se desenvolvem.

A sociedade, através da cultura, envia mensagens muitas vezes confusas sobre a sexualidade, outras vezes contraditórias. Normas e tabus permeiam estas mensagens, que ao serem recebidas devem ser examinadas a luz da Bíblia, para que ao comparar a variedade de valores, crenças e opiniões, as pessoas possam escolher comportamentos condizentes com os princípios bíblicos.

Em relação a exposição midiática, pais ou responsáveis tem o direito de determinar e escolher quais programas, vídeos, filmes ou materiais impressos são apropriados para seus filhos. As crianças e adolescentes não devem utilizar a internet e as redes sociais sem supervisão. Muitas vezes os materiais citados apresentam informações irreais e/ou deturpadas sobre a sexualidade, e os relacionamentos retratados nem sempre proporcionam um modelo positivo de sexualidade.

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4. RESUMO DE AÇÕES IMPORTANTES EM RELAÇÃO A PESSOAS QUE POSSUEM ATRAÇÃO PELO MESMO SEXO

Serem ouvidas.

Serem valorizadas.

Não serem julgadas.

Promover o conhecimento para evitar ou interromper o preconceito.

Entender a diferença entre atração pelo mesmo sexo e prática homossexual.

Criar grupos de estudos sobre o tema das emoções, para inclusão de pais que sofrem com os filhos em condições traumáticas.

Em parceria com outros Ministérios, abaixo temos algumas sugestões de ações para o Ministério da Criança e do Adolescente:

Ministério da Mulher – trabalhar virtudes, valores, responsabilidades, feminilidade e promover a campanha anual Quebrando o silêncio.

Ministério do Homem – trabalhar questões da sexualidade e cultura masculina.

Ministério da Família – trabalhar relacionamentos saudáveis (comunicação, relação intrapessoal e interpessoal), escola de pais, oficina da família.

MCA – trabalhar características e necessidades de acordo com as faixas etárias.

Ministério Jovem – oportunizar ambientes saudáveis para o desenvolvimento de novas amizades.

Desbravadores – Trabalhar com a liderança as demandas da adolescência como: sexualidade saudável, autoestima, autoconhecimento, visando descredenciar completamente o bullying enraizado no convívio entre adolescentes que não se sentem, por esses motivos, parte do grupo.

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Se as crianças e adolescentes forem educadas com amor, comunicação eficiente sobre o assunto, se obtiverem respostas claras sobre as dúvidas, se os adultos oferecerem limites adequados ao comportamento de crianças e adolescentes sob sua responsabilidade, certamente estes terão argumentos para fazer escolhas sábias, evitar a pressão de grupos de colegas, a exposição midiática e a experiência sexual prematura.

Tomar decisões responsáveis a respeito da sexualidade é importante, pois estas podem ser impactantes para o indivíduo, além de gerar consequências com as quais será preciso lidar, às vezes, por toda a vida. Assim, os adolescentes precisam ser orientados acerca de decisões que envolvem alterações permanentes em seu corpo ou consequências duradouras que nem sempre podem ser desfeitas. A necessidade de tomar decisões sobre a sexualidade acompanham o indivíduo por toda sua vida.

Tais decisões podem afetar a vida e os planos futuros, mas mesmo quando uma pessoa toma decisões quanto a sexualidade que são contrárias aos princípios estabelecidos por Deus, é possível em outras oportunidades fazer escolhas diferentes e obter o perdão do Senhor. Uma questão importante é a que diz respeito a presença de sinais de abuso sexual contra crianças e adolescentes, como: perturbação do sono, acessos de raiva, automutilação, mudança de humor, dentre outros. Os líderes podem auxiliar as famílias que se encontram nestas situações, orientando-as a buscar ajuda de autoridades e instituições, indicando profissionais especializados e serviços de atendimento a crianças e adolescentes.

Que Deus nos abençoe nessa nobre tarefa de orientarmos nossas crianças e adolescentes em cada fase de suas vidas!

CONCLUSÃO
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BIBLIOGRAFIA

Bíblia Missionária. Tatuí, SP. CPB,2021 Texto Bíblico: Edição Revista e Atualizada no Brasil, 3ªed (Nova Almeida Atualizada).SBB

FIGUEIROA, M. N. et al. A formação relacionada com a sexualidade humana na percepção de estudantes de enfermagem. Rev. Enf. Ref., Coimbra, n. 15, p. 21-30, 2017.

GEISLER, N.L. Ética Cristã: opções e questões contemporâneas. São Paulo, Vida Nova, 2ª, 2010.

KRZYZANOWSKI JÚNIOR, F. Nature and Nurture: Proposing a Reconciliation. Journal of Human Sexuality, Vol. 12, 2021, p. 41-47. https://www.journalofhumansexuality.com/copy-of-new-page-5-4

KRZYANOWSKI JÚNIOR, F. e SANTOS, A. B. Como a igreja pode acolher pessoas homoafetivas: entendendo suas necessidades mais profundas. São Paulo, UPP, 1ª ed., 2022

MUELLER, E. e SOUZA, E. B. Casamento: princípios bíblicos e teológicos. São Paulo, CPB, 2015.

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PAPALIA, D.E. Desenvolvimento humano. Porto Alegre, Artmed, 14ªed., 2022.

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