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Marginália: Podcast sobre o cenário do rock autoral em Campo Grande | Talita de Oliveira Barros

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO CURSO DEJORNALISMO

MARGINÁLIA PODCAST SOBRE O CENÁRIO DO ROCK AUTORAL EM CAMPO GRANDE

TALITA DE OLIVEIRA BARROS

Campo Grande NOVEMBRO /2018


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MARGINÁLIA: PODCAST SOBRE O CENÁRIO DO ROCK AUTORAL EM CAMPO GRANDE

TALITA DE OLIVEIRA BARROS

Relatório apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina Projeto Experimental II do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Orientadora: Prof. Dra. Rose Mara Pinheiro


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SUMÁRIO Resumo

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Introdução

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1. Atividades desenvolvidas

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1.1 Execução

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1.2 Dificuldades encontradas

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1.3 Objetivos alcançados

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2. Suportes teóricos adotados

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Considerações finais

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Referências

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Anexos

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Apêndices

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Roteiro dos podcasts

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Episódio número 1 Burning Universe

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Episódio número 2 Macumbapragringo

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Episódio número 3 Peixes Entrópicos

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Episódio número 4 Mad Men Convoy

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Episódio número 5 Seven Four

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Episódio número 6 Quarto Minguante

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Entrevistas

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Burning Universe

38

Macumbapragringo

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Peixes Entrópicos

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Mad Men Convoy

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Seven Four

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Quarto Minguante

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RESUMO: O objetivo da série Marginália: podcast sobre o cenário do rock autoral em Campo Grande é mostrar, como um produto sonoro ligado ao jornalismo cultural, a carreira, o trabalho, as oportunidades, as dificuldades e a divulgação em época de mídias sociais e digitais de artistas e bandas, dos anos 2000 a 2018, na capital sul-mato-grossense. Foram selecionadas as bandas Burning Universe, Macumbapragringo, Peixes Entrópicos, Seven Four, Quarto Minguante e Mad Men Convoy, que além de serem autorais e independentes ainda lutam por espaços para tocar na cidade, uma vez que as oportunidades foram reduzidas após a promulgação da “lei dos 45 decibéis”.

PALAVRAS-CHAVE: Jornalismo cultural; Rádio; Podcast; Rock autoral; Campo Grande.


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INTRODUÇÃO A série de podcasts foi produzida como um produto sonoro do jornalismo cultural para relatar como é desenvolvido o rock autoral em Campo Grande, como parte do Trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo. Para isso, foram feitas entrevistas com seis bandas da cidade, que produzem conteúdo, realizam apresentações e gravações do seu próprio trabalho: Burning Universe, Macumbapragringo, Peixes Entrópicos, Seven Four e Quarto Minguante foram escolhidas por serem grupos de Campo Grande e se apresentaram na quinta edição do Batalha de Bandas, realizada em 2018. O Batalha de Bandas um concurso para grupos que possuem músicas autorais, organizado coletivamente por produtores musicais de Campo Grande e realizado no 21 Music Bar. Após o encerramento das inscrições, dez concorrentes são selecionados e o vencedor é escolhido pelos jurados. O prêmio é a gravação de quatro músicas, um clipe, ensaio fotográfico e dez camisetas da banda. O grupo mais votado pelo público ganha a gravação de uma música. A organização e a premiação são realizadas por meio de parcerias entre incentivadores da música autoral na cidade. A banda Mad Men Convoy também foi escolhida para o Trabalho de Conclusão do Curso por ter vencido a Batalha de Bandas de 2017 e ter sido convidada para se apresentar em 2018. As entrevistas abordam a carreira musical construída e divulgada com as ferramentas da internet, os desafios encontrados, em quesitos como público e lugares para apresentação, e as alternativas para que a produção supere os obstáculos encontrados. Durante a pesquisa inicial das bandas autorais realizada por meio de busca através das redes sociais Facebook, Instagram e por veículos de comunicação nas editorias de cultura, foi possível catalogar trinta com origem em Mato Grosso do Sul. A ferramenta de enquetes do Instagram foi utilizada para que as pessoas pudessem indicar quais bandas autorais do estado elas escutam, no Facebook foram pesquisadas as bandas citadas nas notícias sobre o Batalha de Bandas, a partir dessa fase, as ferramentas de busca foram personalizadas e a própria rede social passou a mostrar grupos do gênero presentes na cidade e no estado. Das 30 bandas, vinte e três são de Campo Grande e vinte e cinco tocam rock ou gêneros semelhantes, como punk rock, choro rock e pop rock.


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O produto foi desenvolvido para seguir a chegada do rádio na internet, já que o podcast é um formato exclusivo da web e surge para seguir a tendência de mobilidade no consumo de produtos midiáticos ou de entretenimento. É uma extensão do rádio feito ao vivo e das rádios on-line, visto que se caracteriza por sua forma de transmissão, em RSS, um formato que permite que o conteúdo chegue ao ouvinte automaticamente uma vez que o consumidor manifeste interesse pelo conteúdo e por esta ferramenta. O podcast segue a tendência das mídias adaptadas para a internet, é uma nova forma de produzir rádio, sem a necessidade do ao vivo e sem que o ouvinte precise ficar preso a um computador para ter acesso ao conteúdo (PRIMO, 2005). A maioria dos produtores de podcast opta por criar conteúdos extensos, que variam entre 30 e 130 minutos de duração. Na séria Marginália, Opta-se por uma produção mais curta, com duração aproximada de dez a vinte minutos para diminuir o tempo necessário de atenção do ouvinte e tornar os programas mais objetivos. Os podcasts foram construídos com uma identidade que inclui trilha, apresentação e encerramento padrões. Por se tratar de um formato mais recente do rádio, ligado à internet, o podcast acompanha tendências, formatos e efeitos mais recentes e dispõe do aparato tecnológico em sua origem e desenvolvimento. Então, a série foi construída com técnicas de rádio para as entrevistas e edições, que contém trilhas e trechos de músicas. As bandas são apresentadas com o nome e a função dos integrantes, ano de criação, trabalhos desenvolvidos e características próprias das produções que desenvolvem. Esses itens contextualizam a identidade do grupo e criam relação com o depoimento dos integrantes sobre como é desenvolvida a música autoral em Campo Grande. O jornalismo é uma forma de registrar os acontecimentos que podem ser consultados posteriormente. A série Marginália1 tem entre seus assuntos a situação atual de Campo Grande, com bares que fecharam devido a receberem multas ou não poderem tocar música ao vivo no espaço que possuem, em decorrência das alterações do limite sonoro máximo permitido na cidade (lei dos 45 decibéis).

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Nome derivado do termo do latim Marginalia. Significado: Notas, escritos e comentários pessoais ou editoriais feitos na margem de um livro. A escolha foi feita em referência ao sentimento das bandas de serem marginalizadas.


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A Lei Municipal número 2.909, de 28 de julho de 1992 institui o Código de Polícia Administrativa de Campo Grande. Na tabela2 dos limites sonoros para zonas residências, o máximo permitido em período noturno era de 45 decibéis. A Lei Complementar nº 267 de 14/08/2015 determinava o limite de 95 decibéis no período diurno e 90 no noturno para shows e eventos com limite de 8 horas de duração. Em 2018, a medida foi revogada e a regra inicial do Código de Polícia Administrativa voltou a ser cobrada. Os espaços precisarão passar por readequação para continuarem recebendo bandas, seja de cover ou música autoral, sem que haja o risco de multas ou penalizações. O período também marca uma movimentação musical na cidade que foge ao tradicional e popular sertanejo. As bandas apresentadas nos podcasts movimentam o cenário musical alternativo da cidade. Durante as entrevistas foi possível notar que o trabalho é ativo e há consciência sobre questões como a importância de produzir material de divulgação, tanto para internet quanto para os locais onde o público está presente. As histórias enfatizam os personagens como protagonistas e são contadas com base no ponto de vista de quem vivencia o cenário do rock autoral de Campo Grande. Os offs contém a fala da locutora, com trechos de músicas das bandas entrevistadas utilizados como trilha de fundo. Foram elaborados com base nas perguntas de apoio das entrevistas, que não entraram na íntegra nos podcasts, sobre a história da banda, características ou temas abordados. A entrevista com a banda Burning Universe foi a única feita no estúdio onde a banda ensaia, local sem interferência de ruídos externos. As outras entrevistas foram feitas na casa de integrantes, por esse motivo, algumas contém ruídos externos, mas que não comprometem a compreensão das gravações. Nas edições, além das trilhas foram acrescentados trechos de músicas das bandas, quando possível. No episódio da banda Macumbapragringo, por se tratar de uma banda que compõe apenas pela melodia dos instrumentos e não possui uma letra ou canto, houve necessidade de acrescentar trechos das composições para que ficasse clara a identidade desse tipo de trabalho. Após notar este detalhe, também foram 2

Anexo I.


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acrescentados em outros episódios, como no da Banda Seven Four, que possui músicas em inglês. O produto final tem características presentes em séries para a televisão ou internet, como trilha sonora de introdução padronizada, apresentação do tema e identidade do programa, linha de produção semelhante em todos os episódios, com chamada no fim de cada um para o próximo e o encerramento.


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1 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS 1.1 Execução: Após o tema ter sido definido, a pesquisa bibliográfica foi iniciada para compreender as questões que envolvem o assunto, como a definição de música autoral, a forma de desenvolver jornalismo cultural e como o rádio é produzido na internet. O roteiro foi elaborado com inspiração no podcast jornalístico “Mamilos”, caracterizado pela abordagem dos temas escolhidos por meio de entrevistas e conversas sobre o assunto. Uma pesquisa foi realizada pela autora deste trabalho para identificar quais bandas produzem música autoral em Campo Grande. Nesse processo foram catalogados os nomes e ano de início, para selecionar as que se enquadravam no recorte temporal escolhido, a partir dos anos 2000, gênero musical e a checagem para verificar a existência de produções autorais. A pesquisa inicial que catalogou trinta bandas foi feita pela internet, por meio da ferramenta perguntas do Instagram, que permitiu que as pessoas apontassem as bandas que escutavam, por notícias jornalísticas sobre festivais, eventos e apresentações e também pela pesquisa de bandas nas redes sociais, utilizando Facebook e Instagram. Para encontrar as redes sociais das bandas, o ponto de partida foram as bandas escolhidas para o Batalha de Bandas 2018. A partir dessa pesquisa inicial, as configurações de busca passaram a mostrar outros grupos. A partir do aprimoramento da pesquisa, foram registradas 60 bandas criadas a partir do ano 2000. Foram registrados o nome, o gênero musical e o ano de criação. Após esse ponto, foi observado que 28 das 50 bandas desenvolvem atividades com rock ou gêneros semelhantes, como punk rock, indie, rock alternativo, entre outros. Então, mais um recorte foi feito, as entrevistas deveriam ser feitas com artistas que trabalham com a identidade voltada para esses gêneros musicais. O passo seguinte foi selecionar as bandas para as entrevistas, que ficou definido que seriam as bandas de Campo Grande que se apresentaram na Batalha de Bandas 2018, por mostrarem produções autorais já existentes e a vontade de gravar trabalhos profissionalmente. Após a escolha, as perguntas foram elaboradas com enfoque na


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apresentação das bandas e na forma com que o trabalho é desenvolvido na cidade, na visão delas. A decupagem auxiliou no término do roteiro, que foi escrito de acordo com o depoimento das fontes. Para a entrevista, além da abordagem inicial de contar a história e trajetória dos músicos da cidade, foi inserida a questão do impacto no cenário musical de Campo Grande do encerramento das atividades de bares que abriam espaço para esses grupos tocarem. A diferença entre as bandas que trabalham com gravadoras e as que realizam produção independente também foi abordada no episódio da banda Seven Four e da Burning Universe. O plano inicial era produzir cinco podcasts de aproximadamente cinco minutos, a partir de entrevistas e depoimentos que retratassem a ótica dos músicos, as características do espaço e a valorização concedida à música autoral na cidade. Durante o processo, notou-se a necessidade de um tempo maior para os programas, para construir uma identidade para o produto, que aparecesse em todo início de programa, o que corresponde a cerca de 30 segundos. Dessa forma, a entrevista ficaria curta, por isso o tempo foi estendido e os podcasts foram produzidos com duração entre dez e vinte minutos para que a duração fosse suficiente para serem caracterizados, apresentarem as bandas e abordarem as questões sobre a situação atual das bandas na cidade. Os cinco podcasts propostos no pré-projeto foram entregues, com o acréscimo do sexto para registrar mais perspectivas sobre o contexto da música autoral em Campo Grande. Locais onde as bandas se apresentam, como o evento Sol Autoral, foram visitados para realizar a observação e compreender em qual estrutura os grupos se apresentam. Entretanto, nesses espaços não era possível realizar as gravações, por isso foram agendadas em locais onde fosse possível reunir as bandas. Em geral, os músicos trabalham durante o dia e ensaiam à noite ou nos fins de semana. Então, não havia como irem até o laboratório de rádio da UFMS. Por isso, cinco das seis entrevistas foram feitas na casa de um dos integrantes das bandas. Somente a entrevista com a Burning Universe foi realizada em estúdio, devido ao fato de que a banda possui uma frequência semanal de ensaios.


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1.2 Dificuldades Encontradas O gravador da universidade possui boa captação de áudio, mas também grava muitos ruídos externos que podem comprometer o áudio. Uma lapela fez falta em gravações ao ar livre, porque as entrevistas tiveram de ser interrompidas algumas vezes quando surgia algum ruído muito alto e que encobria a fala dos entrevistados. Não foi encontrada bibliografia na biblioteca central da universidade sobre podcast, por isso o suporte teórico para este produto veio de livros ou artigos encontrados na internet e trabalhos de conclusão de curso anteriores registrados nos arquivos do curso de jornalismo. Questões logísticas e financeiras restringiram o recorte do tema, por isso não foi possível entrevistar bandas que não fossem de Campo Grande e nem sempre todos os integrantes estavam presentes na entrevista.

1.3 Objetivos Alcançados Os cinco podcasts foram desenvolvidos com o acréscimo do sexto episódio. A pesquisa das bandas autorais de Campo Grande e do Mato Grosso do Sul foi realizada. A pesquisa bibliográfica foi feita para dar suporte teórico ao trabalho. As bandas foram selecionadas de acordo com o ano de criação e do trabalho nas redes sociais. As entrevistas foram produzidas e abordaram a relação dos artistas com a música autoral e o contexto geral da cidade. O podcast foi publicado na internet pela plataforma soundcloud.


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2 SUPORTES TEÓRICOS ADOTADOS 2.1 RÁDIO O rádio é um veículo que construiu sua importância desde o século XX e participou do desenvolvimento e das transformações da sociedade e do jornalismo. “Há mais de um século faz história e estabelece vínculos mediadores com as pessoas em diferentes localidades, com suas diferentes culturas e práticas” (BARBOSA FILHO, 2003, p. 37). Uma pesquisa realizada pelo Kantar IBOPE Media em 2017 aponta que 52 milhões de ouvintes de 13 regiões metropolitanas do Brasil escutam rádio em uma média de tempo de 4h40 minutos por dia. Assim como o livro, o rádio é uma forma de comunicação que faz alusão à imaginação e permite que o ouvinte relacione imagens com a narração, de acordo com suas experiências. As vozes criam imagens, de acordo com a emoção e tom utilizados. “São imagens que, no rádio, não se limitam ao tamanho da tela. Elas têm o tamanho que você quiser”. (CHANTLER, HARRIS, 1998, p.21) Com a chegada da internet, o rádio precisou se adaptar e criar novas linguagens e formas de transmissão. Isso permitiu o surgimento de um novo formato e forma de utilização das ferramentas, técnicas e métodos de criação. A internet também viabiliza o avanço tecnológico mais recente que apresenta uma renovação da linguagem radiofônica jornalística: o podcast, que começou a se tornar conhecido entre os usuários da internet do Brasil em 2005, também chamado de podcasting. (VAISBH, 2006, p. 20)

Prado (1985) lista quatro pontos importantes para uma boa locução em rádio: vocalização, entonação, ritmo e atitude. A vocalização é a forma como a leitura é feita, a fluidez e a pronúncia. A entonação dá vida ao texto, as variações fazem com que a locução parece um diálogo e tenha um padrão. O ritmo é a combinação de técnicas e formas de leitura para que o processo se assemelhe com uma fala ou conversa. A atitude é a interpretação do texto, as expressões e impressões colocadas para equilibrar a leitura e transmitir emoção. O texto de rádio deve ser escrito de forma que considere a leitura em voz alta, a sonoridade das palavras, frases, expressões e efeitos. Se não for construído dessa forma é possível que a possibilidade da emoção ser transmitida se perca. “Lembre-se,


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você está redigindo para o ouvido e não para o olho. Deve, então, escrever como se fala, numa linguagem coloquial, com frases curtas e uma ideia em cada sentença”. (CHANTLER, HARRIS, 1998, p. 51) A entrevista no rádio traz a possibilidade da expressão ser passada da maneira como foi dita, reproduzindo o tom de voz, as pausas, o ritmo da fala e a emoção do entrevistado. Não se trata apenas de dizer algo, mas da maneira como aquilo foi dito. “A entrevista em rádio tem o poder de transmitir o que o jornalismo impresso nem sempre consegue: a emoção. Esta se manifesta tanto no entrevistado quanto no entrevistador”. (BARBEIRO, 2003, p.59) No radiojornalismo e no rádio existem gêneros e formatos. O podcast é caracterizado pela sua forma de transmissão, via RSS, que permite que o arquivo vá até o ouvinte e que os downloads sejam feitos de forma automática. Como não tem o caráter de urgência e instantaneidade, precisa aprofundar os assuntos e dar um tom próprio. PodCast é uma palavra que vem do laço criado entre Ipod – aparelho produzido pela Apple que reproduz mp3 e Broadcast (transmissão), podendo defini-lo como sendo um programa de rádio personalizado gravado nas extensões mp3, ogg ou mp4, que são formatos digitais que permitem armazenar músicas e arquivos de áudio em um espaço relativamente pequeno, podendo ser armazenados no computador e/ou disponibilizados na Internet, vinculado a um arquivo de informação (feed) que permite que se assine os programas recebendo as informações sem precisar ir ao site do produtor. (BARROS, MENTA; 2007, p.2)

Desde a chegada do transistor, o rádio passou a poder ser ouvido em aparelhos portáteis e o contexto da recepção mudou. Na migração para os celulares e para a internet esse processo se acentuou. “A portabilidade do rádio alterou a forma de recepção da informação. Não apenas ela poderia ser recebida em tempo real, como poderia se fazer presente em qualquer local”. (MEDITSCH, 2007, p. 245) A emissão continua sendo feita de maneira semelhante, mas agora, o rádio pode ser ouvido pelos transmissores, seja a caminho do trabalho, na rua ou dentro de casa. Assim, novos elementos foram incorporados para auxiliarem a manter a atenção do ouvinte no conteúdo propagado.


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Na internet o rádio tem a possibilidade de ser feito ao vivo, mas o podcast não possui essa característica. A incorporação de efeitos sonoros é trabalhada nesse formato para criar uma identidade, visto que as produções são feitas em série. Esse formato possui liberdade para incorporar o entretenimento ou o formato educativo, de acordo com a linha escolhida pelo autor. O podcast tratar-se-ia de uma ferramenta de veiculação de arquivos digitais de áudio contendo falas e músicas, uma espécie de rádio em MP3, na qual o ouvinte pode baixar o conteúdo para ser escutado em seu tocador de áudio digital no local e momento mais conveniente. (PACELLI, 2013, p.41)

Para Freire (2013), o podcast é produzido sob demanda e a liberdade de produção surge na possibilidade de incluir músicas, na forma de compartilhamento e nas características de oralidade, que podem ser semelhantes a uma conversa. Esse formato é um dos que permite divulgação e abordagem livre sobre temas ou artistas, independente do padrão seguido pelas rádios comerciais. “Alguns artistas e bandas independentes acabam ganhando notoriedade após terem suas músicas veiculadas em diferentes podcasts, sem jamais terem sido tocadas em rádios comerciais” (PRIMO, 2005, p. 10). Outra vantagem deste produto é a possibilidade de fazê-lo com poucos recursos, de forma que uma pessoa pode produzi-lo desde que consiga gravar e converter o arquivo para o formato de transmissão adequado. “Um podcast, por outro lado, pode ser produzido por uma única pessoa tendo como recurso apenas um microfone ou gravador digital, um computador conectado na Internet e algum servidor na rede para armazenamento de seus programas e do recurso RSS”. (PRIMO, 2005, p. 8) Apesar de existirem métodos de produção no rádio, são mais focadas no conceito técnico do que na audiência. Por isso, um dos desafios do rádio é conciliar as técnicas especificas com aquilo que o ouvinte dos dias de hoje procura e gosta de ouvir. A maior parte da bibliografia sobre rádio é de natureza técnica, o que, de um lado, representa uma valiosa fonte secundária para a pesquisa científica, pelo seu esforço descritivo e sistematizador mas, de outro, requer uma redobrada atenção na análise, pela tendência dessa bibliografia de reproduzir as técnicas sem maior preocupação crítica. (MEDITSCH, 2007, p. 46)


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De acordo com o autor, há uma deficiência na bibliografia radiofônica, pois são poucas obras e poucas passaram da primeira edição. Antes de os estudos se aprofundarem completamente, a televisão surgiu e as pesquisas passaram a ser voltadas para ela. O tempo também é um fator importante no rádio, é preciso escolher o tempo do produto com cuidado, para diminuir os riscos da atenção do ouvinte ser perdida durante a transmissão. Não há um tempo exato que um podcast deva ter, mas em caso de o produto ser planejado para ser ouvido inteiro de uma vez, o tempo utilizado não deve ser longo demais. “Não existem dados conclusivos a respeito do tempo que se conserva a atenção do ouvinte, embora os vários estudos existentes sugiram que este tempos seja cada vez menor, talvez pela intensificação dos apelos sensoriais e do ritmo da vida urbana[...]” (MEDITSCH, 2007, p. 183).

2.2 JORNALISMO CULTURAL O jornalismo cultural começou a ganhar notoriedade no Brasil no século XIX (PIZA, 2003). Ele surgiu pela mescla dos métodos e formatos tradicionais e das necessidades e transformações do mundo, que passaram a incluir as artes e no caso das rádios, a música. Esse formato permite dar espaço para produções que não aparecem nos cadernos tradicionais e surge como alternativa para dar visibilidade àqueles que movimentam a cultura da cidade. Entretanto, esse espaço não é fornecido pensando somente no artista, mas também no público que quer ter acesso a esse tipo de conteúdo, “não se trata de “dar uma força para o artista”, mas, sim, de dar uma força para o leitor, que tem o direito de conhecer as coisas magníficas que estejam acontecendo por aí”. (LINDOSO, 2007, p. 65). O gênero cultural no jornalismo ainda passa por um processo de ganho de conquista de espaço e demonstração de seriedade. Ele pode ser aliado ao entretenimento e construir uma linguagem descontraída. Mesmo que isso aconteça, segue métodos de apuração e critérios de noticiabilidade. No entanto, uma tendência do jornalismo brasileiro recente, é a de querer aparentar o jornalismo cultural aos outros – político, econômico,


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policial, etc. – em método, o que, numa frase, significa não reconhecer o maior peso relativo da interpretação e da opinião em suas páginas. Não há contradições aí. Essa tendência faz parte da mesma tentativa de manter secundarias as seções culturais. (PIZA, 2008, p.8)

Mesmo com esse tratamento dado ao jornalismo cultural, ele está presente no fazer jornalístico e deixa sua marca em todas as editorias, visto que os assuntos, fatos e relações humanas correspondem à cultura de um local, “poderíamos afirmar que o jornalismo é sempre cultural na medida em que exprime o gesto humano dentro de contextos ideológicos, políticos, enfim, dentro da tessitura social e de relações”. (FRIAS, 2000, p. 16). Esse gênero encaixa-se nos jornais e é uma forma de especialização, que como as outras, traz uma linguagem especializada e direcionada para o público-alvo e este se acostuma e acompanha o que lhe agrada.

2.3 ARTE A arte é uma expressão repleta de subjetividade e pode ser construída por um conjunto de elementos, como ações, objetos e significados. Ainda não há uma definição clara a respeito do tema, mas é possível falar sobre ele e associá-lo a imagens, canções, manifestações e pessoas. De acordo com Coli (1995), aqueles que possuem contato com alguma cultura podem exemplificar situações que associem à arte. Para entender a realidade e o contexto atual é preciso fazer uma leitura do passado, a arte e a música feitas nos dias de hoje possuem influências de trabalhos anteriores. “É parte do que define a arte contemporânea que a arte do passado esteja disponível para qualquer uso que os artistas queiram lhe dar”. (DANTO, 2006, p. 7) Figueiredo (2010) relaciona música autoral a um conceito técnico e de método de criação e descreve a composição como o uso de uma melodia somada a um arranjo para a criação de outro arranjo, o que resulta em uma nova produção. A autoria, além de se referir a quem cria e produz também está relacionada com questões jurídicas, de registro e direitos autorais. Esses direitos de proteção influenciam na maneira como a música é comercializada na internet. “A explosão da Internet vem ocasionando o aparecimento de uma nova cultura, conceitos de comercialização inéditos, problemas de controle da difusão da informação e grandes desafios às regras jurídicas que ainda protegem os direitos autorais”. (SANTINI, 2006, p.5)


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A música de Mato Grosso do Sul, quando ainda era sul de Mato Grosso 3, surgiu com uma mistura de influências, tanto de outros estados quanto do país vizinho, Paraguai. “Assim como Corrientes se orgulha de ter criado o chamamé, Campo Grande também pode gabar-se de ter seu próprio estilo de interpretar a polca, a guarânia e, sim, o próprio chamamé correntino”. (TEIXEIRA, 2014, p. 49) A origem da música no estado desenvolve-se a partir dos ritmos citados até chegar à variedade que há hoje, passando pelo rock, reggae, rap, gospel e MPB. A influência do rock no Brasil teve seu auge nos anos 1980 e as raízes criadas chegaram a Mato Grosso do Sul e estão presentes até os dias de hoje. Surgem todos os anos bandas que querem produzir música autoral na cidade e escolhem esse gênero ou semelhantes para desenvolver trabalhos. De todos os segmentos musicais que surgiram e se destacaram ao longo dos anos 1980 o do rock foi, sem dúvida, o mais importante. O modo como a cena ficou conhecida – BRock ou Rock dos Anos 80 – denota sua especificidade em relação aos momentos anteriores em que o segmento recebeu destaque dentro da produção nacional. (VICENTE, 2014, p.117)

A música underground é caracterizada por ser uma música não comercial, fora do que é considerado principal em uma localidade. As bandas costumam gravar, produzir e divulgar o trabalho de forma independente. “Um produto underground é quase sempre definido como “obra autêntica”, “longe do esquemão”, “produto não-comercial”. Sua circulação está associada a pequenos fanzines, divulgação alternativa, gravadoras independentes etc”. (FILHO; JÚNIOR, 2006, p. 9) Em Campo Grande, além de produzir as próprias músicas e o próprio trabalho, o cenário underground é marcado pelas bandas produzindo seus próprios shows, seja individualmente ou por meio dos coletivos, que surgem por meio de parcerias e organizam eventos para que as bandas se apresentem.

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A criação do estado de Mato Grosso do Sul ocorreu em 1977.


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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final do trabalho, posso concluir que a pesquisa bibliográfica me auxiliou no processo de entendimento das características clássicas do rádio, que se mantiveram com sua chegada na internet. Ao longo do processo, pude aprofundar nas técnicas de entrevista, edição, montagem de programas e a qualidade mínima necessária dos áudios para a compreensão do conteúdo. As leituras também ajudaram a entender as características do podcast, origem e quais recursos são utilizados para esse tipo de programa. Para isso ouvi podcasts jornalísticos como o “Mamilos” e “Presidente da semana” e não jornalísticos, como “Histórias de ninar para garotas rebeldes”, “NerdCast” e “Um milk-shake chamado Wanda”. Outro ponto importante foi a compreensão do que caracteriza música autoral. Ao ouvirmos o termo sabemos do que se trata, mas foi preciso encontrar uma definição técnica e pude perceber que não há um consenso sobre o assunto, o que existem são explicações a respeito de composição e criação musical e de questões jurídicas que envolvem autoria. O jornalismo cultural também precisou ser compreendido, tanto para identificar o papel social, quanto para entender quais as especificidades utilizadas nesse gênero jornalístico e que tipo de pautas ele aborda. A pesquisa das bandas autorais de Campo Grande foi limitada pelo tempo e por poucas ferramentas de pesquisa disponíveis neste trabalho. Entretanto, era necessário compreender como é formado o cenário musical de Campo Grande, entender o que se produz e há quanto tempo. Essa análise foi possível dentro das limitações citadas acima. As bandas foram entrevistadas para que o material necessário para a produção dos episódios do podcast surgisse e fosse possível concretizar as atividades propostas no pré-projeto e na elaboração do trabalho. As edições foram feitas nos programas SoundForge, Sony Vegas e Adobe Audition. No Sound Forge as sonoras foram normalizadas, limpas e organizadas. No Adobe Audition os ruídos externos foram reduzidos, o que deu aos arquivos um aspecto mais limpo e fácil de compreender. No Sony Vegas os programas foram montados, com a inclusão de trilhas, efeitos e encaixes musicais.


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Os roteiros foram escritos para seguir os itens propostos, de forma a apresentar a identidade das bandas e dos músicos e contextualizá-los junto ao cenário local. As edições também foram feitas respeitando esses princípios. Dessa forma, o objetivo de registrar o momento atual em relação a cultura musical do estado, que foge à questão do sertanejo, foi alcançado. Foi possível mostrar que há diversidade cultural na cidade e que ela inclui diversos gêneros e que a luta é árdua para manter-se viva diante dos obstáculos encontrados, como público, locais de apresentação, dificuldades financeiras, entre outras questões.


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4. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Graziella. Fim de semana é de música autoral, clássicos internacionais e Elvis Presley. Campo Grande News. 28/09/2018. Disponível em: <https://www.campograndenews.com.br/lado-b/diversao/fim-de-semana-e-de-musicaautoral-classicos-internacionais-e-elvis-presley> Acesso em: 01/10/2018. ARAÚJO, Aline. Batalha de bandas quer incentivar a produção de música autoral em Campo Grande. Campo Grande News. 17/08/2014. Disponível em: <https://www.campograndenews.com.br/lado-b/artes-23-08-2011-08/batalha-debandas-quer-incentivar-a-producao-de-musica-autoral-em-campao> Acesso em: 01/10/2018. BARBEIRO, Heródoto; LIMA, Paulo Rodolfo de. Manual de Radiojornalismo. Rio de Janeiro: Campus, 2003. BARBOSA FILHO, André. Gêneros radiofônicos: os formatos e os programas em áudio. São Paulo: Paulinas, 2003. BARROS, Gílian C; MENTA, Eziquiel. Podcast: produções de áudio para educação de forma crítica, criativa e cidadã. Revista de Economía Política de las Tecnologías de la Información y Comunicación, v. 9, 2007. Disponível em: <https://seer.ufs.br/index.php/eptic/article/view/217/186> Acesso em: 02/09/2018. CAMPO GRANDE. DECRETO Nº 2.909, DE 28 DE JULHO DE 1992. CÓDIGO DE POLÍTICA ADMINISTRATIVA DO MUNICÍPIO. Campo Grande: 1992. <Disponível em: http://www.campogrande.ms.gov.br/semadur/downloads/lei-n-2-909-de-28-de-julho-de1992 > Acesso em: 26/11/2018. CAMPO GRANDE. LEI COMPLEMENTAR Nº 267, DE 14 DE JULHO DE 2015. DIÁRIO OFICIAL DE CAMPO GRANDE. Campo Grande: 2015. <Disponível em: http://www.campogrande.ms.gov.br/semadur/wp-content/uploads/sites/24/2018/05/LC267-2015-Altera-Dispositivos-LC-008-1996.pdf> Acesso em: 26/11/2018. CAMPO GRANDE. LEI COMPLEMENTAR Nº 2.909, DE 20 DE MARÇO DE 1996. DIÁRIO OFICIAL DE CAMPO GRANDE. Campo Grande: 1996. <Disponível em: http://www.campogrande.ms.gov.br/semadur/wp-content/uploads/sites/24/2016/12/LEICOMPLEMENTAR-N.-2909-1992.pdf> Acesso em 26/11/2018 CHANTLER, Paul; HARRIS, Sim. Radiojornalismo. São Paulo: Paulinas, 2003. COLI, Jorge. O que é arte. São Paulo: Brasiliense, 2007. DANTO, Arthur. Após o fim da arte: A arte contemporânea e os limites da história. São Paulo: Odysseys / Edusp, 2006.


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DE ASSIS, Francisco. Jornalismo cultural brasileiro: aspectos e tendências. Revista Estudos da Comunicação, Curitiba, v. 9, 2008. Disponível em: <http://www2.pucpr.br/reol/pb/index.php/comunicacao?dd1=2633&dd99=view&dd98=pb > Acesso em: 17/04/2018. DEL BIANCO, Nélia R. (Org.). O rádio brasileiro na era da convergência. In: INTERCOM, v. 18. São Paulo: Intercom, 2012, p. 89-109. FIGUEIREDO, Carlos Alberto. O conceito de autoria no Ocidente e seus reflexos na música. Revista Brasileira de Música, Programa de Pós-graduação, Escola de música da UFRJ, v.23/01, 2010. Disponível em: <http://rbm.musica.ufrj.br/edicoes/rbm231/rbm23-1-01.pdf> Acesso em: 17/04/2018.

FREIRE, Eugênio Pacelli Aguiar. Conceito educativo de podcast: um olhar para além do foco técnico. Revista EFT: Educação, Formação e Tecnologias. Rio Grande do Sul, v.11, 2013. FRIAS FILHO, Otavio. “Foram-se os festivais”. Bravo!, n. 37, agosto de 2000, p. 16. Disponível em: <http://bocc.ubi.pt/pag/cunha-ferreira-magalhaes-dilemas-dojornalismo.pdf.> Acesso em: 07/09/2018 LARAIA, Roque de Barros. Cultura – um conceito antropológico. São Paulo: Zahar, 1999. LINDOSO, Felipe (Org.). Rumos do jornalismo cultural. São Paulo: Summus editoral, 2007. MEDIA, Kantar Ibope. Book de rádio. Disponível em: <https://www.kantaribopemedia.com/wpcontent/uploads/2017/09/KIM17_bookradio_final-2.pdf> Acesso em: 21/06/2018. MEDITSCH, Eduardo. O rádio na era da informação. Florianópolis: Insular, 2007.

OSTAPENKO, Ana. Dourados tem rock sim! Conheça 8 bandas que movimentam a cena local. O Progresso. 13/07/2018. Disponível em: <http://www.progresso.com.br/variedades/dourados-tem-rock-sim-conheca-8-bandasque-movimentam-a-cena-local/363917> Acesso em: 01/10/2018. PIMENTA, Thaís. Matanza encerra carreira aqui, em festival que terá Raimundos, Scalene e Hangar. Campo Grande News. 08/06/2018. Disponível em: <https://www.campograndenews.com.br/lado-b/diversao/matanza-encerra-carreira-aquiem-festival-que-tera-raimundos-scalene-e-hangar> Acesso em: 01/10/2018. PIZA, Daniel. Jornalismo Cultural. São Paulo: Contexto, 2008.


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PRADO, Emílio. Estrutura da informação radiofônica. São Paulo: Summus editorial, 1985. PRIMO, Alex. Para além da emissão sonora: as interações no podcasting. Porto Alegre: InTexto n.13, 2005, p. 10. TEIXEIRA, Rodrigo. Os Pioneiros: A origem da música sertaneja de Mato Grosso do Sul. Campo Grande: Editora UFMS, 2014. VELHO, Gilberto. Arte e sociedade: ensaios de sociologia da arte. Rio de janeiro: Zahar editores, 1977. VICENTE, Eduardo. Da vitrola ao iPod: uma história da indústria fonográfica no Brasil.São Paulo: Alameda, 2014.

WILLIAMS, Raymond. Palavras-chave: um vocabulário de cultura e sociedade. São Paulo: Boitempo, 2007.


22

5. ANEXOS 1. ANEXO DA LEI MUNICIPAL COMPLEMENTAR N.º 08, DE 20/03/96 QUE ALTERA O CÓDIGO DE POLÍCIA ADMINISTRATIVA DE 1992 LIMITES MÁXIMOS PERMISSÍVEIS DE RUÍDOS

ZONAS DE USO

DIURNO

VESPERTINO

NOTURNO

TODAS AS ZR

55 dB (A)

50 dB (A)

45 dB (A)

TODAS AS ZC

60 dB (A)

55 dB (A)

55 dB (A)

TODAS AS ZI

70 dB (A)

60 dB (A)

60 dB (A)

TODAS AS ZN,, ZT 65 dB (A)

60 dB (A)

55 dB (A)

E CM

ZR - Zona Residencial (ZR 1, 2, 3, 4) ZC - Zona Comercial e de Serviços (ZC 1, 2, 3) ZI - Zona Industrial (ZI l, 2) 40 ZN - Zona Institucional (ZN 1, 2) ZT - Zona de Transição (ZT 1, 2, 3) CM - Corredor de Uso Múltiplo (CM 1, 2)


23

6. APÊNDICES

6.1 ROTEIROS DOS PODCASTS

6.1.1 EPISÓDIO NÚMERO 1: BURNING UNIVERSE INTRODUÇÃO “COOL ROCK TAKE THE LEAD – KEVIN MACLEAD” (INSTRUMENTAL)

DESCE SOM

CABEÇA: EM 2011/ TRÊS ENGENHEIROS E UM ADMINISTRADOR SE JUNTAM PARA CRIAR UMA BANDA DE HARDCORE EM MATO GROSSO DO SUL/ UM ESTADO ONDE O SERTANEJO É PREDOMINANTE// ACOMPANHE AGORA O PRIMEIRO EPISÓDIO DA SÉRIE MARGINÁLIA/ O CENÁRIO DA MÚSICA AUTORAL EM CAMPO GRANDE// EU SOU TALITA OLIVEIRA E HOJE VOU CONVERSAR COM A BANDA BURNING UNIVERSE//

OFF 1: OS INTEGRANTES DA BANDA SE APRESENTAM//

FIM DA TRILHA//

INÍCIO DA ENTREVISTA:

PERGUNTA 1: COMO É QUE VOCÊS ESCOLHERAM O NOME DA BANDA E COMO É QUE FOI PRA DECIDIR O QUE VOCÊS IAM TOCAR?

PERGUNTA 2: E ESSE GÊNERO QUE VOCÊS TOCAM TEM UMA TÉCNICA DIFERENTE? COMO É QUE VOCÊ FAZ PRA APERFEIÇOAR?


24

TRILHA: O ESQUIZOFRÊNICO CURADO – BURNING UNIVERSE (TRECHO INSTRUMENTAL)

OFF 2: COM INFLUÊNCIAS DE ESTILOS COMO HEAVYMETAL/ HARDCORE/ PUNKROCK E NEW METAL/ A BANDA MISTURA REFERÊNCIAS E CRIA UMA IDENTIDADE PRÓPRIA/ MAS O ESTILO PREDOMINANTE É O HARDCORE// FIM DA TRILHA

PERGUNTA

3:

QUAIS

TRABALHOS

VOCÊS

DESENVOLVERAM

E

TÃO

DESENVOLVENDO? TRILHA: O ESPECTADOR DO TEMPO – BURNING UNIVERSE (TRECHO INSTRUMENTAL)

OFF: MESMO TENDO SE APRESENTADO POUCAS VEZES ESSE ANO/ A BANDA AINDA ENSAIA COM FREQUÊNCIA E CONTINUA PRODUZINDO//

FIM DA TRILHA//

PERGUNTA 4: E SOBRE O CONTEXTO GERAL DA CIDADE, COMO É QUE É PRA DESENVOLVER ESSE TRABALHO AQUI?

PERGUNTA 5: EM QUE LUGARES VOCÊS COSTUMAVAM TOCAR E AGORA QUE ALTERNATIVA TEM? TRILHA FINAL – ÚLTIMA FALA DOS ENTREVISTADOS FIM DA TRILHA//

ENCERRAMENTO: VOCÊ OUVIU O BATE-PAPO DA SÉRIE MARGINÁLIA/ O CENÁRIO DA MÚSICA AUTORAL EM CAMPO GRANDE/ COM A BANDA BURNING UNIVERSE//

ESTE

PODCAST

FOI

PRODUZIDO

COMO

TRABALHO

DE


25

CONCLUSÃO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL/ COM PRODUÇÃO DE TALITA OLIVEIRA E ORIENTAÇÃO DA PROFESSORA ROSE MARA PINHEIRO// NO PRÓXIMO EPISÓDIO VAMOS CONVERSAR COM A BANDA MACUMBAPRAGRINGO//

6.1.2.EPISÓDIO NÚMERO 2: MACUMBAPRAGRINGO INTRODUÇÃO “COOL ROCK TAKE THE LEAD – KEVIN MACLEAD” (INSTRUMENTAL)

DESCE SOM

CABEÇA: JEAN FLÁVIO E RAFAEL OMAR SE CONHECERAM EM CORUMBÁ/ E EM 2015

FORMARAM

UMA

DUPLA

PARA

TOCAR

POST-ROCK

BRASILEIRO

INSRUMENTAL// ACOMPANHE O SEGUNDO EPISÓDIO DA SÉRIE MARGINÁLIA/ O CENÁRIO DA MÚSICA AUTORAL EM CAMPO GRANDE// EU SOU TALITA OLIVEIRA E HOJE VOU CONVERSAR COM O JEAN/ DA BANDA MACUMBAPRAGRINGO//

OFF 1: JEAN SE APRESENTA.

FIM DA TRILHA//

INÍCIO DA ENTREVISTA:

PERGUNTA 1: E COMO SURGIU ESSA PROPOSTA DE VOCÊS E COMO É QUE VOCÊS COMEÇARAM COM ESSA BANDA E COM MÚSICA INSTRUMENTAL ESPECIFICAMENTE? TRILHA: PEGA-POLÍCIA – MACUMBAPRAGRINGO (TRECHO INSTRUMENTAL)


26

OFF

2:

AS

MÚSICAS

INSTRUMENTAL//

DA

DUPLA

CONTAM

MACUMBAPRAGRINGO

É

HISTÓRIAS

DERIVADO

DA

ATRAVÉS

DO

EXPRESSÃO

MACUMBINHA PRA GRINGO E SIMBOLIZA A MISTURA DE SONS BRASILEIROS COM REFERÊNCIAS INTERNACIONAIS//

FIM DA TRILHA//

PERGUNTA 2: E COMO É QUE É O PROCESSO PRA COMPOR UMA MÚSICA QUE É APENAS O INSTRUMENTAL? É DIFERENTE? COMO VOCÊS FAZEM PRA SE INSPIRAR? TRECHO DA MÚSICA CINÉTICA CARIBENHA – MACUMBAPRAGRINGO. TRECHO DA MÚSICA EPOPÉIA – MACUMBAPRAGRINGO. TRECHO DA MÚSICA PANAPANÁ – MACUMBAPRAGRINGO. TRECHO DA MÚSICA H.H.

PERGUNTA 3: VOCÊS PRETENDEM MANTER ASSIM SÓ NO INSTRUMENTAL? PERGUNTA 4: QUAIS SÃO OS TRABALHOS DE VOCÊS NO GERAL E OS PROJETOS QUE VOCÊS TÊM? PERGUNTA 5: E SOBRE CAMPO GRANDE EM GERAL? COMO É O CONTEXTO AQUI, DE PÚBLICO, DE LOCAL PRA SE APRESENTAR? TRILHA: O GOLPE DO ESCARAVELHO – MACUMBAPRAGRINGO (TRECHO INSTRUMENTAL)

FIM DA TRILHA//

OFF 3: OS COLETIVOS COMO O SOL AUTORAL SÃO FORMADOS PELA UNIÃO DE BANDAS PARA ORGANIZAR EVENTOS QUE VALORIZAM A MÚSICA AUTORAL DA CIDADE//

FIM DA TRILHA//


27

TRILHA FINAL: ÚLTIMA FALA DO ENTREVISTADO//

ENCERRAMENTO: VOCÊ OUVIU O BATE-PAPO DA SÉRIE MARGINÁLIA/ O CENÁRIO DA MÚSICA AUTORAL EM CAMPO GRANDE/ COM A BANDA MACUMBAPRAGRINGO// ESTE PODCAST FOI PRODUZIDO COMO TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL/ COM PRODUÇÃO DE TALITA OLIVEIRA E ORIENTAÇÃO DA PROFESSORA ROSE MARA PINHEIRO// NO PRÓXIMO EPISÓDIO VAMOS CONVERSAR COM A BANDA PEIXES ENTRÓPICOS//

6.1.3.EPISÓDIO NÚMERO 3: PEIXES ENTRÓPICOS INTRODUÇÃO “COOL ROCK TAKE THE LEAD – KEVIN MACLEAD” (INSTRUMENTAL)

DESCE SOM

CABEÇA: EM 2015/ HIGOR/ GUILHERME/ JOÃO E LEANDRO SE JUNTAM PARA PRODUZIR AS PRÓPRIAS MÚSICAS EM UM ESTILO PRÓPRIO/ QUE ELES CHAMAM DE POP SONHADOR DELICINHA// ACOMPANHE AGORA O TERCEIRO EPISÓDIO DA SÉRIE MARGINÁLIA/ O CENÁRIO DA MÚSICA AUTORAL EM CAMPO GRANDE// EU SOU TALITA OLIVEIRA E HOJE VOU CONVERSAR COM A BANDA PEIXES ENTRÓPICOS//

OFF 1: OS MEMBROS DA BANDA SE APRESENTAM. FIM DA TRILHA//

PERGUNTA 1: COMO É QUE VOCÊS FORMARAM A BANDA E COMO É QUE VOCÊS DECIDIRAM O QUE EXATAMENTE VOCÊS IAM TOCAR?


28

PERGUNTA 2: COMO É QUE VOCÊS SE DEFINEM HOJE E COMO É QUE VOCÊS MANTEM ISSO? O QUE VOCÊS VÃO COMPOR, O QUE VOCÊS VÃO TOCAR. PERGUNTA 3: E COMO É QUE FOI A ESCOLHA DO NOME? PERGUNTA 4: E O QUE QUE VOCÊS JÁ TRABALHARAM E VOCÊS PENSAM EM TRABALHAR NO SENTIDO DE GRAVAÇÃO, DE LETRA? PERGUNTA 5: E O QUE QUE VOCÊS PENSAM DO CONTEXTO GERAL DA CIDADE? PÚBLICO, LOCAL PRA TOCAR, INCENTIVO TALVEZ.

OFF 2: A BANDA SE JUNTA A OUTRAS BANDAS PARA MOVIMENTAR A MÚSICA AUTORAL NA CIDADE/ POR MEIO DO COLETIVO SOL AUTORAL/ QUE ORGANIZA EVENTOS PARA QUE AS BANDAS POSSAM SE APRESENTAR E IR ALÉM DOS COVERS NA CIDADE// TRILHA FINAL – ÚLTIMA FALA DOS ENTREVISTADOS//

OFF 3: VOCÊ OUVIU O BATE-PAPO DA SÉRIE MARGINÁLIA/ O CENÁRIO DA MÚSICA AUTORAL EM CAMPO GRANDE/COM A BANDA PENXES ENTRÓPICOS// ESTE PODCAST FOI PRODUZIDO COMO TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL/ COM PRODUÇÃO DE TALITA OLIVEIRA E ORIENTAÇÃO DA PROFESSORA ROSE MARA PINHEIRO// NO PRÓXIMO EPISÓDIO VAMOS CONVERSAR COM A BANDA MAD MEN CONVOY//

6.1.4 EPISÓDIO NÚMERO 4: MAD MEN CONVOY INTRODUÇÃO “COOL ROCK TAKE THE LEAD – KEVIN MACLEAD” (INSTRUMENTAL)

DESCE SOM


29

CABEÇA: COMEÇANDO COM COVERS E PASSANDO PARA MÚSICA AUTORAL/ EM 2014 SURGE UMA BANDA INSPIRADA EM VÁRIAS VERTENTES DO ROCK INTERNACIONAL// ACOMPANHE AGORA O QUARTO EPISÓDIO DA SÉRIE MARGINÁLIA/ O CENÁRIO DA MÚSICA AUTORAL EM CAMPO GRANDE// EU SOU TALITA OLIVEIRA E HOJE VOU CONVERSAR COM A BANDA MAD MEN CONVOY//

OFF 1: OS MEMBROS DA BANDA SE APRESENTAM. FIM DA TRILHA//

PERGUNTA 1: E COMO É QUE VOCÊS JUNTARAM DE VEZ PRA FAZER A MAD MEN E COMO É QUE FOI PRA DEFINIR QUAL ESTILO VOCÊS SEGUIRIAM? TRILHA: UM OUTRO DIA – MAD MEN CONVOY (TRECHO INSTRUMENTAL) OFF 2: DEPOIS DA CRIAÇÃO DA BANDA/ OS CINCO INTEGRANTES PASSARAM A ENSAIAR COM FREQUÊNCIA E SÓ PROCURARAM SE APRESENTAR QUANDO ENTRARAM EM HARMONIA//

FIM DA TRILHA// PERGUNTA 2: EU VI QUE TEM UM ESTILO DIFERENTE NO RITMO QUE VOCÊS ESCOLHERAM. PRA MIM PARECE SER MAIS MARCADO, UM POUCO MAIS ACELERADO. O QUE VOCÊ FAZ PRA TREINAR OU COMO É QUE VOCÊ COMEÇOU NESSE ESPECÍFICO? TRILHA: SEM SOCORRO – MAD MEN CONVOY (TRECHO INSTRUMENTAL)

OFF 3: O GRUPO PASSOU DA MÚSICA POR LAZER PARA O COMPROMISSO COM A BANDA// COMO RESULTADO/ FORAM CAMPEÕES DA QUARTA EDIÇÃO DA BATALHA DE BANDAS/ REALIZADA EM 2017// FIM DA TRILHA//

PERGUNTA 3: QUAIS TRABALHOS VOCÊS JÁ TEM DESENVOLVIDOS?


30

PERGUNTA 4: E SOBRE O CONTEXTO GERAL, COMO É QUE É FAZER MÚSICA AUTORAL AQUI? EM QUESTÃO DE PÚBLICO, DE LOCAL PRA TOCAR, DE RECONHECIMENTO, DE CONTEXTO GERAL? TRILHA FINAL – ÚLTIMA FALA DOS ENTREVISTADOS

FIM DA TRILHA//

ENCERRAMENTO: VOCÊ OUVIU O BATE-PAPO DA SÉRIE MARGINÁLIA/ O CENÁRIO DA MÚSICA AUTORAL EM CAMPO GRANDE/ COM A BANDA MAD MEN CONVOY// ESTE PODCAST FOI PRODUZIDO COMO TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO

SUL/

COM

PRODUÇÃO

DE

TALITA

OLIVEIRA

E

ORIENTAÇÃO

DA

PROFESSORA ROSE MARA PINHEIRO// NO PRÓXIMO EPISÓDIO VAMOS CONVERSAR COM A BANDA SEVEN FOUR//

6.1.5 EPISÓDIO NÚMERO 5: SEVEN FOUR INTRODUÇÃO “COOL ROCK TAKE THE LEAD – KEVIN MACLEAD” (INSTRUMENTAL)

DESCE SOM

CABEÇA: DAS MÚSICAS COVERS PARA O HARD POP/ MAIS UMA BANDA SURGE EM 2015 PARA COMPÔR SUAS PRÓPRIAS MÚSICAS// ACOMPANHE AGORA O QUINTO EPISÓDIO DA SÉRIE MARGINÁLIA/ O CENÁRIO DA MÚSICA AUTORAL EM CAMPO GRANDE// EU SOU TALITA OLIVEIRA E HOJE VOU CONVERSAR COM A BANDA SEVEN FOUR//

OFF 1: A BANDA SE APRESENTA.

FIM DA TRILHA//


31

PERGUNTA 1: VOCÊS TRATAM DE QUE TEMÁTICA PRA COMPOR? O QUE QUE VOCÊS GOSTAM DE USAR? TRECHO DA MÚSICA MONSTER – SEVEN FOUR. TRECHO DA MÚSICA PRISONER – SEVEN FOUR.

OFF 2: A BANDA TEM COMPOSIÇÕES EM INGLÊS/ E BUSCA AJUDAR AS PESSOAS ATRAVÉS DA MÚSICA E DE SUAS LETRAS//

PERGUNTA 3: QUAL É A PRINCIPAL DIFERENÇA DE FAZER AS COISAS POR CONTA PRÓPRIA E COM UM PRODUTOR?

PERGUNTA 4: QUE TRABALHO VOCÊS JÁ FIZERAM? OU VOCÊS AINDA VÃO GRAVAR? COMO É QUE TÁ ESSE PROCESSO?

PERGUNTA 5: E COMO É FAZER MÚSICA AUTORAL EM CAMPO GRANDE NUM SENTIDO GERAL?

PERGUNTA 6: E COMO VOCÊS FAZEM ESSA DIVULGAÇÃO NAS REDES SOCAIS? VOCÊS ESTUDAM BASTANTE FORMAS DE DIVULGAÇÃO?

PERGUNTA 7: EM QUE TIPO DE LUGAR VOCÊS SE APRESENTAM?

PERGUNTA 8: E O QUE VOCÊS ACHAM DO PÚBLICO AQUI E EM OUTROS LUGARES QUE VOCÊS JÁ TOCARAM? TEM MUITA DIFERENÇA?

PERGUNTA 9: E ESSA QUESTÃO DO FECHAMENTO DE ALGUNS LOCAIS, LEI DO SILÊNCIO E TAL, AFETOU DE ALGUMA FORMA?

PERGUNTA 10: PRA FECHAR, QUAL É O OBJETIVO DE VOCÊS? POR QUE VOCÊS FAZEM MÚSICA E POR QUE VOCÊS CONTINUAM COM A BANDA?


32

TRILHA FINAL: ÚLTIMA FALA DA BANDA//

FIM DA TRILHA//

ENCERRAMENTO: VOCÊ OUVIU O BATE-PAPO DA SÉRIE MARGINÁLIA/ O CENÁRIO DA MÚSICA AUTORAL EM CAMPO GRANDE/ COM A BANDA SEVEN FOUR// ESTE PODCAST FOI PRODUZIDO COMO TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL/ COM PRODUÇÃO DE TALITA OLIVEIRA E ORIENTAÇÃO DA PROFESSORA ROSE MARA PINHEIRO// NO PRÓXIMO EPISÓDIO VAMOS CONVERSAR COM A BANDA QUARTO MINGUANTE//

6.1.6 EPISÓDIO NÚMERO 6: QUARTO MINGUANTE INTRODUÇÃO “COOL ROCK TAKE THE LEAD – KEVIN MACLEAD” (INSTRUMENTAL)

DESCE SOM

CABEÇA: APÓS A PAUSA DA BANDA CINTURÃO DE FÓTONS/ SURGE UMA NOVA FORMAÇÃO COM TRÊS DOS QUATRO INTEGRANTES// A NOVA VOCALISTA TROUXE INFLUÊNCIAS DO MPB E DA BOSSA NOVA PARA SOMAR COM O NEO PSICODÉLICO//

ACOMPANHE

AGORA

O

SEXTO

EPISÓDIO

DA

SÉRIE

MARGINÁLIA/ O CENÁRIO DA MÚSICA AUTORAL EM CAMPO GRANDE// EU SOU TALITA OLIVEIRA E HOJE VOU CONVERSAR COM A BANDA QUARTO MINGUANTE//

OFF 1: A BANDA SE APRESENTA//

FIM DA TRILHA//


33

PERGUNTA 1: QUANDO E COMO SURGIU A BANDA? TRILHA: E O VENTO LEVOU – QUARTO MINGUANTE//

OFF 2: A BANDA SURGE COM A PROPOSTA DE FAZER MÚSICA AUTORAL E SE INSERE AOS POUCOS NO CENÁRIO UNDERGROUND DA CIDADE//

FIM DA TRILHA//

PERGUNTA 2: E COMO É QUE VOCÊS DEFINIRAM ESSA NOVA PROPOSTA ALÉM DAS LETRAS QUE ELA TROUXE? COMO É QUE FOI PRA ENCAIXAR TODO MUNDO?

PERGUNTA 3: QUAIS TRABALHOS VOCÊS TÃO DESENVOLVENDO E AINDA PENSAM EM DESENVOLVER?

PERGUNTA 4: E SOBRE O CONTEXTO DA CIDADE? O QUE VOCÊS ACHAM? COMO É PRODUZIR MÚSICA AUTORAL AQUI?

PERGUNTA 5: VOCÊ FALOU QUE TOCA HÁ BASTANTE TEMPO, TÁ NESSE MEIO DA MÚSICA HÁ BASTANTE TEMPO. QUAIS AS PRINCIPAIS DIFERENTES QUE VOCÊ VÊ DE OUTRA ÉPOCA E DE AGORA? DO INÍCIO PRA AGORA.

PERGUNTA 6: CONSIDERANDO TODO ESSE CONTEXTO, POR QUE FAZER MÚSICA AUTORAL EM CAMPO GRANDE? TRILHA FINAL – ÚLTIMA FALA DOS ENTREVISTADOS/

FIM DA TRILHA//


34

ENCERRAMENTO: VOCÊ OUVIU O BATE-PAPO DA SÉRIE MARGINÁLIA/ O CENÁRIO DA MÚSICA AUTORAL EM CAMPO GRANDE/ COM A BANDA QUARTO MINGUANTE//

ESTE

PODCAST

FOI

PRODUZIDO

COMO

TRABALHO

DE

CONCLUSÃO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL/ COM PRODUÇÃO DE TALITA OLIVEIRA E ORIENTAÇÃO DA PROFESSORA ROSE MARA PINHEIRO//


35

6.2 PESQUISA AUTORAL SOBRE AS BANDAS DE MÚSICA AUTORAL DE MATO GROSSO DO SUL

Banda

Cidade

de Ano de criação

Gênero

origem A insana corte

Campo Grande

2012

Insano

Arisen

Corumbá

2006

Trash Metal

Arizona nunca mais Campo Grande

2015

Rock

Astrounauta Elvis

Campo Grande

2004

Pop garage

Atitude 67

Campo Grande

2004

Pagode/samba/reggae

Avant

Campo Grande

2014

Pop rock

A velha carne

Corumbá

Bêbados

Campo Grande

habilidosos

Rock Retorno em 2015 Rock com

novo

vocalista Bella XU

Campo Grande

2011

Rock/pop

Billie Negra

Campo Grande

2017

Punk rock

Boca de onça

Dourados

2014

Rock/blues

BRid

Dourados

Não encontrado

Alternativo

Burning Universe

Campo Grande

2011

Hardcore

Carro Velho

Dourados

Não encontrado

Rockabillity

Chá Noise

Campo Grande

2012

Pop/reggae/hip hop

Reggae Campo Grande

2010

Reggae/rock

Campo Grande

2013

Neo psicodélico

Copo de ideias

Campo Grande

2008

Rock

Cueio Limão

Dourados

2004

Rock

Os Dourados

2001

Pop rock

Chicotal Rock Codinome Winchester

Dagata Aluízios

&


36

Decervicator

Campo Grande

2015

Neutro

Diabo Rural

Campo Grande

2017

Blues

Dreew

Campo Grande

2015

Rock

Embrance the Devil

Campo Grande

2014

Metal

Estação XV

Campo Grande

20

Gospel

2016

Rockabilly, Surf music,

Gessy & The Rhivo Campo Grande Trio

blues, country

Hajj

Dourados

2011

Hard rock

Gobstopper

Campo Grande

2007

Chororrock

Intervenção

Campo Grande

2015

Punk rock

Jennifer Magnética

Campo Grande

2007

Rock

JS Orchestra

Campo Grande

2011

Pop/retrô/flashback

La-firma

Campo Grande

2015

Rap

Macumbapragringo

Campo Grande

2015

Post rock instrumental

Mad Men Convoy

Campo Grande

2014

Metal alternativo/heavy metal

Midwest

Campo Grande

2014

Rock alternativo

Mr Mustache

Campo Grande

2007

Punk rock

Os Alquimistas

Campo Grande

2013

Psicodelia/punk

Opuesto

Dourados

2005

Metal/hardcore/rap

O Santo Chico

Campo Grande

2012

Não encontrado

Overdaines

Dourados

2016

Sem rótulos

Pata de Cachorro

Campo Grande

2017

Horror punk

Peixes Entrópicos

Campo Grande

2014

Pop

sonhador

delicinha Quarto Minguante

Campo Grande

2018

Neo psicodélico, rock

Seven Four

Campo Grande

2015

Hard pop

Sol do meio dia

Campo Grande

2013

Rock

The Finger’s

Campo Grande

Não encontrado

Basic rock


37

Toca fitas

Campo Grande

2009

Punk

Tonelada

Dourados

2003

Rock

Tonho sem medo

Bandeirantes

NĂŁo encontrado

Rock

Videosonic

Campo Grande

2016

Rock instrumental

Xupakabras

Dourados

2007

Rock


38

6.3 ENTREVISTAS

6.3.1 BURNING UNIVERSE

Danilo Leal: Bom, meu nome é Danilo. Eu sou guitarrista e vocalista da Burning Universe. Lincoln Keiser: Meu nome é Lincoln, eu sou baterista. José Roberto Cabrera: Meu nome é José Roberto e a gente passa boa parte do nosso tempo de folga investindo nisso daí, que é a música que a gente gosta. Danilo: É bom também falar do baixista, do Thomaz. Só que ele trabalha em Aquidauana, então ele mora lá. Por isso ele não está aqui hoje. Talita Oliveira: Como é que vocês escolheram o nome da banda e como é que foi pra decidir o que vocês iam tocar? Danilo: Vamo falar do gênero primeiro. A gente decidiu tocar o que a gente gostava de ouvir e acho que a maioria das bandas é isso. Nosso intuito nunca foi e nem nunca será ganhar dinheiro com isso, então a gente se preocupa em fazer o som que a gente quer, o som que a gente gosta tendo como referência as bandas que a gente ouve. Eu acho que é mais ou menos essa a ideia do negócio. José Roberto: É mais uma realização pessoa nossa né, um negócio que a gente necessita fazer. Hoje em dia já é uma necessidade. Lincoln: Eu acredito que todo mundo tem um trabalho fixo, eu o Danilo e o Thomaz somos engenheiros, o Betinho é administrador. E eu creio assim que a banda é uma forma da gente expressar a nossa revolta com várias questões, é uma forma de expressão que a gente consegue fazer de uma maneira legal, tocando. Danilo: Agora vamos pra questão do nome, o nome ele é uma metáfora pra raça humana, por isso que é o universo em chamas, como se cada ser humano fosse um universo e cada ser humano precisa de um conflito na sua vida pra que ele se sinta vivo. É mais ou menos essa a ideia do nome assim. Talita: E esse gênero que vocês tocam tem uma técnica diferente? Como é que você faz pra aperfeiçoar?


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Danilo: Eu acho até que deve ter. Eu acho até que deve ter uma técnica, porque eu berro muito né, tem vocal melódico, mas também tem muito berro também. Eu sei que o pessoal treina berro e vê vídeo, mas eu sinceramente aprendi ensaiando né, conforme a gente foi ensaiando foi melhorando. Lincoln: Foi ficando legal e você foi fazendo. Danilo: Então acho que isso é um ponto legal também porque o som acaba sendo mais verdadeiro. Lincoln: Sincero. Danilo: Isso, exatamente essa é a palavra. Porque a gente faz, toquei ficou legal e aí a gente acaba tocando isso aí mesmo. José Roberto: Apesar de a gente não ter muito conhecimento musical teórico, a gente tem muito sentimento do que fica legal ou não. A gente tem uma noção de música, claro que não tem a teoria né, mas é uma noção boa então a gente consegue traduzir isso aí, o que a gente sente numa tradução boa da música, que é pra cada um né, a música. Talita: Quais trabalhos vocês desenvolveram e tão desenvolvendo? Danilo: A gente lançou um epzinho, tudo que a gente lançou e produziu até hoje foi totalmente independente, sem ajuda de nada, nem de gravadora, nem de governo, nem de nada. Tudo saiu do nosso bolso. Em 2013 a gente lançou um epzinho com três músicas, que chama O espectador do tempo. Em 2015 a gente lançou o nosso primeiro CD mesmo né, que aí já são dez músicas e chama O esquizofrênico curado. Trecho da música O esquizofrênico curado. Danilo: E a gente tá iniciando agora a gravação do que vai ser o segundo CG, são mais dez músicas, se tudo der certo até o ano que vem sai e uma dessas músicas a gente deve lançar um clipe, mas ainda é muito no começo essa ideia. E os shows que a gente produz né, porque banda independente não pode esperar ser chamada pra tocar, senão você não vai tocar nunca. Então você faz seu show, você faz seu corre, leva toda a aparelhagem, imprime flyer, distribui, divulga na internet e é mais ou menos isso aí. Se você ficar esperando alguém te chamar pra tocar, você muitas vezes nem vai tocar. Talita: E sobre o contexto geral da cidade, como é que é pra desenvolver esse trabalho aqui?


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Danilo: olha, Campo Grande, eu acho que assim como toda cidade capital, se bem que a gente é uma capital ainda pequena, tem suas limitações em questão de público né, mas eu acho que em Campo Grande o buraco é um pouquinho mais embaixo, um pouquinho mais complicado. Porque é a capital do sertanejo, é a capital do agroboy né, então o rock, se for pegar o rock já é uma coisa discriminada em Campo Grande né. Já é um negócio que é mais lá debaixo, mais underground, mesmo o rock... Lincoln: Pop rock. José Roberto: Rock clássico. Danilo: Isso, mesmo o rock clássico. Aí se você descer um pouquinho mais o degrau, pegar a galera do metal, o metal também sofre de não ter lugar pra tocar, muitas vezes tem pouca gente pra curtir som, a galera do hardcore também, acho que todo mundo sofre um pouco disso. Mas se você for pegar o cenário atual a coisa tá feia mesmo, tá perigoso né. Porque se você pega há uns anos atrás sempre tinha um bar que você podia organizar um show, agora a gente não tem mais, não posso deixar de citar aqui o Holandês Voador. A gente tá completando sete anos agora, é o bar que a gente mais tocou nesses sete anos, nos três endereços que o bar já teve, mas hoje não tem. Fecharam vários bares esse ano, o Holandês Voador, o Drama, o ano passado ou esse ano fechou o Vai ou Racha. O Vai ou Racha foi o nosso parelho assim né, que manteve a gente vivo durante uns dois anos aí, que a gente não tinha local pra tocar. Fechou também, abriu uma farmácia lá né. Então sobrou o Resista, o Resista é o único que eu acho que tá aberto, porque o que era o Old Motors também fechou essa semana, tá aberto, mas não tá, na verdade eles tão tentando. Eu montei minha primeira banda em 2002, eu nunca fiquei tanto tempo sem tocar quanto esse ano. Esse ano a gente tocou duas vezes e foram em eventos totalmente... José Roberto: Ímpares, ímpares. Danilo: Totalmente fora do que a gente vive, a gente tocou na Concha do Parque das Nações e tocou no Batalha de bandas. São duas coisas que você se inscreve, mas o nosso mundo esse ano a gente não tocou. Isso deixou a gente bem triste, porque se não fossem esses dois eventos a gente não teria tocado. Uma banda que não toca, que não tem local pra tocar, vamo pegar um artista no geral, um cara que escreve, um cara que pinta, qualquer tipo de arte, se ele não tem um lugar pra expor ele vai parando.


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Então consequentemente a gente viu muita banda de amigo parar de tocar porque não tem onde tocar. Aí você não tem show pra fazer, você vai deixando ensaio pra depois e tudo mais e quando você vê a banda acabou. Isso quase aconteceu com a gente algumas vezes, então eu acho que no momento assim, de tudo que eu já vi em Campo Grande, acho que é um dos piores momentos assim em questão de underground. Lincoln: Isso que o Danilo falou, eu concordo totalmente com o que ele falou e reforço que é completamente difícil, quase impossível a gente manter uma banda underground do jeito que a gente é, independente, durante um ano inteiro, ensaiando porque a gente gosta mesmo, todo final de semana, sem ter nada de show pra fazer ou alguma coisa pra produzir né. É completamente, é quase impossível isso que a gente tá fazendo na verdade, sem ter uma casa de show, sem ter um lugar pra poder expor o nosso trabalho entendeu. José Roberto: Já era um negócio difícil, eu vejo assim, já era um negócio difícil esse tempo que o Danilo citou, aí veio essa crise toda então o negócio que já era difícil se tornou impossível né, por isso que não tem lugares hoje em dia. Porque realmente é impossível, quem abre um bar hoje ou sei lá seis meses atrás tá fadado a fechar seis meses depois ou um ano depois, se for muito persistente, senão nem abre. Talita: Em que lugares vocês costumavam tocar e agora que alternativa tem? Danilo: Então, vamo lá eu vou contar uma pequena historinha. Eu comecei a ir em show underground meio cedo porque meu irmão mais velho ia e eu queria ir com ele, né. José Roberto: Que é o Thomaz. Danilo: É, que é o Thomaz, o baixista nosso. Então eu peguei, a primeira época de show que eu peguei tinha show na A-Uce, que era ali em frente ao Obelisco, em frente ao Rock Show do outro lado da avenida na Afonso Pena. Tinha o Bar Fly, que ficava ainda em frente ao Sebrae ali na rua Bahia. Cheguei a pegar uns dois eventos no Stones antes de fecharem. Depois o Bar Fly foi pra frente da Uniderp ali e aí a gente tinha o Bar Fly, teve a época do Bar do Tião. Era o Bar do Tião, o Bar do Carioca. A gente tocou muito lá também, isso com outras bandas. O Café Moinho teve também muito show lá, teve a época que tinha show no República, essa época a gente tava meio que sem banda, então a gente ia só pra assistir mesmo. Aí depois do República quando a gente já montou a Burning já tinha o Holandês Voador, a gente tocou muitas


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vezes quando o Holandês ficava na Afonso Pena ainda. Aí depois o Holandês foi a nossa casa, o nosso lar, todo mês ali a gente tocava umas duas vezes. Depois veio o Vai ou Racha, que deixava a gente usar, que eu falei anteriormente. Agora a gente não tem onde tocar, não tem. Tinha o Drama também que fechou agora. Lincoln: Old Motors também. Danilo: Old Motors que fechou. José Roberto: A gente tocou várias vezes lá. Danilo: Então se você falar pra mim, onde você ta tocando ou onde você toca? Eu não toco. A verdade é essa, a gente não tem onde tocar. Se eu ligar o instrumento no quintal da casa do Lincoln vão chamar a polícia e rapidinho vai acabar o evento. José Roberto: A gente fica na esperança de tocar em alguma cidade fora de Campo Grande. Fora do estado provavelmente. Danilo: Isso, inclusive mês que vem a gente deve tá indo pra Andradina em São Paulo. Tamo fechando pra tocar lá. O que eu ia tocar seria o Resista, mas eles estão enfrentando muitos problemas pra conseguir ali o alvará. Ter tem né, mas a gente ainda não recebeu nenhum convite pra tocar, mas claro que se chamarem a gente vai na hora. Porque hoje em dia acho que o público deixou de ir nos show muito por culpa da própria internet, a pessoa ela sai de casa pra ir escutar uma música que ela conhece. Ela não sai de casa pra conhecer uma música como eu quando comecei a ir em show, eu ia lá pra conhecer as bandas. Hoje em dia não, as pessoas conhecem a banda na internet, entendeu? Então, elas não vão no show pra conhecer, elas vão ver cover ou ver a banda que eles já gostam. Isso aí eu acho que tirou muito a gente do ambiente do show assim, fica em casa baixando música, escuta meia música e fala ah, mais ou menos, não vou ouvir mais. E não é assim, as vezes você precisa ouvir três, quatro vezes a mesma música pra você gostar. Quem se interessou pela banda ou quem quiser ouvir e conhecer, estamos em todas as plataformas digitais, Deezer, Spotify, Youtube, Bandcamp, ITunes, Facebook, tudo tem Burning Universe, é só você procurar Burning Universe que você vai achar. Instagram também, a gente não é muito tecnológico assim, mas sempre que tem uma novidade a gente posta. A gente não é de ficar postando todo dia, toda hora, a todo instante até porque não me dou muito bem com a tecnologia, acho que ninguém da banda se dá. Então, mas a gente sempre posta


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quando vai ter show, quando vai lançar música e tudo mais. Então apoiem mais as bandas independentes que fazem som autoral aí, porque não é fácil não.

6.3.2 MACUMBAPRAGRINGO

Jean Flávio da Silva Santos: Bom, meu nome é Jean. Jean Flávio da Silva Santos. Meu apelido é Queen. Eu já tenho aí um tempo na cena rock. O apelido Queen veio de um boné que eu usava quando era pré-adolescente e vivia conversando nas rodas das tribos rock de Corumbá, do Mato Grosso do Sul, aí acabou ficando Queen, por causa do boné do Queen. O nosso projeto atual é o Macumbapragringo, cuja idade já tem aí três anos, desde que eu me mudei aqui pra Campo Grande, de São Paulo pra Campo Grande. A gente se emaranhou nesse projeto de música instrumental. Talita Oliveira: E como surgiu essa proposta de vocês e como é que vocês começaram com essa banda e com música instrumental especificamente? Jean: Bom, eu conheço Rafael Omar desde Corumbá, então desses idos aí de quando eu tinha dezesseis anos a gente foi começando a se entrosar musicalmente, eu e Rafa. Ainda pela diferença de idade, mas ele é um cara muito prodígio digamos assim pro entendimento musical. E aí a gente veio trocando discos, gerando informações e aí surgiu um projeto em 2008 lá em Corumbá. Eu tocava guitarra, a gente compunha músicas indie rock, essas músicas tão aí e tal, daí algumas músicas tem a minha contribuição também. Daí o que que acontece, em 2010 eu retorno pra faculdade pra São Paulo, durante esse tempo de 2010 pra cá a gente sempre trocou ideia, sobre música, sobre como tá a cena aí, o que você tem feito aí. Em São Paulo eu me meti bastante com a cena, conheci muitos sons hoje louváveis na cena independente, mas enfim, a gente sempre teve esse contato. Aí eu volto pra Campo Grande em 2015 e a gente resolve fazer o projeto, foi um projeto completamente despretensioso, uma ideia só da gente juntar uma química artística da veia musical que a gente já havia visualizado isso entre eu e ele e vamo tocar. Vamo chamar mais um músico? Vamo chamar. Aí a gente nunca achava outro músico e aí vamo fazer eu e você, então vamo e assim foi surgindo o Macumbapragringo.


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Talita: E como é que é o processo pra compor uma música que é apenas o instrumental? É diferente? Como vocês fazem pra se inspirar? Jean: Bom, o que que aconteceu, a grande maioria das músicas do Rafael, as músicas que iniciaram o projeto Macumbapragringo o Rafael já tinha. Eram músicas que ele havia feito quando tinha 17 anos por aí, pra gente entender um pouco do lado prodígio que ele tem em relação a música né. Músicas como cinética. Como Epopéia. Músicas como, deixa eu me lembrar uma outra. Panápaná. Que inclusive tá no curta-metragem do Tofu, que eles fizeram da Morada, um curta-metragem do Sesc sobre a Morada dos Baís. São músicas que o Rafael já havia trazido, já havia composto. Ele falou cara tem essas musicas, vamo começar a mexer nelas? Ah, e a primeira música que eu me lembro foi H.H. H.H chama-se Herman Hess, Herman Hess cuida de seus gatos numa tarde de domingo, era todo esse nome a música. Entretanto, enfim, como a música é grande, etecetera, a gente colocou só pra H.H. Então, composição é mais ou menos isso, ele traz as músicas, mais ou menos um esqueleto, uma ideia de uma música. E aí eu fico, como que eu faço, eu escuto esse esqueleto, eu tento imaginar a música batendo no corpo, e aí fico racionalizando sobre essa música, fico tentando entender, fazendo sons onomatopeicos com a boca (som de bateria). Primeiro eu imagino a música pra depois eu colocar ela enfim na bateria e aí traz uma nova cara para música, traz uma nova, assim acho que uma nova identidade praquele esqueleto que ele me trouxe e aí a gente vai se moldando. Marcamos um ensaio pra mexer em determinadas músicas e aquela música acho que a gente pode fazer assim, uma parada assim, então é mais ou menos isso. Existe uma racionalidade sobre a música antes de a gente enfim efetivar, materializar ela por completo, eu e ele. Talita: Vocês pretendem manter assim só no instrumental? Jean: Acho que a proposta do Macumbapragringo ela é assim, só instrumental. Ainda que a gente tenha atualmente pululado algumas ideias sobre usar voz, seria no sentido da voz ser também um instrumento, ela não ter uma letra em si. Pode até ter uma letra, mas ela funcionar mais como um veículo de, mais como se fosse um instrumento pra compor uma ideia instrumental, sonora. Acho que a originalidade do projeto e a espontaneidade, a sinceridade do projeto vem baseada nessa questão da gente fazer com que ele seja instrumental.


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Talita: Quais são os trabalhos de vocês no geral e os projetos que vocês têm? Jean: De uns tempos pra cá a gente começou a trabalhar com a Vaca Azul, a produtora. Então eles tentaram dar um boom, dentro da ideia de posicionar melhor a banca no cenário. A gente colocou no Spotify um álbum que a gente gravou, na tentativa de uma tentativa de gravação né, que a gente fez pra lançar a banda, foi feita no Estúdio Sal. No Spotify tá como Macum Sessions, a gente tem quatro faixas, inclusive uma a gente nem toca mais, que é Epopéia. Mas as outras como Cinética e Swingcaribe a gente toca, H.H também. Foi uma ideia da Hanna e do Helton pra que outras pessoas após os shows pudessem escutar o nosso material. Entretanto a gente, não é o nosso material de lançamento. A gente tá gravando nesse momento, aí já tem seis meses de gravação o nosso álbum, mas aí vai ser lançado ainda esse ano, acredito. Aí vamo ter cinco faixas, inclusive as mais proeminentes e importantes que a gente toca já nas apresentações, Golpe do escaravelho, Amnésia, Pega-polícia, Tiros em Borrosch e eu não me lembro a última e essa vai ser de estreia. A gente tentou fazer a essa, a esse trabalho que a gente quer estrear, a gente tentou fazer uma gravação ao vivo no Estúdio Sal em 2017, esse material tá gravado e a gente tem projetos pra lançar isso né, futuramente. E aí lá a gente gravou, salvo engano oito músicas, gravadas de forma ao vivo, sem ser por faixa, sem ser dividido né, as coisas todas. Acho que o nosso foco principal nesse momento é terminar o nosso disco porque sem ele a gente não tem uma plataforma de divulgação interessante pra banda. E é isso, a gente tá caminhando, sempre tocando, sempre fazendo música, acho que a grande veia de, sabe, não ter uma pretensão pra ganhar grandes palcos, assim, é uma ideia que muitas pessoas acham que não é legal, mas eu acho que é legal porque eu acho que a gente tem que ir fazendo as coisas. O que vier são consequências do que se faz hoje, então a gente tem que trabalhar dentro das limitações de cada um, da banda principalmente. Acho que a gente tá bem nesse sentido e a gente vai continuar tocando. É isso que importa. Talita: E sobre Campo Grande em geral? Como é o contexto aqui, de público, de local pra se apresentar? Jean: Bom, a primeira coisa que a gente tem que falar é que a música instrumental ela é marginal. Música instrumental é uma música muito difícil das pessoas terem tanto


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apreço quanto uma música que tenha letra, que você possa cantar ela. Você pode muito bem colocar uma música pra escutar né, que seja instrumental, mas o grau de fruição e de envolvimento com aquilo no momento que você tá escutando é muito mais incisivo se tivesse uma letra pra você cantar, cantarolar, lararárarárarárará. Entretanto, por isso que eu já falo é um desafio realmente. Tocar em Campo Grande, uma cidade que tem uma veia cultural muito forte dentro da expressão musical do mundo sertanejo é um desafio muito grande porque as principais casas de entretenimento que tão aí muito mais dentro da responsabilidade se inserem dentro do sentido mais pra ganhar dinheiro né, nada contra isso, mas elas vão se interessar mais pro que o público daqui gosta né, que dê dinheiro pra eles, que é essa questão do sertanejo, ou então do universo mais eletrônico. Mas o mundo que a gente vive aqui, o mundo da música autoral é um mundo realmente underground, um mundo marginal. Então a gente tem aí uma dupla marginalização do som do Macumbapragringo, ele é instrumental e ele é autoral. A grande questão de tocar é Campo Grande é você ter um trabalho de rede e de união da cena muito grande. Então geralmente quando toca o Macumbapragringo sempre toca mais uma banda. A gente sempre tocou, sempre toca de dois, de três. Sempre toca com Peixes Entrópicos, com bandas amigas né, bandas que fazem parte desse circuito. Porque a gente entende isso né, mais ou menos isso, esse chavão da união faz a força. Então o que que acontece, as dificuldades são muito grandes de tocar em Campo Grande, principalmente agora com toda essa desconstrução as expressões urbanas que tá havendo. A gente tem dentro da política municipal uma pessoa com uma índole do universo religioso, o nosso prefeito Marquinhos Trad é evangélico, essa é uma questão muito difícil e muito prejudicial pra cultura, dentro de um parâmetro nacional, quando você mistura religiosidade e estado e governança de estado, na minha opinião. Porque você acaba colocando limites pras expressões baseado no que você acha que é moral. Geralmente a moralidade da religião, ela tem uma moral que geralmente “blasfemiza” esses movimentos de expressões urbanas, como por exemplo, isso sempre aconteceu com punk rock, com movimentos dentro de um teatro que fala sobre o diabo, como sei lá o universo do mundo black metal, universo do mundo death metal. Então é natural que coisas que transgridam a uma ideia de uma municipalidade que tem como ideia um chefe de governo que é um cara


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de uma índole religiosa e também tem um universo coletivo de um apreço da família nuclear, sabe, da família tradicional, da ideia do universo sertanejo, do universo tradicional do pantanal, do universo da cultura sul mato-grossense. Então é muito “desafioso” fazer o que a gente faz, fazer o que o Macumbapragringo faz, pelo fato de ter uma dupla marginalização da nossa música, fazer o que as outras bandas que tenham letras também fazem aqui dentro do universo cultural, mas eu acho que o que muito nos ajuda foi realmente o advento das redes sociais e dessa questão das pessoas de Campo Grande se informarem muito sobre a cena nacional da música autoral, da música independente e o fato de alguns grupos e alguns coletivos culturais também, por exemplo um que eu faço parte que é o Sol Autoral, né, da gente sempre tá trazendo, ter essa responsabilidade com o estado de trazer coisas que de uma maneira institucionalizada dentro das políticas estatais de cultura, talvez eles não trouxessem pra cá. Então o Sol Autoral é esse coletivo de resistência também cultural, que junta dinheiro sem nenhum tipo de objetivo lucrativo, mas sim com a ajuda da galera vendendo cerveja, pra que a gente possa ter dinheiro pra chamar um Gordura Trans pra vir aqui, que nem veio em edições anteriores do Sol Autoral. Chamar o Vitor Brauer, chamar Jair Naves, essas pessoas também precisam de apresentações em outros estados e tal porque é também veículo de música, é também uma banda do universo independente que precisa também desses espaços de resistência. Então Campo Grande é mais ou menos isso, é um reduto “desafioso” por essas circunstâncias que eu disse e também por outras circunstâncias né. Uma das consequências também que a gente tem sobre essas situações que eu disse, que tão mais no campo subjetivo do direcionamento político-administrativo que a gente tem aqui no nosso estado, principalmente em Campo Grande é a questão dos decibéis. A questão dos 45 decibéis. Na verdade é uma lei federal ambiental, só que as políticas do Mato Grosso do Sul, salvo engano é um projeto da Assembleia Legislativa, que em zonas que são culturais podia se chegar até 90 decibéis, se não me engano acho que é isso o que a lei falava. Veio um novo promotor, acho que é promotor de justiça e, enfim, coibiu essa questão enquadrando a questão dos 45 decibéis em todos os estabelecimentos, sejam eles underground, sejam eles mainstream. Então fechou parece que Valley Tai, que é uma questão do universo do sertanejo e fecharam principalmente também, fechou não,


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mas tá existindo uma resistência por parte deles que é o Resista Bar, que foi construído com o objetivo de divulgar as bandas daqui. Então eles tão sofrendo uma pressão muito grande pra que aquele lugar seja fechado. Não só ele, mas o Drama também, a Brava parece que vem sofrendo essa questão e aí falta lugar pra gente tocar. Eu acho que nós, assim, pelo fato de o Macumbapragringo ser uma banda que o nosso som ele é jazz e ele é rock e ele é heavy metal. Então é uma mixórdia de gêneros musicais que a gente faz em uma música pra tentar construir uma narrativa, eu acho que a gente até tem um pouco mais de receptividade pra outros lugares que não forem, enfim, os lugares específicos que agora estão sendo fechados por causa dessa questão. Mas em relação a outras bandas eu acho que vai ficar muito difícil porque esses outros lugares tem uma conotação de outro público, outra questão. Mas a gente tá aí, entendeu? Eu acho que ainda sim sobrevivem alguns lugares, o Genuíno, por eles mesmos eles suscitam, vamo que tal fazer tal banda e tal banda tal dia? A gente nem precisa ficar procurando, eles viabilizam datas pra gente. Então é isso, atualmente tá muito difícil, eu acho que a música autoral tem uma desenvoltura que ela precisaria ter, que ela precisa ter no Mato Grosso do Sul porque são expressões regionais também. Entretanto que antenadas com um universo de novas tendências musicais, a gente ainda é um pouco quadrado. Talvez essa seja uma grande oportunidade para que as pessoas pudessem fazer parte da história desse lugar. Hoje a gente tá fazendo, o Macumbapragringo, eu Queen, Rafael Omar também e todos os outros integrantes da música que entendem esse papel político e cultural de engajamento dentro dessa situação do Mato Grosso do Sul estamos aí construindo a nossa história nesse momento. Qualquer tipo de passo de participação, de envolvimento, de você querer saber quem são as bandas daqui, como que é tal banda, quais são as influências de tal banda, colar nos roles pra que conheçam as bandas e entendam melhor esse universo. Acho que é um ponto muito positivo pra ajudar a cena autoral e pra também escrever um pouco da história nesse momento.

6.3.3 PEIXES ENTRÓPICOS


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João Abdo: Bom, eu sou o João Abdo, sou baixista dos Peixes Entrópicos e também produtor cultural na cidade de Campo Grande. Guilherme Baioni: Bom, eu sou o Guilherme, tenho 26 anos e sou guitarrista da Peixes Entrópicos. Leandro Bezerra: Eu sou o Leandro, tenho 24 anos, sou baterista. Higor Muller: Eu sou o Higor, tenho 26 anos. Eu toco guitarra-base e faço o vocal. Talita Oliveira: Como é que vocês formaram a banda e como é que vocês decidiram o que exatamente vocês iam tocar? João: A banda surgiu em 2015? Final de 2015. Higor: Aham. João: Eu havia acabado de voltar da cidade que eu tava morando, né. Voltei pra morar aqui e tal. E aí eu já tive uma banda com o Guilherme no passado e voltei com a vontade de fazer uma banda, né. Fazer uma coisa nova, mas não sabia o que seria. Aí a gente conheceu o Higor e rolou uma química massa desde a primeira vez que a gente se viu e tal e ele também tinha essa vontade de tocar, de fazer um som próprio, aí eu mostrei umas composições que eu tinha, Higor agregou umas dele, Baioni também algumas referências. Aí através do Higor nós conhecemos o Leandro. Higor: É que eu já tive uns projetos com o Leandro, que não chegou a ser uma coisa oficial assim, mas sempre teve um projeto. A gente já tinha tocado juntos alguns anos atrás, em 2013? 14? E aí eu retomei, lembrava dele como baterista, uma referência. Na época ele tinha muitas bandas, né Leandro? Era o que uma três? Leandro: Umas cinco bandas. Guilherme: Acho que foi bem orgânico assim, a gente só se encontrou aleatoriamente assim em rolê... João: Altamente espontâneo. Higor: É, nós três sim né. Eu, o João e o Guilherme nos encontramos num rolê aleatório, sentamos na mesma rodinha ao acaso né, e a gente tocava mais ou menos as mesmas músicas, gostava das mesmas coisas. João: A gente tava gostando de coisas bastante parecidas nessa época, acho que isso proporcionou essa química doida que rolou. Guilherme: Uma coisa meio nova.


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João: Exato. Leandro: Eu tava ouvindo System of a down. Guilherme: Mas era bom pra agregar também. João: Sim, não ficar muito dentro de uma coisa só. Talita: Como é que vocês se definem hoje e como é que vocês mantem isso? O que vocês vão compor, o que vocês vão tocar. Leandro: Esse negócio de definição, a gente buscou tanto fugir que a gente meio que criou uma coisa que só a gente se denomina assim, que é o pop sonhador delicinha. Que é justamente pra não puxar muito essa ideia de que a gente tem que seguir algum caminho específico. João: Daí a gente criou o nosso caminho mesmo e deu esse nome aí pra ele. Talita: E como é que foi a escolha do nome? Higor: A gente sabia que a gente precisava de um nome que ao mesmo tempo fosse interessante esteticamente. A gente entendia que ele precisava ser uma coisa em português, porque isso é uma coisa que, uma ideia que a gente tem desde o início, tentar fazer o máximo de coisa possível dentro da nossa língua materna. João: Estamos no Brasil né. Higor: E que fora essa parte estética fizesse um sentido pra gente assim, mas não fosse uma coisa simplesmente jogada de qualquer jeito. Então a gente começou a fazer uma espécie de brainstorming assim, cada um foi jogando, jogando, jogando várias coisas, vários nomes. Porque todo mundo já era músico antes né, todo mundo já teve bandas antes. A gente achava que tinha que ser um nome composto, então assim, a gente já vinha acho que de uma história onde cada um já tinha pensado em algum momento na sua vida, possíveis nomes de banda. Sugeriu na hora. João: É, foi dando sugestões, sugestões, colocou tudo numa peneira, chacoalhou e no final ficou Peixes Entrópicos, foi tipo isso. Talita: E o que que vocês já trabalharam e vocês pensam em trabalhar no sentido de gravação, de letra? João: Nós gravamos o primeiro disco no estúdio de um amigo nosso, o Filipe Saldanha, no Estúdio Sal. E aí nossas primeiras composições que foram pra esse disco, a gente ainda trabalha nos shows. A gente tem pretensões de fazer ele fisicamente também,


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até pra gente arrecadar mais fundos pra conseguir trabalhar ele de outras maneiras né, tipo com gravação de videoclipes e coisas afins. Higor: E acho que esse é o próximo passo né. Leandro: Também tem a questão de estar incluído nas mídias digitais. Hoje em dia é bem importante. João: E aí além dessas músicas que foram gravadas nesse disco temos outras que a gente toca, outras que a gente tá trabalhando pra nivelá-las pra construir uma coisa fechada e a ideia também é com o tempo a gente também passar a gravar essas músicas. Higor: Importante é ter material né, então não adianta a gente sei lá, compor sete, oito músicas e achar que parou por aí. Então a gente tenta sempre. É interessante isso, a gente sempre tá com momentos diferentes da banda. Acho que a gente mudou muita coisa entre nós assim individualmente e coletivamente, no sentido das referências né, quais bandas que a gente escuta, então isso vai mudando também um pouco das composições né. Então acho que sei lá, volta e meia a gente pega e, nossa seria mais legal uma coisa mais lenta, mais estilo esse cara aqui, aí manda uma referência. Então, a gente vai compondo mais ou menos na vibe que a gente tá no momento. Talita: E o que que vocês pensam do contexto geral da cidade? Público, local pra tocar, incentivo talvez. João: Incentivo não há. A gente... Higor: Nós somos o incentivo. Leandro: É a movimentação das próprias bandas assim. João: Exatamente, a gente não pode ficar dependendo de casa de show porque recentemente como aconteceu né, o principal espaço que abria pras bandas autorais da cidade foi fechado, assim como alguns outros estabelecimentos. Já tava difícil, agora tá pior e se a gente não se movimentar pra gente mesmo fazer os eventos, convidar as bandas e também tem quando outras bandas fazem e nos convidam pra tocar. Higor: Acho que até vai ser comum encontrar na fala das outras bandas atuais assim o Sol Autoral, né, que é o coletivo que tem se proposto a tentar fazer um evento só com bandas que tocam música autoral né. Então a gente sabe que a gente não tem todas as


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casas da cidade apoiando a gente. Então quando surge uma ou outra, acho que é meio de fases assim né. Sei lá, teve uma fase que tocou muito no Holandês, uma outra fase toca muito no Resista, uma outra fase tocou muito no Drama. Então qual casa que vai abrir pra gente agora? Agora tá sendo o Mera, Butiquim. Leandro: Casas mais antigas, mais consolidadas tem um pé atrás com a questão do som autoral. É resistente, você as vezes tenta conversar e propor um evento eles muitas vezes optam por mais do mesmo. Aquela coisa que acontece há anos em Campo Grande, de covers. João: Nem eles mesmos aguentam né. Higor: Nem sei se é por esse mérito, mas acho que é uma certa segurança mesmo, financeira né. Leandro: É verdade, assim o cara não tem um problema de arriscar. Em Campo Grande né, eu acho que essa coisa de aceitar o som autoral é uma coisa muito, é um processo né, como qualquer outra coisa. Guilherme: Eu acredito que houve evolução de quando a gente começou pra cá, em relação ao público né. Leandro: Justamente, tem bastante gente consumindo, tem projetos que nós fizemos assim que muita gente, a galera interagindo muito, cheio, consumindo, tudo acontecendo. João: O público hoje ele é mais consciente do que há três anos atrás quando a gente começou com a banda. Higor: Mas isso não foi do nada, né. É o que eu tava falando, é um processo que foi muito árduo. Por exemplo, desde o início do coletivo do Sol por exemplo, se propondo a investir nisso né, porque isso era um risco. Então, a gente não sabia como é que ia ser a aceitação do público nos eventos iniciais, mas as propostas eram só tocar música autoral, convidas as bandas. As bandas têm que tocar gratuitamente, porque a gente não tinha como assegurar que a gente ia conseguir um cachê pra elas. Então assim, a gente tinha... João: Um cooperativo né. Higor: É, a gente tirou do nosso próprio dinheiro. João: O investimento inicial.


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Higor: O investimento inicial, então eu acho que são diversas coisas que tem que se pensar, quando a gente pensa no público atual que tem atendido esses shows autorais né. Foi um processo, foi meio metido goela abaixo que eu acho que é como tem que ser, tem que simplesmente ir lá e tocar. Fazer evento, fazer evento e eu acho que o pessoal vai aderir. E conversar, conscientizar as pessoas, muito do que o João mesmo falava era pra conversar com as pessoas tipo, conscientizar elas sobre ao que o dinheiro delas tava sendo revertido. Então, assim, as pessoas as vezes tem um receio de pagar cinco ou dez reais pra entrar num show autoral e aí é aquele famoso: deixa eu entrar só pra usar o banheiro? Ah, não, mas eu só quero comprar uma bebida. E a gente falava, conversava com elas na entrada mesmo né, porque isso é legal, as próprias bandas como elas tinham que fazer os eventos, então a gente mesmo ficava na portaria, então a gente já aproveitava pra conversar com as pessoas e falar: olha, tá tendo essas bandas autorais, a gente não tem incentivo. O nosso cachê é essa entrada, então quando você paga isso aqui você tá incentivando a nossa movimentação também. Acho que as pessoas começaram a aderir muito mais, muito melhor essa ideia. João: Elas perceberam isso né, porque... Higor: O dinheiro delas de repente fazia sentido, é um valor investido ali que faz sentido. Porque se você pensar a pessoa que tá pagando só pra entrar no espaço físico do bar, se ela pensar dessa forma ela tá achando que o dinheiro dela tá sendo jogado fora. Tipo: caramba, eu posso andar por qualquer lugar, por que que eu tenho que... Leandro: A galera não entende que é um investimento em entretenimento. Pra você manter o entretenimento da cidade você tem que... João: Consumir cultura. Leandro: É, esse é o propósito, você ta investindo pra você ter um lugar pra você poder sair. João: E cultura é qualidade de vida também né. Leandro: Sim. João: A cidade que é rica em cultura é menos violenta, é menos miserável, as pessoas são mais felizes, exercem mais sua cidadania, se respeitam mais. Uma série de coisas. Guilherme: É o que a gente pode fazer pra movimentar né.


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6.3.4 MAD MEN CONVOY

Eddie Allen Pinto: Meu nome é Eddie, eu sou baixista da Mad Men Convoy, toco nas bandas de Campo Grande acho que desde 2006. Rafael Tiecher: Eu sou Rafael, sou baterista da banda. Pedro Possebon: E sou irmão do Felipe. Rafael: E sou irmão do Felipe, que vai falar agora. Felipe Tiecher: Oi, meu nome é Felipe, eu sou irmão do Rafael como ficou bem claro agora, né. Eu sou guitarra-solo na banda, faço alguns backing vocals e o plano maior por enquanto pra mim é essa banda. Israel Cabral: Bom, meu nome é Israel, eu sou o vocalista da banda e é isso aí. Pedro: Bom, eu sou o Pedro, eu sou mais um guitarrista da Mad Men Convoy. Talita Oliveira: E como é que vocês juntaram de vez pra fazer a Mad Men e como é que foi pra definir qual estilo vocês seguiriam? Felipe: Eu sempre tive essa vontade porque eu comecei a tocar, mas nunca pensei: ah, vou tocar só pro meu próprio hobbie. Eu sempre tive vontade de ter uma banda e tal, e tocar rock. Antes da escola de música eu não tinha esse contato com o pessoal e tudo mais assim pra ter as pessoas que formariam a banda comigo, até porque pelo meu próprio circulo de amigos muita gente ouvia pagode, ouvia sertanejo, essas coisas assim. Então eu via nessas pessoas e falava assim: vou montar a banda com quem aqui? Não ia rolar. Aí depois que meu irmão começou a tocar bateria que eu fui começar a conhecer mais pessoas, de frequentar a escola e daí que eu conheci o Eddie né, que a gente chamou ele pra tocar esse recital da escola de música, só que como parou por aí mesmo, isso aí foi em 2009. Eu falei pro Pedro, será que você não topa fazer uma banda e tal? Escuta o disco dessa cara aqui. Eddie: Você me mandou também. Felipe: É, mandei pro Eddie. Aí começou assim, vamo ver se meu irmão topa tocar bateria. Ele foi e topou. Agora preciso de um baixista, o único baixista que eu conheço é o Eddie, aí fui lá falei com o Eddie, o Eddie bora. O Pedro chamou o Israel e aí desde 2014 que a gente tá nessa sina.


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Eddie: A primeira vez que o Israel cantou a gente falou, é isso aí. Pedro: É isso aí, casou muito bem a coisa toda né. Rafael: Voz do trovão. Pedro: Voz do trovão. Claramente outra coisa que acabou contribuindo muito pros cinco se darem bem e fazerem a banda é que querendo ou não o gosto musical dos cinco é muito semelhante. As influencias até que são muito parecidas umas com o do outro, o estilo de rock que a gente gosta é muito parecido. Talita: Eu vi que tem um estilo diferente no ritmo que vocês escolheram. Pra mim parece ser mais marcado, um pouco mais acelerado. O que você faz pra treinar ou como é que você começou nesse específico? Israel: Então, essa questão do treinamento é um assunto meio difícil pra mim até hoje porque infelizmente eu só consigo exercer o potencial de voz que eu preciso alcançar pra cantar com eles dentro do estúdio, que é quando tá com todos os instrumentos juntos e aí, eu fazer o exercício em casa, cantar as músicas, não é a mesma coisa, eu não consigo colocar a mesma pressão. Aí acaba que o desenvolvimento de ensaio mesmo é só quando a gente tá reunido. Teve um processo de gravação do nosso CD que foi um momento que eu aprendi bastante técnica, tive que aprender coisas que pra alcançar as notas que eram necessárias pra gravação. Foi bem interessante esse ponto de tá enfurnado no estúdio tentando gravar o melhor possível. Pedro: Você percebe coisas que você não percebia antes em ensaio normal, você nota pequenas nuances, detalhes que... Eddie: Que um fazia e você não percebia. Pedro: Exatamente, você faz de automático vamos dizer assim, é vício já e você não percebia, não fazia tanta diferença assim num show ao vivo, ou num ensaio de estúdio, por exemplo, mas para a gravação do CD soa totalmente destoante do resto e você começa a trabalhar mais aquele ponto. Eddie: Na verdade você tem que cortar mais os seus vícios do que tocar certo, do que ficar pensando na nota que vai tá ali. Talita: Quais trabalhos vocês já tem desenvolvidos? Felipe: No momento a gente tem dez músicas autorais que estão sendo gravadas em estúdio, estamos tentando acabar aí. A gente tá naquele processo que a gente já fez as


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captações, agora estamos achando os erros pra poder começar as mixagens e estamos nesse processo. Mas pra quem quer ver alguma coisa, ainda que seja um pouco mais bruta, no nosso Youtube tem uma música lá meio demo, que eu tentei fazer em casa. Tá lá pra ouvir. Tem algumas outras que são gravação de ensaio, tem alguma coisa de ao vivo lá também. Eddie: Tem no Batalha de bandas. Felipe: E tem um minidocumentário da Batalha de bandas do ano passado, que foi quando a gente ganhou. E aí eu fiz uma montagenzinha de um vídeo mostrando o dia até o fim do evento. Talita: E sobre o contexto geral, como é que é fazer música autoral aqui? Em questão de público, de local pra tocar, de reconhecimento, de contexto geral? Felipe: Público tem, só que assim, se você é uma banda que só vai tocar autoral, seu público você vai ter, mas é bem menor do que se chegar aqui igual tem certas casas aí que eu não vou citar nomes. Eddie: Só toca cover. Felipe: Que só traz cover. Pedro: É que na verdade é mais difícil você fazer o seu público autoral, porque a pessoa não tem uma música já existente pra ligar e conectar no que ela já gosta. Então, por exemplo, tem uma banda que faz cover de Metallica, como exemplo. Aí fala poxa, eu gosto de Metallica, vou lá assistir. Aí vem uma banda autoral, fala tá, eu não sei o que eles tocam, eu não sei se eu vou gostar ou não. Então já tem uma relutância um pouquinho maior em ver essa pessoa pela primeira vez. Acaba você tendo muito que... Felipe: Você tem que fazer a escada, o primeiro degrau é você começar com cover. Porque as pessoas tem que te enxergar de alguma maneira, foi bem a nossa tática, a gente começou só com covers, mas mesmo que a gente começou só com covers a gente não fazia covers muito conhecidos. Então a gente tocava assim, acho que o mais famoso que a gente tocava era Mettalica, uma e outra música. O resto era coisa que a maioria das pessoas que você vai falar não conhece, mas mesmo assim a gente conseguiu ir juntando a nossa galerinha de pouco e colocando nossas músicas aos poucos junto com as outras.


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Pedro: Além dessa parte de você misturar esse cover com a sua autoral, que é o primeiro passo né, você acaba dependendo vamo dizer assim, do seu próprio círculo de amizades. No começo quem vai assistir teu show é sua namorada, seus dois melhores amigos. Você vai tocar, por exemplo, pouca gente vai te ver e são seus amigos e de amigo pra amigo que vai, conhece, na outra vez chama mais um. Aí depois você toca com mais outra banda que tem um pouco mais de público e acaba agregando um pouco, um amigo que viu e conta pro outro, vai puxando e aí você vai conseguindo fazer ali o seu reconhecimento no público da cidade. É um pouco complicado porque embora tenham muitas pessoas em Campo Grande né, embora seja uma cidade muito populosa, a galera ativa nesse tipo de rolê que toca autoral não é tão grande assim. Não é proporcional ao tanto de pessoas da cidade. Eddie: Não é como se fosse um sertanejo, que o cara mesmo que não gosta de sertanejo o cara vai. Pedro: A cidade já teve picos muito mais altos de, sucesso do rock, vamos dizer assim. Época que o Bar Fly bombava, o Bar do Tião. Eddie: O Bando do Velho Jack estourado em tudo quanto é lugar. Pedro: Que você colocava lá uma quantidade enorme de pessoas em praticamente qualquer show, época do Hangar que ainda era muito visitado. Teve essa época áurea do rock na cidade que infelizmente deu uma abaixada né, não tem mais esse mesmo vigor, essa mesma visibilidade na verdade né. Mas claro que uma coisa não quer dizer que você a partir de agora não pode fazer uma banda, você não vai ter sucesso como autoral. Temos exemplos claros da Winchester, que era daqui de Campo Grande e conseguiu um público gigantesco aqui na cidade. Eddie: Reconhecimento nacional. Pedro: Reconhecimento nacional. Se mudaram agora pra São Paulo porque era o próximo passo, a cidade ficou pequena pra eles. Ou seja, tem público só que tá muito mais difícil de você angariar um público, de você conseguir fidelizar a galera. Felipe: Um ponto que é importante a gente ressaltar agora nesse momento específico é que tá tendo muita casa fechando por conta daquela questão dos decibéis. E aí muita casa que, como o rock já não dá tanto dinheiro como o sertanejo, acaba que as casas operam meio que capengando no limite pra se manterem abertas. Então eles não têm


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aquela verba enorme pra fazer um tratamento acústico de primeira qualidade, aí gera esse tipo de problema pra conseguir alvará, acaba que as casas fecham. Tivemos aqui Hangar, Hangar não fechou por isso eu acredito, mas era casa de rock que deixou de ser de rock. Bar Fly era de rock agora só tá nos funks, essas coisas. Drama fechou. Holandês fechou. O Resista não tá mais fazendo música, não tá tendo show mais. Israel: Diz que tão reformando, fazendo isolamento acústico. Pedro: Tão tentando, mas ainda sim é uma casa que teve que parar pelo menos, por um bom tempo inclusive pra poder se adaptar e de adequar né. Felipe: E aí isso acaba prejudicando porque eram casas boas que fecharam as portas. Tinha muita gente que ia, por exemplo, ia só no Drama e agora já não vai em lugar nenhum. Israel: Não ia pelo show, mas acabava conhecendo a banda. Pedro: Exatamente. Acaba sendo muito importante porque como eu tinha citado, naquela época em que todo mundo ia ver rock aqui em Campo Grande chegou num ponto que era justamente isso, a pessoa não ia só pra ver a banca, ela ia porque: ah, é sexta-feira eu vou naquela casa já. Eu vou pelo rolê, eu vou pra casa de rock lá independente da banda que tiver. Hoje em dia, tava chegando nesse ponto com o Drama por exemplo. Com o Resista, todo mundo ia. Cara, é sexta-feira, vamos lá pro Drama pra ver o que tá rolando. Vamos conhecer alguma banda e infelizmente essas casas fecharam, não tão mais abertas pra receber banda né, ao vivo e isso dificulta né. Felipe: E várias consequências em cima disso, porque se você não consegue fidelizar um público numa casa, vai menos gente te ver, você ganha menos cachê, você pode cada vez menos investir em um disco por exemplo. Aí você não tem o que mostrar pras pessoas, as bandas acabam que desistem ou chega num ponto que fala: ah, vamos ficar só no cover, a gente toca só até aqui mesmo e assim, o público que poderia estar crescendo na verdade acaba diminuindo, porque você vai sendo podado de vários lados. Tem os lados bons, porque gente tem. Tem gente que gosta de rock, tem banda pra tocar. Pedro: E bastante banda inclusive. Inversamente proporcional ao número de casas que infelizmente vieram a fechar. Bandas boas surgiram. Esses últimos três anos em Campo Grande foram sensacionais pra música autoral da cidade. A Batalha de bandas


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reflete muito isso né, tem bandas de cada vez mais qualidade, com produções melhores, com músicas que você fala: nossa a pessoa realmente teve um trabalho, ela se dedicou a fazer aquilo. Não é mais um cara pegou uma guitarra e ficou fazendo qualquer barulho lá pra ver se dava ponto. E é triste ver que não tem tantos lugares assim pra expor esse tipo de qualidade cultural quanto tinha há um tempo atrás né. Trilha pra quebrar Felipe: As redes sociais são todas Instagram, Facebook, Twitter, Youtube se você pesquisar Mad Men Convoy. 6.3.5 – SEVEN FOUR

Renato Monteiro: Eu sou o Renato Monteiro, sou baixista da banda Seven Four. Marcelo: Marcelo Augusto, eu sou guitarra, futuro backing vocal 2019 da banda. Daniele Cristine: Projeto 2019. Marcelo Santana: Projeto e é isso aí. Daniele: E aí galera, eu sou a Dani Chrstine, eu sou a vocalista da banda Seven Four. Renato: As nossas músicas que a gente trabalha é aquela coias do hard pop que a gente chama né. É o hard rock que a gente faz misturando um pouco com pop. A gente pega músicas pop e traz pra essência desse hard rock. Talita Oliveira: Vocês tratam de que temática pra compor? O que que vocês gostam de usar? Renato: Quem compõe mais é o Marcelo e a Dani. A gente dá um dedinho aqui e ali, mas é mais no instrumental eu e o Leo. Daniele: A gente fez duas músicas que tem um tema mais... Marcelo: Autoajuda né. Daniele: É, uma coisa mais pra mente, de você na sua parte sentimental. Monster fala como você pode ser o seu próprio monstro, por causa das suas ações, por causa dos seus pensamentos. Tem a Prisoner que fala mais sobre a questão do suicídio. Porque teve uma época que eu vivenciei o suicídio de uma menina da escola, aí veio várias pessoas conhecidas que falaram que tiveram casos de suicídio também e aí eu resolvi


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escrever essa música. Porque eu refleti e eu falei, cara a gente é prisioneiro da nossa própria mente, mas tem gente que não consegue lidar com isso. Marcelo: A pessoa se fecha e piora mais ainda. Daniele: É, tanto que no final a gente fala que é bom procurar ajuda porque tem alguém que se importa, porque cada um tem a sua tempestade. Talita: Qual é a principal diferença de fazer as coisas por conta própria e com um produtor? Marcelo: Depende muito. É bom, mas depende. Daniele: Ele apareceu na hora certa também. Renato: Na hora certa e a pessoa certa, porque... Daniele: A gente já tentou com duas pessoas e não deu certo. Renato: Porque se for depender só da gente, a banda, a gente acaba sendo dificultoso porque a gente não se preocupa só com o instrumental, não se preocupa só em tocar né, a gente tem que organizar muito mais coisa então é muito mais peso em cima da gente. Daniele: Falar com contratante, negócio de cachê. Marcelo: Transporte, montagem. Tocar é a última parte, tem muita coisa em volta. Talita: Que trabalho vocês já fizeram? Ou vocês ainda vão gravar? Como é que tá esse processo? Renato: A gente tem duas músicas gravadas já. Daniele: É, que a gente fez meio que um teste, duas músicas. Marcelo: É só pra saber, é assim que grava. Renato: E a gente cresceu bastante com elas, a gente melhorou. Daniele: Sim e a gente vê bastante a diferença. Marcelo: Tipo você ouvir assim e tal, tem que melhorar isso aqui, vamos melhorar tal coisa. Daniele: Foram duas músicas autorais que a gente gravou. Marcelo: De teste só. Daniele: Uma música foi uma que eu já tinha feito e aí eles incrementaram com o instrumental e a outra foi a que eles fizeram antes de mim. A gente gravou ali pra ver


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como que ia ficar e dá pra ver bastante a evolução de antes até agora. Isso que é bom a gente gravar. Renato: A partir disso a gente vai saindo divulgando. Marcelo: E compondo cada vez mais. Renato: Porque a gente tem que ver a reação do público né, por mais que... Daniele: Tem que testar a música. Renato: Tem que testar a música, ver se o público vai reagir bem, pra não só sair gravando, gravando, gravando e depois ter um monte de conteúdo e não... Daniele: Essas que a gente tá levando no show a reação do público tá sendo bem boa, aí a gente vai adicionando aos poucos as autorais, pra tentar botar na cabeça do povo. A gente sente diferença porque antes a gente nem tocava autoral. Marcelo: A previsão mesmo é a gente gravar ano que vem. Porque composição é insistência, tem que fazer e fazendo, fazendo, gravando e tal, até chegar no auge. Talita: E como é fazer música autoral em Campo Grande num sentido geral? Daniele: Eu acho aqui bem difícil a aceitação do rock né, do estilo que a gente toca. Porque aqui a cidade é mais sertaneja, aí você vê que a maioria das pessoas que tocam sertanejo, são as que fazem mais sucesso mesmo começando. Mas tem lugares que aceitam muito bem. Marcelo: Mas pelo que eu vejo tem muita casa com aceitação boa, com público legal, tem bastante casa. Daniele: O problema maior é o público geral, entendeu? Marcelo: Eu não sei, porque eu só frequento coisas rock assim aqui da cidade, então pra mim é bom. Tem muita coisa legal aqui. Daniele: Tem muita coisa que eu nunca tinha visto, eu acho muito bacana. Marcelo: Tem muito a crescer, a acrescentar e tal, mas por hoje pra mim não tem muito o que falar. Pra mim tá bom, pra mim tá legal. Daniele: Pra mim eu acho mais difícil o geral mesmo, tem muita gente que: ah, não sei, nunca ouvi falar. Ah, não gosto. Ah, eu sou mais sertanejo. Renato: É o receio. Eu vejo muita gente também que é antigo, né. A gente vai em moto clube assim o povo é mais old school e acaba preso às influências do passado né, não


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quer ouvir algo novo, algo que é um pouco diferente do que ele tá acostumado né, mas é mais questão... Daniele: É mais em moto clube assim, que são os rocks mais antigos. Marcelo: Em geral assim, é legal. Eu acho bom. Daniele: O público que a gente toca né, eles são bem receptivos, a gente gosta bastante. Eles sempre se animam, mesmo sendo barzinho ali tranquilo, sempre tem ali bastante gente que gosta, que canta junto. Sempre tem um ou outro. Marcelo: E uma primeira banda que abriu espaço pra gente tocar, que é o Muchileiros aqui da cidade, os caras tem três álbuns gravos e tal, tem músicas autorais fenomenais. Os caras cultuam a cena musical e o autoral também. Daniele: A gente começou mesmo a tocar assim com eles né. Marcelo: Muchileiros aqui em Campo Grande pra mim é um dos maiores. Tipo em termos de público, em termos de qualidade de som, em qualidade das músicas autorais. Tem muita coisa boa, tem no Spotify, ouve aí galera. Daniele: Muchileiros. Eu acho muito legal isso de a gente tentar buscar o nosso autoral, tentar abrir pras pessoas. Porque tem gente que gosta, tem gente que tem mente aberta, porque tem gente que é muito fechado pra coisa nova. Renato: Tem vez que a gente toca música que a gente nem fala que é nossa, aí depois... Daniele: Tem vezes que a gente fala depois que é nossa, aí o povo: nossa, achei que era de fulano! Renato: Traz essas influências que a gente aprendeu né, as músicas que a gente gosta. Daniele: A gente mistura um monte de coisa também. Renato: Um pouquinho de cada coisa né. Talita: E como vocês fazem essa divulgação nas redes socais? Vocês estudam bastante formas de divulgação? Renato: Produção. Marcelo: Produção. Daniele: Quem estuda mais essa parte de produção, quem pega mais essa parte é o produtor, mas eu sempre falo em todo show sobre a página e tal.


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Renato: Sim, a gente sempre procura divulgar nosso trabalho em cada show ou falar com alguns amigos. Aí sempre quando é algum show grande a gente busca mostrar mais a nossa música. Marcelo: Como a gente toca meio que regularmente, a cada show a gente consegue umas cinco ou dez curtidas a mais. Daniele: Sempre tem gente que vem falar pessoalmente com a gente: Ah, eu gostei. Sempre tem muita gente que vem falar pessoalmente aí eu falo, já que você gostou segue a gente. Ou então alguém vem pedir música e aí a gente pede pra mandar inbox lá no Facebook, Instagram pra gente tirar. Tem muita música que mandaram a gente “tirar” e a gente “tirou” e ficaram muito boas, transformadas no nosso estilo. Marcelo: A gente toca até hoje aí. Talita: Em que tipo de lugar vocês se apresentam? Renato: Mais casa de show né, bar, moto clube. Daniele: Restaurante, pub, moto clube também. As vezes a gente toca em aniversário, em eventos assim. Talita: E o que vocês acham do público aqui e em outros lugares que vocês já tocaram? Tem muita diferença? Marcelo: É bem de lua, né. Daniele: É, bem de lua. É que assim, depende do local entendeu. Tem local que tem mais público rock, tem lugar que é mais geral, mais eclético. Renato: É, tipo restaurantes. Daniele: Restaurantes. Marcelo: Depende se é show ou se é barzinho. Renato: Quando é show geralmente vem muita gente que gosta e quer ouvir mesmo né. É mais massa a energia. Daniele: E é muito legal, a gente interage com o público, o público pula, grita, canta junto. Muito legal. Em barzinho o público é mais geral. Marcelo: É o que dá energia é o público. Daniele: Barzinho é mais geral, restaurante né. Eu sempre tento trazer algumas músicas mais pop pra agradar a maior parte do pessoal também. Porque em restaurante não tem só público de rock, nesses barzinhos.


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Talita: E essa questão do fechamento de alguns locais, Lei do silêncio e tal, afetou de alguma forma? Renato: Sim. Daniele: Sim. Teve duas vezes que cancelaram show por causa disso. No dia a gente ia tocar no restaurante, aí fecharam lá por causa disso. Aí a gente fica tava marcado já, o que eu vou fazer agora? Cadê meu dinheiro? (risos) Marcelo: Cadê o cachê? (risos) Daniele: Mas eu tô bem preocupada com isso. Renato: Tem que esperar um pouco esse tempo passar né, em questão de adaptação do ambiente, do local, pra se ajustar né. Porque tem lugar que não vai poder ter mais música. Marcelo: Esse pub é novo, que cancelou. Aí foi uma multa de decibéis mesmo? Daniele: Foi seis mil reais. Marcelo: Não o valor, foi... Renato: Foi, foi. Daniele: Foi por causa dos decibéis. Aí cancelaram e não podia nem tocar música ambiente. É um bar sem música. Eu acho muito chato isso. Marcelo: E é um bar super bacana, muito massa lá. Daniele: Porque só as pessoas conversando já passa dos decibéis que eles querem, parece que é porque não querer ouvir música, gente tocando. Eu não sei se alguém já ouviu falar do filme Footloose, tá quase a mesma coisa. Porque lá proibiam as pessoas de tocar e dançar, na cidade o prefeito proibia. Tá quase virando a mesma coisa. Talita: Pra fechar, qual é o objetivo de vocês? Por que vocês fazem música e por que vocês continuam com a banda? Daniele: Cara, a gente gosta muito de passar mensagem pras pessoas, essas mensagens que a gente passa com a nossa música. Marcelo: Eu não consigo ficar sem. Renato: Eu também não consigo. Daniele: Música é uma coisa que vai e volta entendeu? As vezes você se sente, ah não quero mais. Aí a música vem e você fala: Cara, que maravilhoso. Renato: Música é bastante sentimento.


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Marcelo: Quando pega guitarra e violão é outro sentimento. Daniele: É. Renato: Então, a gente recebe sentimento do público, a gente emite sentimento tocando. Eu falo, se não for trabalhar tocando, eu vou trabalhar de outra forma porque a minha faculdade tá no caminho pra isso né, de eu trabalhar mexendo na parte técnica de matérias, instrumentos, pedais, caixa de som, essas coisas assim. Então, eu tô buscando música em todo o meu meio. Então é necessário pra mim. Marcelo: Tem uma máxima que fala: O que você vai fazer daqui dez anos? O que você se imagina fazendo? Eu me imagino tocando. Daniele: Eu também, Marcelo: Então é um bom caminho que eu tô fazendo. Pra mim é uma coisa que faz sentido agora e daqui dez anos também faz. Daniele: É muito bom, eu posso estar em um dia ruim, mas depois que eu começo a tocar é totalmente diferente. Procura a gente lá na página do Facebook, do Youtube, do Instagram. Banda Seven Four, galera. 6.3.6 – QUARTO MINGUANTE

Felipe Siqueira: Meu nome é Felipe Siqueira, toco contrabaixo na Quarto Minguante. Já venho aí de outras bandas e essa é a banda que eu tenho me empenhado mais. Yanco Feckner: Meu nome é Yanco Feckner. Toco guitarra na banda. Juliana: Meu nome é Juliana, eu sou cantora e toco guitarra e teclado na banda. Essa é minha primeira banda de verdade, sem ser coral ou qualquer outra coisa que eu já toquei solo. Talita Oliveira: Quando e como surgiu a banda? Yanco: Eu, o Felipe e o Renan, guitarrista, baixista, baterista, a gente tinha uma banda chamada Cinturão de Fótons, do qual nosso vocalista passou no mestrado e foi embora da cidade. Daí a gente gosta muito até hoje da banda e a gente no princípio quis continuar a banda, então a gente foi atrás de um vocalista para né. Eu já conhecia a Ju há algum tempo. Juliana: É, a gente se conheceu em 2016.


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Yanco: Daí como ela era menor de idade eu esperei ela fazer dezoito anos pra chamar ela pra uma banda. No caso eu chamei ela pra ser o vocal do Cinturão. Mas na hora que a gente começou a pegar umas músicas não deu muito certo. Não por falta de qualidade da Ju, mas porque como elas tinham sido feitas não encaixou muito bem na voz dela, mas a gente gostou muito do resultado do encontro dessas quatro pessoas né. Então a gente acabou optando por fazer uma banda nova, deixou o Cinturão lá guardadinho na gaveta e fazer uma banda nova. A Ju também tinha as composições dela que era algo com letras muito marcantes. Juliana: É, inclusive eu acho que começou mais a fazer um contraste quando... Felipe: Você trouxe a primeira música. Juliana: É, quando eu trouxe a primeira música, aí deu muito contraste. Yanco: Do que eram as músicas antigas, a gente viu que ia mudar muito a cara da banda. Felipe: Esse talvez tenha sido o ponto que a gente falou: Não, tem que fazer uma nova banda, pra fazer uma nova proposta pra esse som que a gente tá chegando aqui. Talita: E como é que vocês definiram essa nova proposta além das letras que ela trouxe? Como é que foi pra encaixar todo mundo? Juliana: A gente nem sabe se definiu exatamente. A gente foi muito pelas nossas músicas, quer dizer, pelas minhas músicas né, pelo som que a gente tava fazendo. Felipe: A Ju tem uma influência muito de MPB né, de MPB, de bossa e de não sei o que mais. Juliana: É basicamente MPB e bossa, muito forte. Felipe: E todos nós gostamos disso, só que a gente tá acostumado a tocar outras coisas. Juliana: Neo psicodélico, esse alternativo que eu também não conhecia. Eu fui conhecer com eles, então o que eu não conhecia junto, na verdade o que eu conhecia junto com o que eles conheciam formou uma coisa que a gente não sabe explicar ainda o que é, tanto que a gente não consegue definir exatamente o que é a banda. Ai, é rock alternativo, tem toques de psicodélico, aí a gente põe várias definições. Yanco: Eu acredito que assim, se for pegar a história de várias bandas a banda se define no seu segundo CG. Não necessariamente no seu segundo CG, mas na


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segunda leva de músicas, porque as primeiras levas é o que tá acontecendo agora, a Ju tá trazendo muita música que ela já tinha, de anos as vezes. Então já tá criando uma cara porque todo mundo tem essa identidade, mas acho que a partir do momento quando esgotar essas músicas antigas e a gente começar a fazer as músicas novas meio que pensadas para a banda e com influências na composição de todo mundo, talvez composições conjuntas, com letra de um, arranjo de outro, daí acredito que a gente vai realmente conseguir definir melhor. Ainda estamos num processo, já tem uma linha, já tem uma cara. Juliana: É, mas acho que a nossa essência é essa. Talita: Quais trabalhos vocês tão desenvolvendo e ainda pensam em desenvolver? Felipe: A gente pensa em gravar algumas músicas que a gente tem em formato caseiro mesmo, gravações com os equipamentos que a gente tem. Mas aí a gente tem, a gente ganhou recentemente... Juliana: Um prêmio no Batalha de bandas. Felipe: No Batalha de bandas como a banda mais votada e aí a gente vai ganhar uma gravação. Juliana: Profissional mesmo. Yanco: De uma música. Felipe: De uma música, então a gente pretende lançar como single essa música. De repente trabalhar mais ela, mas acho que a intenção é produzir mais material. Juliana: E também tocar mais, aqui em Campo Grande que a gente não tocou muito ainda. Talita: E sobre o contexto da cidade? O que vocês acham? Como é produzir música autoral aqui? Yanco: Esse ponto aí é bastante, assim, várias visões diferentes sobre ele né. Eu também trabalho nos bares, como técnico de som. Então, eu acho que eu tenho uma visão um tanto equilibrada tanto da visão de banda como da visão do bar né, do negócio. Hoje em Campo Grande a gente tá passando por uma crise bem séria de muitos bares em diferentes gêneros, estilo de bar mesmo, bares voltados pra música, bares as vezes voltados só pra alimentação ou bebida, que estão fechando. Então, as leis ambientais são bem rigorosas e os bares não estão conseguindo atender. Acho que


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tá faltando talvez uma releitura, uma adequação, claro que não podemos esquecer o meio ambiente é muito importante, incomodar as pessoas, tudo, mas o que a gente sabe que acontece, quem tá mandando, quem tá decidindo não tá vendo o problema. O último ajuste que teve na questão de ruído: Ah, tá tendo aí, tá alto o permitido por ruído, corta pela metade. Talvez não fosse esse o ajuste ideal, talvez um ajuste de 60, 70%. Então tá tendo muita dificuldade, tanto dos bares quanto as bandas. Eu acho que o que tá faltando principalmente do lado das bandas, olhando um pouco pelo lado dos bares, é principalmente esse meio autoral, as bandas trabalharem com profissionalismo né. Hoje em dia a gente conhece muitas bandas que tem um som interessante, bacana, mas não tá preocupada em trabalhar uma divulgação legal, as vezes faz um evento e você vê que a pessoa não leva um fã, não leva um nada porque ela não informou os fãs que ela iria tocar. Então eu acho que tem faltado um pouco de profissionalismo de algumas bandas, porque eu acho que se a gente não conseguir ajudar os bares a se manter, o público, fica difícil de eles devolverem pra gente o que a gente também precisa. Felipe: Eu acho que o que rola um pouco aqui na “cena” é a falta de identidade, tanto de público, como de artista. As vezes ele não se enxerga como provedor de conteúdo, como ajustador cultural, como atração, como entretenimento, como arte e o público talvez em forma de resposta pelo artista não dar o devido valor, as vezes não paga o ingresso, não vê assim a necessidade da contribuição dele. Ele parece que não se sente parte da “cena”, muitas vezes eu enxergo isso. Enxergo que existe uma falta de identidade por isso, que ele tá na “cena’, ele tá fazendo parte do movimento, mas ele as vezes não se enxerga, parece que tá tipo outsider assim né. Então eu acho que o que falta é um pouco essa consciência que o Yanco falou. Não somente tratar a música como entretenimento, mas sim como trabalho, como arte. Juliana: Eu concordo com isso, isso que eu ia falar. Eu não conheço muito esse meio ainda de bares, eu não conheço ainda, sou nova. Mas uma coisa que eu percebo entre meus amigos é que não valorizam, o pessoal não quer pagar ingresso e não quer ver uma banda nova, muito menos autoral. Eles querem ver aquilo que é mais confortável, que é cover, que é uma coisa que tem vários do mesmo e não uma coisa nova. É difícil também a gente arriscar o novo, mesmo que seja: Ai, é o meu amigo, mas eu não vou.


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Tem vários amigos que a gente posta no Facebook, eu vou e divulgo, falo vai. Ai, muito legal, curte tudo e não vai: Poxa, muito legal essa foto, bonita. Mas vai e não escuta a nossa música no Soundcloud sabe? Eu acho também complicado isso; Talita: Você falou que toca há bastante tempo, tá nesse meio da música há bastante tempo. Quais as principais diferentes que você vê de outra época e de agora? Do início pra agora. Yanco: É, com o tempo foi mudando muito né, eu toco hoje tem dez anos, já fez dez anos que eu toco, do meu primeiro show. Há dez anos atrás existia um meio muito diferente nacionalmente, bandas do Brasil inteiro viajavam, bandas que na época eram consideradas razoavelmente grandes para o mercado aceitavam cachês as vezes pequenos para vir a lugares como Campo Grande, que esse meio de rock sempre foi mais difícil, porque terra do sertanejo. Então, mas as bandas se esforçavam pra vir porque não existia tanta “cena” como a gente fala muito hoje da “cena”. A “cena” não existia, tava surgindo, então se dedicavam muito a isso. Então eu vi aqui em Campo Grande grandes bandas tocando com bandas de dois meses, que tocavam as vezes nem tão bem. Mas todo mundo tocava e todo mundo era muito feliz nisso. No entanto ainda não existia essa opção que a gente tem hoje do bar. Então, esses eventos aconteciam em bares muito simples, os equipamentos na época o bar não tinha equipamento, os músicos que se combinavam quem vai levar o que. Todo mundo levava um pouquinho e junto a gente conseguia criar um som legal pra fazer o evento acontecer. Depois disso houve uma queda, as mesmas bandas antigas se mantiveram, bandas novas não surgiram durante uns cinco anos e hoje surge uma nova “cena” já conseguindo alguma integração de tocar em bares maiores, ganhar algum cachê. Ainda é algo muito primário, não supre a necessidade mínima de uma banda sobreviver, porém já é alguma coisa que não tinha antes. Porém o público hoje responde diferente, antigamente o público valorizava alguma coisa, acho que por causa do surgimento. E hoje como é algo que está acontecendo e meio que tá aí, eu sinto isso, que o público não tá tão preocupado porque ele sabe que semana que vem vai ter evento de novo. Antes como era uma coisa que era bem underground, bem à margem, você não sabia se era uma coisa que ia ter de novo, porque era algo bem difícil de fazer e o público


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percebia isso. Então acho que hoje rola um pouco de, a qualidade de algumas coisas melhoraram, mas outras pioraram. Talita: Considerando todo esse contexto, por que fazer musica autoral em Campo Grande? Yanco: Produzir música, pode ser em Campo Grande, pode ser no Brasil, pode ser no mundo inteiro, eu acredito que ninguém que faça música autoral faz música pensando no lugar, nem tanto no fã mesmo, o fã vem depois, o próximo vem depois. Todo mundo surge na música por uma demanda pessoa, própria. Juliana: Pra mim, eu faço por amor à música. Pra mim música sempre foi tudo, sempre foi o que eu quis. E ter uma banda pra mim sempre foi meu sonho, coisa de sonho mesmo de criança que eu nunca consegui desistir na minha cabeça. Então pra mim, eu não me importo, se tiver dez pessoas no show pra mim o show tá valendo muito à pena, se eu tiver gostando do que eu tô tocando, com as pessoas que eu gosto de tocar. Felipe: Cara, eu faço música por necessidade. É um meio de expressão, como falar, como desenhar, pra mim fazer música é por necessidade. Eu preciso, sabe? Então é uma confissão e também virou trabalho, então pra mim é os dois juntos, não tem como desvencilhar. Juliana: O que eu acho que a gente podia falar é que mesmo com todas essas dificuldades, se você gosta, a gente tem que pensar, se a gente não fizer quem vai fazer? Sabe, tem várias pessoas que vão fazer, mas a gente também é importante, mesmo que pouco importante, sabe? E tentar persistir mesmo assim, é uma forma de resistência e a gente pode ter importância não só na parte cultural, mas em questões políticas. É assim que as pessoas faziam na ditadura, sabe? O Caetano surgiu. Como as pessoas surgiram? A gente pode ter um papel importante com certeza. Se você gosta de fazer arte, de fazer poesia, não importa se o meio é desvalorizado, você tem que fazer por amor e por ser importante pros outros, alguém vai te escutar.


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