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O Mágico de Oz

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L. Frank Baum

O mágico de Oz

Tradução e adaptação Ligia Cademartori

O mágico de Oz

igia Cademartori

Ilustrações Marilia Pirillo

L . F R A N K B A U M

O mágico de Oz

O mágico de Oz

Tradução e adaptação

Ligia Cademartori

Ilustrações

Marilia Pirillo

L . F R A N K B A U M 1a edição Curitiba – 2021

Copyright © herdeiros de Ligia Cademartori, 2021 Todos os direitos de edição reservados à EDITORA UNIVERSITÁRIA CHAMPAGNAT

Rua Imaculada Conceição, 1155 – Prédio da Administração – 6o andar Campus Curitiba – CEP: 80215-901 – Curitiba – PR Tel. (0-XX-41) 3271-1701

Editora assistente Bruna Perrella Brito Revisoras Lívia Perran e Marina Nogueira

Tradução e adaptação de The Wizard of Oz, Wordsworth Editions Limited, 1993, ISBN: 1-85326-112-2, publicado originalmente como The Wonderful Wizard of Oz, em 1900.

L. Frank Baum (1856-1919), escritor estadunidense, foi jornalista, dramaturgo e ator. Publicou O maravilhoso mágico de Oz em 1900, seguido por 13 outros títulos sobre a terra mágica de Oz, totalizando 70 livros para crianças.

Dados da Catalogação na Publicação Pontifícia Universidade Católica do Paraná Sistema Integrado de Bibliotecas – SIBI/PUCPR Biblioteca Central

Pamela Travassos de Freitas – CRB 9/1960

Baum, L. Frank (Lyman Frank), 1856-1919

B347m O mágico de Oz / L. Frank Baum ; tradução e adaptação Ligia Cademartori; 2021 ilustrações Marilia Pirillo. – 1. ed. – Curitiba : Champagnat, 2021. 96 p. : il. ; 30 cm.

Tradução e adaptação de The Wizard of Oz

ISBN 978-65-89590-17-0 (livro literário do estudante) 978-65-89590-16-3 (livro literário do professor)

1. Literatura infantojuvenil. I. Cademartori, Ligia. II. Pirillo, Marilia, 1969-. III. Título.

21-101

CDD 20. ed. – 028.5

Fundada em 1983, a Editora Universitária Champagnat, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, publica livros em todas as áreas do conhecimento. Tendo como premissa a relevância científica, literária, artística e cultural, visa a atender aos interesses de ensino, pesquisa e extensão da comunidade acadêmica e da sociedade como um todo.

tarja ilu Siga as pedras amarelas (Apresentação) 8 1. O ciclone...................................................................... 10 2. O encontro com os munchkins ........................12 3. Salvamento do Espantalho 16 4. Andando pela floresta 19 5. O resgate do Lenhador 21 6. O Leão Covarde ..................................................... 25 7. Em busca do Grande Oz ................................... 30 8. Flores mortais ............................................................ 33 9. Os ratos do campo 37 10. O guardião da muralha 40 11. A cidade maravilhosa.......................................... 44 12. Em busca da Bruxa Má ................................ 53
tarja ilu 13. O resgate 59 14. Os Macacos Alados ........................................... 61 15. Quem é Oz 64 16. A arte de um vigarista ......................................... 70 17. O balão sobe 73 18. A caminho do sul 75 19. Guardas da floresta ................................................ 78 20. O rei dos animais 83 21. O país dos quadlings ...........................................85 22. No castelo de Glinda 87 23. Em casa 90 O caminho mágico (Bate-papo pós-leitura)....................................................... 92 Informações paratextuais ............................................ 94

Siga as pedras amarelas

Apresentação

Você já deve ter ouvido falar de O mágico de Oz, pois esta é uma das mais famosas narrativas infantis de quantas se conhecem. A história de L. Frank Baum, publicada em 1900, vem encantando sucessivas gerações. Além disso, o filme de Victor Fleming, baseado na obra de Baum, é exibido com frequência na televisão.

Baum quis escrever um conto de fadas moderno, diferente de outros, em que as bruxas são sempre más e seres poderosos fazem o que querem com os pequenos. Nessa história não é bem assim, como você vai ver.

Dorothy, menina que mora numa fazenda com seus tios, é transportada pelos ares, pela fúria de um ciclone, para um lugar bem distante. A partir daí, tudo muda. Ela ingressa num mundo de criaturas e objetos mágicos. Mas, por mais fascinante que esse mundo possa ser, o que a menina quer é encontrar o caminho de volta para casa. Esse é o seu grande desejo.

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Para realizá-lo, ela percorre a estrada de pedras amarelas que a levará ao Grande Oz, mágico tão poderoso que imagina poderá mandá-la de volta. No caminho, encontra seus companheiros. O Espantalho, que decide procurar Oz para pedir um cérebro. O Leão, que vai em busca de coragem. O Lenhador de Lata, que deseja ter um coração.

Juntos, vivem aventuras extraordinárias ao atravessar o campo de papoulas mortais, enfrentar os Cabeças de Martelo, conhecer os Macacos Alados, entrar no País de Porcelana, transpor as muralhas da Cidade das Esmeraldas. Os quatro companheiros conhecem lugares maravilhosos e também fazem descobertas importantíssimas sobre eles mesmos.

Por que essa Terra se chama Oz? Dizem que o nome se deve à existência de certos arquivos na casa do escritor. Eram três. No primeiro, lia-se A-G; no segundo, H-N; no terceiro, O-Z. “Oz”?, pensou Baum, “Por que não”? Pronto. Tinha encontrado o nome para o reino mágico e fascinante onde você, agora, poderá entrar e percorrer com Dorothy e seus amigos. Tudo o que tem a fazer é virar as páginas seguintes.

Ligia Cademartori

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1. O ciclone

tarja ilu

orothy morava numa planície do Kansas, bem no meio dos Estados Unidos, com tio Henry e tia Ema, um casal de fazendeiros. Viviam numa casa bem pequena que tinha, no meio do assoalho, um alçapão. Era passagem para um abrigo onde podiam se proteger da violência dos ciclones, muito comuns na região.

Da porta, Dorothy olhava ao redor e só o que via era o campo cinzento sem uma árvore sequer. Tempos atrás, tinham pintado a casa. Mas não demorou para que o sol descolorisse a tinta e a chuva a levasse embora. A casa ficou triste e sem graça, como o resto.

Tio Henry e tia Ema nunca riam. Só Dorothy era alegre ali, graças a Totó, um cachorrinho preto, de pelo longo e macio, com quem gostava de brincar. Naquele dia, porém, estavam sem disposição para brincar. Sentado à soleira da porta, tio Henry olhava o céu escuro, preocupado. Dorothy também examinava o céu, enquanto tia Ema lavava a louça.

Ouviram, então, vindo do norte, o uivo baixo do vento. A grama alta se dobrou em ondas. Em seguida, o ar soprou do sul e a grama ondulou nessa direção. Tio Henry se levantou.

– É ciclone! – gritou à mulher. – Vou recolher o gado.

Tia Ema veio à porta olhar.

– Depressa, Dorothy, para o alçapão! – gritou.

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Totó saltou dos braços da menina e foi para baixo da cama. Ela foi atrás dele. Tia Ema, apavorada, correu para o abrigo. Dorothy conseguiu apanhar o cachorrinho e quis seguir a tia. Mas, antes de chegar ao alçapão, ouviu o vento rugir com mais violência. A casa balançou. Ela perdeu o equilíbrio e foi ao chão.

Então, algo muito estranho aconteceu.

A casa deu duas ou três voltas no ar e subiu devagar, como se fosse um balão. Os ventos do sul e do norte tinham se encontrado exatamente no lugar da casa. Era ali o centro do ciclone. No meio dele, o ar costuma ser calmo, mas a grande pressão de vento, vinda de todos os lados, elevou a casa ao alto e transportou-a por quilômetros, como uma pena ao sabor da tempestade.

Escureceu, o vento fazia barulho terrível, mas Dorothy, depois de alguns rodopios, sentiu-se embalada com doçura, como se estivesse num berço. Sentou-se quietinha no chão. Mas Totó não parava de correr e latir. Acabou se aproximando demais do alçapão aberto e caiu. A menina chegou a pensar que perderia o amigo. Só quando viu as orelhas dele despontando no buraco, compreendeu que a pressão do vento era tão forte, que ele não poderia cair. Arrastou-se, pegou Totó pelas orelhas e o trouxe de volta. Fechou o alçapão para evitar mais acidentes.

À medida que as horas passavam, ela perdia o medo. Deixou de se preocupar. A casa balançava, o vento soprava, ela fechou os olhos e adormeceu.

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2. O encontro com os munchkins

orothy acordou com um forte choque. Percebeu que a casa já não se movia nem havia escuridão. Abriu a porta. Deu um grito de surpresa ao olhar ao redor. A visão era maravilhosa. O ciclone trouxera a casa de volta a terra. Estava em meio a um campo de extraordinária beleza.

Olhava o cenário, encantada, quando percebeu a aproximação de estranho tipo de gente. Eram três homens e uma mulher idosa vestidos de modo muito esquisito. Embora fossem adultos, eram da altura dela. Seus chapéus altos, pontudos, tinham as abas enfeitadas com guizos que soavam alegremente quando eles se moviam. Os chapéus dos homens eram azuis, o da mulher era branco. Branca também era a capa que lhe descia dos ombros, salpicada de estrelinhas que, ao sol, brilhavam como diamantes.

A velhinha se dirigiu à menina com uma saudação:

– Seja bem-vinda à terra dos munchkins, nobre feiticeira. Somos gratos por ter matado a Bruxa Má do Leste e libertado o povo da escravidão.

Dorothy, espantada, disse:

– Obrigada, mas deve haver engano. Eu não matei ninguém.

– Bem, então, sua casa matou – respondeu a velhinha com uma risada –, o que dá no mesmo. Veja! – continuou, apontando para um canto da casa. – Os pés da bruxa estão debaixo da madeira.

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Dorothy soltou um grito ao ver os dois pés virados para cima, calçados com sapatos de prata de bico fino:

– Ai, meu Deus! A casa deve ter caído em cima dela. Que podemos fazer?

– Nada – disse a mulher.

– Quem era ela? – perguntou Dorothy.

– Como disse, era a Bruxa Má do Leste. Manteve os munchkins sob escravidão por muitos anos. Agora, estão livres e agradecidos a você.

– E quem são os munchkins? – perguntou Dorothy.

– São os habitantes da Terra do Leste, que a Bruxa Má dominava.

– A senhora é uma munchkin?

– Não, mas sou amiga deles. Sou a Bruxa do Norte.

– Meu Deus! – gritou Dorothy. – É uma bruxa de verdade?

– Claro, mas sou uma bruxa boa e as pessoas gostam de mim. Não sou tão poderosa quanto a Bruxa Má. Se fosse, já teria libertado essa gente.

– Pensava que todas as bruxas eram más – disse a menina, assustada por estar diante de uma bruxa de verdade.

– Ah, não, esse é um grande engano. Só há quatro bruxas em toda a Terra de Oz e duas delas, a do Norte e a do Sul, são muito boas. Mas as bruxas do Leste e do Oeste são mesmo más. Agora que destruiu uma delas, resta apenas uma bruxa má na Terra de Oz: a Bruxa Má do Oeste.

– Mas tia Ema me disse que as bruxas morreram há muitos anos.

– Quem é tia Ema?

– Minha tia que mora no Kansas, de onde eu venho.

– Não sei onde fica o Kansas – disse –, nunca ouvi falar a respeito. Diga, é um lugar civilizado?

– É, sim – respondeu Dorothy.

– Ah, então é por isso. Acho que, nos países civilizados, não há mais bruxas, magos, feiticeiros, mágicos. Mas a Terra de Oz nunca foi civilizada. Por isso, aqui, ainda há bruxas e mágicos.

– Que mágicos? – perguntou Dorothy.

– Na verdade, um mágico, o grande e terrível Oz – respondeu a bruxa, quase num sussurro. – Ele é mais poderoso que todos nós juntos. Vive na Cidade das Esmeraldas. ·

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Dorothy ia fazer outra pergunta, quando os munchkins puseram-se a gritar, apontando para a casa que havia caído sobre a Bruxa Má.

– O que foi? – perguntou a velhinha. Olhou para o lugar indicado e começou a rir. Os pés da bruxa morta haviam desaparecido completamente. Só restavam os sapatos de prata.

– Era tão velha – explicou a Bruxa do Norte – que logo secou e sumiu. Os sapatos agora são seus, use.

Apanhou os sapatos, soprou a poeira e estendeu-os à menina.

– São encantados, possuem um poder, mas não sei qual.

Dorothy levou os sapatos para casa. Voltou para o grupo e disse:

– Quero voltar para os meus tios. Devem estar preocupados comigo. Quem pode me ajudar?

Os munchkins e a Bruxa entreolharam-se. Balançaram a cabeça.

– No leste, há um grande deserto. Ninguém sobrevive à travessia.

– Acontece o mesmo no sul – disse outro. – É a terra dos quadlings.

– Dizem – falou um terceiro – que é a mesma coisa no oeste, onde vivem os winkies. A terra é dominada pela Bruxa Má do Oeste.

– No norte, fica a minha terra – disse a velha senhora. – Limita com o grande deserto em torno da Terra de Oz. Acho, querida, que vai ter que viver conosco.

Ao ouvir isso, Dorothy começou a chorar. Sentia-se só em meio àquela gente estranha. Suas lágrimas comoveram a todos. Então, a velhinha retirou o chapéu, balançou-o à altura do nariz e disse, com solenidade:

– Um, dois, três!

O chapéu se transformou em um quadro onde se lia, escrito com letras graúdas: DOROTHY DEVE IR À CIDADE DAS ESMERALDAS.

– Seu nome é Dorothy, querida? – perguntou a velhinha.

– Sim – respondeu a menina, enxugando as lágrimas.

– Então, deve ir para a Cidade das Esmeraldas. Talvez Oz possa ajudá-la.

– Onde fica essa cidade?

– Bem no centro do país. É governada por Oz, o grande mágico de quem lhe falei.

– E ele é bom? – perguntou a menina, ansiosa.

– É um bom mágico. Se é homem bom ou não, não posso dizer, porque nunca o vi.

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– Como faço para chegar lá?

– Terá que ir andando. O caminho é longo, às vezes agradável, outras, assustador. Mas vou usar todas as artes mágicas que conheço para protegê-la dos perigos.

– Não pode ir comigo? – perguntou a menina.

– Não, não posso. Mas vou lhe dar um beijo e ninguém ousará prejudicar quem foi beijada pela Bruxa do Norte.

Aproximou-se de Dorothy e beijou-a na testa. Deixou uma marca redonda e brilhante, que Dorothy só foi descobrir depois.

A Bruxa então lhe disse:

– O caminho para a Cidade das Esmeraldas é calçado com pedras amarelas. Não vai se perder. E, quando encontrar Oz, não sinta medo. Conte o que aconteceu e peça ajuda. Agora vá, querida.

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3. Salvamento do Espantalho

orothy colocou pães na cestinha e cobriu-os com pano branco. Olhou, então, para os pés e percebeu que seus sapatos estavam muito gastos.

– Sem dúvida, não servem para uma viagem longa, Totó. Nesse momento, viu sobre a mesa os sapatos de prata que tinham pertencido à Bruxa Má do Leste.

– Vamos ver se me servem – disse a Totó. – Nada melhor para uma longa caminhada, pois devem ser resistentes.

Retirou os velhos sapatos de couro e experimentou os de prata. Ficaram perfeitos. Apanhou a cesta.

– Agora, Totó, vamos para a Cidade das Esmeraldas perguntar ao Grande Oz como voltar para o Kansas.

Viu vários caminhos à frente, mas não demorou a encontrar o que era calçado com pedras amarelas. Animada, andava em direção à Cidade das Esmeraldas. Os sapatos de prata ressoavam pelo caminho.

O sol brilhava e ela ouvia o cantar dos pássaros. Não se sentia mal, para uma menina só em terra estranha. Cercas margeavam a estrada. Pintadas de delicado azul, marcavam os limites dos campos fartos em verduras e cereais. Ao longo do caminho, pessoas saíam das casas para vê-la e saudá-la com reverência. Sabiam que ela tinha destruído a Bruxa Má e os libertara da escravidão.

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– A que distância fica a Cidade das Esmeraldas? – perguntou Dorothy a um munchkin.

– Não sei – respondeu –, nunca estive lá. É melhor manter distância de Oz, a menos que precise muito dele. O caminho para a Cidade das Esmeraldas é longo. Levará dias para chegar e, mais adiante, o caminho se torna difícil e perigoso.

Ela ficou preocupada, mas sabia que só o Grande Oz era capaz de ajudá-la. Precisava ter coragem e não voltar atrás.

Despediu-se e continuou viagem pela estrada de pedras amarelas. Depois de muitos quilômetros, precisou descansar. Sentou-se numa cerca e ficou olhando o grande milharal diante dela. Não muito longe dali, havia um espantalho. Tinha sido colocado bem no alto, para que os pássaros não se aproximassem das espigas maduras.

A cabeça dele era um saquinho de palha onde tinham pintado olhos, nariz e boca. Sobre o corpo recheado com palha, uma roupa bem gasta. A menina examinava aquele estranho rosto quando, de repente, percebeu um olho piscar para ela. Não podia ser. Nunca tinha visto espantalho piscar. Mas, quando ele fez um sinal simpático com a cabeça, ela resolveu descer da cerca e se aproximar.

– Bom dia! – cumprimentou o Espantalho, com voz rouca.

– Ué, você fala? – perguntou a menina, assombrada.

– Falo, sim. Como vai?

– Bem, obrigada – respondeu. – E você?

– Não muito bem. É aborrecido ficar aqui, noite e dia, assustando corvos.

– E por que não desce?

– Tenho uma estaca enfiada nas costas. Mas, se me tirar daqui, ficarei agradecido. – Dorothy ergueu os braços e o retirou da estaca sem dificuldade. Era bem leve.

– Muito obrigado! Agora me sinto um novo homem. Ela ficou confusa. Estranhou um homem de palha que falava e andava.

– Quem é você? Para onde vai?

– Meu nome é Dorothy. Estou a caminho da Cidade das Esmeraldas. Vou pedir ao Grande Oz que me mande de volta ao Kansas.

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– Onde fica a Cidade das Esmeraldas? Quem é Oz?

– Você não sabe? – perguntou, surpresa.

– Não sei, mesmo. Não sei de nada. Sou todo de palha, não tenho cérebro – explicou com tristeza.

– Puxa, sinto muito.

– Se eu for com você à Cidade das Esmeraldas, será que o Grande Oz poderia me dar um cérebro para pensar?

– Não sei. Mas pode vir comigo, se quiser. Se não conseguir um cérebro, pelo menos vai se divertir com a viagem.

– Isso é verdade. Olhe – continuou, em tom de confidência –, não me importo de ter corpo estofado de palha, porque não me machuco. Se alguém pisa no meu pé ou me espeta um alfinete, também não me importo. Não sinto nada. Só não gosto que me chamem de bobo. Mas, com palha na cabeça, como evitar? Nunca vou saber coisa alguma nem vou ser como você, uma pessoa com cérebro.

– Entendo – disse a menina, com pena dele. – Se vier comigo, vou pedir a Oz para ajudá-lo.

– Obrigado! – respondeu.

Caminharam em direção à estrada. Dorothy ajudou-o a pular a cerca e, juntos, seguiram pelo caminho de pedras amarelas que levava à Cidade das Esmeraldas.

De início, Totó não gostou do novo companheiro. Desconfiado, farejava o homem de palha. Rosnava, pouco amigável. Mas Dorothy tranquilizou o novo amigo.

– Não se preocupe, Totó não morde.

– Ah, não me preocupo; se me morder, não vou sentir nada...

Riu e continuou:

– Deixe eu carregar a cesta para você. Não canso nunca. Vou lhe contar um segredo: neste mundo só tenho medo de uma coisa.

– Do quê? Do fazendeiro que fez você?

– Não. De fósforo aceso!

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4. Andando pela floresta

epois de algumas horas, ficou difícil caminhar. Faltavam algumas pedras, outras estavam quebradas. Volta e meia o Espantalho tropeçava. Quando se deparavam com buracos, Totó dava um salto e Dorothy os contornava, mas o Espantalho, sem cérebro para pensar, ia em frente e caía. Pelo menos não se machucava. Dorothy o punha em pé e ele ria.

Ao meio-dia, sentaram à beira de um riacho.

– Não quer me contar uma história, enquanto descansamos? – perguntou a menina.

O Espantalho olhou para ela chateado.

– Ah! Minha vida é muito curta, não tenho nada de interessante para contar. Fui feito há dois dias. Ao me ver, os corvos e outros pássaros fugiram, pensando que eu fosse um homem. Eu me senti importante. Mas um corvo velho voou perto de mim e me olhou com atenção. Pousou em meu ombro e disse: “O fazendeiro pensou que me enganava com um boneco desajeitado como você? Qualquer corvo sabe que você não passa de um monte de palha”. Desceu e comeu milho à vontade. Os outros pássaros, ao ver aquilo, vieram comer também. Fiquei triste. Não era um bom espantalho. Mas o velho corvo me confortou dizendo: “Se você tivesse cérebro, seria tão bom quanto qualquer pessoa e melhor até do que muitas que eu conheço. Cérebro é o que importa ter neste mundo, seja você corvo ou

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gente”. Decidi fazer o possível para ter cérebro. Foi sorte você ter aparecido e me tirar dali. Pelo que diz, o Grande Oz pode me dar um cérebro.

– Espero que sim – disse Dorothy –, já que quer tanto!

– Não pode imaginar quanto eu desejo. Nada pior do que a gente se sentir bobo.

– Bem – disse a menina, dando a cesta para o Espantalho –, vamos embora.

Ao final da tarde, chegaram a uma floresta de árvores tão altas que os ramos se entrelaçavam sobre o caminho e impediam a entrada da luz.

– Se a estrada avança floresta adentro, deve continuar fora dela – disse o Espantalho. – Se a Cidade das Esmeraldas fica do outro lado, devemos ir em frente.

– Quem não sabe disso? – disse Dorothy.

– É só por isso que sei. Se precisasse de cérebro para descobrir, teria ficado calado.

Uma hora depois, vagavam na escuridão. Dorothy não enxergava nada, mas Totó, sim. Cachorros veem bem no escuro. O Espantalho disse que também podia ver como se fosse dia. Então, a menina deu a ele o braço e conseguiram andar muito bem.

– Se vir alguma casa, algum lugar onde possamos passar a noite – disse ela –, avise, é desagradável andar no escuro.

Não demorou muito e o Espantalho parou.

– À direita há uma cabana feita de troncos e galhos.

– Ainda bem! Estou exausta.

O Espantalho a conduziu pela floresta até a cabana. Dentro, encontrou cama de folhas secas. A menina deitou e dormiu profundamente, com Totó ao lado dela. O Espantalho, que não sentia cansaço, esperou pacientemente que despertassem.

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5. O resgate do Lenhador

a manhã seguinte, quando Dorothy acordou, foram à procura de um riacho de água límpida. Não restava muito pão. “Ainda bem que o Espantalho não se alimenta”, pensou Dorothy. Mal tinha o suficiente para ela e Totó naquele dia. De repente, ouviu um gemido profundo.

– O que é isso? – perguntou.

– Nem imagino, mas podemos descobrir – respondeu o Espantalho.

Ouviram um segundo gemido. Voltaram em direção à floresta. Dorothy percebeu que algo brilhava ao sol. Correu até lá. Parou com um grito de surpresa. Diante de uma árvore enorme, viu um homem de lata, imóvel, com um machado na mão. Cabeça, braços e pernas eram ligados por dobradiças.

– Era você que gemia? – perguntou Dorothy.

– Sim – respondeu o Lenhador de Lata. – Gemo e suspiro há mais de um ano. Ninguém me ouve nem me ajuda.

– O que quer que eu faça? – perguntou, comovida pela triste voz do homem.

– Preciso de óleo para lubrificar minhas juntas. Estou enferrujado, não consigo me mexer. Você vai encontrar uma lata de óleo na cabana.

Dorothy correu até lá, pegou a lata, voltou o mais rápido que pôde e perguntou:

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– Como devo fazer?

– Comece passando óleo em meu pescoço – disse o Lenhador de Lata.

O pescoço estava tão enferrujado que o Espantalho precisou ajudar, movendo-o de um lado a outro até o homem poder girá-lo livremente.

– Agora, as juntas dos braços – pediu o homem de lata.

Dorothy assim fez e coube ao Espantalho flexionar os braços com cuidado. Logo ficaram livres da ferrugem, pareciam novos. O Lenhador de Lata deu um suspiro de satisfação e baixou o machado. Encostou-o numa árvore.

– Que alívio! Seguro este machado desde que me enferrujei. Agora, se lubrificar as juntas das pernas, fico bom por inteiro.

Repetiram o tratamento nas pernas do Lenhador de Lata, até ele poder movê-las por conta própria. Agradecia sem parar. Parecia ser criatura bem-educada e, sem dúvida, cheia de gratidão.

– Se vocês não tivessem aparecido, talvez eu ficasse lá para sempre. Salvaram minha vida. Como chegaram até aqui?

– Estamos a caminho da Cidade das Esmeraldas – respondeu a menina. –Pretendemos encontrar o Grande Oz. Paramos na cabana para passar a noite.

– O que querem com ele?

– Eu, voltar para casa. O Espantalho, conseguir um cérebro.

O Lenhador de Lata pensou seriamente no que ouviu e perguntou:

– Acha que Oz poderia me dar um coração?

– Creio que sim. Não deve ser mais difícil do que dar um cérebro ao Espantalho.

– Então, se permitirem, vou com vocês pedir a Oz que me ajude.

– Venha com a gente – disse o Espantalho, animado. E Dorothy acrescentou que seria um prazer tê-lo como companhia.

O Lenhador pôs o machado sobre o ombro, e o grupo voltou à estrada de pedras amarelas. Foi sorte terem encontrado o novo companheiro de viagem. Pois, mal tinham retomado a caminhada, depararam-se com um lugar onde as árvores eram tão cerradas que os galhos, estendidos pela estrada, não permitiam passar. O Lenhador pegou o machado e se pôs a trabalhar. Em pouco tempo, abriu o caminho.

Mergulhada em pensamentos, a menina não percebeu que o Espantalho tropeçara num buraco, caindo fora da estrada. Ele teve que chamar por socorro.

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– Por que não contorna o buraco? – perguntou o Lenhador de Lata.

– Porque não raciocino – explicou o Espantalho. – Só tenho palha na cabeça. É por isso que vou a Oz pedir que me dê um cérebro.

– Ah, sei. Mas ter cérebro não é a coisa mais importante do mundo.

– Você tem?

– Não, minha cabeça é totalmente vazia. Mas já tive cérebro e também coração. Experimentei dos dois e acho que ter coração vale mais.

– E por quê?

– Vou contar a minha história e vai entender.

Enquanto caminhavam, o Lenhador contou o seguinte:

– Conheci uma moça belíssima e fiquei apaixonado. Ela prometeu casar comigo, mas vivia com uma mulher para quem fazia todo o serviço da casa. A mulher não queria perder a regalia. Procurou a Bruxa Má do Leste e lhe prometeu três cabras, duas ovelhas e uma vaca se impedisse o casamento. Sabem o que a Bruxa fez? Enfeitiçou meu machado. Um dia, eu estava cortando árvores e o machado escorregou da minha mão e cortou minha perna esquerda.

Suspirou.

– Foi um desastre. Como eu podia, com uma perna só, ser bom lenhador? Pedi ao funileiro que me fizesse uma perna de lata. Voltei a cortar lenha. Pois o machado escorregou da mão outra vez e cortou-me a perna direita. Procurei o funileiro para que me fizesse outra perna. Aí, o machado enfeitiçado cortou-me os braços. Nem assim desanimei, passei a ter braços de lata. A Bruxa não desistiu. Fez o machado cortar minha cabeça. Pensei que, desta vez, seria o fim, mas o funileiro apareceu e me fez uma cabeça de lata. Acreditava ter vencido a Bruxa Má e me pus a trabalhar com todo o empenho. Ela, então, pensou numa maneira de acabar com meu amor pela moça. Fez o machado escorregar de novo. Desta vez, cortando meu tronco em dois. Veio, de novo, o funileiro em meu socorro. Fez um tronco de lata que uniu à cabeça, às pernas e aos braços com dobradiças, para que eu pudesse me mover como antes. Mas, pobre de mim, não tinha mais coração. Não sentia amor pela moça e, portanto, já não me importava casar ou não.

Fez uma pausa e prosseguiu.

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– Meu corpo brilhava tanto que cheguei a ter orgulho. Só de uma coisa tinha medo: que as juntas enferrujassem. Guardava uma lata de óleo na cabana, para me lubrificar sempre que precisasse. Um belo dia, esqueci. Veio uma chuva forte e, antes que percebesse o perigo, estava enferrujado. Fiquei lá, em pé no meio da mata, como vocês me encontraram. Uma experiência terrível. Mas tive tempo para pensar no que havia acontecido. A perda maior que sofri foi a do coração. Enquanto amava, não existia homem mais feliz na terra. Mas, sem coração, como amar? Por isso, vou a Oz pedir um coração. Se conseguir, vou atrás da moça e caso com ela.

– Mesmo assim – disse o Espantalho –, prefiro cérebro a coração. Um bobo com coração não sabe o que fazer com ele.

– Pois fico com o coração – contrapôs o Lenhador. – Inteligência não faz ninguém feliz‚ e felicidade é o que importa.

Dorothy não disse nada. Estava intrigada. Qual de seus amigos estava certo? Qual, errado? Concluiu que, se voltasse para casa, não lhe importaria se um ficasse sem cérebro, o outro, sem coração ou se conseguissem o que queriam.

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6. O Leão Covarde

or todo esse tempo, Dorothy e os companheiros andaram em meio à densa floresta.

– Quanto tempo leva para sairmos da floresta? – perguntou ela ao Lenhador.

– Não sei, nunca fui à Cidade das Esmeraldas. Meu pai foi uma vez. Disse que a viagem é longa e o percurso, perigoso, mas tudo fica bonito próximo à cidade onde vive o Grande Oz. Não temos o que temer. Trouxe a lata de óleo, o Espantalho não se machuca e você traz na testa a marca que a protege de qualquer perigo.

– Mas, e Totó? O que vai protegê-lo?

– Nós o protegeremos, caso corra perigo – disse o Lenhador.

Nesse exato momento, ouviu-se um terrível rugido e um leão enorme surgiu no meio do caminho. Bastou erguer uma pata para o Espantalho voar para fora da estrada. Atacou o Lenhador de Lata com garras afiadas. O cachorrinho tinha, agora, um inimigo pela frente. Correu em direção à fera, e o leão abriu a bocarra para devorá-lo. Dorothy, sentindo que poderia perder o amigo, sem avaliar o perigo, avançou e deu um tapa no focinho do leão. Gritou:

– Você não vai morder o Totó! Onde já se viu bicho do seu tamanho brigar com cachorrinho tão pequeno? Não tem vergonha, não?

– Mas eu não mordi – disse o Leão, esfregando a pata no focinho, onde a menina tinha batido.

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– Não, mas tentou. Você não passa de um covarde.

– Eu sei disso – disse o Leão, baixando a cabeça, envergonhado. – Sou mesmo um covarde, o que posso fazer?

– E eu é que vou saber? Imagine, atacar um homem de palha como o Espantalho!

– Ele é de palha, é? – perguntou o Leão, surpreso, ao ver Dorothy erguer o companheiro.

– É claro que é! – respondeu ela, ainda furiosa.

– Ah, então foi por isso que caiu fácil. Fiquei surpreso ao vê-lo sair voando. O outro também é de palha?

– Não, é de lata. – Enquanto falava, ajudava o Lenhador a ficar em pé.

– Então foi por isso que estraguei as unhas. Quando arranharam a lata, senti um frio na espinha. E esse animal que você gosta tanto, o que é?

– É Totó, o meu cachorro.

– É de lata ou de palha?

– Nem de uma coisa nem de outra. É de carne.

– Como é estranho e pequenino, visto de perto. Ninguém atacaria um animalzinho desses, a não ser um covarde como eu – disse, triste, o Leão.

– E por que você é covarde? – perguntou ela, admirada com a declaração.

– Ah, é um mistério. Acho que nasci assim. Os outros animais da floresta pensam que sou valente, pois o leão é considerado o Rei dos Animais. Disseram-me que, se rugir alto, deixo todos apavorados e fogem do meu caminho. Mas, se encontro alguém à minha frente, quem fica em pânico sou eu. Se um elefante, tigre ou urso resolvesse me enfrentar, eu sairia correndo. Sou um completo covarde. Sorte minha os bichos fugirem, mal ouvem o meu rugido.

– Isso não está certo. O Rei dos Animais não pode ser um covarde – disse o Espantalho.

– Sei disso – respondeu o Leão, enxugando uma lágrima com a ponta da cauda. – É o que me deixa infeliz. Basta eu pressentir perigo que meu coração dispara.

– Talvez você tenha algum problema cardíaco – disse o Lenhador. – É, pode ser – foi o comentário do Leão.

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– Se for, sorte sua. Prova que tem coração. Eu, como não tenho, jamais vou sofrer de doença cardíaca.

O Leão, pensativo, disse:

– Talvez, se eu não tivesse coração, não fosse covarde.

– Você tem cérebro? – perguntou o Espantalho.

– Acho que sim. Nunca olhei para saber.

– Eu não tenho. Minha cabeça é cheia de palha. Por isso vou ao Grande Oz pedir que me dê um.

– E eu vou pedir um coração – disse o Lenhador.

– E eu, que me mande, com Totó, de volta para casa – acrescentou Dorothy.

– Posso ir com vocês? – perguntou o Leão. – A vida sem um pouco de coragem é insuportável.

– Vai ser bom – disse a menina. – Assim os animais selvagens vão se manter afastados.

Mais uma vez, o grupo se pôs a caminho.

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7. Em busca do Grande Oz

aquela noite, como não avistassem casa onde pousar, acamparam debaixo de uma árvore frondosa e partiram quando amanheceu. Foi um dia agitado para os viajantes. Ainda não tinham andado uma hora, quando viram um abismo em meio à estrada. Dividia a floresta em duas partes. Era muito profundo e com pedras pontiagudas lá embaixo. A descida era impossível. Parecia que a viagem tinha chegado ao fim.

– O que vamos fazer? – perguntou Dorothy, desesperada.

– Não tenho a menor ideia – respondeu o Lenhador.

O Leão sacudiu a juba, pensativo. E o Espantalho disse:

– Não podemos voar nem descer ao fundo do abismo. Se não pudermos pular até o outro lado, tudo se acaba aqui.

O Leão Covarde avaliou a largura do abismo.

– Acho que consigo pular para o outro lado.

– Então, está resolvido – disse o Espantalho. – Você pode nos levar às costas, um de cada vez.

– Posso tentar. Quem vem primeiro?

– Eu – disse o Espantalho. – Se você errar o pulo, Dorothy morre na queda. Se o Lenhador de Lata bater naquelas pedras lá do fundo, vai ficar amassado. Mas, se eu cair, não importa, eu não me machuco.

– Tenho medo de cair – disse o Leão Covarde –, mas não há alternativa. Suba às minhas costas!

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O Espantalho montou nas costas do Leão. A fera chegou na beira do precipício e se abaixou. Arremessou o corpo para a frente, atravessou o ar e chegou a salvo do outro lado. Todos ficaram entusiasmados com a facilidade com que saltara. Deixou o Espantalho do outro lado e pulou outra vez sobre o abismo.

Era a vez de Dorothy ser transportada. Ela apanhou Totó e montou no Leão. Segurou com força sua juba. Teve a impressão que voava e, antes que pudesse pensar, já estava do outro lado. E mais uma vez o Leão saltou sobre o abismo. Tinha que trazer o Lenhador de Lata.

Do outro lado do abismo, a floresta era densa e lúgubre. Retornaram à estrada de pedras amarelas. Silenciosos, caminhavam entretidos com um só pensamento: “Depois de atravessar aquelas árvores, veriam o sol brilhar novamente?”.

Vinham estranhos sons dos confins da floresta. O Leão explicou sua origem: o país dos kalidahs.

– Kalidahs? – perguntou a menina.

– Sim, monstros com corpo de urso e cabeça de tigre.

O Leão ia continuar, mas parou, surpreso. Diante deles, um abismo mais profundo e ainda mais largo que o primeiro. Percebeu que, desta vez, não poderia pular. O Espantalho pensou muito e disse:

– Olhem aquela árvore imensa bem perto do fosso. Se o Lenhador puder derrubá-la, vai cair do outro lado. Por ela podemos atravessar com facilidade.

– A ideia é ótima – disse o Leão. – Até parece que tem cérebro.

O Lenhador de Lata começou a trabalhar e, em pouco tempo, a árvore estava quase cortada. O Leão, então, pôs as patas dianteiras no tronco e empurrou. Ela foi se inclinando devagar e tombou. Os ramos estenderam-se na outra margem.

Tinham começado a atravessar a ponte improvisada quando ouviram, atrás deles, grunhidos arrepiantes. Voltaram-se, apavorados. Duas feras enormes, com corpo de urso e cabeça de tigre, corriam para atacá-los. O Leão estremeceu.

– São os kalidahs.

– Rápido – gritou o Espantalho –, atravessem a ponte.

O Leão, mesmo amedrontado, encarou os kalidahs. Rugiu alto e de modo tão terrível que Dorothy gritou, o Espantalho caiu e os monstros pararam de grunhir, espantados.

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Mas eram dois e maiores do que o Leão. Foram em frente. O Leão começou a atravessar o tronco, mas, ao se voltar, viu que também estavam atravessando.

– Estamos perdidos! Com aquelas garras, vão nos fazer em pedaços. Fique atrás de mim, Dorothy. Vou lutar até morrer.

– Um minuto! – gritou o Espantalho. – Sei qual a melhor solução.

Era cortar a árvore. O Lenhador pôs o machado a funcionar. Os kalidahs estavam no meio do tronco, quando a árvore despencou no abismo, levando na queda os tenebrosos monstros. O Leão deu um suspiro de alívio:

– Bem, desta escapamos. O susto foi tão grande que meu coração está aos pulos.

– Ah! – disse o Lenhador de Lata – como eu gostaria de ter um coração aos pulos...

A aventura aumentou a ânsia por saírem da floresta. À tarde, chegaram à margem de um grande rio. Do outro lado, a estrada de pedras amarelas conduzia a um campo repleto de flores, árvores e frutas. Encantaram-se com a visão.

– Como fazemos para atravessar o rio? – perguntou Dorothy.

– Isso é fácil – respondeu o Espantalho. – O Lenhador constrói uma balsa e navegamos até o outro lado.

Mas construir uma balsa leva tempo. Escolheram um lugar sob as árvores para dormir.

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8. Flores mortais

grupo acordou animado na manhã seguinte. O campo ensolarado diante deles era convite a prosseguir viagem. Com longas varas, empurravam a balsa. Iam bem, mas, no meio do rio, a correnteza arrastou-os. As varas já não alcançavam o fundo. Afastavam-se cada vez mais da estrada de pedras amarelas.

– Se não chegarmos à outra margem – disse o Lenhador –, seremos arrastados ao país da Bruxa Má do Oeste, que nos fará seus escravos.

– Vou ficar sem o meu cérebro – disse o Espantalho.

– Eu, sem a minha coragem – disse o Leão Covarde.

– Sem o meu coração – disse o Lenhador de Lata.

– Sem a minha casa – disse Dorothy.

– Temos que ir à Cidade das Esmeraldas de qualquer jeito – disse o Espantalho.

E‚ assim dizendo, enfiou a vara na água com tanta força que ela ficou presa na lama do fundo do rio. Tentou retirá-la, mas não conseguiu. Tentou soltar-se, mas não teve tempo. A balsa se foi e o Espantalho ficou lá, preso à vara, no meio do rio.

– Adeus! – gritou aos companheiros.

Era péssima a situação do Espantalho. Pensou: “Agora estou pior do que antes. No milharal, eu podia fingir que assustava os corvos. Mas de que serve um espantalho no meio do rio? E ainda vou ficar sem o meu cérebro!”.

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A balsa se foi rio abaixo, levando os companheiros.

– Temos que fazer algo para salvá-lo – disse o Leão. – Posso nadar até a margem e puxar a balsa, se agarrarem minha cauda.

Pulou dentro do rio e, rápido, o Lenhador de Lata agarrou sua cauda. O Leão nadou com toda a força. Não era fácil rebocar a balsa. Mas, pouco a pouco, foram vencendo a correnteza. Dorothy, com uma vara, ajudou a empurrar a embarcação para a terra.

Exaustos, pisaram na margem do rio. A correnteza os havia afastado da estrada de pedras amarelas. O Leão se estirou na grama para se secar, e o Lenhador perguntou:

– O que vamos fazer agora?

– Temos que voltar para a estrada – disse Dorothy.

– O melhor a fazer para encontrá-la é seguir pela margem do rio – observou o Leão.

Depois de recobrarem as forças, prosseguiram na direção indicada pelo Leão. De repente, o Lenhador de Lata gritou:

– Olhem lá!

No meio do rio, agarrado à vara que impulsionara a balsa, solitário e triste, estava o Espantalho.

– O que podemos fazer para salvá-lo? – perguntou Dorothy.

O Leão e o Lenhador balançaram a cabeça, como quem diz “não tem jeito”. Sentados na margem, olhavam para o companheiro, quando uma cegonha voou perto deles. Pousou.

– Quem são vocês? Para onde vão? – perguntou a Cegonha.

– Meu nome é Dorothy. Estes são meus amigos, o Lenhador de Lata e o Leão Covarde. Estamos a caminho da Cidade das Esmeraldas.

– O caminho não é este – disse a Cegonha, virando o longo pescoço para olhar melhor o grupo estranho.

– Eu sei, mas perdemos o Espantalho e estamos pensando em um meio de salvá-lo.

– Onde ele está?

– Ali, no meio do rio.

– Se não fosse tão grande e pesado, eu o apanharia para vocês – disse a Cegonha.

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– Mas ele não pesa quase nada! – disse a menina, ansiosa. – É de palha!

– Bem, vou tentar. Mas‚ se for pesado demais, terei que soltá-lo no rio. Levantou voo e apanhou o Espantalho com as garras. Trouxe-o para a margem onde estavam seus amigos. O Espantalho, contentíssimo, abraçava a todos. Quando retomaram a caminhada, estava tão feliz que cantava.

– Eu estava com medo de ficar naquele rio para sempre – disse. – Dona Cegonha, a senhora foi muito boa comigo. Se algum dia tiver cérebro, vou procurá-la para retribuir o que fez.

– Não se preocupe – disse a Cegonha, voando entre eles. – Gosto de ajudar a quem precisa.

– Obrigada – respondeu Dorothy.

E, então, avistaram as plantações de papoulas. Eram de um vermelho tão intenso que perturbavam a vista.

– Não são maravilhosas? – perguntou a menina, respirando o forte aroma das flores.

– Devem ser – respondeu o Espantalho. – Quando tiver cérebro, poderei apreciá-las, com certeza.

– Quando tiver coração, vou amá-las – disse o Lenhador de Lata.

– Sempre gostei de flores – disse o Leão. – São frágeis e desamparadas. Mas nunca vi na floresta nenhuma tão linda como as que vejo aqui.

A variedade de flores tinha desaparecido. Apenas papoulas de intenso aroma cobriam os campos. São flores que podem adormecer e matar uma pessoa. Dorothy não sabia disso. Nem podia se afastar das papoulas vermelhas e deslumbrantes que estavam por toda parte. Seus olhos começaram a pesar. Queria descansar e dormir. O Lenhador não permitiu.

– Temos que encontrar a estrada antes do anoitecer – disse.

O Espantalho concordou. Caminharam até Dorothy não poder mais. Já não conseguia evitar que os olhos se fechassem e caiu adormecida entre as papoulas.

– O que vamos fazer agora? – perguntou o Lenhador.

– Se a deixarmos aqui, ela vai morrer – disse o Leão. – O cheiro das flores está acabando conosco. Mal consigo manter os olhos abertos, e o cachorro já está dormindo.

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Era verdade. Totó tinha caído no sono ao lado de sua dona. Mas o Espantalho e o Lenhador de Lata, como não eram de carne e osso, não precisavam temer o perfume das flores. O Espantalho gritou ao Leão:

– Corra o máximo que puder, fuja do campo de flores. A menina, nós levamos conosco. Mas você é pesado demais.

O Leão saiu correndo. No momento seguinte, tinha desaparecido da vista dos dois.

–Vamos fazer uma cadeirinha com os braços para carregar Dorothy –disse o Espantalho.

Usaram as mãos como assento, puseram Totó no colo da menina e a carregaram pelo campo de papoulas. Andavam, andavam e parecia que as flores não tinham fim. Acabaram por encontrar o Leão caído entre papoulas. O perfume era forte demais até para uma fera.

– Não podemos ajudá-lo – disse o Lenhador de Lata com tristeza. – É muito pesado. Vai ter que ficar aqui, dormindo para sempre.

– É uma pena – disse o Espantalho. – É covarde, mas bom companheiro.

Levaram a menina para um lugar perto do rio, bem distante do campo de papoulas. Deitaram Dorothy na grama e ficaram à espera de que a brisa fresca a despertasse.

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9. Os ratos do campo

ão deviam estar longe da estrada de pedras amarelas.

– Foi por aqui que a correnteza nos arrastou – disse o Espantalho.

O Lenhador ia responder, mas ouviu um rosnado. Um animal estranho vinha na direção deles. Era um gato-do-mato enorme correndo atrás de um ratinho do campo. Mesmo sem ter coração, sabia que não era certo gato selvagem matar bichinho inofensivo como aquele. Levantou o machado. Quando o gato-do-mato passou por ele, decepou-lhe a cabeça.

Ao ver-se livre do inimigo, o rato do campo parou. Aproximou-se do Lenhador e guinchou baixinho:

– Muito obrigado. Salvou a minha vida.

– Não tenho coração, sabe? Por isso gosto de ajudar a quem precisa. Não importa que seja apenas um rato.

– “Apenas um rato!” – gritou, indignado o animalzinho. – Acontece que eu sou a Rainha dos Ratos do Campo.

– Oh! É mesmo? – admirou-se o Lenhador, fazendo uma reverência.

– Sou, sim, e, portanto, realizou grande feito ao me salvar.

Nesse exato momento, apareceu uma porção de ratos. Dobravam-se tanto para saudar a rainha, que quase ficavam de cabeça para baixo. Dirigindo-se aos súditos, ela disse:

– Este homem de lata engraçado matou o gato-do-mato e salvou a minha vida. De agora em diante, devem servi-lo e satisfazer seus desejos.

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– Entendido! – guincharam os ratos em coro estridente.

Mas, de repente, correram em todas as direções. Totó acordou e, ao ver tantos ratos ao redor, latiu entusiasmado e saltou no meio deles. O Lenhador de Lata segurou o cachorrinho com força e chamou os ratos de volta:

– Venham! Não há perigo.

A Rainha dos Ratos esticou a cabeça para fora da touceira onde tinha se escondido e perguntou, cautelosa:

– Tem certeza de que ele não vai nos pegar?

– Não vou permitir, Majestade! Pode ficar tranquila.

Os ratos foram voltando um a um. Um dos maiores tomou a palavra:

– Há algo que possamos fazer em retribuição ao salvamento de nossa rainha?

– Nada de que me lembre – respondeu o Lenhador.

Mas o Espantalho, que tentava pensar, apesar das suas dificuldades, disse prontamente:

– Há algo que podem fazer, sim. Salvem nosso amigo, o Leão Covarde, que está adormecido no campo de papoulas.

– Um leão! – gritou a Rainha. – Vai nos devorar.

– Ah, não. É um leão covarde.

– Mesmo?

– É ele próprio quem diz. Além disso, jamais atacaria amigos nossos.

– Muito bem – disse a Rainha. – Confiamos em você. O que devemos fazer?

– Convoque todos os ratos a se apresentarem, o mais rápido possível, trazendo um pedaço de barbante.

A Rainha ordenou aos súditos que partissem logo.

– Agora – disse o Espantalho ao Lenhador –, vá até as árvores da margem do rio. Faça uma carroça. Precisa ser resistente para transportar o Leão.

Quando os ratos começaram a chegar, a carroça já estava pronta. O Espantalho e o Lenhador usaram os barbantes para amarrar os ratos à carroça.

O Leão era mesmo pesado e deu trabalho colocá-lo no transporte. Mas conseguiram. A Rainha ordenou aos súditos que fossem rápidos. Temia que, se demorassem no campo de papoulas, caíssem adormecidos.

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No início, as criaturinhas, embora numerosas, mal puderam mover a carroça. Mas, depois que o Espantalho e o Lenhador a empurraram, a tarefa ficou mais fácil. Aos poucos, o Leão deixou o campo rubro de papoulas e voltou aos campos verdes, onde podia respirar ar fresco.

Dorothy despertou a tempo de ver os ratinhos salvarem seu companheiro. Agradeceu muito à Rainha, que lhe deu um apito de prata:

– Se precisarem de nós novamente, soprem este apito e viremos atendê-los.

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10. O guardião da muralha

uando o Leão abriu os olhos e saiu da carroça, ficou muito contente por ainda estar vivo.

– Corri o máximo que podia – disse com um bocejo –, mas o cheiro das flores era forte. Como me tiraram de lá?

Contaram-lhe a respeito dos ratos do campo e de como, generosamente, o tinham salvo da morte. O Leão Covarde riu:

– É engraçado. Sempre me considerei grande e forte. No entanto, flores delicadas quase me mataram e animais minúsculos me salvaram. E, agora, companheiros, o que vamos fazer?

– Continuar a viagem até encontrar a estrada de pedras amarelas – disse Dorothy.

Agora, a estrada era bem pavimentada e atravessava belos campos. Reapareceram as cercas à beira da estrada. Mas, desta vez, pintadas de verde.

Passaram por diversas casas e parecia que as pessoas desejavam perguntar algo a eles. Usavam roupas verdes e chapéus de ponta como os dos munchkins. Mas nenhuma se aproximou. O Leão as amedrontava.

– Esta deve ser a Terra de Oz – disse Dorothy – e devemos estar perto da Cidade das Esmeraldas.

– Deve ser – respondeu o Espantalho. – Aqui tudo é verde. No país dos munchkins, era azul. Mas as pessoas não parecem muito amigáveis.

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Quando passaram por uma propriedade grande, Dorothy dirigiu-se à casa e bateu. Uma mulher entreabriu a porta e perguntou:

– Quem é você, menina? O que quer? Por que anda com um leão deste tamanho?

– Será que nós poderíamos passar a noite em sua casa? – perguntou Dorothy. – Não se preocupe com o Leão, é meu amigo e não vai lhe fazer mal nenhum.

– É manso? – perguntou a mulher, abrindo um pouco mais a porta.

– Sem dúvida. E, além disso, é covarde. Tem mais medo da senhora do que a senhora dele.

A mulher deu uma segunda olhada no leão.

– Se é assim, podem entrar.

Além da mulher, moravam na casa o marido e duas crianças. Olhavam com curiosidade o estranho grupo. O homem quis saber para onde iam os viajantes.

– Para a Cidade das Esmeraldas – respondeu Dorothy. – Vamos encontrar o Grande Oz.

– É mesmo? Têm certeza de que Oz vai receber vocês?

– Por que não?

– Ora, dizem que jamais recebeu alguém. Fui à Cidade das Esmeraldas muitas vezes, é um lugar lindíssimo. Mas nunca tive permissão para ver o Grande Oz. Nem eu nem ninguém que eu conheça.

– Ele nunca sai de casa? – perguntou o Espantalho.

– Nunca. Passa os dias sentado na grande sala do trono do palácio e nem mesmo os palacianos mais próximos têm permissão para vê-lo face a face.

– Que aparência ele tem? – perguntou a menina.

– É difícil dizer. Oz é um grande mágico, pode tomar a forma que quiser. Uns dizem que parece um pássaro, outros, um elefante. Há quem diga que é semelhante a um gato. Pode se apresentar como fada, duende, a aparência que quiser. Mas quem realmente ele é, ninguém sabe.

– Que estranho! – exclamou Dorothy. – Mas precisamos vê-lo de qualquer maneira ou teremos feito a viagem por nada.

– E por que querem ver Oz, o terrível?

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– Quero que me dê um cérebro – disse o Espantalho.

– Ora, Oz pode fazer isso com facilidade – declarou o homem. – Ele tem mais cérebros do que necessita.

– E eu quero que me dê um coração – disse o Lenhador de Lata.

– Isso não é problema. Oz tem uma coleção de corações de todas as formas e tamanhos.

– E eu quero que me dê coragem – disse o Leão Covarde.

– Na sala do trono ele tem um enorme pote de coragem, que cobre com um prato para evitar que transborde. Claro que pode ceder um pouco.

– E eu quero que me mande de volta ao Kansas – disse Dorothy.

– Onde fica isso? – perguntou o homem, surpreso.

– Eu não sei – respondeu Dorothy com tristeza –, mas é onde moro. Deve ficar em algum lugar.

– Olhe, Oz pode fazer qualquer coisa. Portanto, pode mandá-la de volta ao Kansas. Mas antes precisará vê-lo, o que não é fácil.

O homem olhou, então, para Totó e perguntou o que o cachorrinho queria de Oz. Mas ele apenas balançou a cauda, pois, por estranho que pareceu ao homem, Totó não conseguia falar.

Na manhã seguinte, partiram assim que raiou o sol. Pouco depois, viram no céu um brilho verde.

– Deve ser a Cidade das Esmeraldas – disse Dorothy.

À medida que andavam, mais intenso se tornava o brilho. Concluíram que a viagem estava próxima ao fim. À tarde, chegaram à grande muralha que circunda a cidade. Era alta, larga e de cor verde vibrante.

No final da estrada de pedras amarelas, um portão enorme, crivado de esmeraldas, brilhava tanto que ofuscava até mesmo os olhos pintados do Espantalho. Ao lado do portão, havia uma campainha. A menina apertou-a. O portão se abriu lentamente. Entraram em uma sala com paredes cintilantes.

Um homenzinho do tamanho de um munchkin apareceu. Vestia-se de verde dos pés à cabeça e até a pele era esverdeada. Tinha ao lado uma grande caixa verde.

– O que vieram fazer na Cidade das Esmeraldas?

– Queremos ver o Grande Oz – respondeu a menina.

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O homem ficou tão surpreso com a resposta que se sentou para refletir. Balançou a cabeça, perplexo, e disse:

– Há muitos anos, ninguém pede audiência com Oz, o grande, o terrível. Se pretendem perturbar as profundas reflexões do Grande Oz com alguma tolice ou futilidade, cuidado! Ele pode se enfurecer e destruí-los com um sopro.

– Mas não é tolice nem futilidade – replicou o Espantalho. – São assuntos importantes e sabemos que Oz é um grande mágico.

– De fato, é. Governa com muita sabedoria. Porém, pode ser terrível com pessoas desonestas ou com quem dele se aproxima apenas por curiosidade. Poucos ousaram pedir para ver o seu rosto. Sou o Guardião da Muralha e, como querem ver o Grande Oz, vou levá-los ao palácio. Mas, para isso, têm que usar óculos especiais.

– Por quê?

– Se não usarem esses óculos, o esplendor poderá cegá-los. Todos os habitantes da cidade usam óculos dia e noite. Vivem confinados, de acordo com a determinação de Oz. Sou o único que possui a chave que abre o portão.

Abriu a caixa cheia de óculos com lentes esverdeadas. Encontrou um par que servia bem em Dorothy e prendeu-o à cabeça da menina com duas faixas douradas. Com uma chavezinha que trazia ao pescoço, o Guardião prendeu as faixas com cadeado. Dorothy entendeu que não poderia retirar os óculos quando quisesse, mas, como temia ficar cega, não reclamou. O homenzinho repetiu o procedimento ao colocar óculos nos demais, inclusive em Totó. Todos ficaram com óculos presos à cabeça por chave.

Quando o Guardião da Muralha colocou seus próprios óculos, disse estar pronto para levá-los ao palácio. Apanhou uma grande chave de ouro, que ficava pendurada na parede, e abriu outro portão. Os viajantes finalmente estavam dentro da Cidade das Esmeraldas.

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11. A cidade maravilhosa

esmo protegidos por lentes, os olhos da menina e dos companheiros ficaram ofuscados pelo fulgor da cidade. Ao longo das ruas, viam casas de mármore verde em que cintilavam ornamentos de esmeraldas. As calçadas eram também de blocos verdes de mármore unidos por fios de esmeraldas. As vidraças, verdes. Até o céu e os raios de sol sobre a cidade tinham tons esverdeados.

As pessoas eram verdes, mas olhavam, assombradas, para Dorothy e o grupo. O Guardião da Muralha conduziu-os pelas ruas até chegarem a um grande edifício, situado no meio da cidade. Era o palácio de Oz, o grande mágico. À porta, aprumava-se um soldado com uniforme verde-oliva e barba verde-jade. O Guardião dirigiu-se a ele.

– Estes estrangeiros desejam ver o Grande Oz.

– Avancem! – respondeu o soldado. – Vou levar sua solicitação. Transpuseram os portões do palácio e entraram em uma grande sala. O piso era decorado com mosaicos de pedras verdes, formando figuras geométricas, flores e animais. Os móveis eram marchetados, com incrustações de esmeralda, jade e outras pedras preciosas e semipreciosas, todas verdes.

– Fiquem à vontade – disse o soldado. – Vou à sala do trono anunciar a presença de vocês.

Esperaram por muito tempo. Quando o soldado, por fim, apareceu, Dorothy perguntou-lhe se tinha visto Oz.

– Ah, não, nunca vi o Grande Oz em toda minha vida. Mas ele estava sentado atrás do biombo e transmiti a solicitação de vocês. O

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Grande Oz concordou em conceder-lhes audiência. Mas devem entrar um de cada vez e só será concedida uma audiência por dia. Portanto, ficarão no palácio por algum tempo. Vou mostrar-lhes os quartos onde poderão descansar.

– Obrigada – respondeu a menina –, é muita gentileza dele.

O soldado soprou um apito e, de imediato, entrou na sala uma menininha vestida de seda verde, com lindos cabelos e olhos verdes. Após fazer uma reverência a Dorothy, disse que a levaria a um quarto.

Dorothy despediu-se dos amigos, apanhou Totó nos braços e seguiu a menina verde até chegar a um quarto com vista para um jardim. A vista era encantadora. Canteiros de formas irregulares, mas harmoniosas, cheios de flores e pequenos arbustos podados em formato de bichinhos. Dorothy pensou que a cidade devia ter os melhores jardineiros do mundo. Lindas fontes em forma de peixes, tartarugas e golfinhos lançavam jatos de água esverdeada. O quartinho era adorável

– Sinta-se à vontade – disse a menina verde – e, se desejar algo, toque a campainha. Oz irá chamá-la amanhã.

Deixou Dorothy e foi ter com os demais. Levou cada um a um quarto. Todos foram acomodados em lugares privilegiados do palácio.

Na manhã seguinte, uma camareira veio buscar Dorothy. Vestiu-a com belo vestido de cetim verde. A menina colocou um avental da mesma cor e passou ao redor do pescoço de Totó uma fita verde. Andaram em direção à sala do trono do Grande Oz.

Em um grande salão, damas e cavalheiros da corte, vestidos com trajes ricos, reuniam-se para conversar todos os dias, embora jamais fossem admitidos na sala do trono. Quando Dorothy entrou, olharam para ela curiosos. Um deles sussurrou:

– Você tem mesmo coragem de olhar no rosto de Oz, o grande, o terrível?

– Claro, se ele me receber.

– Vai recebê-la – disse o soldado de uniforme verde-oliva e barba verde-jade que tinha levado a solicitação ao mágico –, embora não goste que lhe peçam audiência. Na verdade, a princípio, ficou zangado e me disse para mandá-los de volta ao lugar de onde vieram. Depois, perguntou como eram. Quando falei dos sapatos de prata, ficou interessado. Quando contei da marca que traz na testa, decidiu recebê-la.

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Nesse momento, soou um sino e a menininha verde disse a Dorothy:

– Este é o sinal. Deve entrar sozinha na sala do trono.

Abriu uma portinha e Dorothy avançou corajosamente. Entrara em um lugar deslumbrante. Era uma sala circular, com uma cúpula majestosa. Esmeraldas enormes revestiam piso, paredes, teto. No centro da cúpula, luz intensa e brilhante como o sol fazia as pedras cintilarem esplendorosas.

Mas o que mais chamou a atenção de Dorothy foi o imponente trono de mármore verde no meio da sala. Tinha a forma de uma poltrona e brilhava, como tudo. No alto do trono, viu uma enorme cabeça sem corpo que a sustentasse. Tampouco tinha braços e pernas. Era maior que a cabeça de um gigante, mas sem cabelos.

A menina ficou fascinada e amedrontada, quando os olhos, devagar, voltaram-se para ela, observando-a atenta e firmemente. A boca, então, se moveu e Dorothy ouviu:

– Sou Oz, o grande, o terrível! Quem é você e por que está à minha procura?

A voz não era apavorante, como ela esperava. Então, encorajada, respondeu:

– Sou Dorothy, a pequena, a humilde, e venho pedir sua ajuda.

Os olhos a examinaram por um minuto e a voz se fez ouvir outra vez:

– Onde conseguiu esses sapatos de prata?

– Eram da Bruxa Má do Leste. Fiquei com eles, depois que minha casa a esmagou.

– E essa marca na testa?

– Ficou no lugar onde a Bruxa do Norte me beijou, ao se despedir de mim e me mandar procurá-lo.

Os olhos voltaram a examiná-la detidamente, para ver se dizia a verdade. Então, Oz perguntou:

– O que quer de mim?

– Que me mande de volta ao Kansas, onde eu moro com meu tio Henry e minha tia Ema.

Os olhos piscaram três vezes, olharam para o teto, desceram ao chão. Moviam-se de modo a poder ver a sala inteira. Depois, voltaram a pousar em Dorothy.

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– Por que eu faria isso por você?

– Porque é um grande mágico e eu, uma simples menina.

– Mas foi forte o bastante para matar a Bruxa Má do Leste.

– Aconteceu por acaso. Não pude evitar.

– Bem, esta é a minha resposta: você não tem direito de me pedir coisa alguma, a menos que faça algo em troca. Neste país, as pessoas pagam pelo que recebem. Se quer que use meus poderes mágicos para mandá-la de volta para casa, faça algo por mim primeiro.

– O que quer que eu faça?

– Quero que mate a Bruxa Má do Oeste.

– Mas eu não posso! – exclamou Dorothy, perplexa.

– Como não? Matou a Bruxa Má do Leste e usa sapatos de prata que possuem encantamento poderoso. Agora, nesta terra, existe apenas uma Bruxa Má. Quando me disser que ela também está morta, eu a mandarei para casa. Antes disso, jamais.

A menina ficou tão desapontada que começou a chorar. Oz parecia pensar que Dorothy podia fazer o que ele lhe pedia, como se bastasse ela querer. Aos soluços, ela disse:

– Nunca matei por querer. E, mesmo que quisesse, como conseguiria matar a Bruxa Má? Se você, que é grande e terrível, não conseguiu matá-la, como é que eu vou fazer isso?

– Problema seu, menina! – disse a cabeça. – Já dei minha resposta. Não voltará a ver seus tios, a menos que mate a Bruxa Má. Ela é perversa, tremendamente perversa, e precisa ser eliminada. Agora, vá. E não peça para me ver de novo antes de cumprir sua tarefa.

Pesarosa, Dorothy saiu da sala do trono e reuniu-se com os amigos que a aguardavam, ansiosos, para saber como tinha sido a entrevista.

– Não vou conseguir – disse ela. – Oz só me mandará de volta se eu matar a Bruxa Má do Oeste, o que nunca vou fazer.

Ficaram todos tristes, sem saber como ajudá-la. Dorothy foi para o quarto, deitou-se e chorou até adormecer. No outro dia, o soldado de uniforme verde-oliva disse ao Espantalho que Oz tinha mandado chamá-lo.

O Espantalho seguiu o soldado e entrou na grande sala onde viu, sentada no trono, uma mulher encantadora. Vestia gaze de seda verde e tinha, sobre

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suaves cabelos anelados, coroa de pedras preciosas. De seus ombros, nasciam asas tão leves que ondulavam ao menor sopro de ar.

Quando o Espantalho curvou-se em reverência diante da bela criatura, ela lhe disse:

– Sou Oz, o grande, o terrível! Quem é você e por que está à minha procura?

O Espantalho, que esperava ver a grande cabeça de que Dorothy lhe tinha falado, ficou desconcertado. Mas respondeu com firmeza:

– Não passo de um espantalho feito de palha. Não raciocino. Vim à sua presença pedir um cérebro, para que eu tenha bom senso como qualquer pessoa.

– E por que eu faria isso?

– Porque é sábio e poderoso e o único que pode me ajudar.

– Não concedo favores sem receber algo em troca, mas, se matar a Bruxa Má do Oeste, eu prometo lhe dar um cérebro tão extraordinário que será o homem mais sábio da Terra de Oz.

– Pensei que tinha pedido a Dorothy para fazer isso.

– Pedi. Não me importa quem vai matar a Bruxa, o que quero é que seja morta. Enquanto estiver viva, não atenderei seu pedido. Agora, vá. Não peça para me ver de novo, antes de fazer por merecer o cérebro que tanto deseja.

O Espantalho contou aos amigos o que Oz tinha lhe dito. Dorothy se surpreendeu ao saber que o grande mágico não era uma cabeça, como ela tinha visto, mas uma bela mulher.

– Seja ele o que for, precisa de um coração, como o Lenhador de Lata.

No dia seguinte, o soldado de barba verde-jade apareceu ao Lenhador:

– Oz mandou chamá-lo. Venha comigo.

O Lenhador acompanhou o soldado. Não sabia se Oz iria se apresentar como cabeça sem corpo ou mulher encantadora. Preferia que fosse como mulher. “Se for a cabeça” – disse a si mesmo –, “não vou ganhar um coração, cabeça não tem coração, não vai se comover. Mas, se for a mulher, tenho chance. Dizem que as mulheres têm coração sensível.”

Ao entrar, o Lenhador não viu cabeça nem mulher. Oz havia assumido a forma de uma fera terrível. Ainda bem que o Lenhador não tinha coração. Bateria forte e rápido de pavor. Mas, como era de lata, o Lenhador não estava aterrorizado, apenas surpreso.

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– Sou Oz, o grande, o terrível! – disse a fera com um rugido. – Quem é você e por que está à minha procura?

– Sou um lenhador feito de lata. Como não tenho coração, não posso amar. Suplico-lhe que me conceda um coração para que eu seja cordial, igual às pessoas de bom coração.

– Por que eu faria isso?

– Porque eu lhe suplico e porque é o único que pode me conceder essa dádiva.

A fera rosnou e disse com aspereza:

– Se deseja mesmo um coração, faça por merecê-lo.

– Como?

– Ajude Dorothy a matar a Bruxa Má do Oeste. Quando a Bruxa estiver morta, volte aqui e eu lhe darei o maior coração de toda a Terra de Oz.

O Lenhador voltou para os amigos cheio de pesar. Contou-lhes que tinha visto uma fera horrível. Comentavam o poder de Oz de assumir variadas formas, quando o Leão disse:

– Se tomar a forma de animal, quando for vê-lo, vou rugir tão alto que vai ficar assustado e me dar o que pedir. Se for a bela mulher, vou fingir que pretendo atacá-la, será forçada a fazer tudo aquilo que exigir. Se me deparar com a cabeça, vou jogá-la pela sala até que prometa atender a meus pedidos. Animem-se, amigos, tudo vai acabar bem.

No dia seguinte, o soldado de uniforme verde-oliva e barba verde-jade levou o Leão à sala do trono. O Leão olhou para todos os lados. Para sua surpresa, viu, diante do trono, uma bola de fogo tão brilhante que mal podia olhar para ela. Chegou a pensar que Oz, por acidente, tinha se incendiado. Tentou se aproximar, mas o calor era tanto que lhe chamuscou a juba. Tremendo, recuou para perto da porta.

Uma voz grave e mansa veio da bola de fogo:

– Sou Oz, o grande, o terrível! Quem é você e por que está à minha procura?

– Sou o Leão Covarde e tenho medo de tudo. Venho suplicar-lhe que me dê coragem para que me torne, de fato, o Rei dos Animais, como costumam me chamar.

– E por que eu faria isso?

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– Porque é o maior de todos os mágicos e o único que tem poder suficiente para atender meu pedido.

A bola de fogo ardeu, ameaçadora, por um tempo e, então, a voz disse:

– Traga-me uma prova de que a Bruxa Má está morta e eu lhe darei coragem. Mas, enquanto ela viver, não passará de um covarde.

O Leão enfureceu-se ao ouvir essas palavras, mas não podia replicar. Ficou olhando calado para a bola de fogo. Como ficou muito quente, escapuliu de lá. Foi um alívio encontrar os amigos. Contou-lhes a entrevista que tivera. Abatida, Dorothy perguntou:

– O que vamos fazer agora?

– Só nos resta uma saída, ir à terra dos winkies procurar a Bruxa e destruí-la.

– E se não conseguirmos?

– Nunca terei coragem.

– Nem eu, cérebro.

– Nem eu, coração.

– Nem verei minha família novamente – concluiu Dorothy, aos prantos.

– Cuidado – gritou a menininha verde –, as lágrimas podem cair no seu vestido e manchá-lo.

Dorothy enxugou os olhos.

– Acho que devemos tentar, mas, sem dúvida, não desejo matar ninguém, nem mesmo para rever tia Ema.

– Vou com vocês, mas sou covarde demais para matar a Bruxa – disse o Leão.

– Também vou – disse o Espantalho –, embora não vá ser útil, porque sou muito bobo.

– Não tenho coração para ferir uma bruxa – disse o Lenhador –, mas, se forem, acompanho vocês.

Ficou decidido que partiriam no outro dia.

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12. Em busca da Bruxa Má

Guardião da Muralha abriu os cadeados que prendiam os óculos às cabeças dos visitantes.

– Qual o caminho para a Bruxa Má do Oeste? – perguntou a menina ao Guardião.

– Esse caminho não existe. Ninguém vai para lá.

– Então, como poderemos encontrá-la?

– Ah, é fácil. Quando ela souber que estão na terra dos winkies, vai encontrá-los e fazê-los seus escravos.

– Talvez não – disse o Espantalho –, pretendemos eliminá-la.

– Bem – disse o Guardião –, nesse caso é diferente. Ninguém teve a pretensão de destruí-la antes. Mas tomem cuidado. Ela é perversa. Vai dar trabalho destruir tal criatura. Andem sempre em direção ao oeste, onde o sol se põe. Por certo, vão encontrá-la.

Tomaram o rumo do oeste. Margaridas pontilhavam o campo de relva macia. Dorothy usava ainda o lindo vestido de seda que ganhara no palácio. Mas, para surpresa dela, não era mais verde, era branco. A fita no pescoço de Totó tinha também mudado de cor. Estava branca como o vestido.

A Cidade das Esmeraldas tinha ficado para trás. À medida que avançavam, o chão se tornava mais irregular e acidentado. Não viam mais casas nem fazendas, só terras não cultivadas.

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Antes de anoitecer, Dorothy, Totó e o Leão já estavam cansados. Deitaram-se na grama e dormiram. O Lenhador e o Espantalho ficaram de guarda.

A Bruxa Má do Oeste tinha apenas um olho, mas era poderoso como um telescópio. Via tudo. Do seu castelo, ela enxergou Dorothy adormecida e os amigos ao redor. O grupo estava distante, mas a Bruxa se enfureceu por terem invadido seus domínios. Soprou um apito de prata que trazia ao pescoço.

De várias direções, surgiram lobos enormes com olhos ameaçadores e dentes afiadíssimos. A Bruxa lhes ordenou que encontrassem os invasores.

– Façam-nos em pedaços! Destruam-nos!

O líder dos lobos desapareceu a toda velocidade, seguido pelos outros animais.

Por sorte, o Espantalho e o Lenhador estavam vigilantes e ouviram os passos dos lobos se aproximando.

– Deixe comigo – disse o Lenhador. – Fique atrás de mim, vou enfrentá-los um a um.

Apanhou o machado e, quando o chefe dos lobos atacou, o Lenhador deu um golpe e cortou-lhe a cabeça. Morreu na hora. Mal tinha erguido o machado e já se aproximava outro lobo, que também foi abatido pela lâmina. Quarenta lobos vieram e quarenta lobos morreram. Restou uma pilha deles ao lado do Lenhador.

– Foi uma bela luta, amigo – disse o Espantalho.

Esperaram Dorothy acordar na manhã seguinte. Ela levou um susto, quando viu a pilha de lobos mortos.

Com o olho que via a longa distância, a Bruxa viu que seus lobos tinham virado cadáveres e que os invasores continuavam nas terras dela. Ficou ainda mais furiosa e soprou o apito de prata duas vezes.

De imediato, um bando de corvos selvagens voou na direção dela, escurecendo o céu. A Bruxa disse ao Rei dos Corvos:

– Voem até os estrangeiros, furem seus olhos, deixem-nos em frangalhos. Destruam-nos!

Voaram para o ataque. Quando Dorothy viu que se aproximavam, ficou apavorada. Mas o Espantalho disse:

– Esta luta agora é minha. Deitem a meu lado e não serão feridos.

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Seguiram a determinação do companheiro. O Espantalho, em pé, abriu os braços. Os corvos, ao vê-lo, se assustaram, como costuma acontecer. Não se aproximaram, mas o Rei dos Corvos disse:

– É só um homem de palha. Vou furar os olhos dele.

Foi em direção ao Espantalho, mas este pegou-o pela cabeça e torceu-lhe o pescoço até morrer. Outro corvo veio e teve a mesma sorte. Quarenta corvos vieram e quarenta corvos morreram. Restou uma pilha de pássaros mortos ao lado do Espantalho. Ele, então, disse aos companheiros que podiam se levantar para continuar viagem.

A Bruxa Má voltou a olhar a distância e viu que seus corvos estavam mortos. Ficou possessa. Soprou o apito três vezes.

Forte zumbido percorreu o ar e um enxame de abelhas negras voou para ela.

– Encontrem os estrangeiros e piquem-nos até a morte. Destruam-nos!

As abelhas alçaram voo, velozes, em direção ao grupo, mas o Lenhador percebeu o perigo e o Espantalho sabia o que fazer.

– Retire a minha palha e cubra a menina, o Leão e o cachorro, para que não sejam picados.

Assim foi feito. Ao chegarem, as abelhas só encontraram o Lenhador. Arremessaram-se contra ele e quebraram os ferrões, sem causar o menor dano ao homem de lata. E, como não sobrevivem sem os ferrões, foi esse o fim das abelhas negras. Ficaram caídas, aos montes, ao redor do Lenhador.

A menina ajudou o Lenhador a recolocar a palha no Espantalho e ele voltou à antiga forma. Retomaram a caminhada.

A Bruxa ficou tão furiosa que batia os pés, puxava os cabelos e rangia os dentes. Chamou doze de seus escravos winkies. Deu-lhes lanças afiadas e ordenou que destruíssem os estrangeiros. Os winkies não eram povo violento; mas tinham que obedecer. Marcharam em busca do grupo. Quando se aproximaram, o Leão deu um rugido fortíssimo e saltou sobre eles. Os atacantes, apavorados, fugiram o mais rápido que puderam.

A Bruxa resolveu usar seu último recurso: um Capacete Dourado. Quem o possuísse podia evocar três vezes os Macacos Alados e eles obedeciam a qualquer ordem dada. Mas ninguém podia comandar as estranhas criaturas mais do que três vezes. A Bruxa já havia recorrido a eles duas vezes e agora

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podia valer-se da sua ajuda só mais uma vez. Colocou o Capacete Dourado na cabeça e disse as palavras mágicas.

Logo o encantamento começou a funcionar. O céu escureceu e ouviu-se uma barulheira. A Bruxa ficou cercada por uma multidão de macacos com asas imensas.

O maior deles, o Rei dos Macacos, voou bem próximo da Bruxa e disse:

– É a terceira e última vez que nos chama. O que ordena?

– Encontrem os estrangeiros que invadiram minhas terras e eliminem todos, menos o Leão.

– Suas ordens serão obedecidas.

Os Macacos Alados levantaram voo. Alguns atacaram o Lenhador de Lata, o coitado ficou tão amassado que não conseguia se mover. Outros atacaram o Espantalho e, com as garras, lhe arrancaram a palha do corpo e da cabeça. Os demais macacos amarraram cordas resistentes em torno do Leão, voaram com ele até o castelo da Bruxa, onde ficou preso numa jaula. A perversa pretendia colocar arreios no Leão, como se faz com cavalos, montar nele e sair atemorizando o povo do Oeste.

Mas contra Dorothy não fizeram nada. Com Totó nos braços, ela assistiu à terrível sorte dos companheiros, esperando pelo que teria que sofrer. O Rei dos Macacos voou, ameaçador, para a menina, mas viu a marca do beijo da Bruxa do Norte na testa dela. Fez sinal aos outros para que não a tocassem.

– Não podemos fazer mal a ela. Está protegida pelo poder do Bem, que é muito mais forte que o poder do Mal. Vamos apenas levá-la ao castelo da Bruxa.

Com a máxima delicadeza, apanharam Dorothy e a transportaram pelos ares até o castelo. O Rei dos Macacos disse à Bruxa:

– Cumprimos suas ordens da melhor maneira possível. Mas não ousamos fazer mal à menina nem ao cãozinho. Seu poder sobre nosso bando acaba aqui. Adeus!

Ao ver a marca na testa de Dorothy, a Bruxa ficou surpresa, pois também sabia que não podia maltratar a menina. Mas, quando olhou para os pés de Dorothy e viu os sapatos de prata, a Bruxa ficou temerosa. Tremeu. Sabia que os sapatos de prata tinham um encantamento poderoso.

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No início, pensou em fugir. Mas observou a doçura dos olhos da menina e concluiu que ela não tinha noção do extraordinário poder que lhe conferiam os sapatos. Riu por dentro e pensou: “Talvez ainda seja minha escrava, pois desconhece o poder que tem”.

Severa e áspera, disse a Dorothy:

– Venha comigo e faça tudo o que eu mandar. Do contrário, terá o mesmo fim que tiveram o Espantalho e o Lenhador.

Dorothy seguiu-a até a cozinha. A Bruxa ordenou-lhe que limpasse panelas e chaleiras, varresse bem o chão e pusesse lenha no fogo. A menina obedecia com humildade e trabalhava o máximo que podia, satisfeita por ainda estar viva.

A Bruxa, então, foi encilhar o Leão, como se fosse um cavalo. Mas, quando abriu a jaula, o Leão deu um rugido forte e saltou, furioso. A Bruxa se amedrontou. Fechou o portão e disse a ele entre grades:

– Se não posso pôr-lhe arreios, vou deixar que morra de fome. Só terá o que comer, quando fizer o que eu quero.

Na verdade, o Leão não precisava ceder. Todas as noites, quando a Bruxa adormecia, Dorothy levava comida ao amigo.

A Bruxa Má só pensava em se apoderar dos sapatos de prata de Dorothy. Seus lobos, corvos e abelhas estavam mortos. Tinha usado todo o poder do Capacete Dourado. Se conseguisse pôr as mãos naqueles sapatos de prata, teria maior poder do que tivera até agora. Mas Dorothy só tirava os sapatos para dormir e tomar banho.

Por sorte, a Bruxa tinha um medo enorme do escuro, não ia ao quarto de Dorothy à noite. E de água tinha mais medo ainda. Mas a perversa tinha astúcia e imaginou a maneira de conseguir o que queria. Colocou uma barra de ferro no meio da cozinha e, por mágica, fez com que ficasse invisível. Assim, quando a menina foi de um lado a outro, tropeçou na barra e caiu. Na queda, perdeu um dos sapatos. Antes que pudesse apanhá-lo, a Bruxa lançou-se sobre ele. Calçou-o, exultante com o sucesso de seu plano. Ter um dos sapatos significava o domínio da metade do poder que possuíam.

A menina pedia à Bruxa que lhe devolvesse o sapato:

– Como pode ser tão cruel? Não tem o direito de tomá-lo de mim. A velha ria.

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– Tenha direito ou não, eu fico com ele. E vou pegar o outro também.

A menina, com raiva, perdeu a cabeça: pegou um balde de água e jogou-o na Bruxa, que ficou molhada da cabeça aos pés. Aconteceu o inesperado.

– Veja o que fez! – gritava a encharcada.

Enquanto gritava, a Bruxa foi encolhendo, encolhendo e começou a se desmanchar.

– Estou derretendo...

– Não queria fazer isso – disse Dorothy, assustada com aquela cena.

A Bruxa se desmanchava como torrão de açúcar.

– Não sabe que água é mortal para mim? – perguntou a Bruxa, desesperada.

– Claro que não. Como eu ia saber?

– Em instantes, vou deixar de existir e o castelo será seu.

A Bruxa virou uma massa esparramada no chão. Não sobrou mais nada da perversa criatura. Dorothy apanhou outro balde d’água e limpou a sujeira. Apanhou o sapato de prata e calçou-o. Finalmente, estava livre. Correu para contar ao Leão que a Bruxa Má do Oeste não existia mais.

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13. O resgate

Leão Covarde gostou muito de saber que a Bruxa Má tinha sido eliminada. Livre, acompanhou a menina ao castelo. O primeiro ato da nova proprietária foi reunir todos os winkies para comunicar-lhes que não eram mais escravos. Foi grande a alegria entre eles que, por muitos anos, sofriam a crueldade da Bruxa Má.

– Minha felicidade seria completa – disse o Leão – se nossos amigos, o Espantalho e o Lenhador, estivessem conosco.

– Será que ainda podemos salvá-los?

– Podemos tentar.

Consultaram os winkies. Os homenzinhos amarelos responderam estar dispostos a fazer o que pudessem para ajudar Dorothy. Viajaram todo aquele dia e parte do seguinte. Por fim, chegaram à planície rochosa onde se encontrava o Lenhador, todo amassado e retorcido.

Os winkies o ergueram e o carregaram ao castelo. Dorothy chorou ao ver o triste estado do amigo. A menina perguntou se havia algum funileiro no país.

– Ah, sim – respondeu um winkie –, temos ótimos funileiros. Ela, então, pediu que os chamassem. Por três dias e quatro noites, torceram, dobraram, martelaram, soldaram, poliram o Lenhador de Lata. Ao final, havia recobrado a forma e as juntas funcionavam com perfeição.

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Ao agradecer a todos, chorou de contentamento, e Dorothy teve que enxugar as lágrimas do amigo com o avental.

– Minha felicidade seria completa – disse o Lenhador – se o Espantalho estivesse conosco.

– Temos que tentar encontrá-lo – disse Dorothy.

Mais uma vez, convocaram os winkies, que, prontamente, se dispuseram a ajudar e resgataram o Espantalho. Novamente reunidos, os amigos passaram alguns dias felizes no castelo, onde havia tudo de que precisavam. A menina lembrou dos tios e disse que era chegada a hora de ir ao palácio de Oz exigir o cumprimento da promessa.

– Sim – disse o Lenhador –, para que eu consiga meu coração.

– E eu, meu cérebro – disse, animado, o Espantalho.

– E eu, minha coragem – disse, pensativo, o Leão.

– E eu, a volta para casa – disse Dorothy, batendo palmas. – Amanhã, partimos para a Cidade das Esmeraldas.

Despediram-se dos winkies, que lamentaram muito a partida do grupo. Dorothy foi ao armário da Bruxa abastecer-se para a viagem e viu o Capacete Dourado. Experimentou-o e lhe serviu muito bem. Ignorava tratar-se de um objeto mágico. Como era bonito, resolveu usá-lo em lugar do chapéu. Partiram, então, para a Cidade das Esmeraldas, e os winkies lhes deram três vivas e votos de boa sorte.

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14. Os Macacos Alados

ocê deve se lembrar que não havia estrada nem trilha entre o castelo da Bruxa e a Cidade das Esmeraldas. Era difícil encontrar o caminho de volta entre os campos de margaridas.

Sabiam, porém, que deviam andar para o leste, em direção ao sol nascente. Mas, ao meio-dia, com o sol sobre as cabeças, já não sabiam onde era leste, onde, oeste e acabaram perdidos. Continuaram e, à noite, veio a lua radiante. Deitaram-se, então, entre flores de suave perfume e dormiram. Todos, exceto o Espantalho e o Lenhador. No outro dia, com o sol encoberto, retomaram a caminhada, como se soubessem para onde estavam indo.

– Se andarmos bastante, acabaremos chegando a algum lugar – disse Dorothy.

Mas os dias passavam e nada viam, além dos campos vermelhos. O Espantalho, às vezes, resmungava:

– Sem dúvida, estamos perdidos e, se não encontrarmos o caminho, jamais vou conseguir a inteligência que o Mágico me prometeu.

– Nem eu, meu coração – disse o Lenhador.

– E eu – disse o Leão Covarde com um soluço – não tenho coragem para caminhar para sempre, sem chegar a lugar nenhum.

Aí, Dorothy desanimou. Sentaram-se na grama, olharam um para o outro e Totó, pela primeira vez, sentiu-se cansado demais para caçar uma borboleta que voejava ali.

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– O que acham de chamarmos os ratos do campo? – perguntou Dorothy. – Eles, com certeza, podem nos dizer onde fica a Cidade das Esmeraldas.

– É mesmo! – disse o Espantalho.

Dorothy soprou o apito de prata que a Rainha dos Ratos do Campo lhe tinha dado. Instantes depois, ouviu o ruído de mil pés diminutos e apareceu uma porção de ratinhos cinzentos. Com eles, a própria Rainha, que perguntou do que precisavam.

– Estamos perdidos – disse Dorothy – e queremos ir para a Cidade das Esmeraldas.

– Mas estão muito distantes... Caminharam em direção oposta à da Cidade.

Ao dizer isso, a Rainha percebeu o Capacete Dourado que a menina usava.

– Por que não usa os poderes do Capacete e chama os Macacos Alados? Em menos de uma hora, poderão transportá-los à Cidade das Esmeraldas.

– Não sabia que era mágico – disse Dorothy, surpresa. – Como funciona?

– Está escrito no interior do Capacete. Mas, se vai chamar os Macacos Alados, vamos sair correndo. Eles gostam de travessuras e sempre aprontam alguma conosco.

– Será que podem nos fazer mal?

– É claro que não. Têm que obedecer ao dono do Capacete.

E fugiu, seguida pelos ratinhos. Dorothy olhou dentro do Capacete Dourado e havia mesmo algumas palavras escritas. “Deve ser a fórmula mágica” – pensou. Leu atentamente as instruções e colocou o Capacete na cabeça. Apoiada na perna esquerda, disse:

– Ep-pe, pep-pe, kak-ke.

– O que foi que você disse? – perguntou o Espantalho, sem saber o que estava acontecendo.

Dorothy continuou a mágica, apoiada, agora, na perna direita:

– Hil-lo, hol-lo, hel-lo!

– Alô! – respondeu o Lenhador, sem entender nada.

Apoiada nas duas pernas, a menina disse:

– Ziz-zy, zuz-zy, zik.

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Mal acabou de pronunciar as palavras mágicas, ouviu bater de asas e algazarra de vozes. Os Macacos Alados chegavam. O Rei saudou Dorothy e perguntou:

– Quais são as ordens?

– Estamos perdidos. Queremos ir à Cidade das Esmeraldas.

– Levaremos vocês.

Dois macacos apanharam Dorothy e levantaram voo com ela. Outros se encarregaram do Espantalho, do Lenhador e do Leão. Um pequenino levou Totó pelos ares.

Minutos depois, Dorothy olhou para baixo e viu as cintilantes muralhas verdes da Cidade. Estava admirada com a rapidez da viagem e contente por ter chegado. O Rei se despediu e desapareceu com o bando.

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15. Quem é Oz

s quatro viajantes tocaram várias vezes a campainha do portão da Cidade, antes de o Guardião aparecer.

– Como? Vocês de novo? Pensei que tinham ido atrás da Bruxa Má do Oeste.

– E fomos.

– E ela deixou que saíssem de lá?

– Não pôde evitar. Virou geleia – explicou o Espantalho.

– Geleia? Que maravilha! Quem fez isso?

– Foi Dorothy – disse, solene, o Leão.

– Meu Deus! – exclamou o homem e reverenciou a menina.

Em seguida, conduziu o grupo a uma sala e colocou óculos em todos, como fizera da outra vez. Quando se espalhou a notícia de que os viajantes tinham destruído a Bruxa Má do Oeste, uma multidão cercou-os e foi com eles até o palácio de Oz.

O soldado levou a Oz a notícia de que os quatro haviam voltado, depois de terem derrotado a Bruxa Má. Oz não disse nada.

Os viajantes esperavam ser chamados logo. Não foram. Nem naquele dia, nem no seguinte, nem nos próximos. A espera era cansativa e desgastante. Ficaram indignados por ser tratados dessa maneira, depois do que tinham feito e enfrentado. O Espantalho pediu à menina verde que levasse outra mensagem a Oz. Se não os recebesse imediatamente,

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chamariam os Macacos Alados para descobrir se o Mágico cumpriria suas promessas ou não.

Oz ficou assustado. Mandou dizer que os receberia na manhã seguinte, às nove horas e quatro minutos. O Mágico tinha encontrado os Macacos Alados uma vez, na Terra do Oeste. Não desejava vê-los de novo.

Nenhum deles dormiu aquela noite. Só pensavam na recompensa que estavam por receber. Às nove em ponto, o soldado veio buscá-los e quatro minutos depois entravam na sala do trono do Grande Oz.

Cada um esperava encontrar Oz na forma que o tinha visto antes e ficaram todos surpresos ao não ver ninguém. Mantiveram-se perto da porta e bem próximos um do outro. O silêncio e o vazio naquela sala eram ainda mais apavorantes do que as aparições de Oz. Mas, de repente, uma voz que parecia vir de algum ponto na cúpula, falou com solenidade:

– Eu sou Oz, o grande, o terrível. Por que estão à minha procura?

Olharam para os quatro cantos da sala e, como não viram ninguém, Dorothy perguntou:

– Onde está?

– Estou em toda parte. Mas, aos olhos dos mortais comuns, sou invisível. Agora, vou sentar no trono para que possam conversar comigo.

De fato, a partir desse momento, era do trono que parecia vir a voz. Aproximaram-se em fila e Dorothy falou primeiro.

– Viemos cobrar a promessa que nos fez.

– Que promessa?

– Prometeu que, se eu destruísse a Bruxa Má do Oeste, me mandaria de volta para casa.

– A mim, prometeu um cérebro para raciocinar.

– A mim, um coração para amar.

– A mim, a coragem que me falta.

– A Bruxa foi realmente destruída? – perguntou a voz um tanto trêmula.

– Sim, eu a derreti com um balde d’água – disse a menina.

– Puxa vida! Bem, voltem amanhã. Preciso de tempo para pensar.

– Já teve tempo de sobra – disse o Leão, furioso.

– Não vamos esperar nem mais um dia – disse o Espantalho.

– Tem que cumprir a promessa agora! – exclamou Dorothy.

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O Leão achou que seria uma boa ideia assustar o Mágico. Rugiu bem alto e forte e o efeito foi tão aterrador que Totó fugiu correndo. Esbarrou num biombo que ficava a um canto da sala. O biombo tombou e o barulho atraiu o olhar do grupo. Ficaram estupefatos ao descobrir, escondido atrás do móvel, um velhinho careca e de rosto enrugado, que parecia tão surpreso quanto eles.

O Lenhador ergueu o machado, avançou em direção ao homenzinho e gritou:

– Quem é você?

– Eu sou Oz, o grande, o terrível. Mas não me batam, por favor, prometo fazer tudo o que quiserem.

Nossos amigos olharam para ele assombrados.

– Pensei que fosse uma cabeça gigante – disse Dorothy.

– Pensei que fosse uma mulher encantadora – disse o Espantalho.

– Pensei que fosse um animal terrível – disse o Lenhador.

– Pensei que fosse uma bola de fogo – exclamou o Leão.

– Não, vocês se enganaram – disse com humildade o homenzinho. – Eu só estava fingindo.

– Fingindo? – gritou Dorothy.

– Psiu, querida! Não fale alto. Os outros podem ouvir e vou ficar encrencado. Eles pensam que sou o Grande Mágico.

– E não é?

– De jeito nenhum, meu bem. Sou um homem comum.

– Ah, não, você é mais do que isso – disse o Espantalho. – Você é um grande vigarista!

– Exatamente – disse o homenzinho, constrangido. – É o que sou: um vigarista.

– Mas que desastre! – disse o Lenhador. – E o meu coração?

– E a minha coragem? – perguntou o Leão.

– E a minha inteligência? – gemeu o Espantalho, enxugando as lágrimas na manga.

– Ah! Meus amigos – disse Oz –, por favor, não me falem em coisas tão sem importância. Pensem em mim e no problema que terei de enfrentar quando descobrirem tudo.

– Mas ninguém sabe que você não passa de um vigarista?

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– Ninguém além de mim e de vocês. Engano a todos por tanto tempo que jamais pensei ser descoberto. Foi um erro recebê-los na sala do trono. É por não receber meus súditos que imaginam que eu seja extraordinário.

– Não consigo entender – disse Dorothy, confusa. – Como apareceu para mim na forma de uma imensa cabeça?

– Ah, esse é um dos meus truques. Venham até aqui, que eu lhes mostro.

Levou-os a uma saleta, atrás da sala do trono. A um canto, estava uma grande cabeça feita de papelão pintado.

– Eu a prendo no teto com um fio e, por trás do biombo, faço-a remexer os olhos, abrir a boca...

– E a voz?

– Eu sou ventríloquo. Coloco o som da minha voz onde quiser. Por isso você achou que vinha da cabeça. Aqui estão as outras coisas que usei para enganá-los.

Mostrou ao Espantalho o vestido e a máscara usados para simular uma mulher adorável. O Lenhador viu que o tal animal horrível, que o tinha impressionado, não passava de peles costuradas e montadas sobre armação. A bola de fogo, por sua vez, era mesmo de algodão. Pegava fogo porque estava embebida em um líquido inflamável.

– Francamente! – disse o Espantalho. – Deve sentir vergonha por ser tão vigarista.

– Eu sinto, claro que sinto. Mas não tive outra saída. Sentem-se, por favor, vou contar minha história. Nasci na cidade de Omaha...

– Fica no estado de Nebraska, ao norte do Kansas! – exclamou Dorothy.

– É, mas longe daqui – disse Oz, balançando a cabeça, melancólico. –Quando cresci, aprendi a ser ventríloquo com um grande mestre. Posso imitar qualquer pássaro, qualquer fera.

Deu um miado tão parecido ao de um gato que Totó ficou com as orelhas em pé, em guarda. Oz continuou:

– Depois de um tempo, me cansei da profissão. Virei balonista. Eu era aquele homem que, nos dias de espetáculo de circo, sobe no balão para atrair público.

– Ah, eu sei.

– Pois é. Um belo dia, subi no balão e as cordas se enroscaram de tal modo que não pude descer. O balão foi subindo, subindo, passou das nuvens.

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Uma corrente de ar arrastou-o por quilômetros durante um dia e uma noite. Na manhã do segundo dia, quando despertei, percebi que flutuava sobre um belo e estranho país. O balão foi descendo devagar, sem que eu me machucasse. Pessoas esquisitas me cercaram. Ao me verem descer das nuvens, julgaram que fosse um mágico. É claro que não desmenti, pois me tinham o maior respeito e estavam dispostas a fazer tudo o que eu quisesse.

Prosseguiu:

– Só para me divertir e manter aquela boa gente ocupada, ordenei que construíssem a cidade e o palácio. Então, pensei: já que, aqui, os campos são tão verdes e bonitos, vou chamar este lugar de Cidade das Esmeraldas. E, para que o nome fosse bem adequado, ordenei a todos que usassem óculos com lentes verdes, para só enxergarem essa cor.

– Mas aqui não é tudo verde? – perguntou Dorothy.

– Tanto quanto em qualquer outra cidade. Verdes são os óculos. A cidade foi construída há muitos anos. O povo usa óculos verdes há tanto tempo que a maioria acredita mesmo que são esmeraldas o que vê e se sente feliz. Quando o palácio ficou pronto, me tranquei aqui e não quis mais ver ninguém.

– Por quê?

– Por medo das bruxas. Eu não tinha poder mágico nenhum, mas elas, sim. Havia quatro delas no país. Por sorte, a do Norte e a do Sul eram do Bem e, delas, nada tinha a temer. Mas a do Leste e a do Oeste eram extremamente perversas e só não acabaram comigo por acreditar que eu era ainda mais poderoso que elas. Eu vivia apavorado. Podem imaginar meu alívio, ao saber que a casa de Dorothy tinha caído sobre a Bruxa Má do Leste. Quando vieram me ver, estava disposto a fazer qualquer promessa, contanto que acabassem com a Bruxa Má que restava. Agora, que liquidaram com ela, lamento dizer que não posso cumprir minhas promessas.

– Você é um péssimo sujeito – disse Dorothy.

– Ah, não, querida, eu sou um bom sujeito, mas um péssimo mágico, tenho que admitir.

– Então, não pode me dar um cérebro? – perguntou o Espantalho.

– Você não precisa dele. Aprende algo novo a cada dia. Um bebê tem cérebro e, no entanto, nada sabe. A experiência é o que traz conhecimento. E experiência só se adquire com o tempo.

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– Isso pode ser verdade – disse o Espantalho –, mas, sem cérebro, não vou ser feliz.

O falso mágico olhou para ele detidamente. Deu um suspiro e disse:

– Bem, não sou grande coisa como mágico, mas, se vier aqui amanhã pela manhã, vou rechear sua cabeça com cérebro. No entanto, não poderei dizer como deverá usá-lo. Terá que descobrir sozinho.

– Obrigado, obrigado – gritou o Espantalho. – Vou descobrir o jeito.

– Mas e a minha coragem? – perguntou o Leão, ansioso.

– Não tenho dúvida de que coragem você tem muita. Do que precisa é de confiança em si mesmo. Diante do perigo, todos nós sentimos medo. Verdadeira coragem tem aquele que é capaz de enfrentar o perigo, apesar do medo. E isso você demonstrou que é capaz de fazer.

– É, talvez. Mesmo assim, ainda sinto medo e continuarei infeliz, a menos que me dê o tipo de coragem que faz a gente esquecer que sente medo.

– Está bem. Vou lhe dar o que quer.

– E o meu coração? – perguntou o Lenhador.

– Bem, acho um erro desejar ter coração. É o que faz muita gente infeliz. Nem imagina a sorte que tem...

– É questão de opinião. De minha parte, posso aguentar sem um suspiro toda a infelicidade do mundo, contanto que tenha coração.

– Muito bem – respondeu Oz, conformado. – Venha amanhã e eu lhe darei um coração. Tenho bancado o mágico por tanto tempo, que não me custa continuar por mais um pouco.

– E agora – disse Dorothy – me responda: como volto para casa?

– Tenho que pensar bem no assunto. Preciso de dois ou três dias para estudar o caso e encontrar jeito de levá-la além do deserto. Enquanto isso, serão meus hóspedes, e meus súditos irão servi-los e obedecê-los. Só uma coisa peço em troca. Não contem a ninguém que sou um vigarista.

Concordaram em não dizer palavra a ninguém e dirigiram-se, animados, para seus quartos. A própria Dorothy tinha esperança de que o vigarista grande e terrível, como ela o chamava, encontrasse o meio de mandá-la de volta para casa. Se conseguisse, ela o perdoaria por tudo.

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16. A arte de um vigarista

a manhã seguinte, o Espantalho disse a seus amigos:

– Podem me dar os parabéns. Por fim, vou ganhar meu cérebro. Quando voltar da sala do trono, terei bom senso como qualquer pessoa.

– Sempre gostei de você como é – disse Dorothy com simplicidade.

– É muita bondade sua gostar de um espantalho, mas, com certeza, vai me apreciar muito mais quando ouvir as brilhantes ideias e os complexos pensamentos que meu cérebro vai produzir.

Despediu-se do grupo e, animado, encaminhou-se para a sala do trono. Bateu.

– Entre – disse Oz.

O homenzinho estava sentado junto à janela, pensando. O Espantalho disse:

– Vim buscar meu cérebro.

– Ah, sim. Sente naquela cadeira, por favor. Desculpe, mas vou ter que retirar sua cabeça para pôr o cérebro no devido lugar.

– Tudo bem. Pode retirar minha cabeça à vontade, contanto que coloque outra melhor no lugar.

Oz desprendeu a cabeça do Espantalho e encheu-a com palha. Trouxe uma porção de farelo e a ela misturou agulhas e alfinetes. Sacu-

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diu tudo e colocou na parte de cima da cabeça do Espantalho. Encheu o resto do espaço com palha, para que a mistura não saísse do lugar.

– De agora em diante, será um grande homem, pois tem na cabeça um cérebro bem novinho.

Contente e orgulhoso com a realização de seu maior desejo, o Espantalho agradeceu a Oz calorosamente e voltou para os amigos. Dorothy olhou, curiosa, para ele. A cabeça estava meio encurvada, por causa da operação que sofrera.

– Como se sente?

– Eu me sinto um verdadeiro sábio. Quando eu estiver mais acostumado com meu cérebro, não haverá o que eu não saiba.

– E essas agulhas e alfinetes enfiados na cabeça? – perguntou o Lenhador.

– É prova de que o cérebro é aguçado – adiantou o Leão.

– Bem – disse o Lenhador –, chegou minha vez de ter o desejo atendido. Bateu à porta da sala do trono.

– Entre – disse Oz.

– Vim buscar meu coração.

– Muito bem, mas terei que fazer um buraco no seu peito para colocar o coração no lugar certo. Espero não machucá-lo.

– Ah, não vou sentir nada.

Oz trouxe um par de tesouras de funileiro e fez um buraquinho arredondado no lado esquerdo do peito do Lenhador. Abriu uma cômoda e apanhou um coração de seda recheado com serragem.

– Não é uma beleza?

– É lindo! – respondeu o Lenhador, com imensa satisfação. – Mas, diga: esse é um bom coração?

– Cordialíssimo! Dos melhores.

Oz, então, colocou o coração no peito do Lenhador. Recolocou o pedaço cortado e soldou com cuidado.

– Pronto. Agora, tem um coração de dar inveja a qualquer um. Lamento ter deixado um remendo no peito. Não pude evitar.

– Não se preocupe com o remendo – exclamou o Lenhador, feliz. –Que me importa? Sou muitíssimo agradecido pelo que fez. Jamais esquecerei tanta bondade.

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– Não há de quê.

Os amigos desejaram ao Lenhador muitas felicidades com o novo coração. E chegou a vez de o Leão se dirigir à sala do trono. Bateu.

– Entre – disse Oz.

– Vim buscar minha coragem.

– Vou apanhá-la para você.

Foi até o armário e retirou uma garrafa verde-abacate. Derramou o conteúdo numa tigela. O Leão cheirou e não gostou muito.

– Beba – disse Oz.

– O que é isso?

– Bem, se já tivesse bebido, eu diria que era coragem. Você sabe que coragem só existe dentro de uma pessoa e não fora. Portanto, não podemos dizer que isto seja coragem, antes que a tenha engolido.

O Leão não hesitou. Bebeu a gororoba verde-abacate todinha.

– Como se sente agora?

– Cheio de coragem!

E, feliz da vida, foi partilhar a alegria com os amigos.

Quando ficou sozinho, Oz não pôde evitar o riso. Engraçado o modo como tinha conseguido dar aos três o que queriam. Disse a si mesmo:

– Como não vou ser vigarista, se as pessoas me forçam a fazer o que sabem ser impossível? Foi fácil satisfazer o Leão, o Espantalho e o Lenhador, pois acreditam que tenho poder para tudo. Complicado vai ser levar Dorothy de volta ao Kansas. Não tenho a menor ideia de como fazer isso.

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17. O balão sobe

á se passavam três dias e Dorothy não tinha notícias de Oz. Estava triste, embora visse os companheiros felizes e animados. Só no quarto dia, Oz mandou chamá-la e, quando entrou na sala do trono, ele disse:

– Sente, querida. Acho que encontrei a maneira de tirá-la deste país.

– De me mandar para o Kansas?

– Bem, não estou bem certo de que seja para o Kansas, já que não tenho a menor ideia de como chegar lá. Estou falando de atravessar o deserto. Depois, não vai ser difícil encontrar o caminho de casa.

– E como vou atravessar o deserto?

– Veja, eu cheguei aqui em um balão. Você também veio pelo ar, trazida por um ciclone. Concluí que a melhor maneira de atravessar o deserto é pelo ar. No entanto, provocar um ciclone está muito além das minhas capacidades. Mas acho que posso fazer um balão.

– Como?

– Um balão feito de seda recoberta de cola para impedir o escapamento do gás. Tenho muita seda no palácio, mas não há, no país, gás suficiente para enchê-lo e fazê-lo flutuar.

– Mas, se não flutuar, não servirá de nada.

– É verdade. Mas há outra maneira: podemos enchê-lo com ar quente. Não é o melhor meio, por que, caso o ar se resfrie, o balão cairá no deserto e estaremos perdidos.

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– Nós? Você vai comigo?

– Mas é claro! Cansei de ser vigarista, de viver enclausurado neste palácio. Se saísse daqui, o povo logo descobriria que não tenho nada de mágico. Prefiro voltar com você e trabalhar num circo.

– Vou gostar de sua companhia.

– Obrigado. Agora, se quiser me ajudar a costurar as sedas, podemos começar a fazer nosso balão.

Depois de tomar todas as providências, Oz mandou avisar o povo que iria visitar um grande mágico, seu irmão, que morava nas nuvens. A notícia logo se espalhou pela cidade e todos acorreram ao palácio, curiosos diante do extraordinário evento.

O Lenhador cortou lenha para fazer uma grande fogueira. Oz manteve a boca do balão sobre o fogo, para que o ar quente inflasse o saco de seda. O balão inflou e começou a subir. Quando o cesto mal tocava o chão, Oz pulou dentro dele e dirigiu-se ao povo com voz forte:

– O Espantalho governará a Cidade na minha ausência. Devem obedecê-lo como obedecem a mim.

O ar quente, dentro do balão, o fazia mais leve que a atmosfera. As cordas já não o prendiam ao chão. Oz gritou:

– Dorothy, venha ligeiro, o balão vai subir.

– Não encontro Totó – respondeu ela, que não queria partir sem o cachorro. Quando conseguiu apanhá-lo, correu para o balão. Estava, apenas, a alguns passos de alcançá-lo. Oz estendeu os braços para ajudá-la a entrar no cesto. Mas as amarras se soltaram e o balão subiu. Sem Dorothy.

– Volte! – ela gritou.

– Ai! Não consigo voltar!... Adeus!

– Adeus! – gritavam todos, com os olhos fixos no balão que elevava o falso mágico cada vez mais alto.

Aquela foi a última vez que viram Oz, o grande, o terrível.

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18. A caminho do sul

o dia seguinte à partida de Oz, os quatro viajantes se reuniram na sala do trono para avaliar a situação. O Espantalho tomou seu lugar no trono imponente e os demais permaneceram diante dele, em atitude respeitosa. Então, o novo governador disse:

– Vejam, não estamos tão mal assim. O palácio e a Cidade das Esmeraldas nos pertencem e podemos fazer o que quisermos. Só posso estar satisfeito com a minha sorte.

– Eu, também – disse o Lenhador. – Estou contentíssimo com meu novo coração.

– De minha parte, estou feliz em saber que sou mais valente que qualquer outra fera – disse o Leão.

– Se Dorothy gostasse de viver na Cidade das Esmeraldas – continuou o Espantalho –, estaríamos todos contentes.

– Mas eu não gosto – desabafou Dorothy – e não quero ficar aqui. Quero ir para casa.

– O que fazer, então? – perguntou o Lenhador.

O Espantalho começou a pensar. Pensou tanto que as pontas dos alfinetes e agulhas da cabeça começaram a sair para fora. Por fim, disse:

– Por que não pedimos aos Macacos Alados que a levem além do deserto?

– Como é que não pensei nisso? Vou apanhar o Capacete.

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Disse as palavras mágicas e, logo depois, o bando dos Macacos Alados entrou voando pela janela aberta e pousou diante dela.

– É a segunda vez que nos chama – disse o Rei dos Macacos. – O que deseja?

– Quero que me levem para o Kansas.

– É impossível. Não podemos sair do país. Você alguma vez viu um Macaco Alado no Kansas? Não, nem verá. Teremos prazer em atendê-la no que estiver a nosso alcance. Mas atravessar o deserto não podemos. Adeus.

Fez uma reverência, bateu asas e voou. O bando foi atrás. Dorothy quase chorou.

– Desperdicei o segundo pedido por nada.

– Mas que pena – disse o Lenhador de coração mole.

O Espantalho tinha começado a pensar outra vez. A cabeça estava bem arqueada. A menina temeu que pudesse estourar.

– Vamos chamar o soldado de barba verde-jade – disse ele – e pedir um conselho.

O soldado foi chamado e, tímido, entrou na sala do trono. Enquanto Oz governou a cidade, ele nunca tinha sido admitido além da porta.

– A menina quer atravessar o deserto – disse o Espantalho ao soldado. –O que deve fazer?

– Não sei. Ninguém, além de Oz, atravessou o deserto.

– Será que alguém pode me ajudar? – perguntou Dorothy.

– Glinda, talvez – sugeriu ele.

– Quem é Glinda? – perguntou o Espantalho.

– A Bruxa do Sul. É a mais poderosa de todas as Bruxas e governa os quadlings. O castelo dela fica na fronteira com o deserto, deve saber como atravessá-lo.

– Glinda é uma bruxa boa, não é? – perguntou a menina.

– Dizem que sim e que é bela, apesar da idade.

– Como chego ao castelo?

– A estrada vai em direção ao sul, mas dizem que é perigosa. Há animais ferozes nas florestas e uma raça de estranhas criaturas que não gosta de estrangeiros no país deles. Por isso, nunca apareceu um quadling por aqui.

Depois que o soldado foi dispensado, o Espantalho ponderou:

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– Apesar dos perigos, o melhor que Dorothy tem a fazer é viajar para a Terra do Sul e pedir ajuda a Glinda. Ficando aqui, jamais chegará ao Kansas.

– Você pensou de novo – observou o Lenhador.

– De fato! – respondeu o Espantalho.

– Eu vou com ela – declarou o Leão. – Dorothy precisa de alguém que a proteja.

– É verdade – concordou o Lenhador. – Meu machado poderá ser útil. Vou com ela para a Terra do Sul.

– Quando partimos? – perguntou o Espantalho.

– Você também vai? – perguntaram todos, surpresos.

– Sem dúvida! Se não fosse Dorothy, eu jamais teria cérebro. Não vou deixá-la agora.

– Muito obrigada, vocês são ótimos amigos. _

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19. Guardas da floresta

Guardião, ao vê-los partir, ficou admirado por deixarem cidade tão magnífica em busca de novas complicações. Mas destrancou os óculos que usavam, abriu o portão e desejou-lhes boa viagem.

Era dia de sol brilhante. Felizes da vida, riam e conversavam. O Espantalho, chefe da expedição, descobriu uma árvore de imensos galhos que permitia a passagem do grupo por baixo deles. Porém, mal tinha passado sob o primeiro galho, outros se dobraram e se enrolaram no corpo dele. Foi levantado do chão e jogado de cabeça entre os companheiros. Não se feriu, mas ficou tonto.

– Aqui tem outra entrada – gritou o Leão.

– Deixe-me tentar primeiro – disse o Espantalho – porque, se for jogado, não fico ferido.

Os galhos de outra árvore o apanharam e foi atirado longe.

– Que coisa mais estranha! – exclamou Dorothy. – O que vamos fazer?

– Parece que as árvores decidiram lutar contra nós, impedindo a viagem – disse o Leão.

– Agora, eu é que vou tentar – disse o Lenhador.

Colocou o machado no ombro e foi em direção à árvore que havia arremessado o Espantalho. Quando um galho se dobrou para apanhá-lo,

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o Lenhador cortou-o em dois. A árvore agitou todos os galhos, como se sentisse dor horrível, e o Lenhador passou sob ela. Os demais entraram na floresta sem problemas.

Continuaram sem incidentes até o outro extremo. Lá, surpresos, encontraram uma alta muralha que parecia ser de porcelana branca.

– Vou fazer uma escada. Precisamos transpô-la – disse o Lenhador.

Enquanto o Lenhador fazia uma escada de madeira, Dorothy, o Leão e Totó foram dormir, cansados da longa caminhada. Quando a escada ficou pronta, o Espantalho despertou os companheiros. Foi na frente, mas subiu tão desajeitado que Dorothy ficou atrás dele, para evitar que caísse. Quando pôde ver o que havia do outro lado, o Espantalho gritou:

– Nossa!

– Continue – disse Dorothy.

O Espantalho subiu mais um pouco e se sentou na muralha. Dorothy, então, viu o que ele tinha visto.

– Nossa! – exclamou.

Totó começou a latir. Dorothy fez com que calasse. O Leão e o Lenhador chegaram no alto da escada. Espiaram.

– Nossa! – gritaram.

Sentaram-se sobre a muralha e ficaram admirando a curiosa paisagem. Estendia-se, diante deles, planície lisa, branca e brilhante como um prato de louça. As casas eram de porcelana de variadas cores e bem pequenas. A mais alta não ia além da cintura da menina. Os sítios tinham cerquinhas de porcelana e vacas, carneiros, cavalos, porcos, galinhas eram todos de porcelana. Minúsculos, o mais alto deles não passava do joelho de Dorothy.

Encontraram uma princesinha que, ao ver os estrangeiros, fugiu. Dorothy foi atrás dela, mas a moça de porcelana gritou:

– Não venha atrás de mim.

Estava tão apavorada que Dorothy parou e perguntou:

– Por que não?

A princesinha também parou, mas manteve distância:

– Porque se eu correr, posso cair e quebrar.

– Não pode ser consertada?

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– Posso, mas não seria a mesma, emendada.

– Você é adorável! Posso levá-la para o Kansas e colocá-la sobre a lareira de tia Ema?

– Eu seria muito infeliz se isso acontecesse. Aqui vivemos contentes e nos movemos à vontade. Quando nos levam embora, ficamos paralisados, com a única função de decorar. É muito triste.

– Por nada no mundo eu a faria infeliz – disse Dorothy. – Adeus!

– Adeus! – respondeu a princesinha.

O grupo andou com todo o cuidado pelo país de porcelana. As pessoas e os animaizinhos fugiam deles, temendo ser quebrados. Levaram uma hora para atravessar o país e, então, encontraram outra muralha de porcelana. Mas não era alta como a primeira e, subindo nas costas do Leão, conseguiram saltá-la. Quando foi a vez de o Leão saltar, a cauda bateu numa ponte e deixou-a em pedaços.

– Que pena! – exclamou Dorothy. – Mesmo assim, tivemos sorte. Atravessamos um país de porcelana e quebramos pouca coisa.

– Como são frágeis – disse o Espantalho. – Estou feliz por ser feito de palha e não me quebrar.

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20. O rei dos animais

lém da segunda muralha, os viajantes encontraram região de pântanos e atoleiros cobertos por capim. Precisavam estar atentos para não cair em buracos de lama que a vegetação escondia. Cansados, percorreram trecho de plantas rasteiras que os conduziu a outra floresta. As árvores eram altíssimas.

– Que beleza de floresta! – disse o Leão, entusiasmado. – Nunca vi lugar mais atraente.

– Sombrio demais – comentou o Espantalho.

– Nem um pouco – contrapôs o Leão. – Por mim, passava a vida aqui. Reparem que macias são as folhas secas no chão. Vejam como é verde e farto o musgo que cobre as árvores. Não pode haver lugar melhor para um animal selvagem.

– E deve haver muitos animais selvagens aqui, não? – perguntou a menina.

– Acho que sim, mas não se vê nenhum.

Caminharam até escurecer. Na manhã seguinte, pouco depois de iniciar a caminhada, ouviram um ronco surdo. Parecia o rosnar de várias feras selvagens. Totó choramingou um pouquinho, mas os outros seguiram em passo firme. Em meio a uma clareira, avistaram centenas de animais. Tigres, elefantes, ursos, lobos, raposas e outras espécies.

Por um momento, Dorothy sentiu medo. Mas o Leão explicou que estavam em assembleia e, a julgar pelos rosnados, devia ser grande o problema.

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Quando avistaram o Leão, os animais calaram-se como num passe de mágica. O maior dentre os tigres se aproximou e, após os cumprimentos, disse:

– Seja bem-vindo, Rei dos Animais. Chegou no momento exato para enfrentar o inimigo e trazer paz à floresta.

– Qual é o problema? – perguntou o Leão.

– Estamos ameaçados por feroz inimigo que apareceu por aqui, um monstro assustador. Uma aranha gigante, com oito pernas da altura de uma árvore. Apanha animais selvagens e os devora como se fossem mosquinhas. Não estaremos a salvo enquanto o monstro viver. Fizemos esta reunião para decidir o que fazer, e você apareceu.

O Leão pensou um pouco e perguntou:

– Há outros leões na floresta?

– Havia. O monstro os devorou. Não eram grandes nem corajosos como você.

– Caso destrua o inimigo, irão reverenciar-me e obedecer-me como seu rei?

– Com prazer, faremos isso – respondeu o tigre.

E as feras, em coro, gritaram:

– Sim!

– Onde está a aranha-gigante? – perguntou o Leão.

– Lá, entre aquelas árvores – disse o tigre, indicando o lugar com a pata.

– Cuidem dos meus amigos que eu me encarrego do monstro – disse o Leão.

Deu adeus aos companheiros e, solene, marchou para o campo de batalha. A aranha-gigante dormia, quando o Leão a encontrou. Fez careta de repulsa ao ver a criatura. Tinha as pernas longas, como o tigre tinha dito, e horríveis pelos escuros cobriam-lhe o corpo todo. Na boca enorme, dentes afiados. Cada um com trinta centímetros. Mas o pescoço era fino como cintura de vespa.

O Leão já tinha ideia de qual era o ponto frágil. Sabia também que é melhor atacar o inimigo quando ele dorme. Não pensou mais. Deu um salto sobre o monstro e com uma patada lhe arrancou a cabeça. Aguardou que as várias pernas parassem de bater para ter certeza de que a fera estava, de fato, morta. Voltou à clareira, onde era aguardado, e declarou com orgulho:

– Ninguém precisa mais temer o inimigo.

As feras se curvaram diante dele e o proclamaram rei. O Leão prometeu voltar para governá-los, assim que Dorothy retornasse ao Kansas.

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21. O país dos quadlings

ompletaram a travessia da floresta sem maiores incidentes. Quando saíram daquela área sombria, tinham à frente um monte escarpado e pedregoso.

– Vai ser difícil escalá-lo – disse o Espantalho –, mas temos que ir em frente.

Mal tinham iniciado a subida, ouviram uma voz grave:

– Voltem!

– Quem é você?

Surgiu uma cabeça detrás das pedras:

– Este monte é nosso. Não têm permissão para atravessá-lo.

– Não temos alternativa – explicou o Espantalho. – Vamos para o país dos quadlings.

– Não vão atravessá-lo! – insistiu a voz.

Detrás de uma pedra saiu um homem estranhíssimo. Baixo, com enorme cabeça achatada no alto e o pescoço muito enrugado. Não tinha braços. Ao perceber tal desvantagem, o Espantalho pensou que o sujeito não poderia impedir a escalada.

– Sinto muito – disse –, mas temos que atravessar o monte, goste ou não.

Foi em frente, determinado. Mas, com a rapidez de um relâmpago, a cabeça deu um salto. O pescoço era elástico. Atingiu o Espantalho e ele rolou monte abaixo. A cabeça voltou ao corpo com a mesma velocidade. O homem deu uma risada maldosa:

– Não é tão fácil como parece!

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Risadas sarcásticas explodiram em coro e Dorothy viu centenas de Cabeças de Martelo, sem braços, surgirem detrás das pedras. O Leão se enfureceu com as risadas. O rugido que deu ecoou como trovão. Subiu o monte correndo, mas foi atacado por outra cabeça e também rolou monte abaixo. Parecia que um tiro de canhão o tinha atingido. Dorothy socorreu o Espantalho e o Leão, que estava bastante ferido.

– Não dá para lutar com eles – disse – parecem balas. Assim, ninguém aguenta.

– O que faremos?

– Chame os Macacos Alados e faça o último pedido – disse o Lenhador.

Dorothy colocou o Capacete Dourado, pronunciou as palavras mágicas e os Macacos apareceram com a prontidão de sempre.

– Quais são as ordens? – perguntou o Rei dos Macacos.

– Levem-nos até o país dos quadlings.

– Sua vontade será satisfeita.

Os Macacos apanharam os viajantes e alçaram voo. Ao vê-los sobrevoar o monte, os Cabeças de Martelo gritaram com raiva. Arremessaram as cabeças, mas sem poder alcançá-los. E os Macacos Alados pousaram com nossos amigos no país dos quadlings.

– Este foi seu último chamado – disse o Rei dos Macacos a Dorothy. –Boa sorte e adeus.

– Adeus, obrigada por tudo – respondeu ela.

O país dos quadlings parecia rico e feliz. Campos cheios de cereais, estradas bem pavimentadas, belos riachos e pontes. Casas, cercas e tudo o que lá havia era de cor vermelha, como era amarelo no país dos winkies e azul no dos munchkins.

Dorothy perguntou a uma mulher onde ficava o castelo de Glinda.

– Não é longe daqui. Sigam sempre para o sul e logo estarão lá.

Partiram campo afora até um belo castelo. Diante do portão, três jovens vestiam uniformes elegantes com galões dourados. Quando a menina se aproximou, disse uma delas:

– O que quer no País do Sul?

– Falar com a Bruxa Boa.

– Digam seus nomes, vou ver se pode recebê-los.

Disseram quem eram e a moça se foi. Voltou instantes depois, anunciando que seriam recebidos de imediato.

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22. No castelo de Glinda

linda, a Bruxa Boa, estava sentada em trono de rubis. O cabelo ruivo caía ondulado sobre os ombros. Estava vestida de branco e os olhos azuis olharam a menina com doçura.

– Em que posso ajudá-la? – perguntou.

Dorothy contou toda a história: como foi trazida por um ciclone à Terra de Oz, o encontro com os companheiros e as aventuras maravilhosas que tinham vivido.

– Meu maior desejo agora – acrescentou – é voltar ao Kansas e reencontrar minha tia Ema e meu tio Henry.

Glinda inclinou-se e beijou o rosto encantador da menina.

– Você tem amor no coração. Sem dúvida, posso ensinar-lhe o caminho de volta ao Kansas. Mas, antes, precisa me dar o Capacete Dourado.

– Com prazer. Não tem mais utilidade para mim, já usei três vezes.

– E eu precisarei chamar os Macacos Alados exatamente três vezes – disse Glinda, sorrindo.

Quando recebeu o Capacete, a Bruxa Boa perguntou ao Espantalho:

– O que vai ser de você, quando Dorothy partir?

– Vou voltar à Cidade das Esmeraldas. Fui nomeado sucessor de Oz, e o povo gosta de mim. O que me preocupa é a travessia do monte dos Cabeças de Martelo.

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– Ordenarei aos Macacos Alados que o transportem até o portão da Cidade das Esmeraldas. Seria lastimável privar o povo de um governante tão extraordinário.

– Acha que sou extraordinário? – perguntou o Espantalho.

– Sem dúvida, é um governante bastante incomum.

Glinda dirigiu-se ao Lenhador de Lata e perguntou:

– O que vai ser de você, quando Dorothy partir?

Ele soltou o machado, pensou e disse:

– Os winkies foram bons comigo e desejam que eu os governe. Também gosto deles. Seria feliz se pudesse voltar ao País do Oeste.

A Bruxa Boa disse então:

– Minha segunda ordem para os Macacos Alados será para que o levem à terra dos winkies. Você não tem cérebro tão grande como o do Espantalho, mas é mais brilhante que ele. Pelo menos quando está polido. Governará com sabedoria.

Olhou, então, para o Leão e perguntou:

– O que vai ser de você, quando Dorothy partir?

– Além do monte dos Cabeças de Martelo, há uma floresta imensa, onde fui proclamado rei. Se pudesse voltar para lá, seria feliz o resto de minha vida.

– Minha terceira ordem para os Macacos Alados será para que o levem a essa floresta. Depois disso, entregarei a eles o Capacete Dourado para que fiquem livres para sempre.

Os três agradeceram muitíssimo à Bruxa.

– Sem dúvida – disse Dorothy –, é tão generosa quanto bela, mas ainda não me disse como vou voltar para casa.

– Seus sapatos de prata podem fazê-la atravessar o deserto. Se soubesse o poder que têm, teria voltado no primeiro dia.

– Nesse caso, jamais eu teria um cérebro maravilhoso – disse o Espantalho.

– Nem eu, um coração generoso – disse o Lenhador.

– Nem eu, tamanha coragem – disse o Leão.

– É verdade – disse Dorothy. – Sendo como foi, ajudei a bons amigos. Mas agora todos têm o que desejam e quero voltar para casa.

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– Os sapatos de prata têm incontáveis poderes. Você pode ir a qualquer lugar do mundo com três passos. Basta que dê, também, três piscadelas. Bata um salto no outro três vezes e diga aonde quer ir.

– Se é assim, vou pedir que me levem ao Kansas sem demora.

Beijou e abraçou o Leão e também o Lenhador, que chorava perigosamente. Mas, em lugar de beijar o Espantalho, preferiu apertar nos braços seu macio corpo de palha. E chorou por deixar companheiros tão queridos.

Glinda desceu do trono de rubis e deu um beijo de adeus na menina. Dorothy agradeceu por tudo que a Bruxa fizera por ela e seus amigos. Pegou Totó nos braços, acenou a todos, bateu os saltos dos sapatos três vezes e disse:

– Levem-me para o Kansas! _

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23. Em casa

irou no ar e sentiu-se levar pelo vento que assoviava em seus ouvidos. De repente, desceu, rolou na grama e olhou em redor. Estava na extensa pradaria do Kansas e, diante dela, via a nova casa de tio Henry, construída depois do ciclone. Ele ordenhava uma vaca e, ao vê-lo, Totó correu ao celeiro, latindo com alegria. Quando Dorothy se ergueu, viu que calçava apenas meias. Perdera os sapatos de prata voando sobre o deserto.

Tia Ema saía de casa para regar as verduras e viu Dorothy correr em direção a ela.

– Minha querida! – gritou, apertando a menina nos braços e cobrindo-a de beijos. – Onde esteve todo esse tempo?

– Na Terra de Oz. Ah, tia Ema, estou tão feliz de estar em casa de novo!

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O caminho mágico

Bate-papo pós-leitura

Dorothy é órfã, mora modestamente com um casal de tios numa região rural dos Estados Unidos. Seus maiores tesouros são a vivacidade e o cachorro, Totó. Com um jeito bem de criança, ela tem um poder oculto, do qual ela mesma não se dá conta: o de transformar em alegria o cotidiano cinza em que vive.

Um dia, um ciclone – um desses fenômenos da natureza sobre os quais muito ainda se desconhece – a carrega, levando-a para um reino mágico: a Terra de Oz.

É o lugar ideal para a menina Dorothy, tão simples e tão inexperiente, se transformar em heroína. Porque é uma terra de bruxas, algumas boas, outras más, e de um mágico grande e terrível, Oz. Terra de perigos, de criaturas estranhas, algumas parecendo saídas de pesadelos, outras, de histórias encantadas.

Ela terá de percorrer um caminho – de pedras amarelas –, nele encontrando amigos e objetos mágicos, mas, principalmente, descobrindo a si mesma e como agir diante de situações que, normalmente, se sentiria incapaz de enfrentar.

Dorothy e seus três grandes amigos, o Espantalho, o Lenhador de Lata e o Leão, vivem uma descoberta. Desde a mitologia grega, os heróis têm de enfrentar os caprichos de deuses que os perseguem e monstros sobrenaturais. Assim

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como muitos super-heróis dos quadrinhos e filmes, crianças e adolescentes são lançados em frente a perigos diante dos quais parecem tão frágeis que pensamos que inevitavelmente serão derrotados e destruídos. E os leitores dessas histórias torcem por eles, arrepiam-se com as ameaças contra eles, comemoram com eles suas vitórias. Do mesmo modo, há mais de cem anos, os leitores de O mágico de Oz vivem com Dorothy e seus amigos essa experiência e a transformam numa coisa real dentro de si.

Crescer, ganhar experiência e amadurecer sempre envolvem dificuldades e perigos. Há momentos – como acontece com o Espantalho, o Lenhador de Lata e o Leão – em que sentimos que nos faltam inteligência, coragem e saber lidar com nossos sentimentos. Na maioria das vezes, descobrimos que temos essas qualidades dentro de nós. Precisamos é cultivá-las, à medida que experimentamos o mundo e nos experimentamos no mundo. Como escreveu o poeta espanhol Antonio Machado: “Caminhante, não há caminho; / o caminho se faz ao andar”. Será que isso tudo está na história O mágico de Oz ? Ou outras coisas? Isso cabe a você decidir. Ou sentir. Mais ou menos como sempre na vida.

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Informações paratextuais

Olá, leitor e leitora! A história de O mágico de Oz foi criada pelo autor L. Frank Baum, que nasceu nos Estados Unidos, em 1856, e faleceu em 1919, no mesmo país. Mesmo vindo de uma família rica, Baum precisou trabalhar como ator, vendedor e jornalista depois da morte de seu pai. Até que, em 1897, publicou seu primeiro livro para crianças, Mamãe Gansa em prosa.

Mais tarde, Baum deu início a uma série de livros sobre um país imaginário, a Terra de Oz. O primeiro livro dessa série, O mágico de Oz, publicado em 1900, tornou o autor muito popular. A história do mágico de Oz, de Dorothy, do Leão, do Espantalho, do Lenhador de Lata e de Totó já foi traduzida para dezenas de línguas e até adaptada para o cinema!

O texto que você lê aqui foi traduzido do inglês e adaptado pela escritora Ligia Cademartori, que nasceu na cidade gaúcha de Santana do Livramento e faleceu em Brasília, em 2015. O livro original é um romance, um gênero literário em prosa em que vários personagens vivem histórias longas e repletas de acontecimentos.

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Ao adaptar a trama para o público infantil, Ligia Cademartori optou por deixar o texto mais enxuto, privilegiando as ações principais e os diálogos. Por isso, o livro que você leu pertence ao gênero novela, que está no meio do caminho entre seus dois parentes: o conto, que é mais curto, e o romance, mais longo.

Você reparou que este livro tem ilustrações grandes e pequenas? Quem criou essas ilustrações foi a artista Marilia Pirillo, que nasceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, em 1969. As ilustrações que abrem os capítulos acompanham aquelas letras grandonas, chamadas capitulares, e dão uma dica do que vai acontecer a seguir na história.

Mas não precisa se preocupar, não vai rolar spoiler, não!

Acompanhe a jornada de Dorothy e seus companheiros e descubra que, às vezes, o que queremos está bem mais perto do que imaginamos.

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Dorothy é órfã, mora modestamente com um casal de tios numa região rural dos Estados Unidos. Um dia, um ciclone a carrega, levando-a para um reino mágico: a Terra de Oz. É uma terra de bruxas, algumas boas, outras más, e um mágico grande e terrível, Oz. Dorothy terá de percorrer um caminho – de pedras amarelas – onde encontrará três grandes amigos – o Espantalho, o Lenhador de Lata e o Leão – e viverá grandes descobertas.

Luiz

9280302000029 9 786589 590170 ISBN 978-65-89590-17-0
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