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EM QUADRINHOS
ILUSTRAÇÕES DE VERÔNICA BERTA
ADAPTAÇÃO DE LUIZ ANTONIO AGUIAR
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ILUSTRAÇÕES DE VERÔNICA BERTA
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ADAPTAÇÃO DE LUIZ ANTONIO AGUIAR
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1 a . edição são paulo – 2020
Copyright © FTD, 2020
Copyright de texto © Luiz Antonio Aguiar, 2020
Copyright de ilustração © Verônica Berta, 2020
Todos os direitos reservados à EDITORA FTD S.A.
Matriz: Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo – SP
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diretor-geral Ricardo Tavares de Oliveira
gerente editorial Isabel Lopes Coelho
editor Estevão Azevedo
editora assistente Camila Saraiva coordenador de produção editorial Leandro Hiroshi Kanno preparadora Andressa Bezerra
revisoras Lívia Perran e Marina Nogueira
editores de arte Daniel Justi e Camila Catto projeto gráfico e diagramação Daniel Justi coordenadora de imagem e texto Marcia Berne diretor de operações e produção gráfica Reginaldo Soares Damasceno
Luiz Antonio Aguiar nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1955. É mestre em literatura brasileira pela PUC-Rio.
Verônica Berta nasceu na cidade de São Paulo, em 1991. É formada em design gráfico pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Assis, Machado de, 1839-1908
Quincas Borba em quadrinhos / Machado de Assis ; adaptação Luiz Antonio Aguiar ; ilustração Verônica Berta. — 1. ed. — São Paulo : FTD, 2020.
ISBN 978-85-96-02828-8
1. Histórias em quadrinhos — Literatura infantojuvenil I. Aguiar, Luiz Antonio. II. Berta, Verônica. III. Título.
20-34772
Índices para catálogo sistemático:
1. Histórias em quadrinhos : Literatura infantojuvenil 028.5
2. Histórias em quadrinhos : Literatura juvenil 028.5
Maria Alice Ferreira — Bibliotecária — CRB-8/7964
CDD-028.5
Quincas Borba e a solidão universal
Você ainda vai ouvir e ler muito sobre Machado de Assis, por toda a vida. Ele é considerado nosso mais importante autor de prosa. É apontado por estudiosos do mundo inteiro como um dos gênios da literatura, ao lado de Shakespeare, Dostoiévski, Charles Dickens, Alexandre Dumas e outros. Surpreendente, habilidoso em criar truques de ilusionismo literário para seus leitores… Não é à toa que é carinhosamente apelidado de “bruxo” – sendo que suas “bruxarias” são sempre literárias.
Em Quincas Borba, narra-se a trajetória de Rubião, um professor de Barbacena (MG) que se torna milionário graças à herança legada por seu amigo, Quincas Borba; que deixa, ainda, para Rubião, seu cachorro, também chamado Quincas Borba.
Abastado da herança, Rubião decide partir para o Rio de Janeiro, e lá se envolve, ou é envolvido, nas malícias da Corte. Apaixona-se por Sofia, mulher de Cristiano Palha, um negociante astuto que se torna seu sócio. E por aí corre a história, e aí desfilam os personagens, exibindo a complexidade de suas mentes e espíritos, e os caprichos de uma época.
Ao mesmo tempo, Machado de Assis confere à sua obra uma perspectiva humanista e universal, talvez até mesmo metafísica. As estrelas, o céu, estão presentes em várias cenas. Mas será que, lá das alturas, elas brilham indiferentes ao fato de existirmos, ou elas podem ser tocadas por nossos sentimentos quando as observamos? O quanto viver é experimentar a solidão? Somos capazes de nos conformar com uma condição como essa diante do mundo, ou ela pode nos levar à loucura?
Machado trouxe muitos temas da literatura mundial para nossa literatura. Ao mesmo tempo, elevou a literatura brasileira, com sua genialidade de composição de enredos e personagens, ao nível de torná-la capaz de discutir os temas universais.
Produzido nesta edição com o dinamismo, as cores, o movimento e a vivacidade das graphic novels, e respeitando o texto original, você encontrará aqui toda a riqueza de Quincas Borba. Assim, não se preocupe em tentar evitar cair nos truques de Machado; até mesmo especialistas em literatura estão entre suas vítimas. Deixe-se levar. Deixe-se enredar. Deixe-se comover, ficar perplexo, intrigado, sem palavras. São efeitos normais e esperados em quem lê Machado de Assis. Afinal, tudo o que ele faz é literatura.
Luiz Antonio Aguiar
Quem eu era há um ano? Professor.
Que sou agora?
Um capitalista!
Se minha irmã tivesse se casado com Quincas Borba, eu herdaria alguma coisa, mas pouco. Não casou, ambos morreram, e ficou tudo para mim!
Que abismo há entre o espírito e o coração! O espírito do ex-professor envergonhou-se daquele pensamento… O coração, porém, continuou a bater de alegria.
Seu café da manhã, señor
O certo é que os dois estão no céu!
Em Barbacena, estava acostumado a ser servido por gente da terra. Preferia não ter línguas estrangeiras em casa.
Mas o criado espanhol fora ideia de Palha. Disse que ter criados brancos era uma necessidade NA CORTE.
Vá soltar
Quincas Borba!
Deus escreve certo por linhas tortas…8
RUBIÃO pensava somente em Sofia, a mulher de Palha.
Uns...
... modos, uns olhos, uns requebros sem explicação, a não ser…
Ela me ama...
E muito!
Que ombros! Parecem cera!
Os braços também! Oh, os braços!
Perro del infierno! Venga! Venga!
O criado odeia Quincas Borba, o cão, que tem memória curta para as pancadas. Ao contrário, os afagos ficam impressos, fixos nele. Gosta de ser amado…
... Contenta-se EM crer que o é…
Não, não, Quincas! Sossega!
O pensamento de Rubião volta para sua Barbacena, onde conheceu Quincas Borba. Não o cão…
9
… mas o ex-dono dele, inventor de uma filosofia. Quase ficou noivo da irmã de Rubião. Mas ela morreu, Quincas Borba adoeceu, e Rubião cuidou do enfermo nos seus últimos dias de vida.
Único?!
Ah, desculpe! Você também é meu amigo, Rubião!
Venha, Quincas Borba! Venha, Meu pobre amigo! Meu bom amigo!
Meu único amigo!
Francamente, Quincas! Dar a um cão o seu próprio nome…
E por que não? Humanitas é o princípio da vida e existe em toda parte! está também neste cão!
Se eu morrer antes, como presumo, sobreviverei no nome do meu bom cachorro!
Assim será! E também ganharei a imortalidade através do meu grande livro. Os que não souberem ler chamarão Quincas Borba ao cachorro…
Ora, Quincas!
Sei, sei! Você tem umas filosofias…
Não, não, Quincas!
Umas filosofias… Com que desdém você diz isso!
Não é nenhum desdém! Quem sou eu para desdenhar de filosofias? Digo só que a morte não vale nada porque tem lá suas razões… princípios!
Humanitas! Quer uma prova? Veja como morreu minha avó… Faz muito tempo. Foi no Rio de Janeiro, numa festa popular...
11
Houve tumulto, confusão, minha avó caiu, e a carruagem passou EM CIMA DELA…
Minha avó atravessava a rua quando uma bombinha assustou os cavalos de um coche e eles dispararam...
E Quincas
Borba conclui, com o olhar febril de quem já descobria os subúrbios da morte…
Não há morte! Há vida!
A supressão de uma é a condição de sobrevivência da outra! A destruição nunca atinge o princípio universal e comum!
Se eu queimo um exemplar de Dom Quixote, perde-se o livro, mas sobrevive a obra!
A cabeça rachada, os ombros partidos, sangue por toda parte! Expirou momentos depois. E qual é a razão de tudo isso?
Humanitas tinha fome! Humanitas precisa comer!
Humanitas é o princípio! Universal! Indivisível e indestrutível! E eu, que o formulei, o Humanitismo, sou o maior homem do mundo!
Quero!
Então, ouça… Suponha que haja um campo de batatas E duas tribos famintas…
Ora, se as duas tribos dividirem as batatas, não haverá o suficiente para ambas! Morrerão de fome!
Você, Rubião! Quer ser meu discípulo?13
A paz, neste caso, é a destruição! A guerra é a conservação! Ao vencido, ódio ou compaixão… AO VENCEDOR, AS BATATAS!
Ao vencedor, as batatas… Ao vencedor, as batatas!
E eu sou Santo Agostinho! Ninguém menos! Santo Agostinho!
Calma, calma, Quincas Borba!
Que conversa é essa?
Santo Agostinho! Sou Santo Agostinho...
Está completamente louco!
Quanto ao cachorro… Bem, comadre Angélica gosta de animais! Cuidará deste depois que o dono morrer!
Esperava que me deixasse alguma coisa de herança, Mas se souberem de sua demência, o testamento será anulado! Ninguém pode saber de sua demência… Ninguém!
15
Quincas Borba morre. o testamento é aberto e traz uma surpresa para Rubião…
Assim, nomeio Pedro Rubião de Alvarenga meu herdeiro universal, que entrará na posse da totalidade de meus bens.
Como?! Herdeiro universal?
Ele deixou tudo para mim… Tudo! Não somente alguma coisa, mas… tudo!
Com a condição de que ele se encarregue de cuidar do meu fiel amigo, Quincas Borba, o cão, até o final de seus dias.
Mas… cui-cui-dar do ca-ca-chorro? Claro que sim! Certamente! Eu adoro… Quincas Borba!
Herdeiro universal… Herdeiro universal…16
Ao vencedor, as batatas!
Um professor ingênuo, uma herança inesperada e um casal ambicioso. Esses são os principais elementos da trama de Quincas Borba, segundo livro da trilogia realista de Machado de Assis. No Rio de Janeiro do final do século XIX, Rubião é vítima das investidas da sedutora Sofia, incentivadas pelo próprio marido, Cristiano Palha, que está de olho no dinheiro do professor recém-chegado de Barbacena. Os três se conheceram durante uma viagem de trem, e, à medida que os laços entre eles se estreitam, insinuações, ironias, dissimulações e novas personagens deixam as relações privadas e sociais mais complexas. Esse imaginário machadiano, com toda sua riqueza de detalhes e de linguagem, ganha tridimensionalidade nas páginas desta versão em quadrinhos. Com texto adaptado por Luiz Antonio Aguiar e traços, cores, luzes e sombras de Verônica Berta, o clássico de Machado de Assis renasce em uma edição impecável e original, comprovando o caráter atemporal e multissensorial de sua obra.
9010303000054
9 788596 028288 ISBN 978-85-96-02828-8