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Piratas à vista

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samir machado de machado

Ilustrações rafael coutinho

1a . edição São Paulo – 2019
rafael coutinho samir machado de machado

Copyright © Samir Machado de Machado, 2019

Todos os direitos de edição reservados à EDITORA FTD S.A.

Matriz: Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo – SP

CEP 01326-010 – Tel. (0-XX-11) 3598-6000

Caixa Postal 65149 – CEP da Caixa Postal 01390-970

Internet: www.ftd.com.br

E-mail: projetos@ftd.com.br

dirEtor dE ContEúdo E nEgóCioS Ricardo Tavares de Oliveira

gErEntE Editorial Isabel Lopes Coelho

Editor Estevão Azevedo

Editora aSSiStEntE Flavia Lago

CoordEnadora dE Produção Editorial Letícia Mendes de Souza

PrEParador Huendel Viana

rE viSoraS Adriane Piscitelli e Cátia de Almeida

EditorES dE artE Daniel Justi e Camila Catto

ProjEto gráfiCo E diagramação Rafael Nobre

dirEtor dE oPEraçõES E Produção gráfiCa Reginaldo Soares Damasceno

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CiP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Machado, Samir Machado de Piratas à vista! / Samir Machado de Machado ; ilustrações Rafael Coutinho. – 1. ed. – São Paulo : Ftd, 2019.

iSBn 978-85-96-02300-9

1. Literatura juvenil I. Coutinho, Rafael. ii. Título.

19-25355 Cdd-028.5

Índices para catálogo sistemático:

1. Ficção : Literatura juvenil 028.5

Iolanda Rodrigues Biode – Bibliotecária – CrB – 8/10014

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O pirata Duclerc

primeira parte

Antes dos piratas

1. Três amigos inseparáveis 18

2. O coronel e o Vaca 26

3. A Ilha Grande 31

4. Os pães de açúcar 40

5. O Bagual 46

6. A frota misteriosa 50

7. A chegada 54

8. Raptadas 57

segunda parte

Entre os piratas

1. Jantando a bordo do Auriflama 66

2. O Homem do Olho de Ouro 74

3. A Ilha dos Macacos 79

4. Auriflama da morte 86

5. O diabo na cachaça 94

6. O paiol no bailéu 101

7. A batalha da Ilha Grande 108

prólogo
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TERCEIRA PARTE

A marcha dos piratas

1. O Colégio dos Jesuítas 122

2. As Tijucas 131

3. No Convento do Carmo 137

4. A batalha do Rio de Janeiro 143

5. A hora e a glória do coronel Gregório 151

6. A capa e a espada 157

7. E tudo termina em Carnaval 167

nota do autor 179

posfácio

8. Quem matou o pirata DuClerc ? 174

Piratas no Rio de Janeiro colonial 180 por Jean Marcel de Carvalho França

manual do marinheiro

Glossário 185

sobre o autor 190

sobre o ilustrador 191

Somos todos viajantes nos sertões deste mundo, e o melhor que podemos encontrar em nossas viagens é um amigo sincero.

O pirata Duclerc

Diz- SE quE esta história se passou no ano de 1710, aqui nesta estranha colônia portuguesa batizada com o nome de uma árvore vermelha, da cor da brasa, que se manda à Europa para fazer mobília. Quem reinava sobre todos era Sua Majestade Fidelíssima, el-rei Dom João v, o Magnânimo, assim chamado por erguer os mais magnânimos palácios e catedrais às custas do ouro recém-descoberto no Brasil.

Sim, havia ouro no Brasil, e ninguém de fora poderia saber disso. Todo ano, uma frota de navios partia duas vezes da capital brasileira, Salvador, abarrotada com a riqueza que se extraía nos confins da capitania1 de São Paulo e Minas de Ouro. Mas, conforme el-rei Dom João v erguia mais e mais palácios e chamava os melhores músicos do mundo para tocar em seus saraus e para compor óperas e os melhores pintores para fazer-lhe um retrato, as outras majestades da Europa olhavam para Dom João e se perguntavam: “De onde ele está tirando dinheiro para isso tudo?”.

É aqui que nossa história começa. Não exatamente em 1710, mas dois anos antes, a bordo de um BERGANTIM português, que navegava pela costa de Pernambuco. Do Brasil a Portugal era um mês e meio de viagem de ida, e o mesmo na volta. Já com saudades, os marujos

1. Capitanias eram as divisões administrativas do Brasil no período colonial. Na época desta história, já não eram mais hereditárias, sendo então comandadas por governadores indicados pelo rei.

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prólogo

se despediam das praias e do porto e iniciavam sua viagem para levar o açúcar produzido nos engenhos do Recife até a capital do império. Velas ao vento, vento no rosto, cada um a bordo sabia onde devia estar e o que devia fazer, alguns batiam os pés para dar ritmo, e a cantoria da marujada ditava a cadência do trabalho.

imEdiato (cantando): Rema que rema, se queres remar!

marinHEiroS (em coro): Rema p’ra terra que eu remo p’ro mar!

imEdiato: Rema que rema, seu mestre-piloto!

marinHEiroS: Quem não rema, não ganha biscoito!

imEdiato: Rema que rema, seu guarda-marinha!

marinHEiroS: Quem não rema, não guarda farinha!

imEdiato: Rema que rema, nosso capitão!

marinHEiroS: Quem não rema, não ganha ração!

imEdiato: Rema que rema, primeiro-tenente!

marinHEiroS: Quem não rema, não ganha aguardente!

imEdiato: Rema que rema, na nossa FRAGATA !

marinHEiroS: Remos de ouro, FORQUETAS de prata!

Já estavam em alto-mar, porém, quando do topo do cesto da GÁVEA o vigia percebeu algo despontando no horizonte: era uma fragata que se aproximava. E na imensidão azul do oceano, vale o mesmo que numa rua deserta à noite: um estranho que vem na sua direção é sempre um temor, uma suspeita.

— Vela à vista!

O capitão puxou da luneta e tentou ver quem vinha de lá: era uma bandeira branca — a cor da França. Um calafrio percorreu sua espinha. Naqueles tempos, os dois reinos estavam em guerra.

Tentaram mudar de rota, mas os ventos não estavam favoráveis. O navio francês foi chegando cada vez mais perto. Ribombou distante o estouro dos canhões e as balas caíram na água, cada vez mais perto deles. O bergantim era um navio mercante, de poucas armas, e seu capitão ficou em dúvida: resistir ou se entregar? Decidiu resistir.

Péssima ideia. O navio inimigo era maior e mais bem equipado, balas de canhão atingiram o CONVÉS, logo os navios estavam lado a lado;

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cordas com ganchos foram lançadas, e o bergantim português acabou abordado. Os assaltantes pularam para dentro do convés do navio mercante, espadas foram desembainhadas, houve luta e sangue, até que o capitão, pelo bem de sua tripulação, ordenou que todos se rendessem.

Os marujos brasileiros — pois ser brasileiro, naqueles tempos, era ser também português — viram seu carregamento de açúcar e aguardente ser levado, mas os piratas não ficaram satisfeitos, pelo contrário: acharam que a carga era insuficiente. Colocaram a tripulação de joelhos, amarrada no meio do convés. Quando viram um espaço se abrir entre os piratas, uma figura de liderança entre os franceses se aproximou.

Era um homem jovem, de cabelos castanhos e volumosos que lhe caíam por sobre os ombros e com um bigode que cobria todo o lábio superior. Vestia calção e casaca azuis, bota de couro que subia até o joelho e, na cabeça, usava um chapéu negro com uma pluma despontando. Trazia na mão a espada, que apontou para o pescoço do capitão brasileiro, perguntando-lhe em francês onde estava o ouro: “Où se trouve l’or?”.

— Maldito pirata! — protestou o capitão brasileiro, que sabia francês.

— Não somos piratas! — o francês respondeu, ofendido. — Somos corsários.

— E qual a diferença?

— A diferença é que sou homem honrado, tenho uma carta de corso de Sua Majestade Luís Xiv — disse o francês, erguendo o queixo, muito orgulhoso — me autorizando a atacar os navios mercantes de nações inimigas.

— Seu rei lhe deu uma carta que o autoriza a nos assaltar?

— Exatamente.

— E que diferença isso faz para nós?

— Para vocês nenhuma, mas faz diferença para mim, que é o que importa. Agora… — apontou a espada para o pescoço do capitão brasileiro. — Onde está o resto da carga? Onde está o ouro?

— Mas não temos ouro! Não somos da Frota do Ouro! Por favor, não nos mate!

— Como assim? — o francês franziu a testa. — Que Frota do Ouro?

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O capitão brasileiro mordeu o lábio. O francês pressionou-lhe a garganta com a ponta da espada, e o capitão confessou: falava da Frota do Ouro que partira recentemente de Salvador para Lisboa e devia estar perto de Fernando de Noronha àquelas alturas.

Os olhos do francês eram azuis, mas naquele momento pareceram brilhar dourado como ouro brasileiro. Ou talvez fosse efeito do sol. Voltou-se para sua tripulação e anunciou que partiriam imediatamente, rumo a Fernando de Noronha. A tripulação do bergantim teve a vida poupada, foram desamarrados, e o francês, ao voltar para o seu navio, saudou o capitão brasileiro com um rapapé e uma mesura.

— Diz lá na sua terra que foste atacado por Jean-François Duclerc — gritou, antes de ir embora —, fiel vassalo do Rei Sol e capitão da Valorosa!

— Capitão do quê?

— Duclerc!

E partiu.

Dias depois, Duclerc e sua fragata Valorosa atacavam uma frota de quatro navios portugueses, conseguindo capturar dois deles. Encheu seus porões com cargas valiosas de açúcar, couro e pau-brasil, mas, para sua infelicidade, não havia nenhum ouro.

— Onde está o ouro? — gritou, pressionando a espada na garganta dos dois capitães. — Não é esta a Frota do Ouro?

Os capitães riram. Então Duclerc pensava que a Frota do Ouro partiria assim, tão desprotegida, para levar as riquezas que sustentavam todo o império? Eram mais de trinta navios, muito bem protegidos, nos quais nunca colocaria as mãos.

Furioso, Duclerc cortou a garganta do primeiro capitão, que caiu morto aos seus pés, e apontou a espada ensanguentada para o segundo.

— É bom que me diga algo útil, português, ou você será o próximo.

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O capitão gaguejou. Disse que o ouro vinha das minas no interior do Brasil e era escoado para o Rio de Janeiro até a capital Salvador, para de lá ser embarcado na frota.

— Essas cidades devem ser bem fortificadas — ponderou Duclerc.

Não, senhor, garantiu o capitão: pois os bandeirantes2 paulistas, os primeiros a encontrar as ricas jazidas, ficaram furiosos com a avalanche de gente que veio de Portugal se juntar à corrida do ouro e se revoltaram. Chamavam a todo e qualquer forasteiro de “emboaba” e lhes declarava guerra. Então, os soldados do Rio de Janeiro foram enviados para combater os bandeirantes, deixando a cidade desprotegida.

Ao escutar isso, Duclerc sorriu, e um plano se formou em sua cabeça. Matou o segundo capitão — pois não queria testemunhas —, reuniu seu butim e voltou para a França, para o porto da cidade de Brest. Lá, enquanto seu imediato vendia as cargas roubadas, Duclerc se reunia com os homens mais ricos da cidade.

Tinha um negócio para propor, mas para isso precisava que lhe emprestassem dinheiro o bastante para armar seis navios de guerra e contratar cerca de mil homens. Os empresários ficaram assustados: seis navios? Mil homens? Era um bocado de gente para alimentar e de dinheiro para pagar por isso tudo. Receosos, se voltaram para seu líder, um homem no fundo da sala com uma grande peruca loira, cujos cabelos lhe caíam em cachos até os ombros, e que, tendo perdido o olho esquerdo na guerra, o substituíra por um de ouro. Naquele momento, talvez pelo brilho do sol que lhe batia na face, aquele olho parecia brilhar mais ávido que nunca. E o Homem do Olho de Ouro então perguntou a Duclerc, direto e seco, o que eles tinham a ganhar com isso.

— Os senhores receberão cotas proporcionais ao quanto me emprestarem. Descontando minha parte e a dos marujos, claro — disse Duclerc —, nada menos que o conteúdo da Frota do Ouro do Brasil, o carregamento semestral que os portugueses tiram de lá.

2. Indivíduos que integravam expedições particulares de exploração do interior do Brasil, chamadas “bandeiras”, com o objetivo de encontrar ouro ou de escravizar indígenas.

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Estamos falando, senhores, de cinco a oito toneladas de ouro em barra, ouro em pó e diamantes.

Embora o sol não estivesse batendo no rosto dos demais, há quem diga que se pôde ver um brilho dourado nos olhos de cada um dos mercadores de Brest.

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Antes dos piratas

primeira parte

Uma aventura de piratas em terras brasileiras

Rio de Janeiro, 1710.

De um lado, três adolescentes espertos, um governador pateta e uma população aterrorizada. Do outro, um pirata francês e seus asseclas fortemente armados dispostos a tudo para roubar as riquezas brasileiras.

Entre você também nessa luta!

ISBN

9010303000020

9 788596 023009
978-85-96-02300-9
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