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Festa no céu

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Festa no céu

Ana Maria Machado

Ilustrações de Marilda Castanha

Festa no céu

Copyright © Ana Maria Machado, 2021

Todos os direitos reservados à QUINTETO EDITORIAL LTDA.

Rua Rui Barbosa, 156, 1º andar São Paulo – SP – CEP 01326-010

Tel. (0-XX-11) 3598-6000

Editor assistente Bruno Salerno Rodrigues Revisoras Lívia Perran e Marina Nogueira

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Machado, Ana Maria Festa no céu/recontado por Ana Maria Machado; ilustrações Marilda Castanha. – 1. ed. – São Paulo: Quinteto Editorial, 2021.

ISBN 978-85-8392-204-9 (aluno)

ISBN 978-85-8392-205-6 (professor)

1. Fábulas – Literatura infantojuvenil I. Castanha, Marilda. II. Título.

21-85255

Índices para catálogo sistemático:

1. Fábulas: Literatura infantil 028.5

2. Fábulas: Literatura infantojuvenil 028.5

Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129

CDD-028.5

Festa no céu

Recontado por Ana Maria Machado

Ilustrações de Marilda Castanha

São Paulo – 2021

Hámuitos e muitos anos, no tempo em que os bichos falavam, teve um dia em que de repente começou a correr uma notícia pela floresta:

– Vai ter festa enorme!

Uma festa ótima!

Foi a maior animação.

Tudo o que era bicho queria ir. Mas quando eles se encontraram, perto do rio, na hora de beber água, viram que a festa não era para todo mundo.

Quando o macaco, o veado, a cotia, a capivara, o jabuti e uma porção de outros bichos estavam reunidos conversando sobre a festa, aconteceu que o bem-te-vi, que voa bem alto, foi explicando:

– Vocês não vão poder ir.

– E por quê?

– É que a festa vai ser no céu, e bicho que não sabe voar não pode ir… Como é que vai chegar lá?

Todos ficaram com pena.

– Sujeira de São Pedro… – comentou o caxinguelê.

– A gente vive aqui sem nada para se distrair e quando eles fazem uma festa não é pra todo mundo…

– Também não faço nenhuma questão de ir… – disse a anta. – Deve ser muito frio, com muito vento.

– Pois eu faço – disse o macaco. – E vou pro alto da árvore mais alta da floresta ver se consigo pular até uma nuvem. Deve ser uma festa ótima!

O jabuti também achava que devia ser ótima. E ficou pensando em que jeito podia dar para ir.

Nos dias que faltavam para a festa, só se falava nisso na floresta.

– Dizem que vai ter um monte de comida gostosa.

Bolo, brigadeiro, sanduíche…

– E vai estar cheio de coisas deliciosas para beber.

Laranjada, guaraná, chocolate gelado, suco de fruta…

– Ouvi dizer que os anjinhos já estão enfeitando tudo. Vai ficar uma beleza…

– Vai ter mágico, teatrinho, dança… E muita música, que quase todos os convidados são músicos e vão tocar e cantar.

Era mesmo. Cada passarinho tratava de ir treinando e ensaiando a cantoria. E quem não cantava ia levar algum instrumento.

Até o urubu, que tinha uma voz horrorosa, se animou:

– Vou levar minha viola.

E implicava com os bichos de pele e de pelo, que não podiam voar:

– Que pena que vocês são tão inferiores, não podem ir… Quem sabe, um dia eles fazem uma festa no inferno? Aí é só cavar um bom buraco e vocês vão… Rá-rá-rá…

Além das gargalhadas e da implicância, os bichos ainda tinham que aturar a viola desafinada e a voz horrorosa do urubu:

– Vou pegar minha viola e contente eu vou cantar… Pra vocês eu nem dou bola até a festa se acabar.

Mas daí a uns dias, o jabuti estava na beira do rio e viu uma garça sua amiga.

– Comadre garça, posso lhe pedir um favor?

– Pois não, compadre jabuti.

– Será que a senhora podia me levar à festa no céu?

– Levar à festa? Mas como?

– Não sei. Nas costas, ou no bico… É que eu queria tanto ir… A garça olhou bem para ele e ficou com pena. Afinal, ela morava em qualquer lugar que quisesse. Costumava voar no alto do céu, com uma vista linda. Quando cansava, escolhia a paisagem mais bonita pra pousar, sempre perto de uma lagoa ou de um rio cheio de peixes e árvores. E o coitado do jabuti só ficava no chão, se arrastando junto da terra, carregando a casa nas costas… – Está bem –concordou. – Mas com uma condição.

– Que condição? – perguntou o jabuti, todo contente.

– Eu só levo, mas não trago. Assim, se eu quiser comer e beber bastante, não tenho que ficar me preocupando com o peso da volta.

E se quiser sair com os amigos para outro lado depois da festa, não preciso me desviar para levar ninguém em casa.

– Está bem – disse o jabuti.

E ficou combinado.

No dia da festa, a garça cumpriu a promessa.

E lá se foi o jabuti para a festa no céu, bem instalado nas costas macias da garça, segurando bem firme no pescoço dela. Ele via toda a paisagem bonita, lá de cima.

Quando chegaram ao céu, ele nem acreditava que pudesse haver uma festa tão boa, num lugar tão bonito.

O chão era todo macio, um tapete de nuvens.

As paredes eram de pôr do sol, o teto era de madrugada, tudo ensolarado de luz brilhante.

E o salão estava na maior animação, cheio de pássaros e insetos se divertindo muito, conversando, ouvindo música.

A outra sala era o lugar da comilança.

Tudo quanto era fruta que você puder imaginar. Folhagens deliciosas. E potes de mel. E sorvetes, sobremesas, doces, à vontade. Era só ir se servindo.

Muito educado, o jabuti não bancou o guloso. Mas provou um pouquinho de cada coisa, até ficar com a barriga tão cheia que não cabia mais nada. Tudo supergostoso!

Mais tarde, começaram as danças, e o jabuti não parou. Dançou com a amiga garça, com a arara, com a saíra, com a cambaxirra, com a andorinha, com a abelha, com a libélula.

Teve uma grande quadrilha e lá estava ele, no meio dos cavalheiros, ao lado do pica-pau, do periquito, do sanhaço, do tangará, do pardal, do tucano, do papagaio e de tantos outros.

Até do urubu.

Mas o urubu não gostou nada daquilo. Começou logo a implicar:

– Como é que você veio parar aqui?

E saiu gritando:

– Tem penetra na festa!

Os outros não ligaram a mínima. Mas o jabuti ficou com vergonha e saiu do salão.

Também, a verdade é que estava ficando cansado. Com vontade de ir embora. E não tinha a menor ideia de como é que ia fazer para voltar para casa.

Aí olhou num cantinho e viu os instrumentos dos músicos, que tinham ido comer.

E teve uma ideia.

Entrou na viola do urubu, se ajeitou bem encolhido num cantinho, e pronto!

Podia dormir sossegado. Quando o urubu fosse embora, levava a viola com ele dentro. E era só ele esperar chegar bem firme no chão, sair dali e ir para sua toca.

Mais tarde, quando a festa acabou, os músicos foram os últimos a ir embora. O urubu pegou a viola, prendeu nas costas e lá veio voando.

Mas estranhou o peso. Alguma coisa estava muito esquisita.

– Será que eu comi tanto assim? Ou dancei tanto que fiquei cansado?

Quando eu vim estava muito mais fácil voar… Agora está tão difícil…

Estava mesmo. Tão difícil, mas tão difícil, que ele não aguentou. Começou a reclamar, suar, cuspir… Deve até ter feito outras coisas, porque, de repente, ficou tudo tão fedorento, mas tão fedorento, que o jabuti acordou espirrando.

Com os espirros, o urubu descobriu tudo:

– Ah, então é isso, hein? É você que está pesando dentro da minha viola, é? Já vou dar um jeito nisso…

Sacudiu bem a viola, com o buraco para baixo, e o jabuti caiu.

Enquanto caía, bem depressa, via que a terra ia se aproximando cada vez mais. E gritava:

– Pedra, sai de baixo, senão eu te esborracho!

E a pedra, nada.

– Pedra, sai de baixo, senão eu te esborracho!

A pedra nem saiu do lugar.

– Pedra, sai de baixo, senão eu te esborracho!

Como a pedra não saiu, quem se esborrachou foi ele.

E ia ter se acabado para sempre, mas deu sorte…

É que Deus viu tudo e ficou com pena. Afinal, o jabuti só estava querendo se divertir na festa dele.

Então Deus mandou os anjos consertarem o casco do jabuti, juntando todos os pedacinhos, como se fosse um quebra-cabeça.

É por isso que até hoje o jabuti tem o casco todo remendado. E o urubu, de castigo, ficou fedorento para sempre.

Como teve esse acidente muito chato, nunca mais Deus quis fazer festa no céu.

A sorte é que os homens aprenderam a fazer festa na terra.

INFORMAÇÕES PARATEXTUAIS

Olá, leitora e leitor! Este livro foi escrito pela autora Ana Maria Machado, que nasceu e mora no Rio de Janeiro. Ela é uma das escritoras mais importantes do Brasil.

Verdade! E, além de criar as próprias histórias, Ana Maria conhece muitas fábulas e lendas populares. Esta, por exemplo, é a versão dela para a fábula Festa no céu!

Já a artista que desenhou cada um de nós é a Marilda Castanha. Ela nasceu em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, e mora em uma cidade vizinha, chamada Santa Luzia.

Amei os desenhos! Eles lembram aquelas pinturas dos homens das cavernas, sabe?

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Sei! As pinturas rupestres. Elas são do tempo em que, nas histórias, os bichos falavam, como nós... Lá no começo do mundo! O gênero dessas histórias em que os animais falam e agem como humanos é conhecido como fábula.

Não sabia. Aprendi mais uma! E você, jabuti, como ficou depois de cair lá do céu?

É assim que se aprende: caindo e se levantando!

rachadinho. Vocês sabiam que,

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No tempo em que os bichos falavam, uma notícia correu pela floresta: vai ter festa.

Todos queriam participar, mas havia um porém... a festa era no céu!

A frustração dos animais terrestres foi geral. Só que o jabuti deu um jeito de ir.

O que será que ele fez?

Para descobrir, leia esta fábula clássica recontada por Ana Maria Machado.

Os contos clássicos apresentam personagens e conflitos que facilitam a compreensão de temas profundos.

Literatura e arte entrelaçadas para formar grandes leitores.

9570302000001 9 788583 922049 ISBN 978-85-8392-204-9
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