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A princesa que não queria aprender a ler

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A princesa que n˜ao queria aprender a ler

Heloisa

Prieto

Ilustrações

Janaina Tokitaka

Ilustrações
Tokitaka 1ª. edição Porto Alegre — 2021
princesa que
˜ao queria aprender
ler Heloisa Prieto
Janaina
A
n
a

Copyright © Heloisa Prieto, 2021

Todos os direitos reservados à

UNIÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO E ASSISTÊNCIA

(Pontifícia Universidade Católica do RS – Campus Poa)

Avenida Ipiranga, 6681 – Partenon CEP 90610-001 – Porto Alegre – RS

Tel.: (0-XX-51) 3320-3711

E-mail: edipucrs@pucrs.br

editora assistente Bruna Perrella Brito revisoras Lívia Perran e Marina Nogueira

Doutora em Teoria Literária (USP) e mestra em Comunicação e Semiótica (PUC-SP), Heloisa Prieto é tradutora e autora de diversas obras de literatura infantojuvenil.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

P949p Prieto, Heloisa

A princesa que não queria aprender a ler / Heloisa Prieto; ilustrações Janaina Tokitaka. – 1. ed. – Porto Alegre: EDIPUCRS, 2021. 40 p. : il.

ISBN 978-65-5623-192-1 (aluno)

ISBN 978-65-5623-197-6 (professor)

1. Literatura infantil. 2. Literatura (Ensino fundamental). I. Tokitaka, Janaina. II. Título.

CDD 23. ed. 028.5

Anamaria Ferreira – CRB-10/1494

Setor de Tratamento da Informação da BC-PUCRS

Em mem´oria de meus tios

Roberto Prieto, que me deu esta hist´oria de presente, e Paschoal Braz de Oliveira, que me ensinou a escrever...

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Era uma vez uma bela princesa chamada Rosa. Ela vivia com seus pais, o valente rei Tancredo e a serena rainha Dália. Filha única, a menina passava os dias cantando pelo jardim e brincando por todos os cantos do palácio.

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O único problema é que a princesa não queria saber de aprender a ler. Mesmo sendo muito inteligente, na hora das aulas particulares, com os professores reais, ela adormecia ou ficava distraída, olhando os passarinhos pela janela.

Para tentar solucionar o problema, seus pais chamaram à corte um famoso conselheiro e perguntaram-lhe:

— O que podemos fazer para que nossa linda Rosa se interesse em aprender a ler?

No lugar de dar-lhes uma boa resposta, ele disse apenas:

— Deixem comigo! Faço questão de me tornar o professor da princesa.

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Animado, ele se sentou ao lado da princesa e abriu seu livro. Nisso, um passarinho entrou na sala.

De um salto, a princesa subiu na mesa para tentar apanhá-lo. O pássaro escapuliu. Ela deu muitas risadas. Ainda na maior alegria, a princesa perdeu o equilíbrio.

Esbarrou no copo d’água que estava ao lado do livro, derrubando-o. As folhas ficaram estragadas.

O conselheiro não gostou.

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Pior ainda foi quando o sapatinho da princesa escorregou na superfície molhada da mesa. Para evitar o tombo, a menina segurou na cabeça do conselheiro.

Vaidoso, ele usava uma peruca. A menina foi ao chão com livro, peruca e copo quebrado.

Foi quando o rei entrou.

— O que está acontecendo, caro conselheiro?

Que bagunça! Que confusão!

Ao conselheiro só restou pedir demissão…

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A princesa Rosa tinha também um belo cavalo chamado Sultão. Na tarde seguinte, mandou que ele fosse selado para ela cavalgar um pouco. O sol da primavera espalhava seus raios de um jeito delicado e a brisa fazia voar seus cabelos.

Animada, a princesinha entrou na floresta a galope. Feliz, dando risadas e acariciando a crina de Sultão, ela não reparou que adentrava um bosque escuro.

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A luminosidade era pouca e a princesa, repentinamente, percebeu que havia se afastado muito do caminho de entrada. Antes de tentar reencontrá-lo, percebendo que Sultão estava cansado, desmontou e sentou-se nas raízes de uma grande árvore, adormecendo profundamente…

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Ao despertar, percebeu, assustada, que já era noite escura. Procurou por Sultão, mas o cavalo havia desaparecido. Lá estava ela, sozinha, no meio das árvores da floresta, agora bem sombria. Sentiu vontade de chorar, mas, para sua grande surpresa, percebeu que seu gatinho Chiado a seguira.

— Gatinho querido! Você me acompanhou até tão longe?

O gato ronronou, como se quisesse tranquilizá-la, e encostou-se em suas pernas, fazendo-lhe um carinho tão típico dos felinos. A princesa achou graça e logo começaria a soltar suas gargalhadas divertidas, não fosse a estranha velha que surgiu, subitamente, à sua frente.

— Quem é a senhora?

De onde surgiu? — perguntou Rosa, um tanto assustada.

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Depois de muito caminhar, ambas chegaram a uma imensa rocha cinza-escuro. Rosa virou-se para falar com a velhinha e se surpreendeu com um sorriso feio. Em seguida, a velha começou a rir, sem mais nem menos.

Cada risada era mais assustadora do que a outra, e a voz da velhinha foi se transformando num rugido muito desagradável…

— Ah! Como eu a enganei! — a velha gritou repentinamente. — Eu sou a grande bruxa Serpentina! Você caiu nas minhas garras e eu jamais a libertarei!

Tal era a alegria da bruxa que ela rolava pelo chão em grandes convulsões de riso. A princesa tremia de susto e pavor. Nisso, Serpentina bateu com o cajado no chão e a rocha abriu-se, deixando visível uma abertura escura, que era a entrada de sua caverna.

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Quando despertou, sentindo as patinhas de seu gatinho Chiado tocando seu cabelo, ela se esqueceu por completo que havia se perdido numa floresta escura e que havia sido aprisionada por uma bruxa horrenda. Por um segundo apenas, ela sorriu, certa de que se encontrava em sua cama quentinha, no palácio tão lindo e confortável de seus pais.

Mas logo suas costas doeram muito e ela sentiu o cheiro horrível dos ratos e sapos da caverna da temível Serpentina…

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— Bem, pelo menos, estou em boa companhia — disse baixinho a menina a seu gato Chiado.

— Não se preocupe, minha amiga, daremos um jeito de fugir daqui — garantiu-lhe o gato. — Ai, que vontade de caçar todos esses ratos — ele acrescentou.

— Fique quieto, fique calado — pediu-lhe a menina. — Você será meu pequeno salvador. Tente descobrir qual é o caminho que conduz à saída deste lugar horrendo.

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Mal o gato Chiado se afastou nas profundezas da caverna, a bruxa ressurgiu, dizendo:

— Menina sem juízo. Veja estas letras que estão aqui gravadas nas paredes da caverna. O que elas querem dizer? Leia!

Mas a princesa não sabia ler.

— Ai, que coisa boa! — disse a bruxa gargalhando.

— Essas letras formam uma frase mágica. Quem a pronunciar em voz alta, imediatamente será liberto de minha caverna. Geralmente, quando quero manter um prisioneiro, eu o transformo num animal. Animais não sabem ler, não é mesmo? Mas você é menina e também não sabe. De modo que nem vou precisar gastar meu tempo preparando feitiço.

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— Eu também — ela comentou.

— Você já sabe como sair daqui?

— Não, meu gatinho, isso eu não sei. Mas lembro-me tão bem de quanto você adora ler.

— Adoro mesmo…

— Então, leia as frases que estão escritas na parede da caverna.

Chiado obedeceu-a. Mas quando fixou os olhos na parede da caverna, descobriu que havia ali um poema inteiro…

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Era uma vez um príncipe, pelo qual me apaixonei. Como não fui correspondida, dele me vinguei. Transformei-o num gato, que só queria comer rato.

Eu o prendi na minha caverna, mas ele escapuliu sem lanterna. Hoje ele vive atrás de uma princesa, garota fina, cheia de beleza, que sempre o desprezará, porque príncipe novamente, ele nunca mais será…

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Assim que Chiado disse em voz alta esse pequeno poema, três coisas aconteceram ao mesmo tempo: primeiro, a caverna sumiu; segundo, ele também sumiu; terceiro, a princesa desmaiou.

Quando a névoa mágica do encantamento se desfez, lá estava Chiado, agora em seu corpo real: o mais belo príncipe que jamais se vira.

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Aliás, todos ficaram bem. O castelo foi reformado para conter a maior biblioteca de todos os tempos, porque, daquele dia em diante, a princesa Rosa resolveu aprender a ler e nunca mais parou.

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E a bruxa? Bem, a bruxa acabou sendo rainha, mesmo que seus súditos fossem apenas ratos, sapos, cobras e morcegos, na mesma caverna escura onde ela continua a se esconder...

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Palavras da autora

C omo deve ser uma escritora quando menina?

Tímida? Diferente? Distraída? Garota, ninguém acreditava que eu viesse a gostar de ler.

Irrequieta e apaixonada por animais, eu vivia montando cavalos, passeando com cachorros ou criando galinhas. Grande parte de minha infância foi passada na fazenda de meu avô.

Acontece que no escritório da fazenda havia um objeto que me fascinava: uma antiga máquina de escrever, com suas teclas duras e barulhentas, as letras muito bem marcadas.

Foi ali que aprendi a ler e escrever.

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Meu querido tio Paschoal, que também adorava cavalgar, percebeu meu interesse e ensinou-me a escrever meu nome. Datilografar palavras passou a ser uma das minhas brincadeiras preferidas.

Como um adulto “lê” uma criança?

Meu outro tio e padrinho chamava-se Roberto e morava em Santos.

Quando ele veio nos visitar na fazenda, olhou para mim e viu uma garota levada, cabelos curtos, botas, roupas sujas de terra. Imediatamente, imaginou que eu não daria uma boa aluna, já que gostava tanto da vida ao ar livre e de brincadeiras. Com um jeito sério, chamou-me de lado e disse:

— Heloisa, eu te trouxe um presente. É um livro que conta a história de uma princesa

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parecida com você, que só gostava de andar a cavalo e detestava ficar quieta para aprender a ler.

Quando eu ia protestar dizendo que já sabia datilografar meu nome, outros adultos chegaram e ele se afastou, deixando o livro comigo. Fiquei bem triste naquele dia, pensando que tio Beto não acreditava que eu pudesse aprender. Tio Paschoal, que gostava muito de minha mania secreta de brincar de escrever, puxou-me de lado e comentou:

— Comigo foi a mesma coisa. Ninguém imaginava que eu seria um bom leitor. Mas eu gosto muito de ler e de andar a cavalo, assim como você. Que tal se nós lêssemos esse novo livro juntos?

Isso já faz bastante tempo, claro. Gostei tanto de ler que depois passei a escrever meus

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próprios livros. Até hoje guardo o livro da princesa que não queria aprender a ler. Trata-se de uma história dentro de uma coletânea de contos de fadas portugueses. Esse tempo todo, o livro me acompanhou pelas casas onde morei, mas nunca me detive para relê-lo. Afinal, continuo tão agitada e ocupada quanto sempre gostei de ser.

Recentemente, sentindo saudades desses

meus tios, abri a história e, ao relê-la, foi como se eu me reencontrasse com a garota levada que fui e, de algum modo, vendo aquelas mesmas páginas, agora um tanto amareladas, compreendesse melhor a minha criança interna, aquela que sempre fica viva dentro de nós, não importa qual seja nossa idade real...

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Informac o ˜es paratextuais

Olá, leitor e leitora! A autora deste livro é Heloisa Prieto, que nasceu em São Paulo, capital. Além de escritora, ela é tradutora. Heloisa também desenvolve oficinas de criação literária para crianças e jovens da rede pública.

Neste livro, a autora trabalhou uma temática muito conhecida nos contos de fadas: a princesa que é perseguida e capturada por uma bruxa má. Aprisionada em uma caverna, a princesa Rosa descobre que a chave para sua liberdade está escrita na parede. Mas, como ela não quis aprender a ler, não consegue decifrar o enigma.

Para sair da caverna, a princesa Rosa conta, então, com a ajuda de um bom amigo... Mas eu não vou piar mais nada!

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A narrativa visual deste livro foi criada pela ilustradora Janaina Tokitaka, com ilustrações que dão destaque às figuras da princesa e da bruxa. Pelas imagens, podemos acompanhar fatos da narrativa, como a princesa sendo presa e perdendo seu lindo vestido, além de conhecermos mais detalhes da bruxa.

Esta história nos ajuda a perceber como aprender a ler é fundamental e amplia nosso conhecimento de mundo!

O gênero do texto é o conto, uma prosa curta com foco em poucos personagens — no caso, a princesa Rosa e a bruxa.

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Esta é a história de Rosa, uma princesa que não queria saber de aprender a ler. O que será que o gato Chiado e a bruxa Serpentina vão fazer para a princesa mudar de ideia?

9500302000023 9 786556 231921 ISBN 978-65-5623-192-1
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