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Chapeuzinho

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Ilustrações: Jótah

Este livro recebeu o Prêmio Jabuti em 2006 na categoria infantil

Paulo –
Edição
São
2009

Copyright © Flavio de Souza, 2009

Todos os direitos reservados à EDITORA FTD S.A.

Matriz: Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo – SP CEP 01326-010 – Tel. (0-xx-11) 3598-6000

Caixa Postal 65149 – CEP da Caixa Postal 01390-970 Internet: www.ftd.com.br – E-mail: projetos@ftd.com.br

Diretora editorial Silmara Sapiense Vespasiano • Editora Ceciliany Alves • Editores assistentes Luís Camargo e Valéria de Freitas Pereira • Assistente de produção Lilia Pires • Assistente editorial Tássia Regiane Silvestre de Oliveira • Revisoras Elvira Rocha e Regina C. Barrozo • Coordenador de produção editorial Caio Leandro Rios • Editora de arte e projeto gráfico Andréia Lopes Crema • Ilustrador Jótah • Diagramação Luis Vassallo, Valmir da Silva Santos • Gerente de produção gráfica Reginaldo Soares Damasceno

Flavio de Souza é escritor, ator, ilustrador, diretor e roteirista. Sua obra Chapeuzinho adormecida no País das Maravilhas recebeu o Prêmio Jabuti em 2006 na categoria infantil. Site do autor: <www.flaviodesouza.com.br>.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Souza, Flavio de Chapeuzinho Adormecida no País das Maravilhas / Flavio de Souza ; Ilustrações Jótah. –Ed. renov. – São Paulo : FTD, 2009.

ISBN 978-85-322-6099-4

1. Ficção – Literatura infantojuvenil I. Jótah. II. Título

09-06189 CDD-028.5

Índices para catálogo sistemático:

1. Ficção : Literatura infantil 028.5

2. Ficção : Literatura infantojuvenil 028.5

Em que começa a história de um pai que começa a contar uma história para sua filha

Em que a história é recomeçada e um nome que permaneceu secreto durante séculos é revelado

Em que o encontro realmente acontece ali por perto, e a história toma um rumo surpreendente

Em que entra um personagem apressado na história e começa uma nova aventura feita com pedaços de antigas

Em que vários outros personagens entram na história e é mencionado o mais fabuloso, maravilhoso e extraordinário deles

Em que a bruxa participa da história, mostrando um outro meio de transporte, além da vassoura voadora

Em que um novo personagem se junta à turma de viajantes e a bruxa Griselda se encontra com um certo alguém

Em que os viajantes passam por alguns perigos e, em seguida, por mais alguns outros

Em que os viajantes acabam de passar pelos perigos e a bruxa volta disfarçada, para tentar aplicar o velho golpe

Em que os viajantes chegam à Cidade Preciosa, mas nem tudo acontece como era esperado

Em que o personagem fabuloso, maravilhoso, extraordinário canta uma lição e faz uma mágica fabulosa, maravilhosa, extraordinária

Em que tudo volta para trás, inclusive os capítulos deste livro, e a história recomeça de uma outra maneira

Em que a casa da avó da Chapeuzinho fica mais cheia do que na noite da festa do noivado da mãe dela

Em que o pai e a menina acordam, e a mãe também, e todos estavam sonhando, ou não

EEm que começa a história de um pai que começa a contar uma história para sua filha

ra uma vez uma menina que não conseguia dormir. Já era noite. Já era tarde. Já estava na hora. Mas o sono não vinha. Porque a menina não parava de pensar que deveria dormir. E não há nada melhor para perder o sono que pensar que é preciso dormir.

Para resolver esses casos, só mesmo uma boa e longa história cheia de aventuras e frases engraçadas e surpresas e um pouco de coisas medonhas. A menina sabia que seus pais já deviam estar deitados, e não queria atrapalhar. Então tentou contar uma boa e longa história para ela mesma:

– Era uma vez uma menina que estava sem conseguir dormir e aí um bicho, tão horripilante que não tinha nome e não dava para contar como era com palavras, saiu de baixo da cama dela e com garras cobertas de escamas gosmentas de onde surgiram unhas pontudas afiadas como facas...

A menina decidiu que isso não ia dar certo, muito pelo contrário, e chamou:

– Mãe! Manhê! Maaaaaaaa...

Seu pai apareceu, de pijama, descabelado e com cara de sono. A menina estendeu os braços, ganhou um bom e longo abraço, e pediu:

– Pai, me conta uma história?

– Ih, minha filha, eu não sei contar história não.

– Sabe sim.

O pai bocejou, bocejou e disse, bocejando outra vez:

– Que história você quer?

– Da Chapeuzinho Vermelho.

– Ih, minha filha, foi há tanto tempo a última vez que eu ouvi falar nessa menina! Acho que eu não sei mais como é a história dela. Que tal se eu cantar para você?

A menina fez bico e disse:

– Não. Eu estou com medo. Eu estou sem sono. Eu estou neurótica. Se você não pode me contar uma história, eu vou ligar a televisão.

Isso fez o pai decidir:

– Está bem, está bem, eu vou tentar.

Ele olhou para a sombra da menina que a luz do abajur projetava na parede e começou:

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– Era uma vez uma menina chamada Chapeuzinho Vermelho, que tinha esse apelido porque... porque... porque...

Vendo que o pai estava parecendo um disco riscado, a filha ajudou:

– Porque usava um chapeuzinho vermelho!

– Bem lembrado! Certo dia a Chapeuzinho estava andando pela estrada afora, quando se encontrou com os três porquinhos! E eles avisaram:

– Cuidado, Chapeuzinho...

– Vermelho! Que o Lobo Mau...

– Caminha aqui por perto!

A Chapeuzinho ficou tão apavorada que só conseguiu dizer:

– É?

Flavio de Souza

Chapeuzinho adormecida no país das maravilhas

Subitamente o Lobo Mau apareceu mesmo! E correu atrás da Chapeuzinho! A Chapeuzinho correu na mesma direção em que os três porquinhos estavam correndo. O lobo não podia estar mais feliz e, enquanto corria, pensava:

– Grunf, grunf, grunf! Eu vou catar uma menina de chapeuzinho vermelho e três porquinhos de uma só vez!

Mas a menina fez bico e reclamou:

– Mas essa história é da Chapeuzinho Vermelho ou dos três porquinhos?

O pai sorriu, sem graça, e disse:

– Dos dois, quer dizer, dos três, quer dizer, dos quatro, quer dizer, eu acho que me atrapalhei! Ih, vou ter que começar tudo outra vez!

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OEm

que a história é recomeçada e um nome que permaneceu secreto durante séculos é revelado

pai pensou um pouco e contou:

– Era uma vez uma menina chamada Chapeuzinho Vermelho e o nariz dela crescia quando ela contava mentira...

O pai viu a filha fazendo bico e recomeçou:

– Era uma vez uma menina chamada Chapeuzinho Vermelho que morava num lugar chamado Terra do Nunca com outras crianças e nenhuma delas crescia...

O bico da menina ficou maior, e o pai tentou de novo:

– Era uma vez uma menina chamada Chapeuzinho Vermelho que tinha este apelido porque usava um chapeuzinho vermelho! Um dia... um belo dia... uma bela manhã... ela estava passeando na floresta, perto da casa dela, cantando e dançando, porque o sol, que tinha acabado de nascer, estava fazendo todas as folhas das árvores brilharem e os passarinhos piarem e as minhoquinhas saracotearem...

– As minhocas não saracoteiam! Nenhum bicho saracoteia! Aliás, eu acho que essa palavra nem existe! – disse a menina, fazendo bico. Se bem que dava para dizer que quem disse alguma coisa foi um bico que estava fazendo uma menina, de tão grande que ele estava.

O pai percebeu que estava correndo o risco de ser substituído pela televisão. Então teve uma ideia e contou:

– Então a Chapeuzinho ouviu alguém chamar: “Maria Aparecida! Maria Aparecida!”

– Que Maria Aparecida é essa?

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– É a Chapeuzinho Vermelho, ora essa! Quem estava chamando era a mãe dela, e as mães sempre chamam as filhas pelo nome!

A menina teve que concordar:

– É verdade.

– Então a Chapeuzinho correu para casa. Chegando lá, sua mãe disse:

– Minha filha, eu quero que você vá levar esses doces para a sua vovozinha, que está doente.

A menina estranhou e perguntou:

– Mas a avó ia comer só doce? Nada de arroz, feijão, salada, verdura? Desse jeito, além de doente, ela ia ficar com dor de dente!

– Será que não é melhor VOCÊ me contar esta história? – disse o pai, fazendo bico (porque a menina tinha herdado dele essa mania).

A menina respondeu bem depressa:

– Não!

E o pai contou:

– A mãe dela disse assim: “Mas tome cuidado, minha filha! Vá pela estrada do lago, que é mais segura!”

A Chapeuzinho arregalou os olhos e disse: “É?”

A mãe dela disse: “É sim! Não vá pelo caminho da parte fechada da floresta, porque, porque, porque... ai, eu não me lembro por que, mas faça o que eu estou mandando!”

A Chapeuzinho pegou a cesta de doces, deu dois beijinhos, se despediu:

“Tchauzinho, mamãe!” E saiu pela estrada afora, cantarolando aquela canção:

Pela estrada afora morro abaixo, morro acima, eu vou bonitinha carregando esta cestinha.

Levando um lanchinho para a minha vovozinha, que está doente e banguela, coitadinha.

Ela mora longe e o caminho é deserto e decerto encontrarei o Lobo Mau, ali por perto.

Flavio de Souza

Que louca é minha mãe que manda sua filhinha andar pela floresta desprotegida e sozinha!

Mas não tenho medo porque sei que no final desta minha história o lobo vai se dar bem mal!

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Chapeuzinho adormecida no país das maravilhas

Em que o encontro realmente acontece ali por perto, e a história toma um rumo surpreendente

Amenina achou que a letra da música da Chapeuzinho não era bem daquele jeito. Mas ela viu um bico se formando na cara do pai. Então sorriu e disse:

– E aí, papaizinho?

– Aí... aí... aí... o dia estava tão lindo, o céu tão azulado, as nuvens tão fofinhas, que a Chapeuzinho dançou pela floresta. E as flores, vendo a menina passar, saltaram para fora da terra e dançaram com ela!

– Ai, que lindo! – disse a menina, sem se importar com o fato de na história da Chapeuzinho Vermelho as flores geralmente ficarem dentro da terra e bem paradas, a não ser que tenha bastante vento.

– Por causa daquela dança o ar ficou perfumado e o chão com cheiro de chuva. A menina e as flores pularam, rodaram, rodopiaram, saltaram. Mas essa festa acabou de repente, porque aquele que caminhava ali por perto apareceu! As flores debandaram e o lobo rosnou: “Grunf, grunf, grunf, ora essa, o que temos aqui, uma bela menina?”

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A esta altura, o pai estava contando tão bem a história que a menina e até ele mesmo podiam ver os personagens na frente deles, como se realmente existissem. E era como se eles (a Chapeuzinho, as flores e o Lobo Mau) estivessem dentro do quarto da menina, ou eles (a menina e o pai) estivessem na floresta. Então o lobo, com voz de rei do caraoquê, cantou:

Eu sou o Lobo Mau, Lobo Mau, Mau, Mau.

Eu pego as criancinhas pra fazer mingau.

Eu sou muito legal, legal, legal.

Eu levo as criancinhas pra secar no varal!

Eu sou o Lobo Mau, Lobo Mau, Mau, Mau.

Tempero as criancinhas com azeite e muito sal!

Eu faço um mingau, mingau, mingau

e como as criancinhas antes que elas digam tchau!

Eu sou o Lobo Mau, Mau, Mau, MAU!

A menina ficou com medo e fez bico, pegou a mão do pai e ficou meio que atrás dele.

A Chapeuzinho queria poder pegar a mão do pai dela e ficar meio que atrás dele, mas ele não estava lá. Então ela só fez bico e bastante força para não chorar. E o lobo chegou bem perto dela e disse:

– Grunf, grunf, grunf! Olá, bela menina!

A Chapeuzinho tapou o nariz e disse:

– Como você é fedido! Aposto que não toma banho! Que pelo nojento! E que cara de bobo! Você é o Lobo Bobo!

A menina adorou essas frases, porque deixou de sentir medo. E ela e a Chapeuzinho, que também não estava mais com medo, gritaram:

– Lobo Bobo! Lobo Bobo! Lobo Bobo! Lobo Bobo!

O lobo não estava acostumado com isso. E tentou explicar:

– Mas o que é isso? Eu sou apenas um lobo simpático! Assim como... como... como... um cachorro de desenho animado!

Mas a Chapeuzinho e a menina continuaram gritando:

– Lobo Bobo! Lobo Bobo! Lobo Bobo!

O lobo se irritou e berrou:

– Mas quem é que está contando esta história, hein?

O pai sorriu, sem graça, e disse:

– Sou eu, senhor Lobo Mau.

– Mas que papo é esse, papaizão? A Chapeuzinho Vermelho nunca me falou nada disso!

– Não?

– NÃO! Faça o favor de parar de enrolar e conte direito esta história!

– Tudo bem.

O pai controlou uma vontade bem grande de fazer bico e contou:

– Aí o Lobo Mau ficou sabendo que a Chapeuzinho ia para a casa da vovozinha, levar os doces porque ela estava doente etc.

Ele conseguiu convencer a menina a ir pelo caminho da parte fechada da floresta, que era mais comprido que o do lago, porque ele pretendia correr e chegar antes e comer a vovó etc. etc.

16 Flavio de Souza

Quando uma menina pede para seu pai contar uma história na hora de dormir, ela não pode imaginar que o pai não vai se lembrar direito de nenhuma. E vai misturar personagens e acontecimentos de vários contos de fada, fazendo uma salada absurda com uma menina de chapéu vermelho, um coelho atrasado, um príncipe sapo, uma bruxa e muito, muito mais. O que a menina e quem ler este livro vão descobrir é que, com esses velhos personagens, uma nova e maravilhosa história vai aparecer e acontecer. E entre os novos personagens o mais engraçado é o próprio pai contador de histórias, que começa como um trapalhão e acaba como um verdadeiro criador. Se você gostou dos desenhos animados de um certo ogro verde, não pode deixar de ler Chapeuzinho Adormecida no País das Maravilhas. Uma aventura emocionante, surpreendente e hilariante!

9 788532260994 ISBN 978-85-322-6099-4 1 330 7204
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