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PNLD 2023 - O3 - MD TRÊS HISTÓRIAS DE ENCANTO

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MATERIAL DIGITAL DE APOIO À PRÁTICA DO PROFESSOR Livro DO

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Elaborado por

Andréia Manfrin Alves

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Akpalô, 2021 Três histórias de encanto - Material digital de apoio à prática do professor 2a edição, 2021 Direção-geral

Vicente Tortamano Avanso

Arquivo pessoal

Direção editorial Gerência editorial Gerência editorial de produção e design Edição Assistência editorial Apoio editorial Supervisão de artes Editoração eletrônica Supervisão de revisão Revisão Supervisão de iconografia Pesquisa iconográfica Supervisão de controle de processos editoriais

Felipe Ramos Poletti Gilsandro Vieira Sales Ulisses Pires Paulo Fuzinelli Aline Sá Martins Maria Carolina Rodrigues Andrea Melo Bétula Editorial Elaine Silva Bétula Editorial Léo Burgos Daniel Andrade e Priscila Ferraz Roseli Said

Material elaborado por Andréia Manfrin Alves, bacharel em Letras pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em Didática do ensino de francês pela Sorbonne Université. Trabalha há 15 anos como revisora, preparadora, editora e tradutora de textos, e escreve materiais de apoio para livros de literatura há pelo menos cinco anos. É também atriz, locutora e contadora de histórias e adora envolver toda a sua formação prática e teórica no trabalho com textos em diferentes vertentes. A literatura infantojuvenil é a menina dos seus olhos.

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Sumário Carta ao professor e à professora........................................................................ 4 Propostas de atividades....................................................................................... 6 Pré-leitura................................................................................................................................. 7 Leitura..................................................................................................................................... 13 Pós-leitura............................................................................................................................... 19

Sugestões de conteúdos complementares........................................................ 25

Rubem Filho

Referências........................................................................................................ 27

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Carta ao professor e à professora

Akpalô

A formação leitora é condição essencial dos anos iniciais do Ensino Fundamental, pois ela é responsável pela conquista basal e gradativa da autonomia de leitura, que deve colaborar para que os estudantes possam se tornar leitores críticos e proficientes ao longo de toda a formação escolar, incluindo todo tipo de leitura, desde as mais objetivas e informativas (como identificar orientações sobre um produto, saber se localizar no espaço, compreender mensagens da vida cotidiana, interpretar uma reportagem, etc.) até as de apreciação e fruição (partindo de textos mais simples, como adivinhas e quadrinhas, por exemplo, até textos mais complexos, como contos, poemas, crônicas e afins). Por essa razão, todos os profissionais envolvidos com a educação desse segmento – professores, educadores, formadores e pesquisadores – devem colaborar para que essa formação leitora seja bastante diversa em temáticas, gêneros e autoria. Os pais ou responsáveis também devem fazer parte desse processo, contribuindo com o desenvolvimento da chamada literacia familiar, definida pela Política Nacional de Alfabetização (PNA) como: “conjunto de práticas e experiências relacionadas com a linguagem, a leitura e a escrita, as quais a criança vivencia com seus pais ou cuidadores” (BRASIL, 2019b, p. 51). Por isso, envolvê-los em algumas das atividades de leitura do livro será de fundamental importância para que esse processo se torne ainda mais significativo. O livro Três histórias de encanto, escrito por Sonia Rosa e ilustrado por Rubem Filho, é um grande convite à literatura. As três histórias que o compõem – três contos fantásticos – tratam de sonhos, de desejos, de coragem, de imaginação, de perspectivas, de mistério, de fantasia, de mágica e, sobretudo, de se permitir. Nesse sentido, o livro cumpre funções muito importantes, destacadas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e traz como tema central autoconhecimento, sentimentos e emoções, que incentiva a construção da identidade e processos de amadurecimento da criança, além de, através de paralelos entre os personagens e os leitores, 4


abrir um espaço para a exploração de emoções e sentimentos comuns a todos, como amor, alegria, luto e dor. Partindo de uma escrita leve e cuidadosa, com contos narrados em terceira pessoa e personagens com personalidades muito distintas mas igualmente ricas e instigantes, o livro convida o leitor a viajar por três universos: o de Gregório, o de Nina e o de Antero. Cada um tem famílias diferentes, histórias de vida particulares, sonhos muito próprios e uma semelhante vontade de viver, de aprender, de descobrir e de compartilhar. Todas essas características juntas fazem dessas três narrativas um convite para nos permitirmos sentir, experimentar e imaginar. Além disso, as narrativas trazem uma pluralidade de espaços, passando pela cidade urbanizada, pela cidadezinha à beira do rio e pela cidade do interior, com seus roçados, animais e encantos. Não é difícil se identificar com os personagens, pois eles são figuras muito próximas do leitor dessa faixa etária. Eles são curiosos, têm dúvidas sobre muitas coisas e enfrentam situações comuns em suas vidas pessoais, como a separação dos pais, a chegada de novos irmãos na família, a mudança de cidade ou de bairro e outras questões pessoais (quem nunca fez xixi na cama ou teve medo do desconhecido?). O texto é belamente complementado pelas ilustrações de Rubem Filho. Através de suas pinturas sensíveis, de cores vivas, podemos conhecer os ambientes tão distintos dos três protagonistas, cheios de detalhes e curiosidades, sem jamais visualizar completamente os acontecimentos centrais de cada história. Um cuidado muito relevante que permite ao leitor criar em sua imaginação cada um dos elementos-chave das três histórias que as ilustrações não revelam: a casa verde-cinza, grande amiga e confidente de Gregório; a cabeça cheia de pensamentos da moça desconhecida de quem Nina se aproxima; e a realidade da ave misteriosa dos ovos aveludados, amiga de Antero. Com essa contextualização, esperamos que você, professor ou professora, encontre neste material todas as ferramentas necessárias para trabalhar essa obra em sala de aula. Boa leitura! Andréia Manfrin Alves

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Propostas de atividades A leitura de um livro pode ser muito mais significativa se for explorada em todas as suas possibilidades. Ler coletivamente, discutir a leitura, ampliar as histórias para além do texto e participar de compartilhamento de opiniões, tudo isso são atividades desenvolvidas para ampliar a relação do leitor com o objeto livro e podem transformar completamente a experiência de leitura. De acordo com Valquiria Pereira (2013, p. [1]), em seu artigo publicado no site da revista Nova Escola, “comentar sobre o que leu ou ouviu ajuda a atribuir sentido ao texto”. Isso quer dizer que quando o estudante ouve interpretações diferentes sobre um mesmo texto, “ele passa a considerar diferentes pontos de vista e revê os seus, modificando-os, ampliando-os ou reforçando-os” (PEREIRA, 2013, p. [1]). Por isso mesmo, as propostas de atividades aqui elencadas para auxiliar no trabalho com a obra Três histórias de encanto, de Sonia Rosa, passam por uma das principais competências de Língua Portuguesa para o Ensino Fundamental, relacionadas pela BNCC: Envolver-se em práticas de leitura literária que possibilitem o desenvolvimento do senso estético para fruição, valorizando a literatura e outras dimensões lúdicas, de imaginário e encantamento, reconhecendo o potencial transformador e humanizador da experiência com a literatura (BRASIL, 2018, p. 87).

As atividades também foram organizadas em três etapas para maximizar a fruição leitora dos estudantes: Pré-leitura, Leitura e Pós-leitura. As atividades são sugestões, portanto podem e devem, sempre que necessário, ser ampliadas e adaptadas para corresponder às características da turma e aos objetivos pedagógicos planejados para o ano escolar. O intuito é que possam contribuir para trabalhar todas as competências necessárias a uma leitura significativa da obra. Você também pode partir das atividades aqui propostas para desenvolver outras com temáticas que surgirem ao longo das aulas e propor parcerias com outras disciplinas, como História, Arte e Geografia, a fim de criar atividades que abarquem a interdisciplinaridade presente nas três histórias e no livro em si. Sugerimos que, antes de propor qualquer uma das atividades, você realize pesquisas complementares quando considerar relevante a expansão ou o aprofundamento de algum dos conteúdos propostos. Nesse sentido apresentamos a seção Sugestões de conteúdos complementares que traz conteúdos que podem cumprir esse papel. Não pretendemos, com este material, esgotar todas as possibilidades que o livro oferece, mas sim oferecer o suporte necessário para que você tenha um ponto de partida e orientações sobre o que pode ser trabalhado em sala de aula. 6


Pré-leitura As atividades de pré-leitura visam criar um ambiente significativo e de acolhimento do grupo, contribuindo para a construção do sentido da obra a ser lida. Contextualizar a obra, explorando aspectos da produção, características do gênero e importância das imagens que dela fazem parte, facilita o acesso do leitor ao texto e dá mais sentido à sua experiência de leitura. Para se preparar para essa etapa, convidamos você, professor ou professora, a refletir um pouco sobre o gênero textual da obra, bem como explorar a seção Vamos falar sobre este livro?, disponível ao final do livro do estudante, que traz informações sobre o gênero textual, e textos biográficos para a autora e o ilustrador da obra. Isso certamente vai enriquecer as práticas literárias com o livro.

O conto fantástico

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O livro Três histórias de encanto, de Sonia Rosa, apresenta três contos fantásticos nos quais os protagonistas vivenciam um evento incomum e mágico que marca suas vidas. A obra convida o leitor a transitar por um universo muito próximo da realidade de grande parte das crianças, mas com a possibilidade de extravasar as limitações do real, vivenciando coisas fantásticas que só elas conseguem enxergar. Portanto, apesar de serem contos não conectados entre si, a leitura deles em conjunto pode trazer ainda mais significado à obra como um todo. Aristóteles, filósofo da Grécia Antiga foi o primeiro a estabelecer denominações para as diferentes produções artísticas. Essas classificações se desenvolveram junto com a própria literatura e hoje temos três grandes gêneros literários: narrativo, lírico e dramático. O primeiro conta uma história e traz uma figura muito importante: o narrador. O segundo é permeado pela função poética e como o próprio nome diz, engloba poemas. E o terceiro lida com diálogos e representação. Vamos focar no narrativo, já que foi esse o gênero escolhido por Sonia Rosa para contar Três histórias de encanto. 7


Dentro dos textos narrativos, destacam-se os seguintes gêneros textuais: romance, novela, conto, crônica e fábula. O que diferencia cada um? Uma combinação de extensão do texto, o número de conflitos e personagens, o tempo e o espaço explorados pela narrativa e o formato do texto. Por exemplo, o romance é mais extenso, com um número maior de personagens e vários conflitos, espaços e tempos. O conto é mais curto, com um número reduzido de personagens e um único conflito que ocorre em um curto espaço de tempo. A crônica se assemelha ao conto, mas trata de uma reflexão sobre o dia a dia e pode se situar entre o jornalismo e a literatura. Um conto também pode receber diferentes classificações: conto realista (narra situações reais e não imaginárias), conto popular (narra histórias transmitidas de uma geração à outra) e conto fantástico (narra histórias que extrapolam os limites da realidade ou apresentam fatos estranhos e inexplicáveis). Até mesmo o conto fantástico tem subdivisões. De forma geral, elas são: ficção científica (narra o impacto da ciência na sociedade, seja ele bom ou ruim); terror (narra histórias cujo propósito é causar sentimento de medo); e fantasia (narra histórias cheias de magia e elementos sobrenaturais). Analisando as características de cada um dos textos em Três histórias de encanto, podemos determinar que são narrativas curtas, com poucos personagens, um único conflito, espaço e tempo limitados, que contam histórias que parecem reais, mas trazem elementos inexplicáveis ou que vão além do que consideramos reais. Assim, podemos concluir que são contos fantásticos. Esse gênero, além de ter grande valor literário, é especialmente apreciado pelos leitores do Ensino Fundamental, por isso é interessante explorá-lo em sala de aula antes da leitura do livro. Há diferentes teorias a respeito do gênero conto fantástico e até uma certa confusão, que se deve à tênue separação entre o conto fantástico, o maravilhoso e também o realismo maravilhoso, já que muitas características de um estão presentes nos outros. Sendo assim, aqui vamos partir de uma definição do linguista e crítico literário Tzvetan Todorov (2004, p. 31), que diz: “O fantástico é a hesitação experimentada por um ser que só conhece as leis naturais, face a um acontecimento aparentemente sobrenatural”. Ou seja, para fins de trabalho com o livro Três histórias de encanto, consideraremos o conto fantástico a partir do ponto de vista de que realidade e fantasia se misturam, ainda que os protagonistas das histórias tomem como verdade (ou como real) os acontecimentos da ordem do sobrenatural: uma casa confidente, uma moça que literalmente esvazia sua cabeça do excesso de pensamentos e uma árvore sem folhas que abriga um ninho de ovos especiais. 8


Introdução ao tema

Rubem

Filho

Para despertar o interesse das crianças, comece esse momento de pré-leitura perguntando se sabem o que é um conto. Continue introduzindo o termo conto fantástico e pergunte: Do que imaginam que se tratam as histórias desse gênero? Já leram algum conto fantástico? Qual? O que acharam? Qual é o seu favorito? Sabem o nome de algum autor de contos fantásticos? Essas perguntas ajudarão a determinar os conhecimentos prévios dos estudantes sobre o gênero e ajudar você a conduzir as atividades da maneira mais adequada. Sempre que achar necessário, introduza informações teóricas e realize a mediação da conversa. Uma forma de incentivar o protagonismo dos estudantes é sugerir que eles façam uma pesquisa sobre o tema: contos fantásticos. O site Mundo Educação, por exemplo, tem um conteúdo bastante completo a respeito do gênero, voltado para a exploração dele em sala de aula (disponível em: https://mundoeduca cao.uol.com.br/redacao/conto-fan tastico.htm. Acesso em: 13 set. 2021). Oriente os estudantes para utilizar sites confiáveis da internet, livros da biblioteca ou até mesmo conversas com pessoas que têm alguma familiaridade com esse gênero da literatura. Se você achar pertinente, o resultado da pesquisa pode ser compartilhado em forma de apresentações em grupo, ou por meio de uma roda de conversa em que cada um poderá compartilhar uma característica encontrada e os demais poderão


complementar. Essa etapa é importante não apenas para que eles conheçam melhor o gênero, mas também para que exercitem a capacidade de falar e de escutar os colegas de forma organizada. Após as conversas e pesquisas, é importante que você reitere as principais informações relacionadas ao gênero, garantindo que não haja confusão sobre o tema. Comece com os componentes de uma narrativa (narrador, personagens, tempo, espaço e enredo), depois cite os gêneros textuais que uma narrativa pode ter (romance, novela, contos, etc.). Em seguida, relembre as características que definem o conto: narrativa curta, poucos personagens, apenas um conflito, espaço ou cenário limitado, recorte temporal reduzido (ressalte que isso não é uma regra que se aplica a todos os contos, pois esse é um gênero muito livre e de difícil definição – além, é claro, da possibilidade de ele se cruzar com outros gêneros). Por fim, introduza as características mais específicas do conto fantástico: presença de acontecimentos ilógicos, extraordinários, mágicos ou inexplicáveis. Para auxiliar nessa etapa, leve para a sala de aula exemplos de pequenos contos que podem ser lidos pelos estudantes, ou então peça que eles compartilhem com os colegas algum conto de que gostem. Ao escolher um texto de exemplo, busque contos lúdicos, de fácil compreensão e que possam se relacionar de algum modo com a experiência dos estudantes. Além disso, é importante que esses textos apresentem as características que você comentou anteriormente. É possível optar por histórias universalmente conhecidas, como os contos dos Irmãos Grimm (Chapeuzinho Vermelho, João e Maria, O príncipe sapo etc.), ou por histórias menos difundidas – neste caso, pense na possibilidade de selecionar contos brasileiros que se adéquem mais ao universo dos estudantes, como narrativas regionais ou histórias do folclore, ou ainda de trabalhar com contos africanos e indígenas, valorizando a diversidade cultural do nosso país. Sugestões de autores que trabalham com contos fantásticos: as brasileiras Rosana Rios, Flávia Muniz, Regina Drummond e Shirley Souza. Para aprofundar a exploração do conto fantástico, você pode também visitar seus subgêneros (ficção científica, terror e fantasia). É interessante apresentar essas subdivisões para que os estudantes compreendam a complexidade do gênero e as vastas possibilidades criativas.

Imagens fantásticas Para além do conteúdo escrito, as imagens são muito importantes no processo de aprendizado e leitura dos estudantes dessa faixa etária, por isso é importante pensar na 10


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utilização delas em sala de aula. A literatura fantástica, tendo essa relação com a falta de sentido lógico, com o estranho e o incomum, tem forte ligação com a arte surrealista. Leve para a sala de aula obras capazes de aguçar a imaginação dos estudantes. Algumas sugestões são as pinturas de Frida Kahlo (O abraço do amor do universo, a Terra, 1949; Raízes, 1943; Sol e vida, 1947), de Max Ernst (O triunfo do surrealismo, 1937), de René Magritte (Os amantes, 1928), de Tarsila do Amaral (A Cuca, 1924; Abaporu, 1928), de Salvador Dalí (Girafa em chamas, 1937; A tentação de Santo Antão, 1946), e ainda as esculturas de Maria Martins (exposição Metamorfoses, 2013). Todas essas obras podem ser encontradas facilmente na internet, em sites de museus ou de exposição das obras dos próprios autores. Permita aos estudantes observá-las livremente. Em seguida, pergunte como eles as descreveriam, que ideias e sentimentos elas transmitem, o que acham delas, o que imaginam que elas representam, que história pode ser contada a partir delas etc. Este momento pode ser explorado mais rapidamente, de modo que, mais adiante – na seção Pós-leitura –, você possa aprofundar essa relação entre artes visuais e literatura.

O objeto livro Passado esse processo inicial de ativação de conhecimentos prévios, você pode começar a trabalhar o livro Três histórias de encanto, de Sonia Rosa. Apresente o objeto livro e convide os estudantes a explorar o texto e a imagem da capa. Pergunte as percepções deles sobre a ilustração da capa e veja se conseguem estabelecer alguma relação com o título. Questione, ainda, se eles têm alguma opinião sobre o que vai tratar a obra. 11


Leia ou peça que algum estudante leia o texto da quarta capa e retome as especulações sobre o conteúdo do livro. É possível, por exemplo, que os estudantes associem os personagens que figuram na capa a contadores de histórias. Se isso acontecer, pergunte a eles se têm o hábito de ouvir histórias contadas por pessoas mais velhas, que tipo de histórias gostam de ouvir os adultos contarem, em que circunstâncias essas histórias são contadas (se em rodas de histórias, no quintal de casa, na casa dos avós etc.). Ainda que o tema não esteja diretamente relacionado aos contos do livro, o processo de ouvir histórias lidas ou contadas por outras pessoas é importante de ser explorado e também faz parte das propostas apresentadas por este material. Converse com os estudantes sobre a palavra encanto. Façam juntos um levantamento do que pensam que essa palavra significa e anote no quadro as definições que surgirem. Depois, convide-os a pesquisar essa palavra no dicionário e a fazer uma comparação entre essa definição do dicionário e a que eles deram. Quando finalizarem a leitura do livro, você pode retomar essas definições e perguntar aos estudantes qual delas mais se encaixa no sentido em que foi usada no livro. Em seguida, convide-os a folhear todo o livro sem se preocupar ainda com a leitura, concentrando-se, inicialmente, nas ilustrações que acompanham os textos e o que elas podem representar. Anote as principais ideias no quadro para, ao fim da leitura, retornar a elas e conversar novamente com os estudantes, observando se as percepções iniciais se confirmaram ou não. Reitere que não é necessário que eles consigam prever o conteúdo da obra; essa atividade visa apenas exercitar a habilidade de observação das imagens e das narrativas que elas podem construir, fazendo com que entendam que elas não são meros retratos do conteúdo escrito, mas elementos com potencial criador próprio. Finalize chamando a atenção dos estudantes para o nome da autora da obra, Sonia Rosa, e fale um pouco sobre ela. Comente também sobre o ilustrador, Rubem Filho. O texto ao final do livro do estudante, Vamos falar sobre este livro?, pode auxiliá-lo nesse momento. Fazer perguntas, lançar curiosidades e provocações, propor discussões e incentivar os estudantes a serem participativos e propositivos amplia ainda mais a participação ativa, inteligente e interessada da leitura, tornando a experiência completa e valorosa. Esse conteúdo contempla as seguintes habilidades descritas na BNCC para o componente curricular Língua Portuguesa: EF05LP22, EF35LP05, EF35LP26, EF35LP29, EF15LP02, EF15LP09, EF15LP10, EF15LP11 e EF15LP13.

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Leitura Iniciamos a seção Leitura relembrando o grande poeta Carlos Drummond de Andrade, que acreditava que a leitura é fonte incansável de contentamento, mas que a maioria das pessoas não sabe disso. Não pretendemos discordar do autor. Ao contrário, sabemos de todas as dificuldades envolvidas no despertar para a leitura e, por isso mesmo, nosso objetivo é ofertar aos estudantes textos instigantes, leituras interessantes e propostas significativas. Tendo trabalhado todas as competências necessárias para uma leitura significativa da obra, segundo a BNCC, é hora de realizar a leitura efetiva do texto. Oriente os estudantes para tentar observar, durante a leitura, todos os pontos comentados anteriormente sobre as características do conto e do conto fantástico, a forma como se manifestam os elementos narrativos na história, a relação entre as imagens e o texto etc. Esse exercício contribui para o desenvolvimento de um olhar mais aguçado, contextualizado e crítico da literatura. Como o livro tem três histórias independentes, as possibilidades de trabalhar a leitura desses três contos são bastante diversas. Reunimos a seguir algumas sugestões de como a leitura de cada conto pode ser realizada.

O conto de Gregório: leitura coletiva

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Comece com a leitura do primeiro conto, “Gregório”. Ela pode ser realizada em sala de aula, com a sua mediação, a fim de explorar em detalhes tudo o que o texto oferece, garantindo que a leitura dos outros dois textos possa partir de dinâmicas mais autônomas. Pela extensão do texto, esse conto pode ser lido em um único dia. Organize uma roda de leitura e garanta que todos tenham o livro em mãos. Caso algum estudante tenha esquecido sua cópia, você pode pareá-lo com outro estudante.


A leitura pode ser realizada em voz alta por você, mas sugerimos convidar dois ou três estudantes (ou quantos achar melhor) para se revezar na leitura. Organize quem vai ler cada parte, para que todos possam acompanhar melhor, e oriente os outros estudantes para acompanhar em seus livros. Nesse momento, é importante que todos respeitem eventuais dificuldades de leitura que se apresentarem. Realize a mediação sempre que necessário para auxiliar, tirar dúvidas etc. Conforme a leitura avançar, você pode interrompê-la e chamar a atenção dos estudantes para um ou outro detalhe da história, aprofundando o conhecimento deles sobre a narrativa. Por exemplo, faça perguntas como: Vocês acham que Gregório mora em uma cidade grande ou pequena? Vocês já tiveram que se mudar de bairro ou até mesmo de cidade por algum motivo? Essa mudança foi agradável ou desagradável? Vocês conhecem os seus vizinhos? Eles têm a mesma idade que vocês? Costumam sair para brincar juntos na rua, na praça ou no parque? Converse com os estudantes também sobre o fato inusitado da história: a melhor amiga de Gregório é uma casa verde-cinza. Conduza-os a estabelecer uma relação entre esse fato e uma das principais características do conto fantástico: a existência de elementos que fogem do real. A partir dessa conversa, é possível também convidar os estudantes a falar sobre algum hábito que têm e que parece ser inusitado aos olhos dos outros. É importante que essas falas sejam espontâneas e que seja feito um trabalho de sensibilização para que nada do que seja exposto por eles vire motivo de chacota ou constrangimento. Pergunte que hábito é esse, se lembram como ele surgiu, com que frequência recorrem a ele e com qual objetivo etc. Vale lembrar que é muito comum as crianças terem amigos imaginários, que podem ser crianças, animais ou diferentes seres inanimados, e que esses costumam justamente ter a função de auxiliar as crianças que passam por algum trauma, dificuldade ou alguma mudança brusca, como foi o caso de Gregório. Então, naturalizar esse tipo de “fantasia” é importante para que os estudantes não se sintam “estranhos” e percebam o acolhimento do grupo em relação a isso. Converse com eles também sobre as transformações urbanas que acontecem no novo bairro de Gregório, o chamado progresso. Pergunte se no bairro onde eles moram essas mudanças também acontecem de forma acelerada, se na rua onde moram surgiram construções nos últimos meses, qual é a opinião deles sobre isso, entre outras questões. Aproveite também para falar de alguns aspectos da linguagem do texto, como o uso de um termo criado pelo narrador – “casa-esconderijo” – para se referir ao apartamento para onde Gregório se mudou com sua mãe. Chame a atenção delas para a 14


construção desse termo e convide-as a criar outros nomes compostos como esse, que qualificam de forma diferente algo comum ao dia a dia deles. Você pode partir dos objetos da sala de aula, por exemplo: um livro-mundo, uma caneta-pensamento, um colega-confidente etc.

O conto de Nina: leitura individual A leitura do segundo conto, “Nina”, pode partir de uma dinâmica diferente da primeira, uma vez que os estudantes já estão mais familiarizados com o livro. Proponha que eles realizem a leitura em casa, individualmente. Para organizar melhor a leitura, estabeleça um número mínimo de páginas que eles deverão ler em determinado tempo – duas páginas por dia, por exemplo – e um prazo final para a leitura, quando eles deverão estar prontos para conversar sobre todas as impressões que tiveram a respeito do texto e também esclarecer possíveis dúvidas de vocabulário. É importante que eles tenham uma gradativa autonomia de leitura e também de organização do tempo para cumprir as tarefas propostas por você. Esse tipo de dinâmica, inclusive, pode servir para que você acompanhe o progresso de cada um na sua relação com a leitura literária, levando em consideração que o leitor

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utiliza seu conhecimento para compreender as estratégias que o fizeram entender o que leu. Ou seja, bons leitores percebem como construíram imagens para apreender uma descrição no texto ou, ainda, como sumarizaram as ideias principais de um conto ou como inferiram para descobrir o que iria acontecer em uma trama (SOUZA; GIROTTO, 2011, p. 5).


Para isso, você pode fazer perguntas de compreensão fina sobre o texto, como: Quem são os principais personagens da história? Onde se passa a maior parte da narrativa? Quais são as características físicas da jovem misteriosa? Como seria possível traçar o perfil comportamental de Nina? No final da leitura, converse com os estudantes sobre os elementos do fantástico presentes no conto, pergunte se gostaram da história, se acharam Nina excessivamente corajosa ou se também seriam suficientemente destemidos para se aproximar da jovem desconhecida. Conversem também a respeito do que acontece com a moça misteriosa e pergunte se eles gostariam de poder aliviar a própria cabeça do excesso de pensamentos. Considere também a possibilidade de fazer um levantamento com os estudantes das diferentes formas que podemos encontrar para esvaziar nossa mente: meditação, controle da respiração, atividades prazerosas (pintura, música, esportes), contato com a natureza etc. Façam juntos uma lista do que apontarem como possibilidades e deixe-a exposta na sala de aula, para que eles se sintam à vontade para consultá-la sempre que sentirem necessidade de encontrar alternativas para se acalmar.

O conto de Antero: literacia familiar A dinâmica de leitura do terceiro conto, “Antero”, pode ainda adotar uma terceira abordagem, desta vez incluindo o acompanhamento e a parceria dos pais ou responsáveis. A Política Nacional de Alfabetização (PNA) prevê a família como protagonista do processo de formação da criança através de momentos de leitura e troca de ideias. Esse é um excelente momento para encorajar a literacia familiar. Proponha aos estudantes que a leitura do conto seja feita em família. Para isso, você pode preparar um pequeno manual de orientação para os adultos fazerem uma leitura dialogada. O documento Conta pra mim: guia de literacia familiar traz indicações muito interessantes que podem servir de base para isso. O link para o guia completo encontra-se nas referências deste material e as orientações das páginas 38 a 44 esboçam tudo o que pode ser feito e também falam do que pode acontecer fora do planejado e como eles podem lidar com isso. Por exemplo: “Quando seu filho estiver lendo, não o corrija o tempo todo. Correções devem ser feitas ao final de um bloco de leitura, como uma frase mais longa ou um parágrafo” (BRASIL, 2019a, p. 43). Essa participação familiar é muito importante no desenvolvimento do gosto pela leitura e também para o próprio desempenho da capacidade leitora. Quanto maior a rede de pessoas interessadas por essa atividade cognitiva, mais estimulados os estudantes se sentirão. 16


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Estabeleça um prazo para que essa leitura seja finalizada e faça você também uma dinâmica de verificação da compreensão do texto pelos estudantes. Novamente, proponha perguntas de compreensão fina do texto, como: Onde vive Antero? Qual é a estrutura familiar dele? Qual é a relação dele com o espaço onde vive? Quais são suas brincadeiras prediletas? Um aspecto interessante desse personagem é o fato de ele tentar se mostrar maduro o suficiente e não querer decepcionar os pais, o que é representado pela ação de não querer fazer xixi na cama para não entristecer sua mãe. Converse com os estudantes a esse respeito e deixe-os livres para falar sobre isso já ter acontecido com eles, sobre como foi a reação de seus pais ou responsáveis e sobre as estratégias que eles possivelmente adotaram para que isso não voltasse a acontecer. Vale lembrar que eles não devem, de forma alguma, se sentir constrangidos com qualquer situação nem se ver obrigados a falar sobre o assunto caso não se sintam à vontade. Portanto, faça uma preparação da turma para essa conversa e torne-a leve e descontraída. Aproveitando a dinâmica de leitura proposta para este conto, converse com os estudantes sobre o fato de Antero ter aprendido a ler e a escrever um pouco mais tarde do que o esperado, por conta de seu contexto de vida. Pergunte quais transformações aconteceram na vida dos próprios estudantes depois que eles começaram a ler: Eles sentem que têm acesso mais fácil às informações? Conseguem ajudar outras pessoas em determinadas tarefas? Aproveitam para ler livros de autores ou personagens de que gostam? 17


Aprendem sempre novas palavras e novos assuntos a partir das leituras que fazem? Com que frequência param para ler por lazer? O que mais gostam de ler? Onde gostam de ler: no sofá, na cama, no quintal, durante o trajeto até a escola...? Converse com eles também a respeito do constrangimento que Antero alega ter passado quando o pai contou, na frente dos irmãos menores, que ele havia inventado a história da árvore, da ave e dos ovos quando era mais novo. Pergunte se os estudantes também já passaram por alguma situação em que ninguém acreditou em algo que eles contaram. Pergunte se isso aconteceu com familiares, amigos ou com pessoas que eles não conheciam, e deixe-os à vontade para falar sobre como se sentiram na ocasião. Esse momento é importante para que eles comecem a perceber como os colegas se sentem em relação a determinadas situações, o que favorece o desenvolvimento da empatia entre eles.

Um livro, três contos, três encantos Finalizadas as leituras dos três contos, é interessante fazer um trabalho comparativo, a fim de que os estudantes possam reconhecer as características do conto fantástico exploradas nas atividades iniciais. Faça uma tabela na lousa e peça que elenquem em cada um dos contos: narrador (primeira ou terceira pessoa), personagens principais, acontecimento extraordinário, tempo em que se passa a história (presente, passado ou futuro) e espaço (cidade, campo, casa, apartamento etc.). Depois, conversem sobre as predileções dos estudantes: De que conto mais gostaram? Com qual dos três personagens se identificam mais? Deixe-os livres para fazer outras considerações que acharem igualmente relevantes. Chame a atenção deles também para a composição familiar de cada história. Relembrem como as famílias de Gregório, Nina e Antero são formadas: quem faz parte do núcleo familiar de cada um; com quem eles moram; que relações eles têm com os familiares que não vivem com eles etc. Essa é uma oportunidade interessante para que os estudantes percebam, por meio de textos de ficção, que as estruturas familiares são bastante diversas. Isso contribuirá para que eles respeitem e assimilem as diferenças existentes no seio familiar de cada um, deixando de lado qualquer possibilidade de preconceito em relação a esse tema. Esse conteúdo contempla as seguintes habilidades descritas na BNCC para o componente curricular Língua Portuguesa: EF35LP01, EF35LP03, EF35LP04, EF35LP05, EF35LP21, EF35LP22, EF35LP26, EF35LP29, EF15LP03, EF15LP09, EF15LP10, EF15LP11, EF15LP13, EF15LP15, EF15LP16 e EF15LP18.

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Pós-leitura A literatura é um campo vasto que pode e deve ser explorado como ferramenta de formação não só de leitores, mas de sujeitos críticos e reflexivos. A BNCC defende que a formação do leitor literário envolve o desenvolvimento de “um sujeito que seja capaz de se implicar na leitura dos textos, de ‘desvendar’ suas múltiplas camadas de sentido, de responder às suas demandas e de firmar pactos de leitura” (BRASIL, 2018, p. 138). O estudante deve tornar-se um leitor-fruidor, e não apenas um mero decodificador da língua. Para tanto, o trabalho didático com literatura em sala de aula faz-se muito necessário. O trabalho interdisciplinar é muito relevante também na exploração literária em sala de aula, pois permite “a construção do conhecimento de maneira global, rompendo com as fronteiras das disciplinas” (CAIADO, [201-?]) e garante uma integração de conteúdos que não seria possível de outra forma. O livro Três histórias de encanto, de Sonia Rosa, é muito rico em intertextualidade, elementos culturais e possibilidades artísticas, e por isso é uma obra que pode também ser trabalhada de diversas formas, incluindo a parceria com outras disciplinas.

Encanto e imaginação

Rubem Filho

Esta atividade explora as ilustrações do livro e, portanto, é uma excelente oportunidade para realizar um trabalho interdisciplinar com a disciplina de Arte. Como já observado anteriormente, o ilustrador Rubem Filho optou, de forma muito sensível e inteligente, por não ilustrar de modo literal todos os elementos fantásticos presentes nos três contos. Há, nas ilustrações, algumas sugestões de como seria a casa verde-cinza, as “coisas” que viram peixes depois que saem da cabeça da moça misteriosa e a ave mágica, quando Antero encontra os restos dos ovos, mesmo não conseguindo mostrá-los para ninguém. Esses elementos não mostram a “amiga casa verde-cinza” de fato, apenas 19


as casas que se parecem com ela, avistadas por Gregório durante o passeio de carro; não mostram a moça misteriosa de fato abrindo a cabeça para deixar as “minhocas coloridas” saírem, apenas os peixes nos quais essas minhocas se transformam; e não mostram a ave ao final, mas mostram a árvore, a ave e os ovos brilhantes e aveludados na noite em que Antero as encontrou pela primeira vez. É uma mistura entre mostrar, sugerir e deixar para a imaginação do leitor. Levando isso em consideração, proponha aos estudantes a criação de ilustrações extras para os contos, que revelem como eles acreditam que seriam cada um desses elementos fantásticos. Retome o paralelo com as pinturas surrealistas que eles viram na fase de Pré-leitura, sugerindo que se inspirem em cores, formas e temas dessas pinturas para criar sua própria identidade artística. Sugira também o uso de diferentes materiais, como lápis de cor, giz de cera, caneta hidrocor, tinta, papel picado, entre outros, e deixe os estudantes livres para pensar em suas criações. A BNCC aponta a importância das artes visuais, pois elas possibilitam aos estudantes explorar múltiplas culturas visuais, dialogar com as diferenças e conhecer outros espaços e possibilidades inventivas e expressivas, de modo a ampliar os limites escolares e criar novas formas de interação artística e de produção cultural, sejam elas concretas, sejam elas simbólicas (BRASIL, 2018, p. 195).

Uma atividade interdisciplinar de criação artística desperta a inventividade dos estudantes, o diálogo entre texto e imagem e a transposição para o concreto do imaginário suscitado pelo texto e por suas próprias experiências criativas. No final da atividade, promovam uma exposição dos trabalhos desenvolvidos, a fim de que os estudantes visualizem como as percepções de cada um podem ser muito diferentes em relação a um mesmo elemento e conheçam formas de expressar diferentes das suas. Essa troca coletiva é importante, pois enriquece o trabalho de todos e alimenta o olhar para outras possibilidades. Esse conteúdo contempla as seguintes habilidades descritas na BNCC para os componentes curriculares Arte e Língua Portuguesa: EF15AR01, EF15AR04, EF15AR05, EF15AR06, EF15LP04, EF15LP15 e EF15LP18.

Do imaginário ao concreto No conto “Nina”, somos apresentados a uma moça misteriosa, que tem a cabeça tão cheia de preocupações e pensamentos que precisa aliviar sua cabeça na beira do rio para conseguir dormir. E ela o faz de forma bem literal: abre a cabeça e deixa as minhocas saírem. 20


Filho Rubem

Pergunte aos estudantes se já imaginaram o que sairia de sua própria cabeça, caso precisassem esvaziá-la de seus pensamentos do mesmo jeito – literal – que a moça misteriosa faz. Para que eles possam concretizar a ideia abstrata de pensamentos, conversem sobre os diferentes tipos de pensamentos que podemos ter durante o dia (bons ou ruins, de tranquilidade ou de ansiedade, criativos, impulsivos, produtivos etc.) e peça que imaginem que formas, cores e aspectos eles teriam. Em parceria com a disciplina de Arte, aborde a importância das cores para representar diferentes tipos de sensações. Há teorias que dizem que o vermelho, por exemplo, uma cor vibrante, pode ser associado à raiva; o branco, à calma e à paz etc. Nas sugestões complementares, há um link com algumas referências interessantes a esse respeito. Você pode propor aos estudantes que pensem sobre a representatividade das cores partindo de sensações e sentimentos que eles acham que combinam com cada uma delas. Ao mesmo tempo, independentemente de qualquer teoria, é interessante permitir que cada um associe as cores com seus sentimentos de modo particular. Eles precisam apenas justificar cada associação, a fim de que possam desenvolver argumentos coerentes com suas escolhas. Você pode deixá-los refletir sobre essa atividade durante dois ou três dias antes de registrá-la em forma de desenho. Desse modo, eles podem investigar a si mesmos ao longo dos dias para entender como suas ideias funcionam. Essa proposta poderá servir para que percebam como a mente deles funciona e também para que, em certa medida, 21


aprendam a controlar um pouco o que passa pela cabeça, de modo a controlar também a ansiedade ou os pensamentos negativos quando surgirem. Esse conteúdo contempla as seguintes habilidades descritas na BNCC para os componentes curriculares Arte e Língua Portuguesa: EF15AR02, EF15AR04, EF15AR05, EF15AR06, EF35LP18, EF15LP04, EF15LP09, EF15LP10, EF15LP11, EF15LP13, EF15LP15 e EF15LP18.

De imagens a palavras de encanto A produção de um texto escrito é fundamental para o desenvolvimento das ideias, da escrita, mas também da própria leitura. De acordo com o educador e pesquisador Élie Bajard: Ler é compreender, é, portanto, construir sentido. Mas construímos sentido na leitura do jornal, durante a proclamação do evangelho, na recitação de um texto, na audição de uma mensagem oral, na produção de um texto escrito, na leitura de uma imagem, de uma paisagem, do mundo etc. O interesse da palavra leitura para designar essas diversas atividades vem de sua referência à interpretação. Realmente, se não há compreensão, não pode haver leitura. Dessa forma, interpreta-se um desenho do mesmo modo que se interpreta uma paisagem ou um texto escrito (BAJARD, 2002, p. 81, grifo nosso).

Portanto, a proposta de criação de um conto fantástico como continuação das atividades desenvolvidas com o livro é não só pertinente, por conta da temática, mas também coerente com o objetivo de formarmos leitores preparados para lidar com os mais diversos tipos de textos e de leituras. Aproveitando o estudo de exemplos de arte surrealista, convide os estudantes a escolher uma das obras exploradas e a escrever um conto fantástico autoral inspirado nela. Primeiro, exponha novamente as pinturas (ou com projeção, ou distribuindo cópias coloridas) e peça que observem com calma cada uma delas. Novamente, chame a atenção deles para os detalhes de cada pintura: cenário, cores, formas, figuras, aspectos, luz e sombra etc. Depois, em duplas ou individualmente, peça-lhes que escolham a pintura com a qual querem trabalhar e sugira que escrevam uma lista de palavras que lhes vêm à mente quando a observam. Deixe-os livres para listar qualquer classe de palavras: verbos, substantivos, adjetivos. Em seguida, dentre as palavras listadas, peça que escolham pelo menos três para fazer parte do conto que vão escrever. Para facilitar a criação do conto e instigar a imaginação dos estudantes, proponha que tentem responder às seguintes perguntas: Quem participa da história? Que 22


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acontecimento fantástico ou sobrenatural faz parte dela? Quando a história acontece? Onde? Vale lembrar que eles devem usar os elementos presentes na pintura para responder a essas questões e para escrever o conto fantástico, sem mudar nenhum elemento presente no quadro. Se necessário, retome com eles as principais características de um conto fantástico para que se lembrem da estrutura desse gênero textual e possam criar um texto de forma mais fluida. Retome também os aspectos formais do texto escrito: construção de parágrafos, diálogos com travessão para as falas, pontuação condizente com a expressividade do texto etc. Terminada a primeira versão do texto, eles devem trocá-lo para que outros colegas possam ler e fazer considerações sobre o que deve ser corrigido e o que pode ser melhorado, caso necessário. Com essa revisão em mãos, os autores-estudantes devem escrever a versão final do texto. Os textos finais podem ser compilados e transformados em uma coletânea de contos, a qual pode receber um título escolhido pela turma. A coletânea pode ficar à disposição dos estudantes, na sala de aula, para que eles possam consultá-la e folheá-la sempre que desejarem. Esse conteúdo contempla as seguintes habilidades descritas na BNCC para o componente curricular Língua Portuguesa: EF35LP07, EF35LP08, EF35LP14, EF35LP25, EF35LP30, EF15LP05, EF15LP06, EF15LP07, EF15LP15 e EF15LP18.

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Os encantos do brincar Vimos até aqui muitos teóricos que defendem a leitura em seu sentido amplo, permeando não apenas os textos escritos, mas tudo o que faz parte do universo da pessoa letrada. Isso significa que as brincadeiras não ficam fora dessa classificação, uma vez que elas costumam ter regras que devem ser bem compreendidas e interpretadas para que se chegue ao objetivo desejado, ainda que de forma lúdica e leve. De acordo com Eleana Margarete Roloff (2009, p. 2), a ludicidade assume o papel de “integrador e facilitador da aprendizagem, como um reforço positivo, que desenvolve processos sociais de comunicação, expressão e construção de conhecimento”. Partindo dessa premissa, sugerimos como atividade que você convide os estudantes a reler a página 32 do livro Três histórias de encanto. Nela, eles encontrarão a descrição de brincadeiras que Antero inventava para se divertir. Proponha que eles experimentem fazer uma delas (por exemplo, andar pela sala de aula de olhos fechados, tentando descobrir onde as coisas estão, usando apenas as mãos para localizá-las). Depois, organize-os em grupos de três ou quatro participantes e sugira que criem, juntos, uma brincadeira que pode ser proposta para o restante da turma. Peça-lhes que descrevam, oralmente, como essa brincadeira deve funcionar e reforce que ela não deve ser complexa; ao contrário, deve seguir a simplicidade das brincadeiras de Antero, que aproveita o que tem ao alcance das mãos para se divertir. Depois, junte dois ou três grupos em um grupo maior, para que os estudantes realizem as brincadeiras uns dos outros. Deixe-os experimentá-las livremente e monitore o que acontece apenas para que ninguém se machuque. No final, reúna a turma toda em um grande círculo e peça que falem sobre como foram suas experiências. É importante lembrá-los de respeitar o momento de fala dos colegas, levantar a mão para fazer perguntas e ficar atentos ao que o outro está falando. Esse conteúdo contempla as seguintes habilidades descritas na BNCC para os componentes curriculares Arte e Língua Portuguesa: EF15AR24, EF35LP18, EF15LP09, EF15LP10, EF15LP11, EF15LP13 e EF15LP15. 24


Sugestões de conteúdos complementares As atividades elencadas neste material têm por objetivo auxiliar seu trabalho em sala de aula com a exploração do livro e de todos os conteúdos que ele evoca. Mas as propostas não se esgotam nessas atividades, e você pode ampliar sua formação por meio de outras leituras, filmes, documentários, músicas e manifestações artísticas e culturais que tenham relação direta ou indireta com os temas propostos pelo livro.

Filmes A MANSÃO Foster para Amigos Imaginários. Direção: Craig Kellman; Craig McCracken. Estados Unidos: Cartoon Network, 2005. 1 vídeo (90 min).

DIVERTIDA mente. Direção: Pete Docter. Estados Unidos: Pixar, 2015. 1 vídeo (95 min).

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A animação é uma viagem pela mente de uma menina, Riley Andersen. A mente da garota é conhecida por meio das cinco principais emoções: alegria, tristeza, medo, raiva e nojo (ou aversão).

Pixar Animation Studios/Walt Disney Pictures

A animação conta a história de Mac, um garoto de 8 anos obrigado por sua mãe a abandonar Bloo, seu amigo imaginário. Então, Bloo, com medo de perder seu amigo, vê na televisão o comercial sobre um abrigo para amigos imaginários, a Mansão Foster, e leva Mac para conhecê-la. A animação recebeu muitos prêmios e elogios da crítica pela forma delicada com que trata o tema e aborda o universo do imaginário infantil.

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O NÁUFRAGO. Direção: Robert Zemeckis. Estados Unidos: 20th Century Fox, 2000. 1 vídeo (143 min). O filme, estrelado por Tom Hanks, narra a história de Chuck Noland, um engenheiro de sistemas que se vê preso em uma ilha desabitada após um acidente com o avião em que viajava. Para sobreviver à solidão, ele transforma uma bola de vôlei em sua melhor amiga, dando a ela o nome de Wilson.

Livros CASARES, Adolfo Bioy; BORGES, Jorge Luis; OCAMPO, Silvina. Antologia da literatura fantástica. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

TELLES, Lygia Fagundes. Histórias de mistério. São Paulo: Seguinte, 2011. Essa coletânea de seis contos da escritora brasileira Lygia Fagundes Telles, conhecida por suas narrativas com desfechos surpreendentes, traz textos que tratam do sobrenatural inserido na vida cotidiana. Nesses textos, os personagens são surpreendidos por situações inusitadas que os levam a questionar os acontecimentos em seu entorno.

Artigos CUNHA, Juliana. Amigos imaginários ajudam a desenvolver a personalidade. Superinteressante, 29 nov. 2010. Disponível em: https://super.abril.com.br/comportamento/ amigos-imaginarios/. Acesso em: 17 set. 2021. O artigo de Juliana Cunha para a revista Superinteressante fala sobre a importância da amizade imaginária na infância como formação da identidade da criança e traz orientações para os pais ou responsáveis a respeito de como lidar com a existência desse amigo, sobre o alerta que deve haver para a postura negativa que esse amigo vier a ter e sobre como ajudar a criança a se despedir desse amigo a partir dos 6 anos de idade. 26

Editora Companhia das Letras

Essa antologia foi compilada pelos três autores citados na referência e é considerada pela crítica como peça-chave na formação do gênero fantástico na literatura, contribuindo para transformar o gênero antes marginal em central. Os textos reunidos na publicação vão desde histórias de fantasmas e viagens no tempo até metamorfoses e vampiros. Há nomes como Edgar Allan Poe, Julio Cortázar e o próprio Jorge Luis Borges.


Filho

Artigo interessante sobre a psicologia das cores, que aplica desde o marketing até arte, com exemplos de como cada cor pode ser associada a diferentes emoções.

Sites FILHO, Rubem. Rubem Filho: ilustrador. Disponível em: http://rubemfilho.wixsite.com/rubem-filho. Acesso em: 17 set. 2021. Site oficial do ilustrador do livro Três histórias de encanto, onde é possível conhecer mais sobre seu trabalho, não só com ilustrações de livros de literatura, mas também de livros didáticos, cartuns etc. Também é possível conhecer mais a fundo a biografia do ilustrador. ROSA, Sonia. Sonia Rosa: literatura negro afetiva. Disponível em: www. escritorasoniarosa.com.br. Acesso em: 17 set. 2021. Site oficial da autora do livro Três histórias de encanto, onde é possível conhecer mais a fundo seu trabalho como escritora de literatura infantojuvenil, e também sua trajetória profissional e acadêmica, como o fato de ela ser graduada em Pedagogia pela UERJ e mestre em Relações Étnico-Raciais pelo CEFET-RJ. 27

Rubem

MENEZES, Gabrielle. Psicologia das cores: você sabia que cada cor pode alterar sua percepção? Blog da Printi, 18 dez. 2020. Disponível em: https://www. printi.com.br/blog/psicologia-das-cores-voce -sabia-que-cada-cor-pode-alterar-sua-percepcao. Acesso em: 3 out. 2021.


Referências BAJARD, Élie. Caminhos da escrita: espaços de aprendizagem. São Paulo: Cortez, 2002. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 28 ago. 2021. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Alfabetização. Conta pra mim: guia de literacia familiar. Brasília, DF: Ministério da Educação; Sealf, 2019a. Disponível em: http://alfabetizacao. mec.gov.br/images/conta-pra-mim/conta-pra-mim-literacia.pdf. Acesso em: 26 ago. 2021. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Alfabetização. PNA – Política Nacional de Alfabetização. Brasília, DF: Ministério da Educação; Sealf, 2019b. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/images/banners/caderno_pna_final.pdf. Acesso em: 16 set. 2021. CAIADO, Elen C. Campos. Promovendo a interdisciplinaridade na escola. Brasil Escola, [s.l.], [201-?]. Canal do Educador. Disponível em: https://educador.brasilescola.uol.com.br/ orientacoes/promovendo-interdisciplinaridade-na-escola.htm. Acesso em: 2 out. 2021. MARTINS, Maria Helena. O que é leitura? São Paulo: Brasiliense, 1985. MATOS, Talliandre. Conto fantástico. Mundo Educação, [São Paulo], c2021. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/redacao/conto-fantastico.htm. Acesso em: 6 out. 2021. PEREIRA, Valquiria. A importância da leitura em sala de aula para a fluência leitora. Nova Escola, São Paulo, ed. 263, 1 jul. 2013. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/136/a-importancia-da-leitura-em-sala-de-aula-para-a-fluencia-leitora. Acesso em: 2 out. 2021. ROLOFF, Eleana Margarete. A importância do lúdico em sala de aula. In: SEMANA DE LETRAS DA PUCRS, X., 2009, Porto Alegre. Anais [...]. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2009. Disponível em: https://editora.pucrs.br/anais/Xsemanadeletras/comunicacoes/EleanaMargarete-Roloff.pdf. Acesso em: 16 set. 2021. SOUZA, Renata Junqueira; GIROTTO, Cyntia G. G. S. Estratégias de leitura: uma alternativa para o início da educação literária. Álabe: Revista de Investigación sobre Lectura y Escritura, n. 4, p. 1-21, dez. 2011. Disponível em: http://revistaalabe.com/index/alabe/ article/view/87/61. Acesso em: 24 set. 2021. TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. São Paulo: Perspectiva, 2004. 28


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