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Projetar e construir com madeira

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Esta obra busca difundir a construção em madeira no Brasil e contribuir para uma mudança de paradigma no setor da construção no país, que ainda se concentra no uso do concreto, na contramão da tendência internacional. Essa mudança se torna urgente diante da emergência climática e do grande impacto ambiental causado pela construção civil. Ao contrário de outros materiais construtivos, a madeira armazena dióxido de carbono ao longo da vida útil do edifício. O ciclo de regeneração das florestas torna a madeira uma fonte inesgotável de recursos, desde que seja utilizada de forma sustentável e dentro da capacidade de suporte do planeta Terra.

PROJETAR E CONSTRUIR COM MADEIRA

Nesse sentido, esta obra procura simplificar o entendimento sobre os produtos e sistemas construtivos em madeira e aperfeiçoar o diálogo entre princípios de projeto e de construção. Este trabalho é fruto de mais de 40 anos de atuação no ensino e na pesquisa nas disciplinas de tecnologia das construções em cursos de arquitetura e engenharia civil.

A madeira é utilizada na construção do habitat desde os primórdios da humanidade, perpassando civilizações e culturas. No século XXI, mundialmente, a estrutura de madeira está entre as cinco mais empregadas para a construção de edifícios, junto com a de concreto, aço, alvenaria e as estruturas compostas (International Energy Agency, 2019).

INO | SHIMBO

O objetivo é apresentar de forma clara e didática os princípios, os processos e os detalhes da construção em madeira para que estudantes, profissionais, professores e pesquisadores passem a prescrever, cada vez mais, a madeira como objeto de estudo, de trabalho e de construção de edifícios. Esse objetivo se justifica na medida em que um dos entraves ao uso do material é justamente a ausência de pessoas com adequada formação na área (Bittencourt; Hellmeister, 1995).

Organizadoras

AKEMI INO LUCIA SHIMBO

PROJETAR E CONSTRUIR COM MADEIRA

AKEMI INO É engenheira civil e mestre em arquitetura pela Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo (EESC-USP) e doutora pela Escola Politécnica da mesma instituição. Atualmente e professora livre-docente no Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU-USP) e orientadora de mestrado e de doutorado no Programa de Arquitetura e Urbanismo (IAU-USP).

LUCIA SHIMBO É graduada, mestre e doutora em Arquitetura e urbanismo pela Universidade de São Paulo (USP). Fez estágio de doutorado na Universidade de Paris 8 – Saint Denis (França) e de pós-doutorado em política imobiliária e habitacional no Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos (LabHab, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, FAU-USP). Foi pesquisadora convidada do Collegium de Lyon (França). Atualmente é professora livre-docente no Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU-USP, São Carlos) e pesquisadora do CNPq.

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Akemi Ino Lucia Shimbo Organizadoras

PROJETAR E CONSTRUIR COM MADEIRA

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Projetar e construir com madeira © 2024 Akemi Ino e Lucia Shimbo Editora Edgard Blücher Ltda.

Publisher Edgard Blücher Editores Eduardo Blücher e Jonatas Eliakim Coordenação editorial Andressa Lira Produção editorial Alessandra de Proença Preparação de texto Amanda Fabbro Diagramação Marcio Freitas Revisão de texto Helena Miranda Capa Laércio Flenic Imagem da capa Tatiana de Oliveira Chiletto (*) As imagens utilizadas neste livro não caracterizam preferência por marca ou fabricante. Foram utilizadas devido à sua clareza e disponibilidade somente para ilustrar didaticamente os conceitos mencionados. (**) As imagens de equipamentos da marca Zaccaria estão sendo usadas com o consentimento da empresa aos autores.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Angélica Ilacqua CRB-8/7057 Rua Pedroso Alvarenga, 1245, 4o andar 04531-934 – São Paulo – SP – Brasil Tel.: 55 11 3078-5366 contato@blucher.com.br www.blucher.com.br

Segundo o Novo Acordo Ortográfico, conforme 6. ed. do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, Academia Brasileira de Letras, julho de 2021.

Projetar e construir com madeira / Akemi Ino, Lucia Shimbo organizadoras. – São Paulo : Blucher, 2024. 184 p. ; il. Bibliografia ISBN 978-85-212-2194-4 1. Construções de madeira 2. Habitações – Projetos e construção 3. Madeiras de construção I. Ino, Akemi II. Shimbo, Lucia

É proibida a reprodução total ou parcial por quaisquer meios sem autorização escrita da editora.

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Todos os direitos reservados pela Editora Edgard Blücher Ltda.

Índices para catálogo sistemático: 1. Construção de madeira

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CONTEÚDO

Apresentação

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INTRODUÇÃO Breve histórico da construção em madeira no Brasil

17 17

Das construções indígenas ao início do século XX

21

O século XX

26

Iniciativas de introdução de tecnologias construtivas industrializadas em madeira

33

Sistema Hauff

33

Madeira lamelada colada (MLC)

37

Wood frame

38

Tendência de aumento do uso da madeira no século XXI

39

Referências bibliográficas

42

CAPÍTULO 1 Classificação, formação e características da madeira

45 45

1.1 Classificação botânica da madeira

48

1.2 Formação e composição anatômica da madeira

50

1.3 Características da madeira para a construção

56

1.3.1 Durabilidade natural

58

1.3.2 Propriedade térmica

58

1.3.3 Propriedade acústica

60

1.3.4 Emissão e sorção de COVs

63

1.3.5 Propriedades sensoriais

64

Referências bibliográficas

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PROJETAR E CONSTRUIR COM MADEIRA

CAPÍTULO 2 Propriedades físicas e mecânicas da madeira 2.1 Propriedades físicas

69 69 71

2.1.1 Conteúdo de umidade

71

2.1.2 Retratabilidade ou contração

73

2.1.3 Densidade (massa específica da madeira)

76

2.2 Propriedades mecânicas

76

2.2.1 Compressão

77

2.2.2 Tração

78

2.2.3 Cisalhamento

78

2.2.4 Flexão simples

78

2.2.5 Dureza

80

2.2.6 Classe de resistência da madeira e seus valores

81

2.3 Resistência ao fogo

84

2.4 Fatores que influenciam as propriedades da madeira

85

2.4.1 Fatores anatômicos

85

2.4.2 Fatores de processamento

87

2.4.2.1 Desdobro da tora

87

2.4.2.2 Processo de secagem

88

2.4.2.3 Agentes degradadores e tratamento preservativo

91

2.4.2.4 Armazenagem da madeira seca

98

Referências bibliográficas CAPÍTULO 3 Produtos de madeira para construção 3.1 Madeira maciça

99 101 101 105

3.1.1 Madeira roliça

106

3.1.2 Madeira serrada

108

3.2 Madeira engenheirada

109

3.2.1 À base de madeira serrada 3.2.1.1 Madeira lamelada colada (mlc)

110

3.2.1.2 Madeira lamelada pregada (nlt, na sigla em inglês)

111

3.2.1.3 Madeira lamelada cavilhada (dlt, na sigla em inglês)

112

3.2.1.4 Madeira lamelada colada cruzada (clt, na sigla em inglês)

113

3.2.1.5 Madeira lamelada cavilhada cruzada (dclt, na sigla em inglês)

115

3.2.2 À base de lâminas e tiras

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110

116

3.2.2.1 Laminated Veneer Lumber (lvl)

116

3.2.2.2 Parallel Strand Lumber (psl)

118

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CONTEÚDO

7

3.3 Derivados

118

3.3.1 Madeira compensada (plywood)

119

3.3.2 Painel de tiras orientadas (osb)

120

3.3.3 Painel aglomerado (Chipboard)

121

3.3.4 Painel de fibra de madeira

122

Referências bibliográficas

124

Websites para pesquisa e conhecimento de produtos

126

CAPÍTULO 4 Projeto e construção de edifícios em madeira 4.1 Concepções estrutural, construtiva e arquitetônica

127 127 130

4.1.1 Sistemas construtivos

131

4.1.2 Análise estrutural

132

4.1.3 Modulação

134

4.2 Processos de fabricação

136

4.3 Princípios básicos para projeto em madeira

139

Concepção arquitetônica

139

Detalhamento construtivo

141

Obra e uso/manutenção

141

4.4 Sistemas construtivos

151

4.4.2 Entramado

161

4.4.2.1. Enxaimel

161

4.4.2.2. Balloon Frame

162

4.4.2.3. Plataforma (wood frame)

164

4.4.2.4. Panelizado

167

4.4.3. Parede maciça

167

4.4.3.1. Sobreposição de toras (log construction)

167

4.4.3.2. Madeira engenheirada

170

Referências bibliográficas Sobre os autores Sobre os ilustradores

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148

4.4.1. Pilar-viga

175 177 181

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CAPÍTULO 1 Classificação, formação e características da madeira Simone Fernandes Tavares Tatiana de Oliveira Chiletto Erich Kazuo Shigue Akemi Ino

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C lassifica ç ã o , forma ç ã o e características da madeira

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A madeira é um material orgânico natural e biodegradável, de origem vegetal. Ela resulta do tecido lenhoso gerado pelo tronco das árvores, plantas superiores de elevada complexidade anatômica e fisiológica. Sua estrutura decorre da complexa organização das células e dos vasos responsáveis pela sustentação e pela provisão de água e de nutrientes, bem como do armazenamento de bioquímicos da planta (wiedenhoeft, 2010). Ainda sofre influências de acordo com a localização geográfica, o clima, o tipo de solo, o grupo e a espécie botânica, condições que determinam as características da madeira, como permeabilidade, textura, propriedades físicas e mecânicas, tratabilidade1 e trabalhabilidade2 (pereira, 2013). A partir do conhecimento da microestrutura do material é possível analisar e determinar o melhor uso das diferentes espécies nas distintas demandas da construção civil, assim como métodos mais adequados de plantio, corte, secagem e tratamento preventivo. Este primeiro capítulo tem como objetivo apresentar o material madeira, desde sua classificação botânica, sua formação, seus constituintes micro e macroscópicos e suas características naturais, como durabilidade, propriedades de conforto ambiental (visual, tátil, acústica) e emissão e sorção de composto orgânico volátil (cov). Trata-se de aspectos inerentes ao material, os quais exercem influência nas suas propriedades físicas e mecânicas, e, por isso, no desempenho de componentes e sistemas nos quais é empregada. 1. 2.

A tratabilidade da madeira se refere à sua capacidade de absorver e reter líquidos preservativos. A trabalhabilidade refere-se “ao comportamento da madeira no processamento com ferramentas manuais e mecânicas, bem como ao acabamento superficial obtido nas operações de usinagem, mais comumente empregadas na indústria de transformação secundária da madeira, quais sejam: serrar, furar, aplainar, lixar, tornear, colar, laminar, pregar e parafusar” (berriel, 2009, p. 265). Em geral, madeiras mais pesadas e densas possuem difícil trabalhabilidade.

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PROJETAR E CONSTRUIR COM MADEIRA

60m

50m

40m

30m

20m

10m

ARAUCÁRIA ANGUSTIFOLIA Pinheiro-do-paraná, Pinho, pinho-brasileiro

PODOCARPUS LAMBERTII Atamba-açu, Pinheirinho alemão, Pinho-bravo, Pinheiro-bravo

PINUS ELLIOTTI Pinheiro e Pinus

PINUS TAEDA Pinheiro americano e Pinus

PINUS HONDURENSIS Pinheiro americano e pinus

Figura 1.1 Exemplos de árvores Gimnospermas (espécie e nomes populares). Fonte: adaptada de Waugh Thistleton Architects (2018). Desenho: Chiletto (2022).

1.1 Classificação botânica da madeira Existem dois grandes grupos botânicos de árvores produtoras de madeira: as gimnospermas e as angiospermas (hellmeister, 1983). Elas possuem características morfológicas e anatômicas comparativamente distintas. O primeiro grupo, gymnos (nu) e sperma (semente), apresenta frutos sem casca em forma de cone. São designadas na literatura como produtoras de madeiras moles ou softwoods. Desse grupo, o mais utilizado pela construção civil é o das Coniferophyta (coníferas), com destaque para pinheiros, araucárias, sequoias, abetos, píceas e ciprestes. Essas árvores possuem folhas em formato de escamas ou agulhas e, geralmente, são perenes e resistentes a invernos rigorosos, distribuídas geograficamente principalmente em zonas temperadas. No Brasil, há apenas duas espécies de coníferas nativas, o pinho-do-paraná (Araucaria angustifolia) e o pinheiro-bravo (Podocarpus lambertii e Podocarpus sellowii). Entre as espécies exóticas3 do país, destacam-se o 3.

Espécies exóticas são aquelas não originárias da região na qual se encontram. Elas podem ser exóticas invasoras ou não. São consideradas exóticas invasoras aquelas espécies que interferem ou ameaçam as espécies nativas de uma região, causando a destruição de habitats e ecossistemas.

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CAPÍTULO 2 Propriedades físicas e mecânicas da madeira Simone Fernandes Tavares Beatriz Aparecida Corrêa Souza Tatiana de Oliveira Chiletto Akemi Ino

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P ropriedades físicas e mec â nicas da madeira

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Neste capítulo, serão apresentadas as propriedades físicas e mecânicas da madeira, bem como os fatores que afetam sua qualidade enquanto material construtivo, em especial, os processos de corte, secagem e tratamento preservativo. O conhecimento de tais propriedades é fundamental para o emprego correto do material, visando ao seu melhor desempenho.

2.1 Propriedades físicas A variabilidade, ou variação, nas propriedades é comum a todos os materiais. Todavia, como a madeira é um material natural e a árvore está sujeita a muitas influências em constante mudança (tais como umidade, condições do solo e do clima, local de crescimento), há uma considerável variação de suas propriedades mesmo em espécies já conhecidas e estudadas, bem como nas diferentes partes do seu tronco (kretschmann, 2010). As características físicas mais importantes da madeira para a construção civil são o conteúdo de umidade, a retratabilidade e a densidade. 2.1.1 Conteúdo de umidade O teor de umidade influencia as propriedades mecânicas e o desempenho1 da madeira, afetando a qualidade final dos produtos dela derivados. A norma brasileira para estruturas de madeira nbr 7190-3 (2022) apresenta um roteiro deta1.

O desempenho se refere ao comportamento em uso do material. Isso inclui suas diferentes classes de resistência (mecânica, química, ao fogo, ao clima), durabilidade, vida útil etc.

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PROJETAR E CONSTRUIR COM MADEIRA

lhado para determinação da umidade de uma amostra de madeira (abnt, 2022a). Sendo a madeira um material higroscópico, ela é capaz de absorver e eliminar água e umidade. Ao ser exposta ao meio ambiente, a peça de madeira começa a perder água, iniciando o processo de secagem. No decorrer desse processo, perde-se primeiro a água livre (ou água de capilaridade), que é a água que se encontra preenchendo as cavidades celulares para, posteriormente, perder a água de impregnação (ou água de constituição), que é a água contida nas paredes celulares, entre as cadeias de celulose e microfibrilas. Dessa forma, a madeira pode ser classificada de acordo com o seu conteúdo de água, sendo verde ou seca. Ela é considerada verde quando perde apenas a água livre, e seca quando perde também parte da água de impregnação. Existem dois valores de teor de umidade particularmente importantes: • Ponto de saturação das fibras (psf): é o teor de umidade que a madeira possui quando atinge o mínimo de água livre e o máximo de água de impregnação. • Umidade de equilíbrio ao ar: quando a madeira perde parte da água de impregnação até alcançar um teor de equilíbrio com a umidade relativa do ambiente. A madeira recém-cortada tem um teor de umidade de cerca de 60% (densidade verde com água livre e água de constituição). O psf varia de 20 a 30%, sendo adotado o valor de 25% como referência (calil jr.; lahr; dias, 2003). A partir desse ponto, a madeira perde água de impregnação, sofrendo mudanças dimensionais e em suas propriedades mecânicas (resistência e elasticidade) (deplazes, 2005). A madeira seca é a indicada para o uso na construção civil, a fim de evitar que as mudanças dimensionais drásticas ocorram na peça em uso. Ainda assim, mesmo quando seca, o teor de umidade da madeira muda dependendo da umidade relativa do ar do ambiente em que se encontra, devido ao seu caráter higroscópico. Se a umidade é absorvida, a madeira incha; se a umidade é liberada, a madeira encolhe. Tal característica torna os ambientes construídos com elementos de madeira mais agradáveis e salubres. Idealmente, a umidade relativa dos ambientes deve ficar entre 40 e 60%, pois é a faixa em que os efeitos adversos à saúde oriundos da umidade do ar são minimizados (arundel et al., 1986). Quando a umidade é muito alta ou muito baixa, compromete negativamente a qualidade do ar e a percepção de conforto. Com a presença de madeira no ambiente, há a liberação de umidade em dias muito secos; e em dias muito úmidos, ela é capaz de absorver parte do vapor de água equilibrando a umidade relativa do ar, tornando o ambiente mais confortável ao usuário.

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CAPÍTULO 3 Produtos de madeira para construção Tatiana de Oliveira Chiletto Simone Fernandes Tavares Beatriz Aparecida Corrêa Souza Akemi Ino

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P rod u tos de madeira para constr u ç ã o

103

A busca pela otimização no uso da matéria-prima e a superação de suas limitações naturais sempre suscitou a pesquisa e o desenvolvimento de novos produtos. No caso da madeira, podemos citar, ao menos, quatro características impulsionadoras desse processo: 1) a busca pela uniformização e melhoramento de suas propriedades físicas e mecânicas, já que elas variam entre as diferentes espécies, entre árvores da mesma espécie e entre partes da mesma árvore; 2) a superação dos tamanhos e das formas de produtos de madeira, como a produção de peças esbeltas maiores que a altura da tora ou a fabricação de painéis; 3) a possibilidade do uso de madeiras antes desprezadas, tidas como madeiras de segunda categoria, como aquelas com presença de nós ou defeitos, impróprias para o uso enquanto madeira serrada; e 4) o uso de rejeitos e resíduos de um processo produtivo, seja de resíduos de construção/corte e serragem ou de processos de fabricação industrial, como matéria-prima de outro produto. Assim, houve o desenvolvimento de uma ampla gama de produtos de madeira, seja a madeira sólida ou os materiais à base de madeira, com diferentes níveis de industrialização e de processamento. Os elementos utilizados na produção de produtos à base de madeira para a construção possuem uma variedade de tamanhos e formas. O tamanho, a geometria e a organização desses elementos ditam, em grande parte, o produto fabricado, o seu desempenho e as suas possibilidades de uso, conforme apresentado na Figura 3.1. Este capítulo oferece uma visão geral dos principais produtos de madeira atualmente utilizados na construção civil nacional e internacional e as suas características mais importantes. A fim de organizar o conteúdo, optou-se por subdividir os produtos em três grandes categorias: a) a madeira maciça, roliça e serrada; b) a madeira engenheirada, à base de madeira maciça ou de lâminas, tiras ou lascas; e c) os derivados de madeira produzidos com diferentes elementos.

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Figura 3.1 Elementos utilizados para produtos de madeira e produtos à base de madeira. Fonte: adaptada de Stark, Cai e Carll (2010). Desenho: Mezo (2022).

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PROJETAR E CONSTRUIR COM MADEIRA

Toras

log home

Madeira Serrada

MLC, CLT, DLT, NLT, DCLT

Lâminas

Compensado LVL

Tiras

OSB

Lascas

Chip Board

Flocos

Wafer Board

Partículas

Chapa de Partículas

Fibras

Chapa dura, Eucatex, MDF, HDF

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Capítulo 4 Projeto e construção de edifícios em madeira Lucia Shimbo Akemi Ino

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P rojeto e constr u ç ã o de edifícios em madeira

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Este livro parte do argumento de que ​​a arquitetura e a construção são indissociáveis no momento de elaboração do projeto arquitetônico. Esse argumento é derivado, por um lado, da ideia da tectônica bastante discutida na teoria da arquitetura, que reúne justamente a conexão conceitual da montagem física e metafísica do espaço arquitetônico, a partir de um processo de projeto que garanta que os fragmentos técnicos, estruturais e construtivos sejam arranjados em consonância com a concepção do espaço (frampton, 2001). Por outro lado, ele se ampara nos mais de dezesseis séculos de arquitetura e de construção baseadas na tríade vitruviana, isto é, de que o edifício precisa ser firme, útil e belo (firmitas, utilitas e venustas), em um período no qual a técnica construtiva e o projeto arquitetônico eram indissociáveis. Foi somente a partir do século xix, com o advento da parcelização do saber e das tecnologias, que esse equilíbrio foi quebrado (paricio, 1996). Houve, portanto, uma quebra artificial da intimidade histórica entre arquitetura e construção, que precisa ser resgatada nos dias de hoje, quando a flexibilidade técnica permite, paradoxalmente, que os arquitetos esqueçam da presença da técnica (moneo, 1985). Entendemos, assim, que “não há concepção sem técnica, nem projeto sem matéria” (piñon, 2006, p. 122) e que estrutura e arquitetura nascem juntas no momento elaboração do projeto (lopes; bogéa; rebello, 2006). A questão que este capítulo busca responder é: como resgatar essa unidade original entre concepção estrutural, arquitetônica e construtiva? A ideia aqui é apresentar a articulação entre concepção arquitetônica, princípios estruturais, sistemas construtivos e métodos de construção como um primeiro subsídio para a elaboração do projeto arquitetônico de edifícios.

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PROJETAR E CONSTRUIR COM MADEIRA

É importante ressaltar que, para a concepção de projetos em madeira, essa articulação é imprescindível. Como explicam Bittencourt e Hellmeister (1995), é importante que o projeto de arquitetura responda às necessidades da produção. Nas palavras dos autores: O fechamento e o paramente (acabamento) adquirem nas construções em madeira um valor e um significado inexistentes nos sistemas construtivos em alvenaria, pois é necessário definir, especificar e detalhar estas partes do edifício, para recobri-lo e protegê-lo, possibilitando a sua utilização. [...] Embora possa parecer elementar, a dissociação da estrutura, do fechamento e do paramento, exige do profissional conhecimento pormenorizado do material e derivados, dos materiais passíveis de serem conjugados com a madeira, dos detalhes construtivos principalmente das ligações, dos sistemas estruturais, do processo de produção da construção: seus agentes e meios produtivos (bittencourt; hellmeister, 1995, p. 8).

Este capítulo apresenta quatro itens principais. O primeiro trata dos aspectos relacionados à organização dos sistemas construtivos, à análise estrutural e à modulação, elementos estes que devem ser levados em consideração no momento das concepções estrutural, construtiva e arquitetônica. O segundo item apresenta os distintos graus de fabricação dos sistemas construtivos em madeira. No terceiro, são elencados alguns princípios básicos de projeto para garantir a durabilidade de edifícios em madeira. No quarto e último item, são apresentados os principais sistemas construtivos atualmente difundidos.

4.1 Concepções estrutural, construtiva e arquitetônica Como projetar edifícios considerando a tectônica? Ou seja, como a concepção estrutural e construtiva entra no momento da elaboração do projeto? Há diversos caminhos possíveis e dimensões a serem consideradas nesse processo. Um dos primeiros passos na direção da tectônica de um projeto de arquitetura é perceber que o espaço gerado resulta de escolhas quanto ao material e às técnicas construtivas que serão combinados para atender a cada uma das funções do edifício, sumarizadas desde a tríade vitruviana. Para ser belo, firme e útil, o edifício precisa atender a algumas exigências relativas à segurança (ou seja, ter desempenho mecânico, segurança contra incêndio, segurança no uso e na operação), à habitabilidade (garantir estanqueidade, desempenho térmico e acústico, desempenho lumínico, saúde, higiene e qualidade do

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Esta obra busca difundir a construção em madeira no Brasil e contribuir para uma mudança de paradigma no setor da construção no país, que ainda se concentra no uso do concreto, na contramão da tendência internacional. Essa mudança se torna urgente diante da emergência climática e do grande impacto ambiental causado pela construção civil. Ao contrário de outros materiais construtivos, a madeira armazena dióxido de carbono ao longo da vida útil do edifício. O ciclo de regeneração das florestas torna a madeira uma fonte inesgotável de recursos, desde que seja utilizada de forma sustentável e dentro da capacidade de suporte do planeta Terra.

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Nesse sentido, esta obra procura simplificar o entendimento sobre os produtos e sistemas construtivos em madeira e aperfeiçoar o diálogo entre princípios de projeto e de construção. Este trabalho é fruto de mais de 40 anos de atuação no ensino e na pesquisa nas disciplinas de tecnologia das construções em cursos de arquitetura e engenharia civil.

A madeira é utilizada na construção do habitat desde os primórdios da humanidade, perpassando civilizações e culturas. No século XXI, mundialmente, a estrutura de madeira está entre as cinco mais empregadas para a construção de edifícios, junto com a de concreto, aço, alvenaria e as estruturas compostas (International Energy Agency, 2019).

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O objetivo é apresentar de forma clara e didática os princípios, os processos e os detalhes da construção em madeira para que estudantes, profissionais, professores e pesquisadores passem a prescrever, cada vez mais, a madeira como objeto de estudo, de trabalho e de construção de edifícios. Esse objetivo se justifica na medida em que um dos entraves ao uso do material é justamente a ausência de pessoas com adequada formação na área (Bittencourt; Hellmeister, 1995).

Organizadoras

AKEMI INO LUCIA SHIMBO

PROJETAR E CONSTRUIR COM MADEIRA

AKEMI INO É engenheira civil e mestre em arquitetura pela Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo (EESC-USP) e doutora pela Escola Politécnica da mesma instituição. Atualmente e professora livre-docente no Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU-USP) e orientadora de mestrado e de doutorado no Programa de Arquitetura e Urbanismo (IAU-USP).

LUCIA SHIMBO É graduada, mestre e doutora em Arquitetura e urbanismo pela Universidade de São Paulo (USP). Fez estágio de doutorado na Universidade de Paris 8 – Saint Denis (França) e de pós-doutorado em política imobiliária e habitacional no Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos (LabHab, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, FAU-USP). Foi pesquisadora convidada do Collegium de Lyon (França). Atualmente é professora livre-docente no Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU-USP, São Carlos) e pesquisadora do CNPq.

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