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Minha vida fora de série - 5ª temporada

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A U TO R A D A S É R I E B E S T - S E L L E R F A Z E N D O M E U F I L M E

PA U L A P I M E N TA

temporada



PAULA PIMENTA

temporada


Copyright © 2023 Paula Pimenta Copyright desta edição © 2023 Editora Gutenberg

Todos os direitos reservados pela Editora Gutenberg. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora.

editora responsável

figurino

Rejane Dias

Caroleta Maurício

projeto gráfico de capa

diagramação

Diogo Droschi

Guilherme Fagundes

fotografia de capa

revisão

Daniel Mansur (Studio Pixel)

Cecília Martins Julia Sousa

modelo

Olivia Costa

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil

Pimenta, Paula Minha vida fora de série : 5ª temporada / Paula Pimenta. -- Belo Horizonte : Gutenberg, 2023. -- (Minha vida fora de série ; 5) ISBN 978-85-8235-631-9 1. Ficção juvenil I. Título. II. Série. 23-177058

CDD-028.5

Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura juvenil 028.5 Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427

A GUTENBERG É UMA EDITORA DO GRUPO AUTÊNTICA

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Para a Snow. Minha gatinha branca fora de série...


N ota da autora : Quando escrevi Fazendo meu filme 2 e 4, livros que – como este – também se passam no exterior, optei por deixar a Fani contar para nós as conversas que tinha com os personagens estrangeiros, já que não eram tantos assim. Nos poucos diálogos em inglês, inserimos legendas no rodapé das páginas. Porém, neste livro, assim como aconteceu com o Rodrigo na 4ª temporada, a Priscila vai ter que conversar muito em inglês... Por isso, para o livro fluir melhor, decidi manter os diálogos em português, deixando em inglês apenas algumas expressões e mensagens. N ota da autora 2: Para escrever este livro, estive em New York algumas vezes e fiz pesquisa em duas escolas de artes cênicas: A Lee Strasberg e a American Academy of Dramatic Arts. Como eu queria ter uma “liberdade poética” maior, criei uma escola fictícia para a Priscila, com um mix dos conceitos dessas duas instituições. Vários leitores sempre me dizem que seguem os passos dos meus personagens como inspiração, então, caso o seu desejo seja estudar Teatro em NY, indico totalmente essas duas escolas. A Priscila ficaria feliz em ver você realizar o seu sonho! Paula Pimenta


Agradecimentos

Quando você tem uma família amorosa e amigos que são como uma família, há sempre algo pelo qual ser grato. (Jane the Virgin) Em primeiro lugar, agradeço aos meus fiéis leitores por terem entendido e esperado o tempo de que precisei para escrever este livro. Deixei a Pri em hiatus (como ela mesma diria) por muito tempo, mas é que eu precisava estar inteira para escrever um livro tão fora de série. Foram anos bem tumultuados e difíceis desde o lançamento da 4ª temporada. A gravidez, os primeiros anos da Mabel, a pandemia, a morte do meu pai e do Miu Miu... Mas se tem algo que aprendi com a própria Priscila é que a nossa vida é feita de temporadas, algumas tensas e outras mais suaves... E eu tive que esperar a tempestade passar por aqui para me dedicar a esta história, já que a Priscila também estava merecendo um pouco de leveza. Agradeço ao pessoal da editora, por sempre me apoiar. Um obrigada especial ao Diogo, por continuar fazendo das minhas capas as mais lindas do mundo, e à Cecília, por revisar e simultaneamente mandar mensagens vibrando com a história! Anna Clara e Clarissa, meus anjos da guarda, obrigada pela amizade e pelo apoio de sempre! E também por entreterem a Mabel para que eu conseguisse escrever alguns capítulos!


Garotas do @paulapimentainfos, vocês são incríveis! Obrigada pelo carinho, pela divulgação, pelas informações, pelas fofocas, por promoverem as leituras coletivas e, especialmente, por estarem comigo desde o comecinho... Vick, Amanda e Rebeca, “na vida, é importante lembrar de agradecer às pessoas que tornam o nosso coração mais leve” (Jane the Virgin) – então, obrigada pela ajuda com as citações! Um agradecimento especial ao meu primo Gui, por ter emprestado o endereço e o apartamento dele para ser inspiração para o refúgio da Pri em Nova York. Obrigada à Aninha, à Elisa, à mamãe e à Renata, por terem conseguido um tempo para ler previamente os capítulos, mesmo com a vida cada vez mais corrida. Amei os surtos, os comentários e (especialmente) os brindes! Bebel, obrigada por entender que a mamãe precisava escrever e por torcer tanto para eu acabar logo o livro! Agora vamos ter mais tempo para brincar! Kiko, obrigada por ser um pai tão bom para a Mabel e me deixar tranquila para escrever, sabendo que ela estava se divertindo com a melhor companhia; por escutar a história em voz alta com todas as interrupções que eu faço para alterar alguma coisa; por ser meu fiel escudeiro nas negociações dos contratos; e por segurar a minha mão e me fazer respirar fundo antes de ter um ataque de nervos. E a Deus. Por toda essa inspiração que eu nem imagino de onde vem. Mas só pode ser daí de cima. Muito obrigada!


Sei que os romances sempre falam de acaso e destino, mas não acredito que tenha sido escrito algum que possa chegar perto da nossa história. Se já existiram duas pessoas destinadas a ficar juntas, somos nós. (Jane the Virgin)



Prólogo Ezra:: A vida nem sempre é romântica. Ezra Às vezes é realista. Às vezes as coisas não acontecem do jeito que você quer. (Pretty Little Liars)

Quando criança, eu pensava que aos 20 anos já seria adulta. Não apenas na idade, mas eu imaginava que minha vida estaria completamente resolvida... Que teria uma profissão – naquela época eu estava certa de que seria veterinária –, uma casa só minha, um carro e até um marido. Sim, nos meus devaneios infantis eu imaginava que aos 20 eu seria “velha” o suficiente para isso. Na verdade, essa última parte quase aconteceu, mas eu estraguei tudo, e por isso agora tento recomeçar. Não tem sido fácil... Porém se tem algo que aprendi nessas duas décadas da minha existência é que há sempre uma nova temporada, cheia de novas possibilidades, novas emoções, novos dramas e até novos personagens. Deixar para trás o que mais gostamos pode ser difícil, mas a verdade é que logo ali na frente tem muito mais para explorar, para conhecer e, até mesmo... para amar.



1 Carrie:: Quando você acorda, há um breve Carrie momento em que não tem memórias. Uma bela página em branco. Um feliz vazio. Mas que não dura muito, pois você se lembra exatamente de onde está e do que está tentando esquecer. (The Carrie Diaries)

1. Welcome To New York – Taylor Swift 2. Wonderful Life – Estelle 3. New York and Back – Leanne & Naara

“Feliz aniversário, Priscila! Ah, e seja bem-vinda a New York!” Eu ainda estava meio sonolenta por causa das dez horas de voo. Em vez de aproveitar o tempo para dormir, havia passado a maior parte da viagem vendo os seriados exibidos a bordo, já que tinha vários que eu não conhecia, e fui vencida pelo sono só às cinco da manhã, quando faltavam duas horas para a aterrissagem. Por isso, demorei um tempo para entender que o cupcake, com uma pequena vela no centro, nas mãos daquela garota sorridente, era para mim! Meu aniversário tinha sido apenas dois dias antes, mas tanta coisa havia acontecido que mais pareciam dois meses! “Obrigada!”, falei, colocando depressa as minhas malas no chão, para conseguir receber o doce que a menina continuava a estender em minha direção. “Você é a Sabrina?” Em vez de responder, ela só fez que sim vigorosamente com a cabeça e em seguida me deu o maior abraço, como se 13


eu fosse uma grande amiga de quem ela estivesse morrendo de saudade. “Estou tão feliz por você ter chegado! Tem dois dias que estou aqui sozinha! O porteiro já estava até cansado de mim, só tinha ele para conversar!” Sem perguntar se eu queria ajuda, ela pegou a mais pesada das minhas malas. “Não precisa...”, falei, tentando pegar de volta. Eu estava sem graça por ter trazido tanta coisa. O fato é que eu sabia que chegaria em pleno inverno, então tive que empacotar todos os meus casacos mais pesados e volumosos, além das botas, blusas de lã... “Priscila, quem me dera tivesse alguém para ajudar no dia em que cheguei”, ela falou, soltando a bagagem e colocando as mãos sobre os meus ombros. “Tive que atravessar o aeroporto inteiro com duas malas bem maiores do que as suas, além da bolsa de mão, que estava bem cheia! Imagina se vou deixar você passar pelo mesmo que eu! Pode comer o seu cupcake à vontade, sei bem que a comida do avião é terrível, você deve estar morrendo de fome! Deixa o trabalho pesado comigo!” E saiu arrastando também a minha outra mala. Só me restou aceitar e ir atrás dela, que andava bem rápido em direção à saída do aeroporto. Eu gostaria que o Ruy tivesse me dito que minha futura companheira de apartamento era tão decidida assim... Na verdade, ele tinha me contado pouca coisa, quase nada. Tudo que eu sabia era que ela tinha 21 anos, era de Maceió, ia estudar Teatro na mesma escola que eu e também era agenciada por ele. Ah, e que ela me esperaria no aeroporto, para ir comigo para o apartamento onde iríamos ficar. Olhei em volta ainda sem acreditar que eu estava ali. Mesmo tendo mais de seis meses para me acostumar com a ideia, era surreal para onde o destino havia me levado. Exatamente um ano antes eu estava chegando de Los Angeles, onde havia passado férias por um mês. Naquela época, jurava que minha vida estava toda programada: eu ia estudar Veterinária em BH, 14


onde provavelmente passaria o resto dos meus dias ao lado do Rodrigo. Como eu estava enganada... Sim, comecei a estudar Veterinária, mas percebi que não era bem o que queria. Belo Horizonte foi substituída por São Paulo e agora por Nova York. E o Rodrigo... Ah, o Rodrigo. Ainda agora, tanto tempo depois, meu coração doía ao me lembrar dele. De tudo que tinha acontecido. Do que a nossa vida poderia ter sido. Agora não era mais a nossa vida. Ele tinha a dele; e eu, a minha. Sacudi a cabeça e me forcei a prestar atenção na Sabrina, que continuava a carregar as minhas malas, passando pela multidão que também tinha acabado de desembarcar. Dei uma mordida no cupcake, não só porque eu realmente estava com fome, mas para liberar logo as mãos e ajudá-la. Aquela garota não me parecia ser muito forte, e minhas malas estavam mesmo pesadas. Sem querer, comecei a analisá-la enquanto me aproximava: magra e alta, o que era acentuado ainda mais pela bota de salto 20 que estava usando. Negra, olhos castanhos muito expressivos e cabelos presos em um coque no alto da cabeça. Usava um trench coat bem chique, que dava a ela a aparência de modelo internacional. E ela andava como uma modelo também. Percebi que as pessoas que passavam sempre olhavam para ela uma segunda vez, tentando lembrar de onde a conheciam, pois a garota parecia uma celebridade. Uma mistura de Rihanna e Beyoncé, embora mais jovem. “Vamos para a fila de táxi”, ela falou assim que a alcancei e me apossei de uma das malas, por mais que ela dissesse que não precisava. “Estou andando rápido porque anunciaram que hoje vai nevar, e Mr. Gonzalez, o porteiro, me falou que o trânsito vai ficar horrível!” Nevar? Quando saí do Brasil estava fazendo quase 40 graus! Por pura insistência da minha mãe eu tinha colocado na bolsa de mão um casaco, mas jurava que não precisaria usar... Ao olhar as pessoas em volta superagasalhadas, vi que eu estava enganada. Por isso, quando notei que estávamos chegando à saída do aeroporto, o vesti rapidamente. Só que eu não 15


estava nem um pouco preparada para o frio que ia me atingir um minuto depois. “Você está bem, Priscila?”, a Sabrina perguntou com uma expressão preocupada ao ver que eu estava tremendo dos pés à cabeça. “Desculpa, devia ter te avisado que estava fazendo 2 graus e ventando muito.” Em seguida fez sinal para um táxi e, sem esperar que o motorista saísse da frente do volante, ela mesma abriu o porta-malas e colocou toda minha bagagem lá dentro. “Deixa que eu te ajudo”, falei rapidamente, mas ela mandou que eu entrasse logo no carro, o que aceitei após hesitar apenas por um pequeno instante, pois estava realmente frio. A Sabrina se sentou ao meu lado poucos segundos depois. “Por favor, nos leve para West New York. Riverwalk Place, número 55”, ela disse para o motorista com um inglês perfeito. E, se virando para mim, completou, assim que ele deu a partida: “Não se anime, é em New Jersey! Eu estava na maior ilusão, pensando que ia morar em Manhattan, contei isso para todas as minhas amigas e seguidores... Tive a maior decepção quando cheguei e me falaram que esse endereço não era na ilha! Já estava me sentindo dentro de Gossip Girl...”. Quê?! Era muita informação junta. Pisquei os olhos, me forçando a deixar o torpor de lado e acordar de uma vez. A Sabrina tinha seguidores? Ela era uma influencer ou algo do tipo? E como assim nós iríamos morar em New Jersey? O Ruy não tinha falado que era em New York? Mas o mais importante de tudo... Gossip Girl? “Você gosta de séries de TV?”, perguntei depressa, sentindo uma simpatia instantânea por aquela garota. “Quem não gosta?!”, ela falou digitando algo no celular. “Mas prefiro as que retratam o cotidiano, com romance, encontros e desencontros e tal... Aquelas de suspense e ficção me deixam muito tensa, não preciso disso na minha vida!” Um sorriso involuntário se formou em meus lábios. Minha irmã de alma estava bem ao meu lado, e eu iria morar com ela! “Pronto, já avisei para o Ruy que você chegou bem”, ela guardou o telefone na bolsa. “Ele estava tão preocupado, como 16


se você fosse uma bebê! Pediu para você comprar um chip americano para o seu celular ainda hoje, para se comunicarem melhor. E te mandou ficar tranquila, pois vai avisar aos seus pais que tudo correu como esperado.” Só então me lembrei que eu tinha prometido me conectar a alguma rede wi-fi assim que desembarcasse para avisar a eles que tinha dado tudo certo na viagem. Ainda bem que o Ruy iria se encarregar disso... Até que o meu empresário era bem prestativo. Balancei a cabeça, pensando em como aquilo tudo parecia irreal. Eu tinha mesmo um empresário?! E ele tinha me mandado para NY para estudar Teatro e depois trabalhar como atriz? Meu olhar foi atraído para a janela. Era tão estranha a sensação de chegar a uma cidade pela primeira vez... Uma mistura de curiosidade, apreensão e expectativa dominava o meu peito. E também de saudade... Mas como eu poderia já estar com saudade de casa? Eu havia partido no dia anterior! Porém aquele sentimento estava ali, dando tantas voltas em torno do meu coração que eu já podia senti-lo apertado. A verdade era que eu tinha pulado de trampolim rumo ao desconhecido. Era como se eu tivesse cancelado a série da minha vida e começado uma nova. Apesar de adorar novidades, eu tinha que reconhecer que não gostava muito de mudanças... Quando aos 13 anos eu soube que teria que me mudar para Belo Horizonte, lembro que odiei aquilo com todas as minhas forças. E o mesmo aconteceu quando tive que voltar para São Paulo. Mas nada daquilo havia sido decidido por mim. Eu apenas tinha seguido a decisão dos meus pais. Agora eu estava ali por minha própria escolha, por minha conta e risco. Apesar de ter me mostrado muito animada para meus pais e amigas, eu tinha que admitir para mim mesma que estava aterrorizada! Eu realmente não sabia ainda se estava fazendo a coisa certa. “Você não tinha vindo aqui antes, né, Priscila?”, a Sabrina perguntou. “Está com a mesma cara que eu fiz na primeira vez que pisei em New York...” 17


Olhei para ela depressa, sem saber por quanto tempo tinha sido tomada pelos meus devaneios. Como eu era mal-educada! A menina vinha me buscar no aeroporto, me trazia um bolinho de aniversário, carregava minhas malas, me emprestava o gorro e eu simplesmente virava para o lado, como se ela nem mesmo estivesse ali! Resolvi começar outra vez, de uma forma mais simpática. “Desculpa, acho que ainda estou meio dormindo...”, falei, balançando a cabeça. “Sim, é a minha primeira vez aqui, não vejo a hora de conhecer tudo! Mas antes quero conhecer você...”, completei com um sorriso. “O Ruy disse que nós vamos estudar e morar juntas, mas isso é tudo que sei. Como veio parar em NY? Também foi descoberta por ele em um programa de TV sensacionalista e acabou largando a faculdade de que não gostava e vindo para cá para esquecer uma desilusão amorosa?” Na verdade, não tinha sido tão simples assim... Mas era um bom resumo. A Sabrina estreitou as sobrancelhas, como se não tivesse entendido nada, mas em seguida as levantou, dizendo: “Pelo visto eu é que não sei nada a seu respeito. Quero muito conhecer a sua história, parece bem interessante! O que você estava fazendo no tal programa de TV? Aliás, qual programa foi esse? Será que assisti? Adoro programas trash, me divirto! Mas respondendo sua pergunta... O Ruy não me descobriu em lugar nenhum, eu é que pedi para ele me representar! Mandei meu currículo para a agência dele e aguardei vários meses até que ele resolvesse me dar uma chance... Acho que, se eu não tivesse ganhado o concurso, até hoje estaria esperando!”. “Que concurso?”, perguntei sem entender. “De miss, ué...”, ela respondeu, como se fosse óbvio. “Você é miss?!”, exclamei surpresa. Aquilo era muito surreal, nunca pensei que fosse conhecer uma miss na vida! Minha avó adorava assistir àqueles concursos, e eu gostava de fazer companhia para ela. Sempre elegíamos as nossas favoritas e ficávamos torcendo para elas chegarem ao Miss 18


Universo! Mas eu nunca tinha conhecido uma garota que tivesse participado de algo parecido. E agora uma delas estava bem ali, na minha frente. “Miss Alagoas!”, ela disse com uma expressão orgulhosa. “Infelizmente não cheguei nem às cinco finalistas no Miss Brasil, mas tudo bem, porque o que eu realmente quero é a carreira artística. E é por isso que eu estou aqui! Pronto, contei tudo. Agora quero saber sobre você. Já superou a tal desilusão amorosa, né? Ainda bem que você veio pra cá desimpedida, estou com uma lista de vários bares de paquera, você tem que me fazer companhia! Quem sabe o verdadeiro amor da sua vida está bem aqui?” Dizendo isso, ela apontou para o lado, e eu pude ver o centro de Nova York como se fosse um cartão postal. Prédios muito altos, táxis amarelos, pessoas andando apressadamente por todos os lados. Suspirei e respondi: “Quem sabe, né?”. Mas no fundo eu sabia que aquilo era impossível. Eu já tinha encontrado o verdadeiro amor da minha vida. Pena que ele não queria mais saber de mim...

De: Priscila <pripriscilapri@aol.com> Para: Bruna <bruninha@mail.com.br>

Larissa <larissa@mail.com.br>

Luísa <luisa@netnetnet.com.br>

Enviada: 05 de janeiro, 19:45 Assunto: Cheguei Hello, girls!

Como prometido, aí vai o e-mail coletivo para contar minhas primeiras impressões. Amanhã vou comprar um chip americano pro meu celular, aí a nossa comunicação vai ficar mais ágil! 19


Vou dividir por tópicos, para não me perder, porque tenho muito o que contar! 1. Clima

Tá muito frio!!! Bruna, você que ama o calor ia querer ir embora no mesmo minuto! É frio real, não dá pra ficar sem gorro, luva, cachecol, meia-calça (por baixo da calça) e bota – tudo junto! O problema é que dentro de casa (e de todos os estabelecimentos, pelo que me disseram) tem aquecedor, então é entrar em um lugar e já ter que tirar tudo, para não morrer de calor! Mas, se a gente for sair para ir à esquina, tem que vestir a parafernália toda de novo... Eu estava com receio de não conseguir fazer alguma atividade física aqui, mas acho que já encontrei uma: vestir e tirar a roupa mil vezes por dia! 2. Colega de apartamento

O Ruy bem que podia ter me dado mais informações sobre ela, assim não ficaria tão espantada! A garota é diferente de qualquer pessoa que eu já tenha conhecido... Ela se chama Sabrina. É ligada no 220v, não consegue parar quieta um segundo, fica me perguntando o tempo todo se preciso de ajuda, se estou com fome, sono, frio, calor, se quero sair, se quero dormir... Ufa! Tive que entrar no banho para ter uma folguinha. Inclusive estou escrevendo de dentro do banheiro. Mas, apesar disso, gostei dela de cara. Acreditam que ela levou um cupcake para mim no aeroporto porque ficou sabendo do meu aniversário? Ah, ela também é fã de seriados! Acho que temos chance de nos tornarmos grandes amigas. Esqueci de contar um detalhe... Ela foi Miss Alagoas! Sério, eu chequei na internet e vi que não é invenção, ela realmente ganhou o concurso! E tem milhares de seguidores! E por isso ela fica postando tudo que acontece, o que 20


come, o que veste... Além disso, ela me falou que é modelo e que estava estudando Direito, mas largou tudo pra vir pra cá, pois o sonho dela é ser atriz. E ela me contou algo que eu não sabia... O Ruy é um empresário muito requisitado! Ela entrou em uma fila de espera até que ele resolvesse dar uma chance para ela! Uau, acho que me dei bem, hein? Sorte que meu pai é amigo dele, senão ele nunca me convidaria para esta loucura, quero dizer, esta viagem, né? 3. O apartamento

Nesse quesito confesso que estou um pouco decepcionada. Não pelo apartamento em si (ele é muito legal, daqui a pouco conto mais), mas pela localização... Nas minhas fantasias imaginei que ia morar no prédio do pessoal de “Friends”, sabe? Em plena Manhattan! Mas, em vez disso, estou em New Jersey, que é do outro lado do rio. Daqui tenho uma vista linda de New York City, mas eu queria muito estar lá, e não apenas olhando à distância... A Sabrina me explicou que o Ruy deve ter nos colocado aqui por ser muito mais barato! Pelo que ela me contou, os aluguéis em Manhattan são caríssimos... Bom, como não estou pagando nada, não posso reclamar. Só que, para ir para a escola de teatro, temos que andar (nesse frio!!) três quarteirões até o porto e pegar um ferry (um tipo de balsa) até o lado de lá. Dá pra ir de ônibus também, só que tem que andar mais ainda. Mas tudo bem, não estou me queixando, só um pouco desapontada... Agora sobre o apartamento: ele não é grande, mas tem dois quartos (um para mim e um para a Sabrina), sala, cozinha, um banheiro e uma varanda bem pequena. Sim, não tem área de serviço. Para lavar e secar a roupa terei que ir à lavanderia do prédio, que fica no 1º andar. Por falar nisso, o prédio também é bem interessante! 21


Tem academia, salão de jogos, sala de cinema... E no térreo tem supermercado e algumas lojas de conveniência, que vendem remédios, comida congelada, bebidas (inclusive alcoólicas), chocolates... Ah, tem até um Starbucks do lado! Acho que gostei! 4. A saudade

Quando me mudei para BH, aos 13 anos, lembro que no começo me senti extremamente triste, como se, em vez de um dia, eu já estivesse longe de vocês por um ano... Depois que essa sensação e vários anos se passaram, pensei que aquilo ti­ vesse sido só drama de adolescente, que eu ti­ vesse ultradimensionado os sentimentos, que era impossível morrer de saudade em tão pouco tempo. Pois é... Só que agora, mesmo tanto tempo depois e teoricamente já tendo saído da adolescência (será que é permitido ser adolescente aos 20 anos?), estou me sentindo exatamente da mesma forma. Como se um milênio nos separasse e nunca mais fôssemos nos encontrar! Engraçado é que, no ano passado, quando fui visitar a Fani em Los Angeles, não senti a menor saudade, aliás, nem pensei nisso, fiz questão de aproveitar cada segundo, pois sabia que aquela viagem iria passar muito depressa... Acho que a questão é essa. Dessa vez eu sei que não vai ser tão rápido assim. Serão seis meses. Sem vocês, sem minha família, sem meus animais... Será que vou aguentar??? Melhor parar por aqui, realmente voltei à adolescência, quanto drama! Vou dormir para acordar cedo amanhã e explorar a cidade! Beijo enorme pra vocês! Me escrevam todos os dias, não só mensagens rápidas de celular, mas longos e-mails como este! Quero me sentir perto de vocês! Pri 22


De: Priscila <pripriscilapri@aol.com>

Para: Luiz Fernando <lfpanogopoulos@mail.com.br> Lívia <livulcano@netnetnet.com.br>

Enviada: 05 de janeiro, 20:15 Assunto: Saudade

Oi, mamãe e papai.

Acabei de falar com vocês por telefone, mas senti o maior vazio quando desliguei. Difícil pensar que vamos ficar seis meses separados! Nunca ficamos tanto tempo sem nos ver...

Estou com saudade dos bichos todos também. Por favor, deixem a Snow dormir com vocês, ela sente muito frio à noite e já é uma gata idosa. Lembrem-se de dar um petisco para o Biscoito e para a Duna todos os dias de manhã, eles ficam esperando. Ah, e verifiquem a água dos coelhos ao acordar e à noite. Com o calor que está fazendo aí, eles têm muita sede. E sobre o Rabicó... Bem, tudo que ele precisa é de comida e muito carinho. Façam isso por mim, por favor. Beijo enorme, amo vocês! Pri

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