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"A maldição do verdadeiro amor", de Stephanie Garber - Final Alternativo #1

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Epílogo-Bônus

A Grota

Estalagem para viajantes, aventureiros e todos aqueles que procuram um final feliz

Houve uma época, não faz tanto tempo assim, em que a loja de curiosidades do pai era o único lugar onde Evangeline Raposa queria estar. Durante tanto, tanto tempo, a garota acreditou que jamais seria capaz de amar outro lugar tanto quanto amara aquela loja, com sua sineta mágica na porta, suas caixas de madeira cheias de objetos insólitos e as intermináveis lembranças que tinha dos pais ali, vivas entre aquelas paredes espetaculares.

Evangeline não apenas se sentia em casa na loja de curiosidades: sentia que aquele local era uma parte dela mesma. E, apesar disso, quando Jacks lhe falou que os dois poderiam ir a qualquer lugar, desde que estivessem juntos, a loja de curiosidades não foi a primeira coisa que lhe veio à mente.

– Vamos para a Grota – disse ela, na ocasião.

O Príncipe de Copas deu a impressão de ter ficado com o pé atrás e, quem sabe, um tanto nervoso – era difícil dizer ao certo, já que o rosto dele estava todo cheio de hematomas e cortes, porque Jacks acabara de brigar com alguns dos homens da família Valor. Mas, mesmo que não levasse em consideração a expressão do Príncipe de Copas, Evangeline sentiu que o Arcano tinha tanto medo de perdê-la quanto ela tinha de perdê-lo.

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Jacks estava falando sério quando disse que jamais a perderia de vista.

Quando estavam na Grota, o Príncipe de Copas nunca ficava longe de Evangeline. Às vezes, quando ela estava lendo, cochilando ou dando comida para os dragõezinhos lá fora, a garota virava para trás e dava de cara com Jacks, apoiado, de um jeito insolente, em uma árvore, parede ou muro, observando-a descaradamente.

Evangeline achou que acabaria se acostumando com a presença de Jacks, com vê-lo entrar de repente em algum cômodo ou com acordar todas as manhãs ao lado do Príncipe de Copas. Mas, mesmo passados alguns meses, ainda sentia um frio na barriga e se surpreendia ao vê-lo sorrir.

Viver com Jacks era estranho, assim como é estranho, de um jeito delicioso, vivenciar um dia de calor em pleno inverno ou olhar para o céu e ser surpreendida por uma chuva de meteoros.

Não deveria ser possível amar Jacks mais do que Evangeline já amava. Mas a garota achava que, a cada dia que passava, tornava-se um pouquinho diferente do que era no dia anterior – e pensava que esse pouquinho era uma parte sua que se apaixonava cada vez mais pelo Príncipe de Copas.

Evangeline poderia muito bem ter ficado escondida na Grota, a sós com Jacks, para sempre. Seria feliz em meio às flores alegres, aos dragõezinhos simpáticos e à magia que pairava no ar daquele lugar. A Grota não era mais a mesma da época em que a pedra do contentamento ficava dentro do relógio do saguão. Mas tampouco era o local dilapidado que, em um primeiro momento, a garota pensou que poderia se transformar, depois que levou a pedra dali.

A impressão era de que, assim que Evangeline tirou a pedra do contentamento de dentro do relógio, a Grota entrou em luto. Sua preciosa pedra fora roubada. Em seguida, as duas únicas pessoas que visitaram o local depois de séculos foram embora de forma abrupta, sem sequer se despedir.

Logo que Evangeline e Jacks voltaram para a estalagem, a Grota adotou uma atitude gélida em relação aos dois, para dizer a verdade.

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Portas batiam. Janelas ficavam emperradas. Guarda-roupas se recusavam a abrir. Das torneiras, corria apenas água gelada.

– Acho que esse lugar está zangado com a gente – comentou Jacks, na época. – Espere alguns dias. A Grota será mais calorosa. – Nessa hora, as paredes sacudiram. – Se isso não acontecer, vamos embora – completou o Príncipe de Copas, jogando um dardo para cima. – Podemos construir uma nova estalagem... melhor do que essa.

Jacks pegou o dardo no ar, jogou de novo e errou o alvo de propósito: a ponta afiada do objeto penetrou na parede, não na cortiça. Depois disso, as portas pararam de bater, as janelas não ficavam mais emperradas e os guarda-roupas estavam mais dispostos a abrir as portas.

À medida que os dias foram passando, a Grota foi ficando cada vez mais amistosa. Começaram a aparecer flores recém-colhidas em cima das mesas. Evangeline encontrava lenha nova nas lareiras todas as manhãs, ao alvorecer. E, sempre que ia tomar banho, a água estava quentinha, na temperatura perfeita.

A Grota queria que os dois ficassem ali.

Não demorou muito para ficar bem claro que o local desejava que outras pessoas também ficassem ali. A placa de “Lotado” não parava de cair da tabuleta maior, que dava as boas-vindas a viajantes e aventureiros.

Jacks foi logo colocando a placa de “Lotado” de volta ao seu devido lugar. Mas, passadas três semanas – durante as quais a placa caía no chão e ficava atolada na lama –, Evangeline entendeu a indireta nem um pouco sutil dada pela Grota: o local estava pronto para reabrir as portas e receber novos hóspedes.

E, sendo assim, em uma manhã de sol com aroma de madressilva e morango, Evangeline se dirigiu à tabuleta de boas-vindas com dois baldes de tinta: um branco, cor de creme de leite, e outro dourado, cintilante e encantador, cor de tesouro de dragão.

A placa de “Lotado” já havia caído no chão, e a garota a deixou por ali mesmo. Mergulhou o pincel na tinta cor de creme de leite e pintou, com o maior capricho, o fundo da antiga tabuleta de boas-vindas. Depois que o fundo secou, pintou, também com capricho, as letras, usando o dourado cor de tesouro de dragão.

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A Grota

Estalagem para viajantes, aventureiros e todos aqueles que procuram um final feliz

Quando pintou a vírgula entre “viajantes” e “aventureiros”, a última cicatriz em forma de coração partido que Evangeline tinha no pulso começou a formigar.

A garota não ouviu que Jacks havia se aproximado.

Os passos do Arcano sempre tinham uma leveza sobrenatural. Mas Evangeline ouviu, sim, o Príncipe de Copas soltar um ruído de decepção, algo entre um grunhido e um suspiro, quando ela terminou de pintar as últimas três palavras.

– Isso não vai dar certo, de jeito nenhum.

– Por que não? – perguntou Evangeline, virando-se para trás.

Jacks estava de calça verde-oliva e camisa cor de creme com as mangas arregaçadas e desabotoada até a metade. O cabelo dourado estava todo bagunçado, como sempre, e quando a garota olhou para o Arcano, o coração dela se sobressaltou, de leve.

– Qual é o problema? – perguntou.

Evangeline estava até orgulhosa do trabalho que fizera na tabuleta: andara treinando a pintura de letreiros e achava que tinha ficado bem bonito.

Jacks franziu o cenho, e seus lábios esboçaram um esgar malhumorado.

– Acho que vai atrair gente demais.

A garota deu risada.

– Mas é esse o objetivo de uma estalagem, seu bobinho.

O Príncipe de Copas franziu ainda mais o cenho. Provavelmente, por ter sido chamado de “bobinho”.

Essa reação fez o sorriso de Evangeline ficar ainda mais largo.

E aí o Príncipe de Copas segurou a fita que marcava a cintura da garota e a puxou mais para perto de si. Evangeline já havia notado que Jacks não aguentava ficar muito tempo sem encostar nela. Prender

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uma mecha de cabelo atrás da orelha, mexer nas alças do vestido, vir por trás e beijar a nuca, enlaçando-a com seus braços gelados e sussurrando coisas que, não raro, a faziam corar.

– Não quero mais ninguém aqui, só você – murmurou Jacks.

Em seguida, com um de seus movimentos rápidos como um raio, roubou o pincel das mãos da garota, com a maior facilidade.

– O que pensa que está fazendo? – perguntou Evangeline, dando um gritinho quando o Príncipe de Copas soltou sua cintura e foi passando o pincel na tabuleta, adicionando duas letras à palavra “feliz”.

– Prontinho – disse ele, todo convencido. – Já consertei.

Evangeline fez careta, e o dragãozinho azul que, até então, estava empoleirado na tabuleta, todo feliz e contente, também fez. A mensagem de boas-vindas, ainda molhada após a intervenção de Jacks, agora era a seguinte:

A Grota

Estalagem para viajantes, aventureiros e todos aqueles que procuram um final INfeliz

– Ninguém vai entrar se estiver escrito isso – protestou a garota.

– Não seja tão pessimista. – O Príncipe de Copas, então, atirou o pincel no balde de tinta, sem o menor cuidado. – Certas pessoas vão entrar mesmo assim. Só vão ser um pouquinho amaldiçoadas se tiverem a audácia de se hospedar aqui.

Jacks tornou a sorrir, exibindo uma de suas covinhas. Era óbvio que havia gostado da ideia de amaldiçoar os hóspedes. Evangeline, entretanto, pensou que o Príncipe de Copas gostava mesmo era de atormentá-la. A garota tinha que admitir: de fato gostava quando Jacks a provocava e atormentava. Certa vez, disse para o Arcano que se contentaria, de bom grado, com um final feliz sem grandes emoções. Mas, na verdade, ela preferia, sem dúvida, levar aquela vida com Jacks, que jamais seria sem grandes emoções.

Evangeline ainda acreditava em finais felizes, claro, e esperava ter muita felicidade ao lado de Jacks. Mas já não tinha mais tanta certeza

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em relação à parte do “sem grandes emoções”. Não queria mais ficar sentada, quietinha, quando a história chegava ao fim. Queria continuar entrando em novas histórias. Queria amar, descobrir, sentir. Queria uma vida na qual tivesse a sensação de estar correndo por um campo de flores silvestres e se deparasse com um portão que a levaria até um desconhecido encantado. E queria fazer tudo isso na companhia de Jacks.

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