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Fazendo meu filme 1 - A estreia de Fani (Edição comemorativa de 15 anos)

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Fazendo meu filme Paula Pimenta



Paula Pimenta

Fazendo meu filme A E S T R E I A D E FA N I

4a edição Edição especial comemorativa


Copyright © 2008 Paula Pimenta Copyright desta edição © 2024 Editora Gutenberg Todos os direitos reservados pela Editora Gutenberg. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora.

editora responsável

Rejane Dias capa e projeto gráfico

Patrícia De Michelis diagramação

Guilherme Fagundes revisão

Ana Carolina Lins

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil

Pimenta, Paula Fazendo meu filme : a estreia de Fani : edição especial comemorativa de 15 anos / Paula Pimenta. -- 4. ed. -- São Paulo : Gutenberg, 2024. -- (Série Fazendo meu filme ; v. 1) ISBN 978-65-5928-376-7 1. Ficção juvenil I. Título. II. Série. 23-186863

CDD-028.5 Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura juvenil 028.5 Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415

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Para a minha mãe, que me ensinou a sonhar. E para o meu pai, que sempre realiza os meus sonhos.



Enormes agradecimentos à Elisa e à Bia, que leram e vibraram com cada capítulo à medida que foram escritos. À Ângela Botelho, pelo apoio inestimável. À Maria Luiza Pereira Rondas, pela primeira revisão. À Dri, pelos conselhos e opiniões. À Beré, por existir em minha vida. À Ana Carolina, que, mais que uma revisora, se tornou amiga da Fani. Mamãe, muito obrigada por encontrar o título perfeito.


Para ver cenas dos filmes e ouvir as músicas dos CDs, visite: www.fazendomeufilme.com.br


Dias tornaram-se semanas, semanas tornaram-se meses. E então, um dia, eu fui para a minha máquina de escrever, me sentei, e escrevi a nossa história. Uma história sobre uma época, uma história sobre um lugar, uma história sobre as pessoas. Mas, acima de tudo, uma história sobre amor. Um amor que irá viver para sempre. (Moulin Rouge – Amor em vermelho)



Prólogo

Uma vez me perguntaram qual era o filme da minha vida. Fiquei um tempão pensando nisso, mas, em vez de responder, entreguei para a pessoa a minha lista de DVDs. Eu não tenho um filme preferido, cada um deles tem uma cena especial, um momento que faz com que eu deseje ser a protagonista, que anseie que minha vida seja tão emocionante e colorida como a delas.

Lista de DVDs de Fani Castelino Belluz 1. As patricinhas de Beverly Hills 2. Cinderela 3. Enquanto você dormia 4. Feitiço do tempo 5. Alice no País das Maravilhas 6. Efeito borboleta 7. O fabuloso destino de Amélie Poulain 8. Em busca da Terra do Nunca 9. Campo dos sonhos 10. Brilho eterno de uma mente sem lembranças 11. O diário de Bridget Jones 12. Sociedade dos poetas mortos 13. Procurando Nemo 14. O cão e a raposa 15. Uma linda mulher 16. The Wonders – O sonho não acabou 17. Os incríveis 18. Mero acaso 19. Os Goonies 20. A noviça rebelde 21. Alguém como você


22. O mágico de Oz 23. Curtindo a vida adoidado 24. O Expresso Polar 25. Love story – Uma história de amor 26. Alguém muito especial 27. Moulin Rouge – Amor em vermelho 28. O casamento do meu melhor amigo 29. Colcha de retalhos 30. Como perder um homem em 10 dias 31. Para sempre Cinderela 32. Titanic 33. Dumbo 34. Peter Pan 35. Labirinto - A magia do tempo 36. O diário da princesa 37. Ela é demais 38. De repente 30 39. Sintonia de amor 40. Branca de Neve e os sete anões 41. O casamento dos meus sonhos 42. Feito cães e gatos 43. Como se fosse a primeira Vez 44. Quatro casamentos e um funeral 45. Um sonho, dois amores 46. Shakespeare apaixonado 47. Mensagem para você 48. 10 coisas que eu odeio em você 49. Romeu e Julieta 50. Harry & Sally – Feitos um para o outro 51. Sob o sol da Toscana 52. Dirty dancing – Ritmo quente 53. Diário de uma paixão 54. Wimbledon – O jogo do amor 55. Grease – Nos tempos da brilhantina


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Cher: Não quero trair minha geração, mas não entendo a moda dos garotos de hoje. Parece que caíram da cama, puseram calças largonas e cobriram o cabelo sujo com um boné ao contrário. E se julgam irresistíveis? Eu não acho. (As patricinhas de Beverly Hills)

Começou a chover de novo. Pelo menos isso. Enquanto o tempo estiver ruim, eu não preciso sair. Não sei quem sancionou essa lei de que meninas de 16 anos são obrigadas a sair todos os dias do final de semana. Se eu estou a fim de ficar em casa, com meus DVDs, meus livros ou simplesmente fazendo nada, a minha família já pergunta se eu estou doente. Pior do que isso. Passam-se cinco minutos e as minhas amigas começam a aparecer ou telefonar, como se o fato de eu ter dito que queria ficar em casa tivesse sido uma espécie de brincadeira. Eu me pergunto: sair para quê? Para ver sempre as mesmas caras? Para brincar de espelho, já que todas as pessoas se vestem absolutamente iguais, como se fosse uma espécie de uniforme social? Engraçado é que essas mesmas pessoas fazem abaixo-assinado na escola para que possamos ir com roupas informais... se eu fosse a diretora, concordaria. Pelo menos, as meninas não depredariam mais o uniforme cortando as mangas para ficarem com as “asinhas de fora” (essa foi a minha mãe que falou, tive que concordar com ela!), e os meninos parariam de levar suspensão por aparecerem na aula de chinelo.


Oh, oh. Tenho que atender ao telefone. Minha mãe está berrando daquele jeito dela que separa e prolonga sílaba por sílaba do meu nome: “Eeees-teee-fââââââ-niaaaaa...”. Argh. Como se não bastasse esse nome esquisito que me colocaram, ainda tenho que ouvi-lo gritado! Quantas vezes tenho que repetir? Meu nome é FANI! F-A-N-I. E eu finjo que não é comigo quando me chamam de Estefânia. Eu só vou atender dessa vez para que o resto do mundo que ainda não ouviu o berro da minha mãe não descubra que por trás da Fani existe um nome estranho desses...

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Fada Madrinha: Mas, como nos sonhos, receio que não possa durar muito. Dançará até meia-noite. Cinderela: Meia-noite? Oh, obrigada! Fada Madrinha: Oh, não, preste atenção, meu bem : ao soar das doze, a magia cessará e tudo o que era antes voltará. (Cinderela)

Obrigada, horário de verão! Normalmente eu não gosto do marco inicial desse horário, já que somos obrigados a adiantar o relógio e com isso ganhamos um dia de apenas vinte e três horas. Mas, desta vez, eu achei pouco e bom. Mais cedo, no telefone, era obviamente a Natália. Eu gosto muito da Natália, a gente é amiga desde criança e tal, mas, sinceramente, de uns tempos pra cá, parece que estamos andando em direções opostas. Claro que, como sempre, ela estava completamente ensandecida de vontade de sair, especialmente por causa do fim de semana prolongado, já que o nosso colégio emendou o feriado de 12 de outubro. Não entendo como ela consegue... a gente foi quarta ao aniversário da Júlia, na quinta ao cinema assistir a O jardineiro fiel (dou três estrelinhas), na sexta fomos ao ensaio da banda do irmão do Rodrigo e, ontem, todas as pessoas de Belo Horizonte que não viajaram (ou seja: a Natália, o Rodrigo e a Priscila) vieram para cá ver DVD. Caramba! Será que ela não sente falta de ficar em casa fazendo nada, não?


Tá, eu não sou antissocial, nem tenho nenhum destes desvios compor­tamentais de que a Veja vive falando, mas tem hora que sair cansa, né? Enche o saco essa coisa toda de ter que colocar roupa (tomando o cuidado de não repetir a mesma por, pelo menos, três semanas), maquiagem, pedir dinheiro para o pai, ouvir sermão sobre os perigos existentes no mundo atual, encontrar as mesmas pessoas que eu vejo todos os dias, ter que ficar fazendo carinha boa para não ter que aturar a todo minuto alguém vindo perguntar o motivo da minha braveza... Ufa. Prefiro sinceramente ficar no meu quarto, meu castelinho encantado, com meus livros, DVDs, computador... E foi isso que eu tentei explicar pela centésima vez para a Natália quando ela tentou me convencer a sair mais essa noite. O Sr. Gil é daqueles pais chatos, liga para o meu pai a cada saída dela para perguntar se eu fui também. Será que ele está achando que nós somos gêmeas siamesas? Que uma só pode ir aonde a outra for? Deixa eu te contar uma coisa, Sr. Gil, não é assim, não, viu? O tempo da escravidão já passou, se você quiser me contratar para ser dama de companhia da sua filha, pode ir abrindo a carteira. Cinquenta reais por hora, porque só assim pra dar conta do pique da Natália! Só que eu acho que, se eu dependesse disso pra ganhar dinheiro, podia desistir. A própria Natália tem argumentos bem mais fortes. Em primeiro lugar, a voz fininha dela... à primeira vista todo mundo acha delicadinha, mas, depois de uns dez minutos, dá vontade de apertar o “stop”, já que é tão aguda que a impressão que passa é que vai furar o nosso ouvido! Como se não bastasse, a Natália é filha única. Isso significa que nunca teve um irmão que se recusasse a emprestar qualquer coisa para ela, e com isso ela não desenvolveu a capacidade de aceitar um não. Como esperado, ela veio com toda a ladainha à qual eu já estou mais do que acostumada: “Amanhã é feriado, a gente pode dormir até tarde...”, ela disse com a tal vozinha que, a cada segundo, afina mais. Eu lembrei a ela que o meu irmão, com certeza, iria aparecer bem cedinho na minha casa junto com os meus três sobrinhos e que a diversão preferida deles é brincar de acordar a Tia Fani. Aí ela disse: “Mas ontem você já ficou na sua casa, todos nós ficamos aí com você vendo DVD, ficar todo dia dentro de casa envelhece...”. Eu nem tive tempo de responder, e ela continuou: “Se você não for, eu vou ter que mentir para o meu pai, você vai ter que pedir para o seu pai mentir também, e você não vai querer incentivar toda essa mentirada, vai?”. 16


Como se o meu pai fosse mesmo mentir por causa dela. Quando eu neguei e rebati cada um dos argumentos, ela começou a chantagem: “Tudo bem, tá? Aposto que, se eu pedisse para a Júlia, ela iria comigo... mas eu não quero ir com ela, eu prefiro ir com você...”. Eu disse a ela que a Júlia tinha viajado para a casa dos avós no interior e que era por esse motivo que ela preferia ir comigo... Aí ela apelou: “Fani! Eu estou tendo uma premonição! Tenho certeza de que o amor da sua vida vai estar lá e você vai perder a chance de conhecê-lo! Depois vai passar a vida inteira solteirona e solitária, só porque não quis sair comigo esta única noite!”. Eu lembrei a ela que “esta única noite” foi a mesma coisa que ela falou nas últimas 78 vezes que tentou me convencer a sair, que essa era a 79ª vez que ela dizia que esta noite ia ser única e que, se o amor da minha vida estivesse em um bar desses, com certeza ele não seria o amor da minha vida. O verdadeiro amor da minha vida naquele momento deveria estar em casa, lendo, ou quem sabe aproveitando a véspera do feriado para fazer alguma pesquisa importante na internet ou nas enciclopédias que ele deve ter... Quando ela sacou que eu estava falando realmente sério e que não estava a fim de sair, ela resolveu barganhar. “Eu pago o táxi sozinha”, ela disse com uma voz desesperada. “E pago também a sua entrada e consumação no bar.” Falei que eu não estava à venda e pronto. Foi aí que ela deu a cartada final. Caiu no choro e, chorando, me implorou, daquele jeito que ela deve ensaiar na frente do espelho: “Pooor faaaavooooooor... eu não pediria se eu não quisesse ir muuuuuitoooo........ o Mateus vai estar lá e vai acabar ficando com aquela horrorosa da Manuela se eu não estiver lá para impedir...... buuuuu........”. Esse “buuu” é bem o toque final. Acho que ela leu muitas revistinhas da Mônica quando era pequena, mas, pra não dar na cara, ela não fala “buá”, para no “bu”, prolonga o “u” e mistura tudo no choro. Depois disso, eu cansei e resolvi ir logo, senão ela ia ficar naquele chororô a noite inteira, e, se o Mateus ficasse mesmo com a Manuela, ela ia me jogar isso na cara pelo resto da vida! Troquei rapidinho de roupa, prendi o cabelo e fui pra casa dela, que é na rua logo abaixo da minha. Chegando lá, a menina estava com o guarda-roupa inteiro jogado em cima da cama, sem conseguir escolher o que vestir. 17


Sugeri umas três blusinhas, ela pôs defeito nas três. Aí, eu disse que, se ela não se arrumasse em meio minuto, eu iria embora e ela podia até chorar sangue que eu não voltaria atrás. Ela tratou de vestir qualquer coisa, ficou mais um tempão no banheiro se embelezando e, finalmente, pegou a bolsa. O pai dela passou pela gente no corredor e avisou que queria que ela estivesse em casa pontualmente à uma hora da manhã, independente do fato de amanhã ser feriado. Finalmente, conseguimos sair e chegamos ao ponto de táxi. Essa história de táxi, a minha mãe não gosta muito. Ela prefere levar e buscar. Mas só que leva e busca reclamando! Então, quando ela não está em casa, eu acabo pegando um táxi mesmo. O ponto é aqui do lado, os motoristas todos já me conhecem e, além disso, eu sempre anoto a placa e mando como mensagem para o celular do meu pai. Quando a gente chegou ao tal bar, já eram umas dez e meia da noite. Entramos, avistamos um pessoal conhecido, compramos um refri, a Natália me fez dar umas quinhentas voltas para acharmos o Mateus e finalmente o encontramos. Ele estava bem em frente às caixas de som, ou seja, o barulho estava de ensurdecer. Eu comecei a reclamar, e a Natália resolveu ir lá falar com ele, depois de um tempão ensaiando. Eu fiquei surpresa. O Mateus até que foi bem simpático, se é que dá pra ser simpático tendo que gritar para ser ouvido. Conversou uns assuntos lá e, de repente, lembrou que hoje começaria o horário de verão. “Ih, é agora!”, ele falou, mexendo no relógio. “Meia-noite, já está na hora de adiantar uma hora!” A Natália olhou para mim com uma cara de susto tão grande que eu até achei que uma formiga lava-pés estivesse subindo pela coxa dela! Só que aí ela virou para o Mateus, disse que a gente ia dar uma volta e largou o menino lá, sozinho no meio da pista, que ficou olhando pra gente meio sem entender a pressa. Nem eu estava entendendo... até que a Natália, já na porta, me lembrou da imposição do pai de estar em casa à uma da manhã! Com o horário de verão, meia-noite já é à uma hora! Como eu disse, obrigada, horário de verão! Prometo que nunca mais reclamo da sua existência! Já a Natália deve estar chorando até agora... no momento em que a gente estava saindo do bar, cruzamos com a Manuela, que estava chegando naquele minuto! É, acho que em vez dela desperdiçar a lábia comigo, deveria desenvolver uma tática para amansar o pai. A Cinderela já saiu de moda há muito tempo...

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