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Dr. Urubu e outras fábulas

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ILUSTRACOES CLAUDIO M ARTINS
E OUTRAS FABULAS UDr.RUBU

Copyright © Herdeiros de Ferreira Gullar

Todos os direitos reservados pela Editora Vestígio. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora.

editora responsável

Maria Amélia Mello

revisão

Carla Neves

Mariana Faria

edição de arte

Diogo Droschi

diagramação

Guilherme Fagundes

informações paratextuais

Renata Amaral de Matos Rocha

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Gullar, Ferreira, 1930-2016

Dr. Urubu e outras fábulas [livro eletrônico] / Ferreira Gullar ; ilustrações Cláudio Martins. -- 1. ed. -- São Paulo, SP : Vestígio, 2021.

HTML

ISBN 978-65-86551-42-6

1. Poesia - Literatura infantojuvenil I. Martins, Cláudio. II. Título.

22-137866

Índices para catálogo sistemático:

1. Poesias : Literatura infantil 028.5

2. Poesias : Literatura infantojuvenil 028.5

Eliete Marques da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9380

CDD-028.5

Rua Carlos Turner, 422, sala 202

Silveira . 31140-520

Belo Horizonte . MG

A Formiga O Papagaio 9 O Cachorro 17 10 A Aranha 18 O Macaco 13 O Carneirinho 20 A Abelha 14 O Tamanduá 22
Sumário

Informações paratextuais

A Girafa e a Zebra O Elefante O Mosquito O Urubu O Sapo 24 26 28 30 A Tartaruga e o Jacaré 34 36 O Galo e o Jabuti 40 42 46 A Jia e a Jiboia
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OPapagaio

Vendo a ave colorida no poleiro da cozinha, disse a ela a garotinha:

– Que roupa bonita, esta! Você vai pra alguma festa?

Detendo o passo cambaio, disse a ave: – Graça besta! Nunca viu um papagaio?

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A Formiga

A menininha olhava aquele bicho miúdo que na mesa passeava e perguntou-lhe: – Que bicho é você, amiga?

E o bichinho, com voz fina: – Que bicho é você, menina, que não conhece formiga?

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OMacaco

Vendo-o chegar à janela, a menininha contente, indagou que bicho era.

– Eu não sou bicho, sou gente! – disse arrogante o Macaco. –E me dê uma banana, porque banana é meu fraco.

– Você pensa que me engana?

– disse ela. – Seu velhaco, sei muito bem que macaco é que é louco por banana.

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A Abelha

A Abelha sugava a flor, quando a menina a assustou e ela voou irritada.

– Não anda boa da telha?

Te dou uma ferroada!

Mas a menina falou:

– Você não é dona Abelha, a criatura mais doce que a natureza criou?

– Engano seu. Antes fosse!

Doce é o mel, minha filha, que eu, de tanto fazer mel, a paciência azedou!

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O Cachorro

Estava o Cachorro deitado na sala. Lá vem o menino e com ele fala: – Desculpe se estrago esse seu descanso. Me diga, o senhor, é cachorro manso ou cachorro brabo?

– Depende, se o menininho não tirar o pezinho de cima do meu rabo!

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A Aranha

Disse a menina à Aranha:

– Oba, mas que bela teia!

Quem te ensinou a tecer?

– Ninguém. Embora não creia, não precisei aprender.

Nasci sabendo. A ideia era caçar pra comer.

Estendo a teia no ar.

Tudo que voa ela apanha.

Quem lutar pra se livrar (soltou um risinho a Aranha), cada vez mais se emaranha...

– Coitada da mariposa!

– disse a menina, nervosa. –Vem voando, distraída, é presa sem perceber e logo logo é comida. Não louvo a tua façanha!

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– Não sou má, sou ardilosa

– argumentou a Aranha. –Quem manda ser mariposa? Cedo ou tarde ia morrer.

A vida é um perde e ganha: num dia se é mariposa, noutro dia, aranha.

E entrementes se sonha...

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O Carneirinho

– E você, Carneirinho, por que é tão branquinho, tão engraçadinho e tão lindo assim?

– É pra todos os meninos e todas as meninas gostarem de mim!

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O Tamanduá

– Seu Tamanduá

– disse-lhe a menina –, por que o senhor tem uma língua tão fina?

– Porque minha boca é muito pequenina.

– É boca de corneta ou de maçarico? –brincou a menina.

– Falando a verdade, mais parece um bico ou uma chupeta!

– Ideia de jerico! Menina pateta!

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Mas ela insistiu:

– Você não mastiga, não tem maxilar!

– E pra que mastigar, se só como formiga?

– Por isso mesmo quero perguntar: você come formiga pra não mastigar ou porque não mastiga é que come formiga?

E o Tamanduá:

– Pergunta cretina! Se não tem o que fazer, por que então não vai ver se estou lá na esquina?

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O Elefante

– Como tem passado, senhor Elefante?

Sempre tão elegante!

– É bondade sua, porque, aliás, ando ultimamente com uns quilos a mais.

– Que nada! O senhor arromba com seu charme africano!

– Pena é esta tromba e as orelhas de abano! –lamenta o Elefante.

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Mas é nelas que está seu maior encanto!

Seu defeito é outro...

– Mas que ousadia!

E eu tenho algum defeito?

Isso é você quem diz!

– Tem. É essa mania de em tudo que é canto meter o nariz.

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A Girafa e a Zebra

– A Zebra, dona Girafa, só fala mal da senhora –cochichou a menininha.

– Ela pensa que me abafa! No fundo é uma coitadinha!

O que ela inventou agora?

– Que seu pescoço comprido é de fato um aleijume.

– Ela está é com ciúme. Tem um pescoço de mula!

– Diz que a senhora não pula e quando corre é sem jeito.

– O que ela tem é despeito! Corro como bailarina. Melhor dizendo, esvoaço...

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– Pois ela afirma que o traço principal do seu caráter é ser vaidosa e pedante.

– Bom, pra falar a verdade, prefiro olhar bem distante...

– Que tem cabeça nas nuvens! É maluca e visionária.

– Coitada, a Zebra não passa de pobre mula listada, uma infeliz alimária! Parece até que fugiu de alguma penitenciária!

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OUrubu

– Doutor Urubu, a coisa está preta!

A falta de chuva matou a colheita – queixou-se a raposa. –A fome é geral. Até já me sinto mal!

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E o Urubu, muito prosa, mal disfarçando a cobiça: – Tudo no mundo depende do nosso ponto de vista... Não acha, amiga ardilosa? Para quem come carniça, a coisa agora está branca, ou melhor, está cor-de-rosa!

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A Tartaruga e o Jacaré

Tartaruga e Jacaré, enjoados da floresta, decidiram ir pra cidade.

– A vida lá é uma festa! Lá tem muita diversão, tem cinema, discoteca, tem passeios de montão!

Ouvindo isso a Preguiça, que nada faz sem pensar, chamou os dois à razão: – Vocês não sabem da missa nem a primeira oração! Cidade não é lugar para animais como nós. É outra civilização.

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– Por isso quero ir pra lá. Vou ser uma sensação – disse o Jacaré. – Jacá, astro da televisão!

– É puro engano e vaidade. Não passa de uma ilusão. Sabiam que na cidade o jacaré vira bolsa e a tartaruga, botão?

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– Não me diga! Isso é verdade?

– espantou-se o Jacaré. –Virar bolsa não dá pé!

– Pior é virar botão!

– lastimou-se a Tartaruga. –Deus me livre de ir pra lá!

E o Jacaré concluiu:

– Dona Preguiça é sensata. Bom mesmo é viver na mata, onde canta o sabiá.

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OMosquito

– Ei, seu Mosquito – reclama o menino –, quer parar com esse violino e me deixar dormir?

Responde o mosquito, voando a sorrir:

– Não sou violinista e, se acaso atrapalho, peço que não se zangue e nem fique aflito. Como cientista, faço o meu trabalho de coleta de sangue.

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O Galo e o Jabuti

Jabuti, de gozação, disse ao Galo que, elegante, se exibia no quintal:

– Você, de crista e esporão, bem parece um general.

– Mesmo com esporão e crista – disse o Galo –, sou antimilitarista.

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– Com essa voz de tenor, que é mesmo uma sensação

– aduziu malicioso o Jabuti –, o senhor podia ficar famoso, cantar na televisão!

– Está sendo generoso, não tenho tal pretensão.

– É um galo sem vaidade. Coisa rara, uma exceção!

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– Modesto sou, é verdade. Sei de meu justo valor.

– Então não tem ambição?

– insistiu o Jabuti. –No fundo do coração, o que deseja pra si?

– Com toda a sinceridade, quero ser imperador.

– Um novo Napoleão!

– disse rindo o Jabuti. –Como é modesto o senhor!

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O Sapo

Aqui estou eu: o Sapo, bom de pulo e bom de papo.

Falo mais que João do Pulo, pulo mais que o João do Papo.

Por cautela, falo pouco, pra evitar ficar rouco.

Mas, na verdade, coaxo. Sou quem toca o contrabaixo

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em nossa orquestra de sapos, pois com os sons de nossos papos

fazemos nosso concerto:

um som fechado, outro aberto,

um que parece trombone, outro, flauta ou xilofone.

Tocamos em qualquer festa. O nosso e-mail é <orquestra @sapos.com.floresta>.

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A Jia e a Jiboia

Vendo a Jia que a Jiboia estava a fim de comê-la, apressou-se em convencê-la, quem sabe, a mudar de ideia.

– Dona Cobra – disse a Jia –, não somos tão diferentes.

Talvez sejamos parentes.

Pode até ser minha tia!

Não quer ser minha madrinha?

Não acha que pega mal tia devorar sobrinha?

Disse a Jiboia: – Que papo!

Estou mais é me lixando!

Nunca fui tia de sapo! E lá na nossa família, apetite tem de sobra, sem essa de fidalguia: É cobra engolindo cobra. Por que não vou comer jia?

E a Jia: – Pense um instante: quem mata seu semelhante, ou mesmo um dessemelhante, recebe castigo eterno nas profundezas do inferno!

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Responde a cobra: – Tolice!

Tou nem aí pra crendice!

Matar a fome é um direito de todo e qualquer ser vivo.

Tudo o mais é preconceito.

Passar fome é que é afronta.

Eu de comer não me privo.

E você, que come inseto, acha que isso é correto?

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– Sim, mas inseto não conta. É bicho de pouca monta...

E até mudei de dieta.

Acho bom que também mude, em vez de bancar a tonta.

Não sabe que comer carne faz muito mal à saúde?

Carne de jia, essa então, provoca disenteria e enfarto do coração!

– Não me diga! Faz tão mal?

E o que vou comer então?

– Coma apenas vegetal, que garante vida longa. Coma grãos como o pardal, o periquito, a araponga. Coma pêssego, banana...

– Essa dieta é bacana –disse a cobra impressionada. – Mas se eu sentir saudade de uma carninha macia como é carne de jia? Posso dar uma escapada?

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– Vacilou, não tá com nada –respondeu, nervosa, a Jia.

– Mostre força de vontade. Saudável morreu velho, guloso, com pouca idade!

– Tem razão, isso é verdade. Eu vou seguir seu conselho. Prazer é bom, mas engana. Comer carne é uma asneira. Quem diria, eu, a primeira cobra vegetariana!

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Informações paratextuais

A OBRA

Em Dr. Urubu e outras fábulas, a bicharada está solta na força da imaginação e da poesia de Ferreira Gullar, com as belas ilustrações de Cláudio Martins. Nestas fábulas poéticas, Gullar investe nas características de cada animal, em articulação com o imaginário de crianças espertas e curiosas como você! Os diálogos entre os personagens são muito engraçados, mas não deixam a crítica ficar de fora, pois revelam alguns traços da relação entre os seres humanos e os demais animais, que muitas vezes é desigual.

O GE NERO LITERA RIO

O gênero predominante em Dr. Urubu e outras fábulas é a fábula, escrita em forma de poema, o que dá a ela um tom ainda mais lírico. As fábulas são narrativas muito simbólicas e que têm o objetivo de divertir e instruir. A diversão fica no plano da magia, do encantamento, da imaginação, que o texto figurativo da fábula oportuniza, indo além da realidade que você vivencia. A instrução, por sua vez, recai sobre a moral da história, possibilitando algum tipo de reflexão e aprendizado por meio do pensamento e da ação de seus personagens, que, em sua maioria, são animais com características humanas.

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o autor

Ferreira Gullar nasceu em São Luís, Maranhão, em 1930. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1951, onde trabalhou em jornais e revistas. Em 1954, publicou um dos livros mais discutidos de sua geração, Alutacorporal. Por motivos políticos morou fora do país de 1971 a 1977. Vários de seus livros já receberam os mais importantes prêmios de literatura, inclusive seus poemas para crianças. Poema sujo (1976) é considerado um marco na literatura brasileira e foi traduzido para diversas línguas. Destacou-se também como crítico de arte e roteirista de televisão. Faleceu aos 86 anos, no Rio de Janeiro, em 2016. o ilustrador

Claudio Martins nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 1948. Formado em desenho industrial, também foi fotógrafo, ilustrador e escritor. Ilustrou mais de 300 obras infantis, além de ser autor de vários livros para crianças. Entre outros prêmios – nacionais e internacionais – conquistou como ilustrador duas vezes o Jabuti, em 1991 e 1992. Faleceu em 2018, aos 69 anos de idade.

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Este livro foi composto com tipografia Abadi.
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