www.fgks.org   »   [go: up one dir, main page]

A tartaruga e a boneca

Page 1

e a boneca A tartaruga

Márcia Leite

ilustrações Flávio Fargas

Márcia Leite

e a boneca A tartaruga

ilustrações Flávio Fargas

Copyright © Márcia Leite (texto)

Copyright © Flávio Fargas (ilustração)

Todos os direitos reservados pela Editora Contemporânea. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora .

EDITORA

Sonia Junqueira

EDIÇÃO DE ARTE

Norma Sofia – NS Produção Editorial Ltda.

PROJETO GRÁFICO

José Augusto Barros

REVISÃO

Marta Sampaio

INFORMAÇÕES PARATEXTUAIS

Paula Renata Melo Moreira

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Leite, Márcia

A tartaruga e a boneca [livro eletrônico] / Márcia Leite ; ilustrações Flávio Fargas. -- 1. ed. -- Belo Horizonte, MG : Contemporânea, 2021.

HTML

ISBN 978-65-89703-15-0

1. Literatura infantojuvenil I. Fargas, Flávio. II. Título. 22-137845

CDD-028.5

Índices para catálogo sistemático:

1. Literatura infantil 028.5

2. Literatura infantojuvenil 028.5

Eliete Marques da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9380

Anel Rodoviário Celso Mello de Azevedo 25.764 . galpão C . sala 1. Jardim Vitória . 31970-130 Belo Horizonte . MG

Para uma boneca de nome Mariana

Uma jovem tartaruga marinha nadava nas profundezas dos oceanos quando percebeu que alguma coisa mergulhava lentamente em direção ao fundo do mar, não muito perto, mas também não muito longe de onde ela estava.

A coisa parecia uma pessoa, mas era muito menor que um homem ou uma mulher. Olhando melhor, aquela coisa parecia uma criança, mas era muito menor que um menino ou uma menina...

Chegando mais perto, a tartaruga percebeu que se tratava de uma boneca – que, naturalmente, é muito menor que uma pessoa adulta ou uma criança, e muito, mas muito pequena se comparada ao tamanho de uma tartaruga marinha.

6
7
8

A boneca

parecia bastante assustada e agitava os bracinhos com velocidade e graça, como uma bailarina caindo e caindo em um poço sem fundo. Vendo aquela cena, a tartaruga nadou o mais depressa que uma grande e vagarosa habitante do mar consegue nadar. E por pouco, mas muito pouco mesmo, conseguiu alcançar a bonequinha antes que ela se machucasse nos rochedos de coral.

Assim que se viu sobre a carapaça da tartaruga, a boneca se agarrou como pôde em um pedacinho desgastado do casco. Não conhecia nada sobre o fundo do mar, e a única tartaruga que conhecera em toda a sua vida de boneca tinha sido uma tartaruga de pelúcia muito macia, que ficava em cima da cama da sua dona. Muito, mas muito diferente daquele animal gigantesco e de pele tão dura.

9

A tartaruga

marinha continuava a nadar em silêncio, mas a bonequinha, que estava muito aflita, não conseguiu ficar calada. Precisava desabafar, nem que fosse com um bicho tão estranho como aquele – que, olhando melhor, nem parecia ter orelhas para escutá-la.

Com esperança de que a tartaruga pudesse ajudá-la de alguma forma, a boneca resolveu contar toda a sua história, que até tinha sido bem feliz antes de ela cair no mar.

10
11
12

Durante um passeio de barco com sua menina, uma onda grande e molhada explodiu bem em cima do lugar onde as pessoas estavam sentadas. Foi um grande susto. Para se segurar, a menina precisou soltar a boneca, que escorregou e, levada pela mesma onda, acabou caindo no mar. O resto a tartaruga já sabia: a boneca foi afundando, afundando até ser salva por ela.

Já que bonecas não sabem nadar – e, mesmo que soubessem, ela não tinha ideia de por onde começar a procurar sua menina –, confessou à tartaruga que estava com medo de acabar morrendo de saudades de sua dona, isso se não acabasse na barriga de um peixe bem grande.

13

No meio de tanta água, a tartaruga não podia perceber o quanto a boneca chorava, mas mesmo assim ficou bastante enternecida com a história triste daquela miniatura de gente.

Muito discreta, como é da natureza das tartarugas, disse que talvez pudesse ajudar a boneca a procurar a menina – claro, se ela não se incomodasse com seu ritmo lento. A bonequinha logo aceitou a proposta, até porque precisava desesperadamente de alguém que tomasse conta dela naquele mundaréu de água.

Naquele mesmo dia começaram a procurar por alguma menina que morasse em alguma praia e que tivesse perdido alguma boneca durante algum passeio de barco.

14
15
“Não seria

nada fácil...” – pensava a tartaruga.

“Não era tão impossível...” – pensava a boneca.

Em cada praia que aportavam, a bonequinha saltava das costas da tartaruga e observava atentamente as crianças que brincavam na areia. A cada praia que avistavam, renascia a esperança de que sua dona estivesse ali, esperando por ela.

16
17
18

A tartaruga

e a boneca perderam a conta do número de praias que visitaram. Mais de cem? Mais de quinhentas? Mais de mil?

As duas nunca perdiam a esperança e atravessavam, incansavelmente, mares de todos os lugares, águas de todas as cores, ondas de todos os tamanhos. Quando uma começava a desanimar, pensando em desistir, a outra logo se esforçava para lhe dar forças, dizendo que o grande dia estava por chegar.

Tantas praias, tantos mares, tantas viagens. O tempo foi passando: dez, vinte, cinquenta, oitenta anos de busca.

19

Sim, porque as tartarugas são animais de longa, longa vida. Já uma boneca de plástico, como aquela, não foi feita para durar tanto tempo assim. Com o passar dos anos, a bonequinha foi perdendo a cor, a roupa, um dedo, um olho e até um pouco dos cabelos. Com o tempo, também foi ganhando a coloração verde dos musgos marinhos. Se não fosse feita de um material tão resistente, talvez nem existisse mais...

20
21
22

Aconteceu que um dia, ao pararem em uma praia de águas cristalinas, a boneca quase desfaleceu de alegria ao ver que uma menina parecida com sua dona se aproximava dela. (Bem... tinha vergonha de confessar até para si mesma, mas a verdade é que, depois de tantos anos, já quase não se lembrava do rosto da sua dona...) Então, a bonequinha acreditou do fundo do seu coração que aquela era a sua menina. E ficou esperando pelo abraço que receberia e pela festa que fariam com aquele reencontro.

23

Mas a menina

da praia passou por ela e nem virou o rosto em sua direção. Seguiu caminhando, conversando com uma bonequinha que trazia no colo. Uma boneca de cabelos penteados, roupas limpas, sapatinhos de verniz.

Naquele momento, a velha boneca do mar sentiu-se como um peixe morto na areia ou um toco de madeira trazido pela maré, uma coisa que ninguém queria.

24
25
26

Enquanto a menina se afastava, a bonequinha percebeu que sua busca era mesmo inútil. E impossível. Nunca mais brincaria de mamãe e filhinha com sua dona. Nunca mais.

Depois de tantos anos, talvez sua menina nem mais existisse. Ou, quem sabe, estivesse bem velhinha, brincando na praia com seus netos. E nem se lembrasse mais da boneca que um dia, muito tempo atrás, tinha caído do seu colo durante um passeio de barco e desaparecido nas águas do mar.

27
28

A boneca olhou com tristeza para a velha tartaruga, que a esperava à beira da praia. Viu que a tartaruga também olhava para ela, aguardando o seu retorno, como nas outras centenas de vezes.

Foi então que descobriu quem era sua verdadeira dona.

29

Sem olhar para trás, correu e subiu nas costas da amiga – que, com toda a sabedoria acumulada nos longos anos de vida, entendeu depressa o que o olhar da boneca queria dizer. A busca finalmente terminara. Já tinham encontrado uma à outra. Agora podiam partir.

30
31
32

Voltaram para o alto-mar e desapareceram. E nunca mais se separaram. Porque as tartarugas e as bonecas têm uma vida muito, muito longa.

Principalmente quando estão felizes.

33

Informações paratextuais

A tartaruga e a boneca conta a história de uma bonequinha que cai no mar, perdendo-se de sua dona, o que a deixa muito angustiada. Imagine! Perder-se de quem cuida de você! Logo, uma tartaruga a encontra e decide auxiliá-la na busca por sua dona, viajando pelos mares. Embora fosse uma tarefa bastante difícil identificar a dona entre tantas praias a visitar, a tartaruga apoia a boneca, que mantém sua esperança de um reencontro com a menina. O sentimento de perda, a solidão, o medo de não rever quem se ama são temas importantes nessa narrativa. O que acontece com a boneca? Será que localiza sua dona? E a tartaruga? O final da história nos mostra, entre outras coisas, a importância da amizade.

Vamos saber um pouco mais sobre a autora e o ilustrador?

A autora

Márcia Leite nasceu em 1960, em São Paulo. Além de escrever para crianças e adolescentes, Márcia também é tradutora de livros e há alguns anos abriu uma editora, a Pulo do Gato, com seu amigo Leonardo Chianca. Como escritora, já fez mais de 40 livros e ganhou vários prêmios por suas narrativas. Essa foi a primeira história infantil que Márcia publicou com personagens não humanos, mas você verá que eles têm sentimentos profundos como qualquer pessoa.

34

O ilustrador

Flávio Fargas é mineiro, de Belo Horizonte, onde mora com sua família. Quando tinha apenas sete anos, publicou no jornal sua primeira ilustração. Trabalhou com publicidade e design gráfico, mas, quando sua filha Sofia nasceu, decidiu se dedicar a livros infantis. De lá para cá, ilustrou livros de diversos autores muito legais, como este que agora você tem em mãos.

Vamos

entender um pouco mais sobre o gênero textual conto?

Conto é uma narrativa curta em que geralmente aparecem poucos personagens. O tempo e o espaço não costumam variar muito, embora alguns autores possam fazer adaptações nesses aspectos. Por serem mais rápidas, as histórias não desenvolvem tantos detalhes, sendo o clímax, seu ponto de maior tensão, resolvido em algumas páginas. Todavia, alguns contos preferem deixar o final em aberto.

35
Esta obra foi composta com a tipografia Mercurius CT.
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.