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O tamanho da gente

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Para Mônica, manhosa e sedutora dona dos meus dias. Para dona Neuzinha, bênção que Deus me deu para nascer.

Para meu pai, Eduardo Cisalpino, e minha amiga Magda Soares, por insistirem com este indisciplinado escritor.

Para Solange e Newton Prado, pelo apoio inestimável.

Ilustrações Manoel Veiga o tamanh o da gente

Copyright © Murilo Cisalpino (texto)

Copyright © Manoel Veiga (Ilustrações)

Todos os direitos reservados pela Editora Auteduc. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora.

Editora responsável

Rejane Dias

Edição geral

Sonia Junqueira

Edição de arte e projeto gráfico

Diogo Droschi

Revisão

Cecília Martins

Informações paratextuais

Maria do Rosário Alves Pereira

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Cisalpino, Murilo

O tamanho da gente [livro eletrônico] / Murilo Cisalpino ; ilustrações Manoel Veiga. -- 1. ed. -- Belo Horizonte, MG : Auteduc, 2021.

HTML

ISBN 978-65-84578-01-2

1. Literatura infantojuvenil I. Veiga, Manoel. II. Título.

22-137865

Índices para catálogo sistemático:

1. Literatura infantil 028.5

CDD-028.5

2. Literatura infantojuvenil 028.5

Eliete Marques da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9380

Rua Carlos Turner, 420, sala 1

Silveira . 31140-520

Belo Horizonte . MG

Andei pensando muito e começo a desconfiar que a coisa que eu mais tenho feito nesta vida é... crescer!

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Hoje eu tenho este tamanho que eu tenho, mas é um tamanho que ainda é pequeno, porque sei que tem um monte de coisas me esperando para quando eu crescer de verdade: são coisas que a gente só pode fazer quando for grande.

Por exemplo, quando a gente pergunta assim:

– Pai, eu posso “sei lá o quê”?

E a resposta é:

– Só quando você crescer, rapazinho...

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E também:

– Mãe, quando é que eu vou poder “nãnãnã”?

– Quando você estiver maiorzinho, querido.

Ah, mas eu sei que tenho crescido. Não faltam tias e avós e todo tipo de amigos da família pra me dizer:

– Nossa, como você cresceu!

Às vezes, eles comentam:

– Vai ficar maior que o pai.

– Vai te botar no chinelo, Alberto! (Alberto é o nome do meu pai.)

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É, realmente, estou crescendo. Vejo fotografias de um tempo que nem lembro, de tão pequeno que eu era.

Um tempo em que nem andar eu sabia.

Um tempo em que eu era um euzinho sumido no colo da minha mãe, todo enrugado e enrolado em paninhos.

Um tempo em que eu passava, de pé, por baixo da mesa da sala.

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Vejo fotografias de um tempo em que eu nem apareço na foto, mas dizem que sou eu quem está lá, dentro da barriga da mamãe – e meu pai ao lado, com uma cara engraçada, um sorriso amarelo, tadinho, como a dizer: “Como será que vai ser esse pestinha, meu Deus?!”.

Meu pai parece sonhar: “Será que vai ter os olhos puxados, como os da mãe? Será que vai ter esta minha cara lavada? Será que vai ser goleiro, artilheiro... engenheiro, barbeiro, festeiro, bombeiro, cheio do dinheiro... Serei pra ele um bom companheiro?”.

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Diz o meu pai que eu já fui tão pequeno, mas tão pequeno, que nem dava pra ver. Só pelo mitrospóquio... Não, é mifoslóquio.... ou... Mistroscópio? Bom, foi no tempo do óvulo e do tal de “seiquelaoide”: um da minha mãe, outro do meu pai. Eles se encontraram e, quando se encontraram, eu comecei a ser eu. Uma titiquinha de eu que começou a crescer, todo dia, desde então.

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Pois, como já disse , eu tenho crescido mesmo. Além das fotografias, tenho muitas marquinhas no batente da porta do meu quarto para provar. E, é claro, de novo, as minhas tias sempre a dizer “Nossa-comovocê-cresceu!” – nessa hora, atrapalham meu cabelo e apertam minhas bochechas... Que coisa!

Mas, dizem, a gente para de crescer, um dia. Dizem que um dia a gente chega ao tamanho que é aquele tamanho que a gente vai ter na vida. E pronto, acabou-se. Não cresce mais.

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Será?! Pode até ser... Só tem uma coisinha: eu acho que a gente pode até parar de crescer por fora, mas a gente continua crescendo por dentro. Pra dizer a verdade, eu acho que por dentro é onde a gente mais cresce.

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Dentro da gente, a gente cresce em lugares, quando viaja; cresce em olhares, em sorrisos, em tristezas e em risos das pessoas que passam pela gente. Dentro da gente, colecionamos proezas, como a vez que eu pulei o muro do vizinho ou como a primeira vez que atravessei a rua sozinho.

É, isso mesmo. Dentro da gente, a gente cresce em lembranças, cresce em esperança, em vontade, em desejo de realizar sempre alguma coisa a mais.

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Dentro da gente é tão grande que lá começam a morar pessoas: a Rita e sua fita xadrez; o Joca e sua caixa de papelão, uma máquina poderosa que vai levar ele até as estrelas; o Crispim, jardineiro que cultiva jasmins; o Nelson da sorveteria e seu bigode que dá voltinha. O Daniel e seu jeito amigo, a Sara e seus olhos guaranis... e mais o Ari e todos os amigos da escola.

Dentro da gente pode morar o olhar de alguém que a gente nunca vai saber quem é, mas que passou por nós de repente, na rua, e nos olhou com um jeito meigo, de uma meiguice que foi embora com ela.

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Dentro da gente pode morar uma voz de mulher cantando uma música desconhecida, numa manhã chuvosa de domingo. Pode morar também o estranho sapato de um menino que um dia a gente viu na feira da esquina.

Pode morar um cheiro de terra, um gosto de fruta, uma brincadeira nas poças de chuva. Pode morar todo um arco-íris que a gente viu, um dia, riscando o céu como lápis de cera.

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Pode morar o barulho das asas dos pombos que vivem na praça; pode morar toda a praça. Pode morar também uma dor de dente ou a dor de um tombo de bicicleta. Pode morar a tristeza de não ter ganhado um presente desejado ou a tristeza de se sentir, às vezes, sozinho no meio de muita gente. Pode morar a alegria explosiva de um gol do Brasil na Copa do Mundo e a gente feliz, no meio de muita gente, abraçando e sorrindo pra quem a gente nunca viu ou verá de novo.

Dentro da gente podem morar montanhas e rios, mares e florestas. Pode morar também um tatuzinho-bola que a gente comeu no jardim, só por curiosidade, coitado!

Dentro da gente podem morar milhões de histórias, como as que moram no meu avô, que já anda meio encurvado pelo peso de todas elas, eu acho.

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Pois o que eu queria dizer, enfim, é que eu tenho crescido, é verdade, mas talvez não tenha de parar de crescer quando o meu tamanho chegar. Porque não há tamanho maior que o tamanho da gente, o tamanho que a gente quer ter... lá dentro.

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Informações paratextuais

O tamanho da gente conta a história de um garoto inquieto e curioso que percebe que já não é mais tão pequenininho como antes. Ele vê fotos de quando estava na barriga de sua mãe e escuta as tias dizerem: “Nossa, como você cresceu!”. Então, começa a pensar: mas será que as pessoas só crescem do lado de fora? Será mesmo que, um dia, paramos de crescer? Com um olhar sensível sobre o mundo que o cerca, o menino desconfia de que, dentro de cada um de nós, não paramos de crescer... NUNCA!

O gênero literário

Conto é uma narrativa curta, com poucas personagens e poucas ações. Há um narrador, que conta e organiza a história. O tempo pode ser cronológico – horas, dias, meses, anos – ou psicológico – dentro da personagem, isto é, lembranças, emoções e sentimentos marcam esse tempo. Em O tamanho da gente, o menino, narrador em primeira pessoa, organiza suas reflexões a partir de experiências do cotidiano com familiares, amigos ou mesmo em meio a desconhecidos.

O autor

Sou natural de Belo Horizonte e moro atualmente em Timóteo, Minas Gerais. Professor de História há mais de 20 anos e escritor, vivo de História e de histórias. Gosto também de cozinhar, talento que construí pelo prazer de ver o amor com que minha mãe cozinha. Gosto também de conversar com minha esposa, de brincar com meus cachorros e de cultivar plantinhas na horta de casa.

Escrever para crianças é uma das maiores responsabilidades que tenho na vida e, ao mesmo tempo, uma alegria transformadora: é quando tento dizer, em histórias, o que penso do mundo e das pessoas, da vida e do viver. Quando escrevo, estou aprendendo comigo mesmo, e quero contar um pouco do que aprendi para as crianças.

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Este O tamanho da gente nasceu de uma reflexão sobre o que é verdadeiramente crescer e sobre o que nos torna universos únicos. Crescer é curtir e saborear cada momento da vida. Crescer é para sempre, é interminável e imenso.

O ilustrador

Nasci em Recife em 1966. Formei-me em Engenharia Eletrônica pela Universidade Federal de Pernambuco e, logo em seguida, trabalhei em fábrica. Alguns anos depois, abandonei essa carreira e passei a me dedicar às artes plásticas, minha paixão. Fiz das artes a minha vida e tenho participado regularmente de exposições no Brasil e no exterior.

Nos últimos anos, tenho me dedicado basicamente à pintura e à fotografia, e, talvez por isso, a técnica que desenvolvi para ilustrar use a foto como ponto de partida para o desenho, mas use também a forma de pensar de um pintor – embora a ferramenta principal seja o computador, pois tudo é feito em um programa chamado Photoshop.

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Esta obra foi composta com a tipografia Sassoon Primary, fonte criada pela designer Rosemary Sassoon, com base em pesquisas, para crianças em processo de aprendizagem de leitura e escrita.

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