ISSN: 1980-900X (online)
MÉTODO DE RESISTIVIDADE CAPACITIVA PARA DETECÇÃO DE
CONTAMINAÇÃO ORGÂNICA E INORGÂNICA EM ÁREA DE MANEJO
DE RESÍDUOS DOMILICIARES
CAPACITIVE RESISTIVITY METHOD FOR DETECTION OF ORGANIC AND INORGANIC
CONTAMINATION IN A DOMESTIC WASTE MANAGEMENT AREA
Wagner França AQUINO, Paulo Sérgio TONELLO
Universidade Estadual Paulista - UNESP, Campus Sorocaba. Avenida Três de Março, 511 - Alto da Boa Vista, Sorocaba – SP.
E-mails: wagnergpr@gmail.com; paulo.tonello@unesp.br
Introdução
Área de estudo
Materiais e métodos
Método de Resistividade Capacitiva
Aquisição e processamento de dados
Apresentação e discussão dos resultados
Considerações finais
Referências
RESUMO - Neste trabalho, são apresentados os aspectos teóricos e os resultados obtidos pela aplicação do método de Resistividade
Capacitiva, através da técnica de imageamento elétrico, em área comprovadamente contaminada. As variações de resistividades
elétricas medidas por essa metodologia geofísica inovativa possibilitaram, através da detecção de anomalias de altos e baixos valores,
discriminar a presença de compostos orgânicos e inorgânicos em subsuperfície, decorrente da infiltração no solo de combustível e
chorume, respectivamente. Os posicionamentos das anomalias definidos neste levantamento geofísico puderam ser correlacionados às
fontes potenciais de contaminação existentes na área e que são representadas pela unidade de abastecimento e lubrificação e os locais
de manejo e transbordo de resíduos domiciliares. Além dessas anomalias ambientais, nas seções geofísicas obtidas também são
identificadas feições associadas aos raios de influência dos poços de bombeamento instalados para a remediação do local, apontando
suas eficiências ou limitações para a remoção da água subterrânea contaminada. Portanto, os resultados obtidos e as interpretações aqui
apresentadas confirmam a potencialidade do método de Resistividade Capacitiva neste tipo de aplicação e sua utilidade para o
gerenciamento ambiental do caso.
Palavras-chave: Método de Resistividade Capacitiva. Resistividades elétricas. Compostos orgânicos e inorgânicos.
ABSTRACT - In this work, the theoretical aspects and the results obtained by the application of the Capacitive Resistivity method,
through the electrical imaging technique, in a proven contaminated area are presented. The variations in electrical resistivities measured
by this innovative geophysical methodology made it possible, through the detection of anomalies of high and low values, to discriminate
the presence of organic and inorganic compounds in the subsurface, due to the infiltration in the soil of fuel and leachate, respectively.
The positioning of the anomalies defined in this geophysical survey is correlated to the potential sources of contamination existing in
the area and which are represented by the supply and lubrication unit and the places for handling and transferring domestic waste. In
addition to these environmental anomalies, in the images obtained, features associated with the zones of influence of the pumping wells
installed for remediation of the site are also identified, pointing out their efficiencies or limitations for the removal of contaminated
groundwater. Therefore, the results obtained confirm the potential of the Capacitive Resistivity method in this type of application and
its usefulness for the environmental management of the case.
Keywords: Capacitive Resistivity Method. Electrical resistivities. Organic and inorganic compounds.
INTRODUÇÃO
Ao serem citados os impactos causados à baixas resistividades elétricas, como constatado
qualidade dos solos e água subterrânea decorrente por Bortolin & Malagutti Filho (2012).
No estudo aqui apresentado, a eventual contade manejo incorreto ou descartes irregulares de
resíduos domésticos, frequentemente há associação minação subterrânea por infiltração de chorume
direta com a contaminação em subsuperfície das atividades de transbordo de resíduos domiprovocada pela infiltração e lixiviação de chorume, ciliares para as unidades de armazenamento
resultado da decomposição dos materiais orgâ- provisório (fontes potenciais) não havia sido
nicos, mas que também podem conter altas considerada para confirmação e muito menos
concentrações de sais e ácidos orgânicos e monitorada, em detrimento da constatação
inorgânicos, além de metais como chumbo, zinco, comprovada da ocorrência de vazamentos de
cádmio, arsênio, cromo, manganês, dentre outros hidrocarbonetos combustíveis a partir dos locais
(Muñoz, 2002), o que implica na possibilidade de de abastecimento e lubrificação de veículos, que
sua detecção e mapeamento por métodos demandaram um diagnóstico mais direcionado
geofísicos em função da geração de anomalias de do passivo ambiental existente e atividades de
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monitoramento apenas para os compostos orgânicos, o que, consequentemente, aponta que as
ações para diagnóstico ambiental do caso em
questão deveriam ter sido mais abrangentes e
melhor gerenciadas.
Para maior compreensão dos resultados aqui
registrados dos compostos orgânicos presentes, é
importante descrever o comportamento dos combustíveis após infiltração em subsuperfície e que
condiciona a forma como se encontram na zona
não saturada e saturada, e, de acordo com Fetter
(2001), por serem compostos imiscíveis e menos
densos que a água subterrânea (light non aqueous
phase liquid – LNAPL) estão associadas à fase
livre, que é o produto sobrenadante em estado
puro na água subterrânea, à fase adsorvida, que
pode estar presente na matéria orgânica na zona
saturada e não saturada, ou à fase residual, retida
nos poros dos solos sob a forma de glóbulos
desconectados, e, por possuírem maiores concentrações que as fase dissolvidas e gasosas,
apresentam maiores possibilidades de detecção
por métodos geofísicos (Moreira et al., 2019).
É imprescindível mencionar que, nesta pesquisa,
é empregada uma metodologia geofísica inovativa para medição das resistividades elétricas do
terreno, aqui representada pela aplicação do
método de Resistividade Capacitiva (RC), cujos
princípios se fundamentam, inicialmente, na
Eletrorresistividade (galvânica), porém, segundo
Kuras (2002), possuidor de características distintas e que o individualiza desta, como será visto
mais adiante.
Assim, de maneira geral, o levantamento
geofísico executado na área em estudo teve por
objetivo o mapeamento dos principais focos
existentes de contaminação orgânica e inorgânica
com intuito de se ampliar a rede de poços de
monitoramento e para definição de mais pontos
de bombeamento, além dos poços já instalados
de extração de água subterrânea contaminada
para remediação.
Por outro lado, a importância da metodologia
de Resistividade Capacitiva aqui reportada está
no fato de ser utilizada para investigar a presença
simultânea de contaminantes com características
físico-químicas diferentes, com formas e ocorrências de contaminação distintas, e na possibilidade de segregação de suas identificações através
da detecção de anomalias de baixas resistividades elétricas para o chorume, bem como de
anomalias de maiores resistividades para os
compostos combustíveis, devendo, também, ser
destacada a condição do local, totalmente
impermeabilizado por concreto armado e asfalto,
o que dificultaria sobremaneira o emprego
convencional do método de Eletrorresistividade
por meio de cravação de eletrodos.
Figura - Localização da área em mapa geológico (adaptado de Gurgueira, 2013).
196
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ÁREA DE ESTUDO
A área do estudo em questão se situa na Região realizado ao longo do tempo, sendo disponíveis
Metropolitana de São Paulo (RMSP), mais especi- apenas os dados de presença dos hidrocarbonetos
ficamente em várzea de rio (Figura 1), onde a na água subterrânea nos diagnósticos realizados.
Em relação às porções internas e externas da
litologia presente, conforme sondagens realizadas
no local, se compõe de sedimentos quaternários, área avaliada, estas apresentam grande variação
predominantemente, argilosos e siltosos, como do nível d´água, com sentido de fluxo subterrâneo para norte de acordo às medições efetuadas
também arenosos.
Como já descrito, os trabalhos de investigação nos poços de monitoramento instalados no local,
confirmatória e monitoramento nos poços instala- onde se evidenciaram também indícios de contados na área investigada, decorrente da constatação minação orgânica na água subterrânea, e que
de vazamentos de combustíveis antes dos levanta- estão compiladas na tabela 1. Nesta época, análises
mentos geofísicos aqui desenvolvidos, se voltaram químicas realizadas em amostras coletadas nesses
exclusivamente para o acompanhamento da propa- poços de monitoramento confirmaram a presença
gação e remediação da pluma de hidrocarbonetos. de pluma de contaminantes orgânicos, tanto em
Neste contexto, portanto, observa-se que a conta- fase livre (fase sobrenadante), como em fase
minação inorgânica, provavelmente existente em dissolvida, decorrente dos possíveis vazamentos
face das atividades de transbordo de resíduos para e/ou infiltrações de óleo e de combustível dos
contêineres de armazenamento em superfície e setores de abastecimento e de lubrificação de
infiltração de chorume no pavimento local (fontes caminhões existentes no local, cujas abranpotenciais), não foi contemplada no monitoramento gências são apresentadas a seguir na figura 2.
Poço de
monitoramento
PM-01
PM-02
PM-03
PM-04
PM-05
PM-06
PM-08
PM-09
PM-10
PM-11
PM-12
PM-13
PM-14
PM-15
PM-16
PM-17
PM-18
PM-19
PM-20
PM-21
Tabela 1 - Medidas nos poços de monitoramento - março de 2018.
Profundidade
Cota topográfica
Nível d´água
Carga hidráulica
do poço (m)
relativa (m)
medido (m)
(m)
11,50
100,23
8,45
91,78
12,50
101,27
9,45
91,82
12,05
100,80
9,12
91,68
10,51
100,20
9,24
90,96
12,00
99,75
9,38
90,37
11,90
99,91
9,54
90,37
12,34
100,71
9,72
90,99
12,70
99,70
9,64
90,06
12,20
100,05
9,32
90,73
3,11
90,52
0,1
90,42
3,60
90,68
1,04
89,64
3,50
91,30
2,08
89,22
3,01
89,80
0,02
89,78
2,99
88,10
0,25
87,85
4,01
91,80
3,34
88,46
3,40
88,20
0,00
88,20
10,50
98,30
8,31
89,99
10,76
98,10
7,93
90,17
9,97
102,50
7,05
95,45
11,75
10,33
-
Espessura de
fase livre (m)
0,03
oleosidade
oleosidade
0,03
oleosidade
oleosidade
0,47
MATERIAIS E MÉTODOS
De acordo com Loke (1999), os métodos valores para alguns materiais geológicos apregeofísicos que trabalham com a resistividade sentados na tabela 2, refletindo, assim, os
elétrica dos materiais geológicos (ou sua inversa diferentes graus de saturação existentes em função
condutividade elétrica) se fundamentam no fato de suas porosidades e/ou permeabilidades. Nesta
que solos e rochas possuem poros e/ou fissuras tabela, também constam algumas substâncias
em proporção maior ou menor, que podem estar inorgânicas e orgânicas, potencialmente contaocupados total ou parcialmente por eletrólitos, minantes quando presentes em altas concendo que resulta se comportarem como condutores trações em subsuperfície, e que apresentam
iônicos com resistividade elétrica muito variável baixos e altos valores de resistividades elétricas,
conforme o caso, como pode ser observado nos respectivamente.
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Figura 2 - Plumas orgânicas mapeadas e localização das linhas geofísicas.
Portanto, através do emprego desses métodos
é possível se obter os valores de resistividade
elétrica das estruturas geológicas de subsuperfície (em unidades de ohm.m), bem como se
estimar a litologia, a profundidade e a espessura
das camadas, além de definir as conformações
dos corpos geológicos ou das feições ambientais
presentes.
Segundo Braga (2006), a aplicação do método
de Eletrorresistividade se baseia na injeção de
corrente elétrica no solo, nas variações medidas
de diferença de potencial (ddp) e nas resistividades elétricas calculadas neste processo, com
intuito de se estimar a tipologia dos materiais
presentes em subsuperfície. Assim, quando uma
corrente elétrica é emitida no terreno por meio de
um par de eletrodos, os padrões de fluxo subsuperficial de corrente refletem a resistividade dos
materiais constituintes em profundidade e podem
ser mapeados na superfície através de outro par
de eletrodos que mede as variações de potencial,
cujas oscilações representam a energia que deve
ser despendida para a passagem de um fluxo de
corrente através do meio geológico, sendo que
quanto maior for a separação entre os eletrodos
de corrente, níveis mais profundos em subsuperfície podem ser alcançados.
Desta maneira, quando a corrente elétrica
atravessa um corpo de baixa resistividade elétrica
ou de alta resistividade, o potencial elétrico
198
diminui ou aumenta nesta ordem, sendo que o
comportamento dos menores ou maiores valores
anômalos de resistividade elétrica permitem em
estudos ambientais, por exemplo, a detecção da
presença de contaminação subterrânea inorgânica
ou orgânica, respectivamente. Neste contexto,
diversos são os artigos de utilização do método
de Eletrorresistividade na detecção de contaminação subterrânea por diferentes fontes, podendo
ser citados os trabalhos de Elis & Zuquete
(2002), Gallas et al. (2005), Braga & Cardinali
(2005) e Moreira et al. (2019).
Método de Resistividade Capacitiva
Por ser mais recente, a bibliografia nacional
não traz muitos exemplos de utilização do
método de Resistividade Capacitiva, sendo aqui
apontadas a dissertação de Cavenaghi (2017),
que aplicou esta metodologia em sítio controlado
para a detecção de alvos subterrâneos conhecidos, e a tese de doutoramento de Silva (2018),
que, em conjunto com outros métodos geofísicos,
a utilizou para locação de pontos de amostragens
de solo na investigação confirmatória de contaminação por necrochorume em cemitério, além
do levantamento de Carmona et al. (2018), que a
empregou para avaliação da presença da
contaminação do solo por creosoto.
Segundo Kuras (2002), o método de Resistividade Capacitiva é um método geofísico utilizado
para caracterização não invasiva de subsuperfície
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rasa por imageamento elétrico e é capaz de
ampliar o escopo dos métodos de resistividade
elétrica para os ambientes urbanos e outros locais
onde o contato galvânico não pode ser efetuado
ou onde altas impedâncias resultam em má
qualidade dos obtidos, e é fundamentado no
conceito de acoplamento capacitivo entre o
sensor e o terreno, sendo uma generalização do
arranjo dipolo-dipolo de corrente contínua para
medições de resistividade de subsuperfície,
atuando numa faixa de frequência do método
VLF, entre 10 a 18kHz.
Tabela 2 - Resistividades e condutividades elétricas de alguns materiais geológicos e de compostos potencialmente
contaminantes (adaptado de Loke, 1999 e Borner et al., 1993).
Resistividade Elétrica
Condutividade Elétrica
Material
(ohm.m)
(siemens/m)
Solos e águas
Argila (úmida e seca)
1 – 100
0,01 - 1
Areia (úmida e seca)
1 - 104
10-4 - 1
Sedimentos de aluvião
10 - 800
1,25 x10-3 – 0,1
Água subterrânea (doce)
10 - 100
0,01 – 0,1
Água do mar
0,2
5,0
Metais e Compostos Inorgânicos
Ferro
9,074x10-8
1,102x107
−7
Chumbo
2,2×10
4,54x106
−8
Alumínio
2,92×10
3,42x107
−8
Cobre
1,72×10
5,81x107
−8
Níquel
6,99×10
1,43x107
-7
Cromo
1,27x10
7,87x106
-3
Manganês
1,6x10
625
Arsênio
3,0x10-7
3,33x106
Cloreto de Potássio (0,01 M)
0,708
1,413
Cloreto de Sódio (0,01 M)
0,843
1,185
Ácido Acético (0,01 M)
6,13
0,163
Compostos Orgânicos
Xileno
6,998x1016
1,429x10-17
3
Hexano
2,0x10
5,0x10-4
3
Benzeno
9,09x10
1,1x10-4
3
Metanol
2,63x10
3,8x10-4
7
Diesel
4,0x10
2,5x10-8
7
Óleo cru
1,76x10
5,6x10-8
5
Querosene
5,88x10
1,7x10-6
6
Etanol
1,0x10
1,0x10-5
Na metodologia de Resistividade Capacitiva
(RC), de acordo com esse autor, a injeção de
corrente elétrica no solo se dá através de um
transmissor de corrente elétrica alternada (I) em
contato com o terreno, formando, portanto, um
sistema capacitivo, e um ou dois receptores de
tensão elétrica (∆V), como visto na figura 3,
sendo que a o valor obtido de resistividade
elétrica aparente (ρa), expresso em unidades de
ohm.m, é calculado pela Lei de Ohm, através da
fórmula:
e onde KLA é o fator geométrico de distância
entre os dois dipolos capacitivos de corrente (A e
B) e os dois de potencial (M e N) posicionados
no mesmo alinhamento.
Como indicado anteriormente, a técnica de
Imageamento de Resistividade Capacitiva (IRC)
segue os pressupostos físicos e geométricos do
caminhamento elétrico com arranjo dipolo-dipolo
do método de Eletrorresistividade galvânica de
corrente contínua, onde a profundidade de
investigação cresce com a separação X entre os
pares de eletrodos de corrente e de potencial
(Figura 3).
Porém, em função de diferentes concepções e
disposições, o fator geométrico KLA do arranjo
dipolo-dipolo em linha da Resistividade Capacitiva é calculado de forma distinta do arranjo de
corrente contínua, utilizando-se a seguinte
equação (Kuras, 2002):
,
onde X é a separação entre os dipolos capaci-
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199
Figura 3 - Correntes e potenciais elétricos nos dipolos capacitivos alinhados.
tivos transmissor e o receptor, L é o comprimento
2𝑋𝑋
desses e o parâmetro 𝑏𝑏 = .
𝐿𝐿
Neste trabalho, foi empregado o sistema
Ohmmapper TR1 (Figura 4), fabricado pela
Geometrics Inc. (EUA), derivado dos equipamen-
tos VCHEP e Ruscan idealizados e construídos
por Timofeev et al. (1994), e que opera com
cabos dipolares transmissores e receptores como
eletrodos capacitivos (“antenas”), numa distribuição alinhada à direção do perfil a ser executado,
constituindo, portanto, um arranjo dipolo-dipolo.
Figura 4 - Sistema capacitivo Ohmmapper TR1 sendo utilizado em campo.
Quanto à emissão do sinal para a subsuperfície,
o equipamento Ohmmapper provoca a passagem
de corrente alternada através de um cabo coaxial
que age como uma placa capacitora enquanto a
superfície do solo age como outra placa capacitora,
sendo que este acoplamento capacitivo de caboterra é caracterizado por uma capacitância elétrica
variável, dependendo das condições de resistência do terreno. Neste processo, é transmitida
uma corrente alternada (CA), numa frequência de
sinal igual a 16,5 kHz, e que passará pelo cabo
capacitor transmissor para o solo (Figura 5),
carregando-o eletricamente por indução e não
por contato, com a tensão medida nos receptores
graças a um algoritmo que permite ao sistema
sincronizar em torno da frequência do sinal
transmitido (Yamashita et al., 2004).
Após a injeção de corrente de forma capaci200
tiva, o nível de tensão recebido (potencial elétrico)
é convertido num sinal digital no receptor, sendo
transferido para o registrador de dados para
armazenamento e conversão interna em valores
de resistividade elétrica.
É possível se parametrizar a aquisição de
dados pela frequência de amostragem através da
alteração do tempo de disparo do sinal, possibilitando a execução de medições contínuas, ou com
intervalos menores que 30 centímetros conforme
a necessidade, bem como permitir a variação das
distâncias entre os dipolos transmissor e receptor
para modificar a profundidade de investigação,
possibilitando uma resolução vertical da ordem
de 1,0 m ou menos dependendo desta separação
(Geometrics, 2001).
Conforme o fabricante, a profundidade máxima
que o Ohmmapper pode detectar mudanças de
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Figura 5 - Diagrama de eletrodo capacitivo (adaptado de Yamashita et al., 2004).
resistividade elétrica pode variar de 5,0 a 15,0
metros e depende da separação máxima entre o
transmissor e o receptor, sendo que este alcance
também depende da capacidade em que o sinal
do transmissor pode ser detectado e decodificado
com segurança pelo receptor. Além disso, segundo
Kuras (2002), a resistividade elétrica de subsuperfície também influencia na profundidade de investigação do método Resistividade Capacitiva, sendo
que para uma determinada corrente elétrica, se a
resistência do terreno for alta (por exemplo solo
arenoso), a tensão gerada também é alta,
facilitando as medições, por outro lado, se a
resistência do meio for baixa (por exemplo solo
argiloso), a tensão resultante será baixa, dificultando a propagação da corrente em níveis mais
profundos.
Aquisição e processamento de dados
Neste estudo, foram executadas linhas longitudinais e transversais, com perfis interceptando
as plumas de contaminação mapeadas e se estendendo aos locais não contemplados pelos poços
de monitoramento ou de bombeamento, além da
Linha L04 posicionada fora da área impactada
representando a geologia local isenta de contaminação (background), como pode ser observado
na Figura 2.
Na aquisição de dados de resistividade elétrica
com o equipamento Ohmmapper TR1 de único
receptor (Figura 4), é requerido pelo menos três
passagens sucessivas na mesma linha com
diferentes distâncias entre o transmissor e o
receptor para se obter uma seção completa de
resistividade elétrica com amostragens em
profundidades distintas. Desta maneira, no
levantamento aqui apresentado, foram utilizadas
as separações entre as extremidades do cabo
capacitivo transmissor e receptor de 1,0, 5,0 e
10,0m, dadas pelos comprimentos de “cordas não
condutoras”, e que resultam num espaçamento
total entre os módulos centrais de 6,0, 10,0 e
15,0m (Figura 6), sendo efetuadas as medidas por
amostragem em tempo a cada 1,0 s, gerando
dados de grande resolução lateral.
Figura 6 - Diagrama de separações adotadas do transmissor e receptor.
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201
Após a aquisição e registro no sistema
Ohmmapper, os dados dos perfis elétricos
individuais (1D) de diferentes separações de
transmissor e receptor de uma mesma linha de
levantamento foram agrupados e convertidos em
resistividade aparente por meio do programa
Magmap2000 da Geometrics Inc., sendo
transformados em formatos compatíveis para
que, numa etapa posterior de processamento,
fossem geradas por interpolação as pseudoseções de resistividade elétrica (2D) através de
programa de inversão e modelamento geofísico
(Figura 7), neste caso sendo utilizado o
Res2Dinv, versão 3.54 (2004).
Figura 7 - Conversão de perfis de resistividade elétrica em seção interpolada.
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A seguir, são apresentadas as pseudo-seções descontínuos e com contorno bem irregulares,
de resistividade elétrica elaboradas a partir dos sendo subdivididos, de acordo com a interImageamentos de Resistividade Capacitiva (IRC) pretação aqui efetuada, como sendo:
executados e seus modelos geofísicos obtidos na • Zonas de baixas resistividades elétricas:
inversão de dados pelo programa Res2Dinv, anomalias relacionadas às presenças prováveis
constando a interpretação da litologia local, cuja compostos inorgânicos em subsuperfície, assopredominância é de presença de sedimentos ciadas ao chorume infiltrado.
aluvionares constituídos por argila e silte, além • Zonas de maiores resistividades elétricas:
das indicações dos pontos principais de baixas e anomalias correspondentes às presenças prováveis
altas resistividades elétricas associados aos de compostos orgânicos em subsuperfície, assoeventuais contaminantes de naturezas distintas.
ciados à contaminação por combustível.
De modo geral, as pseudo-seções obtidas no • Argila (sedimento aluvionar);
levantamento de Resistividade Capacitiva apre- • Silte (sedimento aluvionar);
sentaram grande perturbação do sinal elétrico e • Areia (sedimento aluvionar);
variações significativas nos valores de resistividade • Estruturas construídas contendo ou não ferraprovocadas pelos contaminantes em subsuperfície gens (galerias, pavimentos, etc).
quando comparadas à seção da linha L04 que
Portanto, do ponto de vista ambiental da
mostra um padrão estratificado (horizontalizado) e aplicação do método de Resistividade Capacitiva
mais uniforme das resistividades elétricas, neste ensaio, os menores e maiores valores
representativo, portanto, do comportamento dos anômalos de resistividade elétrica observados
estratos geológicos naturais (sedimentos aluvio- devem estar associados, respectivamente, à
nares) isentos dos efeitos da contaminação subter- infiltração por derramamento de chorume no
rânea (background), neste caso, representados pavimento e aos focos de contaminação por
pelas feições interpretadas como sendo argila, vazamentos subterrâneos de combustíveis, tendo
site e areia.
como fontes muito prováveis os locais de
Assim, foram observadas nas pseudo-seções abastecimento, troca de óleo e lavagem
anteriores a existência de corpos geológicos existentes na área (Figura 2).
202
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Quanto à correspondência da presença de
chorume com as anomalias de baixos valores de
resistividade elétrica, como constatado pela
aplicação da Eletrorresistividade convencional
(galvânica) por Moreira & Braga (2009), deve se
atentar ao fato que, de forma geral, esta
substância originada por degradação dos resíduos
domiciliares pode apresentar elevadas concentrações de sólidos em suspensão, compostos
orgânicos, amônia e compostos inorgânicos, sendo
citados aqui o ácido acético e os metais pesados,
sendo que as baixas resistividades destes compostos já haviam sido expressas na tabela 2.
Em referência aos maiores valores de
resistividade elétrica e que podem estar correlacionados aos focos de contaminação por combustíveis, o que também é observado no artigo de
Pellerin & Groom (2003) utilizando a Resistividade Capacitiva, salienta-se aqui que o diesel e
alguns de seus compostos (naftaleno, antraceno,
pireno e criseno) apresentam valores muito
elevados, da ordem de mais de 107 ohm.m, como
mostra a tabela 2, gerando, portanto, anomalias
de alta resistividade quando presentes no meio
geológico.
Desta forma, a partir da avaliação das seções
obtidas, foi possível estabelecer as faixas de
resistividade elétrica (em ohm.m) representativas
das feições ambientais e geológicas interpretadas
nos modelos geofísicos e que são apresentadas a
seguir na tabela 3.
Referente às anomalias de menores e maiores
valores, associadas aos eventuais contaminantes
inorgânicos e orgânicos, nesta ordem, estas se
apresentam nos modelos geofísicos de forma
irregular e descontínua e em níveis de profundidades diferentes, o que pode corresponder às
fontes e processos de infiltração e contaminação
distintos, com presença de eventuais focos na
zona não saturada ou tendo atingindo a zona
saturada.
Os resultados indicam a presença de várias
anomalias rasas de maiores resistividades elétricas que podem ser correlacionadas aos vazamentos de instalações próximos à superfície, por
exemplo tanques de armazenamento, linhas de
abastecimento, caixas subterrâneas, sendo,
portanto, as fontes primárias de contaminação.
Além dessas anomalias mais superficiais,
verificam-se zonas anômalas mais profundas de
maiores resistividades nas seções L01, L02, L03,
L05, L06, L08 e L09, respectivamente figuras 8,
9, 10, 12, 13, 15 e 16, aqui interpretadas como
sendo plumas de fase livre de combustível,
constituindo, assim, as fontes secundárias de
contaminação subterrânea.
Tabela 3 - Resistividades elétricas (em ohm.m) das feições interpretadas.
Linha
L01
L02
L03
L04
L05
L06
L07
L08
L09
Litologia
predominante na
seção
argilosa
argilosa
argilosa
arenosa
argilosa
argilosa
argilosa
argilosa
arenosa
Anomalia de
menores
resistividades
< 2,77
< 5,27
< 6,02
< 3,00
< 3,52
< 1,90
< 1,90
-
Argila
Silte
Areia
2,77 a 17,2
5,27 a 25,3
6,02 a 15,3
< 20,3
3,00 a 14,7
3,52 a 14,9
1,90 a 19,8
1,90 a 11,1
-
17,2 a 44,6
25,3 a 46,5
15,3 a 81,3
20,3 a 80,1
14,7 a 39,5
14,9 a 42,6
19,8 a 61,9
11,1 a 35,9
13,8 a 83,3
> 80,1
83,3 a 758,5
Anomalia de
maiores
resistividades
> 44,6
> 46,5
> 81,3
> 39,5
> 42,6
> 61,9
> 35,9
> 758,5
Figura 8 - Pseudo-seção de resistividade elétrica e modelo geofísico da Linha L01.
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Figura 9 - Pseudo-seção de resistividade elétrica e modelo geofísico da Linha L02.
Figura 10 - Pseudo-seção de resistividade elétrica e modelo geofísico da Linha L03.
Figura 11 - Pseudo-seção de resistividade elétrica e modelo geofísico da Linha L04.
204
São Paulo, UNESP, Geociências, v. 41, n. 1, p. 195 - 210, 2022
Figura 12 - Pseudo-seção de resistividade elétrica e modelo geofísico da Linha L05.
Figura 13 - Pseudo-seção de resistividade elétrica e modelo geofísico da Linha L06.
Figura 14 - Pseudo-seção de resistividade elétrica e modelo geofísico da Linha L07.
São Paulo, UNESP, Geociências, v. 41, n. 1, p. 195 - 210, 2022
205
Figura 15 - Pseudo-seção de resistividade elétrica e modelo geofísico da Linha L08.
Figura 16 - Pseudo-seção de resistividade elétrica e modelo geofísico da Linha L09.
É importante se observar que algumas regiões
de altas resistividades elétricas em níveis mais
profundos, associadas às plumas de fase livre na
água subterrânea, estão divididas pela influência
dos poços de bombeamento, o que pode ser
melhor visualizado nas pseudo-seções e modelos
das linhas L01, L02 e L05 (Figuras 8, 9 e 12).
Este aspecto pode ser visualizado, principalmente, na pseudo-seção da Linha L02 (Figura 9)
que apresenta uma zona de convergência de
baixa resistividade elétrica no local exato onde
está posicionado o poço PB09 e que foi
interpretada aqui como o raio de influência de
seu bombeamento, que aparentemente tem sido
eficiente para retirada de combustível em fase
livre, porém é limitado ao seu entorno, haja vista
a presença duas zonas de alta resistividade a sua
direita e a sua esquerda e que podem se constituir
nas plumas de combustíveis ainda remanescentes
206
na água subterrânea.
Além da seção da Linha L02, as pseudoseções das Linhas L05 e L06, respectivamente
figuras 12 e 13, apresentaram o mesmo comportamento de convergência de baixas resistividades
elétricas quando da presença ou proximidade
com poços de bombeamento, sendo que a zona
de influência na Linha L06 é decorrente da
conjunção dos efeitos dos poços PB01, PB07 e
PB08.
Outra consideração importante a se destacar
se refere à constatação de anomalias rasas de
maiores resistividades elétricas na pseudo-seção
da linha L01 (Figura 8) entre as distâncias de 7,0
a 23,0 m, as quais podem corresponder aos
processos de vazamentos de combustíveis
provenientes das instalações ali existentes, uma
vez que o perfil, neste trecho, cruza a frente da
área de abastecimento, troca de óleo e lavagem,
São Paulo, UNESP, Geociências, v. 41, n. 1, p. 195 - 210, 2022
como visto na figura 2, e que são as prováveis
fontes principais da contaminação orgânica
verificada na área.
De modo geral, às zonas anômalas de baixas
resistividade elétricas associadas à eventual
penetração de chorume através do piso local são
observadas nas seções L01, L02, L03, L05, L06
e L07, seja nos níveis mais rasos, seja nos mais
profundos, indicando a provável infiltração de
contaminantes inorgânicos e que podem ter
atingido a água subterrânea nas linhas L01, L03,
L06 e L07 (Figuras 8, 10, 13 e 14).
Quanto às anomalias de baixa resistividade
elétrica que se encontram nos trechos iniciais das
seções das Linhas L01, L02, L05, L07 (Figuras
8, 9, 12 e 14) e ao longo da L03 (Figura 10), estas
coincidem com o posicionamento da área de
transbordo de resíduos, origem provável da
infiltração de chorume que provocou os menores
valores anômalos detectados nesses pontos.
Em relação ao ambiente geológico natural
(background) e capacidade de detecção pelo
aparato capacitivo das anomalias de baixas resistividades elétricas associadas aos contaminantes
inorgânicos, observa-se que essas atingem
valores muito reduzidos independentemente se o
meio investigado é mais ou menos argiloso, e, de
forma geral, se encontram numa mesma de faixa
de variação, como visto na tabela 3.
Ao se avaliar a correlação entre o meio
geológico e os valores anômalos de maiores
resistividades elétricas provocados por eventual
presença de contaminantes orgânicos, constatase que, neste caso, a faixa de variação de
resistividade medida será dependente do tipo de
litologia existente (background), diferentemente
do efeito observado para a contaminação
inorgânica.
Portanto, quando se observa o comportamento
das anomalias de resistividades elétricas de
maiores valores nas seções obtidas, constata-se
que a contaminação orgânica até se evidencia de
forma mais marcante nos locais com material
mais argiloso, porém com valores medidos não
tão elevados, por exemplo nas seções L01, L02,
L03, L05 e L06 (Figuras 8, 9, 10, 12 e 13).
Por outro lado, quando o meio é constituído
por material arenoso, cujos valores de
resistividade elétrica já são naturalmente altos
(background), os resultados desta pesquisa
indicam que o contaminante orgânico presente
mostrará um contraste não tão nítido, como é o
caso da seção L09 (Figura 16), e se apresentará
numa faixa de valores de resistividade elétricas
bem elevada, muito distinta daquela observada
no ambiente argiloso.
Desta forma, é possível concluir que os
valores anômalos de resistividade para que um
composto orgânico apresente um contraste
detectável no meio onde está inserido dependerá
da resistividade elétrica do material geológico
encaixante (background), sendo as anomalias
numericamente menores quando presente no
meio argiloso e maiores no meio arenoso.
Quanto a uma eventual interferência na
aquisição de dados em função do pavimento
local, que é constituído por concreto armado para
suportar o movimento de caminhões, observouse que este não interferiu nas medidas de
resistividade elétrica obtidos pela aplicação da
Resistividade Capacitiva, tampouco, a presença
dos caminhões e contêineres próximos aos locais
de execução dos perfis capacitivos, como visto
na figura 4.
A partir da avaliação dos resultados das
pseudo-seções anteriores, foi elaborada a tabela
4, na sequência, com os posicionamentos dos
trechos anômalos de menores e maiores de
resistividades elétricas nos níveis mais profundos
(zona saturada) e que foram interpretados como
sendo as plumas de contaminação da água
subterrânea de caráter inorgânico, decorrente do
chorume, e orgânico, representada pela fase livre
de combustível.
Posteriormente, os trechos anômalos verificados de altas e baixas resistividade elétricas, e
que constam da tabela 4, foram plotados na planta
da área sobre as linhas executadas do levantamento
capacitivo, sendo interpolados os contornos de
anomalias que estivesses próximas, ou paralelas,
para uma visualização mais representativa das
porções contaminadas da água subterrânea na forma
de plumas, cujos posicionamentos, sobrepostos
às plumas orgânicas originais mapeadas, são
apresentados na sequência na figura 17.
Ao se comparar as localizações das porções
anômalas de maiores resistividades elétricas da
figura 17 com o mapeamento da contaminação
original, verifica-se uma mudança significativa
da abrangência da eventual pluma de contaminação orgânica na data do levantamento geofísico,
cujos resultados indicam a existência remanescente de zonas restritas de provável presença de
fase livre, apontando que os trabalhos de remediação através de bombeamento surtiram efeito
na área pesquisada, mas que não eliminaram total-
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207
Linha
L01
L02
L03
L04
L05
L06
L07
L08
L09
Tabela 4 - Trechos anômalos associados às plumas de contaminação.
Menores resistividades elétricas (pluma Maiores resistividades elétricas (pluma
inorgânica)
orgânica)
0,0 a 18,0 m
30,5 a 31,5 m
34,5 a 38,0 m
20,5 a 25,5 m
38,0 a 41,0 m
8,0 a 12,0 m
0,0 a 4,0 m
34,0 a 41,5 m
0,0 a 2,5 m
10,0 a 24,0 m
30,0 a 34,0 m
42,0 a 55,0 m
13,5 a 17,5 m
9,5 a 12,5 m
28,0 a 31,0 m
34,0 a 38,5 m
49,0 a 57,0 m
0,0 a 5,5 m
19,0 a 23,0 m
34,0 a 36,5 m
45,0 a 50,5 m
59,5 a 62,0 m
23,0 a 27,0 m
Figura 17 - Posicionamento das anomalias de resistividades elétricas na zona saturada.
totalmente os contaminantes orgânicos da água
subterrânea, demandando remanejamento dos
locais de extração e também a ampliação da rede
de poços de monitoramento conforme as informações aqui expressas.
Quanto às dimensões das anomalias de altas
resistividade elétricas, estas são maiores próximas
208
das fontes principais de contaminação do local
(áreas de abastecimento, lavagem e troca de
óleo), além de apresentar uma tendência de
distribuição no sentido nordeste e que é concordante ao sentido de fluxo da pluma de contaminação original.
Em relação às plumas inorgânicas associadas
São Paulo, UNESP, Geociências, v. 41, n. 1, p. 195 - 210, 2022
às anomalias de baixas resistividades elétricas, os
resultados deste levantamento geofísico indicam
suas presenças em pequenos pontos isolados,
distribuídos de forma difusa no flanco leste da
área, e que podem apontar a contaminação da água
subterrânea nesta região decorrente da infiltração
de chorume a partir da movimentação frequente
dos caminhões, principalmente próximos dos
locais de transbordo de resíduos domiciliares e de
abastecimento, troca de óleo e lavagem, devendo
tais posicionamentos serem considerados nos
trabalhos de monitoramento e remediação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados da aplicação do método de
Resistividade Capacitiva demonstraram um grande
potencial para identificação de contaminação
subterrânea, bem como para diferenciação das
anomalias provenientes dos contaminantes orgânicos e inorgânicos presentes em subsuperfície,
em função de sua capacidade de detecção e
distinção de baixos e altos valores anômalos de
resistividade elétrica.
As constatações de detalhes de diversas feições
ambientais e geológicas apresentadas neste artigo
só foram possíveis graças a alta resolução
apresentada pela Resistividade Capacitiva, da
ordem de centímetros em resolução lateral, e que
não seria atingido pela aplicação do método
convencional de Eletrorresistividade, o qual seria
de difícil emprego no local investigado pela
necessidade de cravamento de eletrodos no
pavimento existente de concreto armado.
Além da identificação das anomalias associadas
à contaminação subterrânea, a metodologia aqui
empregada possibilitou à identificação inusitada
de feições hidrogeológicas correspondentes aos
raios de influência dos poços de bombeamento
para a remediação do local, o que não é comum
aos demais métodos geofísicos.
Quanto aos valores e faixas de variações de
resistividade elétricas obtidos neste levantamento geofísico, ressalta-se que estes não
absolutamente determinísticos para a definição
de feições ambientais e geológicas de outros
locais, uma vez que as medidas realizadas pelo
método de Resistividade Capacitiva podem
variar de área para área em função, principalmente, das características da geologia local e das
condições de contato com o terreno, como foi
indicado nas discussões anteriores.
Em relação à detecção das anomalias de
baixas resistividades elétricas associados aos
contaminantes inorgânicos, foi constatado que os
valores anômalos se apresentam de forma
marcante e se encontram numa mesma faixa de
variação de baixos valores, independentemente
se o meio investigado é mais argiloso ou mais
arenoso.
De outra forma, nesta pesquisa foi observado
que os contaminantes orgânicos possuem comportamentos distintos em diferentes litologias,
sendo que os contrastes anômalos pela presença
deste tipo de contaminação não serão tão evidentes
num solo mais arenoso de resistividade elétrica
naturalmente alta, onde as anomalias só serão
detectadas por meio de valores bem elevados.
Em contrapartida, foi verificado que, quando
os contaminantes orgânicos se apresentam nos
materiais mais argilosos, os contrastes são mais
marcantes, porém as resistividades elétricas de
suas as anomalias são relativamente mais baixas
quando comparadas as apresentadas num solo
arenoso.
Deste modo, conclui-se que os valores
anômalos de resistividade elétrica para que um
composto orgânico apresente um contraste
detectável no meio onde está inserido dependerá,
além da sua concentração, como também da
resistividade natural do material geológico
encaixante (background), apresentando, assim,
anomalias numericamente menores no meio
argiloso e maiores no meio arenoso.
Pelos resultados obtidos e aqui discutidos,
conclui-se que a metodologia inovativa de
Resistividade Capacitiva apresenta possibilidades
muito promissoras, não só neste tipo de aplicação
de diagnóstico ambiental, mas também em outros
estudos de caracterização geológica e hidrogeológica, decorrente da alta resolução dos dados
obtidos e de sua capacidade de identificação de
diferentes feições por meio dos contrastes nas
medições geofísicas.
No caso específico desta área contaminada, a
partir das informações derivadas deste levantamento geofísico, a aplicação do método de
Resistividade Capacitiva permitiu comprovar a
eficiência dos trabalhos de remediação já
implementados por meio do bombeamento da
água subterrânea, bem como nortear a adoção de
readequações necessárias ao gerenciamento
ambiental do caso, principalmente, no que se refere
ao monitoramento de eventual contaminação
inorgânica indicada neste levantamento.
São Paulo, UNESP, Geociências, v. 41, n. 1, p. 195 - 210, 2022
209
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Submetido em 3 de outubro de 2021
Aceito para publicação em 3 de fevereiro de 2022
210
São Paulo, UNESP, Geociências, v. 41, n. 1, p. 195 - 210, 2022