Artigos
Método de resistividade capacitiva e reclassificação dos
métodos geoelétricos para estudos hidrogeológicos e de
contaminação subterrânea
Capacitive resistivity method and reclassification of geoelectric methods
for hydrogeological and underground contamination studies
Wagner Aquino1; Márcio Corrêa2; Paulo Tonello1
1
2
Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus Sorocaba, SP
Geométodos Levantamentos Geofísicos Ltda, São Paulo, SP
wagnergpr@gmail.com, marcio@geometodos.com.br, paulo.tonello@unesp.br
Palavras-chave:
Resistividade Capacitiva;
Reclassificação dos métodos geoelétricos.
Keywords:
Capacitive Resistivity;
Reclassification of geoelectric methods.
Revisão por pares.
Recebido em: 22/09/2021.
Aprovado em: 29/10/2021.
Resumo
Este artigo apresenta os fundamentos teóricos do método geofísico de Resistividade Capacitiva, aplicado, mais recentemente, em investigações geológicas e de diagnósticos ambientais, com o objetivo de inseri-lo dentro da classificação estabelecida para os métodos geoelétricos e que tem servido como referência aos diversos textos técnicos
e artigos acadêmicos nos últimos anos. Em função desta inclusão, foi imprescindível a execução de readequações
na classificação existente, bem como modificações necessárias à sua atualização. A partir dessas alterações, é
proposta uma nova reclassificação dos métodos geoelétricos baseada na estrutura fundamental já estabelecida,
porém mais aberta às possibilidades de surgimento de novas tecnologias e mais adequada aos métodos geofísicos
aplicados à investigação da contaminação subterrânea e que trabalham com a propriedade física de resistividade
ou condutividade elétrica. Além disso, no transcorrer das discussões apresentadas, são reportadas algumas sinonímias que já vem sendo empregadas em memoriais técnicos ou trabalhos acadêmicos, e que devem ser divulgadas para plena ciência daqueles que atuam na área de Geofísica Aplicada e Ambiental, bem como efetuadas
traduções de alguns termos técnicos para a língua portuguesa na reclassificação aqui proposta.
Abstract
This article presents the theoretical foundations of the Capacitive Resistivity geophysical method, applied, more recently, in geological investigations and environmental diagnostics, with the objective of inserting it within the classification established for the geoelectric methods and which has served as a reference to the different technical texts
and academic articles in recent years. Due to this inclusion, it was essential to carry out readjustments in the existing
classification, as well as necessary changes to update it. From these changes, a new reclassification of geoelectric
methods is proposed based on the fundamental structure already established, but more open to the possibilities of
the emergence of new technologies and more appropriate to the geophysical methods applied to the investigation of
underground contamination and that work with electrical resistivity or conductivity. In addition, in the course of the
discussions presented, some synonyms are reported that have already been used in technical memorials or academic
works, and which should be disclosed to the full knowledge of those who work in the area of Applied and Environmental Geophysics, as well as translations of some technical terms for the Portuguese language in the reclassification
proposed here.
DOI: http:/doi.org/10.14295/ras.v35i3.30076
pregado por alguns pesquisadores, casos de Cavenaghi
(2017), Silva (2018) e Carmona et al. (2018).
1. INTRODUÇÃO
Este artigo foi elaborado em face da necessidade surgida
mais recentemente relacionada à inclusão de nova metodologia geofísica, que é a Resistividade Capacitiva (RC), dentro da
classificação dos métodos geoelétricos aplicados à hidrogeologia, definida por Braga (2006), uma vez que esse método
indireto de investigação de subsuperfície já vem sendo em-
Para é isso é fundamental rever os conceitos referentes aos
métodos geofísicos de maneira geral e, em particular, àqueles
da Geofísica Aplicada e à Geofísica Ambiental, os quais se baseiam nas definições consolidadas de alguns especialistas de
grande importância nestas áreas específicas de atuação, cu-
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jos trabalhos, resultados e contribuições já foram reportadas
em diversas publicações técnicas.
De maneira geral, quando se trata do emprego da Geofísica
voltada para a investigação de um determinado meio, é necessário que haja correspondência entre a propriedade física
do alvo de interesse com a adequada metodologia a ser aplicada e, que, se refere, assim, a utilização de um método geofísico específico e que também possua a capacidade de detecção de variações em suas medições (PARASNIS, 1997).
Neste sentido, conforme definido por Reynolds (2011), os métodos geofísicos se constituem em metodologias indiretas de
investigação subterrânea, a partir da aquisição de dados instrumentais em superfície, caracterizando-se, portanto, como
métodos não invasivos ou não destrutivos, permitindo, assim,
avaliar as condições geológicas locais através dos contrastes
das diferentes propriedades físicas dos materiais de subsuperfície, por exemplo condutividade ou resistividade elétrica,
permissividade dielétrica, magnetismo, densidade etc., e que
podem ter como origem as heterogeneidades litológicas e outras alterações naturais ou não.
Destaca-se aqui que, como descrito por Parasnis (1997) e
também por Reynolds (2011), os métodos geofísicos se dividem, de maneira geral, em duas grandes classes de acordo
com a natureza da fonte do sinal a ser medido: métodos passivos e métodos ativos.
Especificamente, a Geofísica Aplicada é definida por Reynolds
(2011) como sendo a área da Geofísica que investiga os recursos minerais ou estruturas geológicas, relativamente pequenas e pouco profundas que possam estar presentes na
crosta terrestre, sendo subdivididas, primordialmente, em
três grupos maiores que são a Geofísica de Exploração, Geofísica de Engenharia e Geofísica Ambiental, além de outros
grupos menores.
Neste contexto, para Greenhouse (1991) e Steeples (1991),
a Geofísica Ambiental se refere à aplicação dos métodos geofísicos ao diagnóstico dos impactos causados ao meio físico,
subdividida em dois campos da seguinte forma: utilizada em
estudos de eventos de degradação, tais como avaliação de
processos erosivos ou assoreamentos de corpos d´água, e
num segundo objetivo mais voltado particularmente à investigação dos efeitos negativos provocados pela contaminação
subterrânea.
Em relação às aplicações da Geofísica Ambiental na avaliação
da contaminação do solo e da água subterrânea, destacamse os métodos geofísicos que operam com as propriedades
elétricas como os mais eficientes e capazes de detectar suas
variações quando da existência de contaminantes em subsuperfície, podendo ser citados a Eletrorresistividade, o Eletromagnético Indutivo, o GPR (ou Georadar), e, o método mais
recente, que é a Resistividade Capacitiva (SILVA, 2018).
2. MÉTODO DE RESISTIVIDADE CAPACITIVA
Para esses autores, os métodos geofísicos passivos, ou estáticos, são aqueles que medem, através de dispositivos receptores, as variações que determinadas estruturas ou corpos
em subsuperfície produzem sobre os campos naturais decorrentes de suas propriedades intrínsecas, podendo ser citados
os métodos gravimétricos, de fluxo térmico e magnéticos, associados, respectivamente, à densidade, à temperatura e ao
magnetismo.
Definem, também, os métodos geofísicos ativos, ou dinâmicos, como aqueles que se utilizam de fontes artificiais que
transmitem o sinal para subsuperfície, detectando seu retorno e medindo os efeitos como resposta aos materiais presentes em profundidade, por exemplo o método de Sísmica
de Refração e o método de GPR (Ground Penetrating Radar),
nesta ordem, relacionados à geração de ondas sísmicas e
emissão de ondas eletromagnéticas.
Em função dessas características, usualmente, os métodos
geofísicos passivos podem fornecer maiores profundidades
de investigação, porém apresentam um menor detalhamento
(resolução) que os métodos geofísicos ativos, os quais permitem uma maior capacidade de definição dos alvos por ter
fonte controlada do sinal emitido (PARASNIS, 1997).
De acordo com Kuras (2002), a metodologia geofísica de Resistividade Capacitiva (RC), também designada como método
Resistivo-Capacitivo por Carmona et al. (2018), possui os princípios físicos do método de Eletrorresistividade e sua técnica
de aquisição de dados, é similar, a princípio, ao caminhamento elétrico com arranjo dipolo-dipolo, sendo denominada
de imageamento de resistividade capacitiva (capacitive resistivity imaging), porém, seu diferencial está nas características
da fonte de emissão de corrente elétrica (I) para subsuperfície
através de um cabo coaxial contendo um transmissor de
corrente elétrica alternada em contato com o terreno e na
forma de recepção da tensão elétrica (V) por um ou mais
receptores sobre o solo, formando, portanto, um sistema
capacitivo.
Na execução da técnica do imageamento de resistividade capacitiva (IRC), segundo Kuras (2002), tanto o transmissor de
corrente elétrica, como o receptor de tensão atuam como dipolos individuais, constituindo assim um arranjo dipolo-dipolo, com cabos capacitivos transmissor e receptor posicionados numa forma alinhada à direção do perfil a ser executado,
atuando como linha de antenas (Figura 1).
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Figura 1 - Corrente e potenciais elétricos nos dipolos capacitivos
Fonte: os autores.
Assim, a resistividade aparente é calculada pela equação
𝛥𝑉
𝜌𝑎 = 𝐾𝐿𝐴 .
, sendo KLA o fator geométrico do arranjo dipolo𝐼
dipolo capacitivo e será dado por:
𝐾𝐿𝐴 =
𝜋𝐿
2𝑏 2
𝑏+2 2
𝑏−2
𝑏 +2𝑏
𝑏 −2𝑏
𝑏2
)
(
)
]
ln[( 2 ) (
(𝑏+1)2
(𝑏−1)2
𝑏 −1
,
onde X é a separação entre os eletrodos capacitivos transmissor e o receptor, L é o comprimento desses (Figura 1)
e o parâmetro 𝑏 =
2𝑋
𝐿
.
Segundo Yamashita et al. (2004), o sistema de acoplamento
capacitivo provoca a passagem de corrente alternada através
de um cabo coaxial que age como uma placa capacitora
enquanto a superfície do solo age como a outra placa
capacitora, sendo este acoplamento capacitivo de cabo-terra
caracterizado por uma capacitância elétrica variável e que
depende das condições de resistência (R) do terreno (Figura
2).
Figura 2 - Circuito elétrico capacitivo para injeção de corrente no solo e recepção
Fonte: adaptado de Yamashita et al. (2004)
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Desta forma, é transmitida uma corrente alternada (CA),
numa frequência de sinal igual a 16,5 kHz, e que passará pelo
cabo capacitor (transmissor) para o solo, carregando-o
eletricamente por indução e não por contato, sendo a tensão
medida nos receptores graças a sincronização em torno da
frequência do sinal transmitido. Após a injeção de corrente de
forma capacitiva, o nível de tensão recebido é convertido num
sinal digital no receptor, sendo transferido para o registrador
de dados para armazenamento e, posterior, conversão interna em valores de resistividade elétrica (KURAS, 2002).
Na técnica de imageamento de resistividade capacitiva (IRC),
a investigação das variações laterais da subsuperfície se rea-
liza em níveis de profundidades diferentes ao longo de um
perfil, constituindo-se numa varredura lateral da área de interesse, com intuito de se investigar a continuidade das feições
ou estruturas em subsuperfície (REYNOLDS, 2011).
Assim, quando utilizado o equipamento Ohmmapper, marca
Geometrics Inc (Figura 3) para a execução do imageamento
elétrico com apenas um receptor de sinal (sistema monorreceptor), é necessário se repetir mais vezes o mesmo perfil,
com separações sucessivamente maiores entre o transmissor
(fonte do sinal) e o único receptor para possibilitar amostragens de porções geológicas gradativamente mais profundas
(Figura 4).
Figura 3 - Componentes do sistema capacitivo Ohmmapper da Geometrics Inc
Fonte: os autores.
Este instrumento permite a aquisição de dados com separação padrão entre transmissor e receptor de 1,0, 5,0, 10,0 e
20,0 metros (default), podendo esses padrões de distâncias
também serem alterados em seu sistema operacional. Contudo, na aquisição de dados utilizando um conjunto capacitivo
com dois ou mais receptores de sinal, a necessidade de se
realizar mais repetições no mesmo perfil diminui, sendo que,
por exemplo, para três, quatro ou cinco receptores acoplados
(Figura 5) apenas uma passagem já poderia ser suficiente
para uma amostragem de dados com resolução satisfatória
dependendo dos objetivos.
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Figura 4 - Diagrama do sistema monorreceptor de Resistividade Capacitiva
Fonte: modificado de Geometrics (2001).
Figura 5 - Diagrama do sistema multirreceptor de Resistividade Capacitiva
Fonte: modificado de Geometrics (2001).
De maneira geral, a profundidade de investigação de um determinado método geoelétrico depende de alguns fatores,
dentre eles a potência ou capacidade da fonte elétrica e do
equipamento utilizado, bem como da distância entre a fonte
e os receptores e das propriedades elétricas do meio geológico, os quais, teoricamente, possibilitam para o sistema capacitivo Ohmmapper investigações entre 5,0 e 15,0 metros
de profundidade máxima e que dependem da capacidade em
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que o sinal do transmissor pode ser detectado e decodificado
pelo receptor (GEOMETRICS, 2001).
Dentre esses fatores, Kuras (2002) destaca a influência da
resistividade elétrica do terreno na profundidade de alcance
do método de Resistividade Capacitiva, onde, para uma
determinada corrente elétrica, se a resistência do solo for alta
(por exemplo solo arenoso), a tensão gerada também é alta,
facilitando a propagação da corrente elétrica e as medições
em níveis mais profundos. Por outro lado, se a resistência
elétrica do solo for baixa (por exemplo meio argiloso), a tensão
resultante será baixa, dificultando as medidas em maiores
profundidades.
Desta maneira, em relação às variações de profundidades em
função das resistividades elétricas do meio, o comportamento
verificado no método de Resistividade Capacitiva é distinto do
que ocorre com a Eletrorresistividade galvânica, apontando
mais uma de suas diferenças, porém, é muito similar ao que
é observado nos métodos geofísicos eletromagnéticos, em
particular ao GPR.
Quanto à resolução, o equipamento Ohmmapper possibilita a
amostragem de dados com grande detalhamento, pois permite a execução de medições contínuas ou com intervalos
menores que 30 centímetros conforme a programação de
tempo de disparo do sinal elétrico, além de resolução vertical
da ordem de 1,0 m ou menos dependendo da separação entre transmissor e receptor (KURAS, 2002).
Na etapa de processamento, os dados oriundos dos perfis individuais de resistividade elétrica de diferentes profundidades de uma mesma linha de levantamento são agrupados e
convertidos em resistividade aparente gerando, posteriormente, as pseudo-seções de resistividade elétrica através de
programas de inversão e modelamento, passando-se, finalmente, a fase de interpretação dos resultados, como visto no
exemplo da Figura 6 referente a uma seção realizada na faixa
litorânea do município de Balneário Camboriú e onde sondagens indicaram a presença de aterro superficial sobreposto
aos sedimentos predominantemente arenosos e nível d´água
local variando entre 1,2 e 1,8 metros de profundidade.
Figura 6 - Pseudo-seção de Resistividade Capacitiva e feições geológicas interpretadas.
Fonte: os autores
3. DISCUSSÃO SOBRE A CLASSIFICAÇÃO ATUAL DOS MÉTODOS GEOELÉTRICOS
Ao se discutir a aplicação da Geofísica, uma questão importante surge quanto às diferentes terminologias relativas à definição conceitual de método, técnica e arranjo, cuja necessidade de uniformização foi abordada no importante trabalho
de Braga (2006) e que propõe, especificamente, a classificação dos métodos geoelétricos aplicados aos estudos hidroge-
ológicos, como pode ser observada na Figura 7, e que por
muito tempo tem sido adotada para nortear os diversos trabalhos na área de aplicação dos métodos geofísicos para Geologia, Engenharia, Hidrogeologia, Meio Ambiente, entre outros, não sendo o objetivo deste autor abordar os outros três
grupos maiores, que são o método gravimétrico, o magnético
e o sísmico, nem os métodos geofísicos com medições em poços.
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Figura 7 - Classificação dos métodos geoelétricos de superfície
Fonte: Braga (2006).
Em publicações de orientação e divulgação da metodologia
geofísica, a despeito de formalizações e distinções apresentadas por Braga (2006), os termos método e técnica, compreensivelmente, são empregados como sinônimos algumas vezes, como é o caso em certas descrições do Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas da CETESB (2001), cujo
público alvo é mais abrangente que apenas os de setores especializados da Geofísica, e é destinado ao entendimento de
diferentes profissionais que atuam na área ambiental, tais
como biólogos, químicos, gestores ambientais, engenheiros,
geólogos, arquitetos e até advogados, entre outros.
caracterização e monitoramento de áreas impactadas por
contaminantes... (MINOZZO et al., 2009)”, mas que trata-se
de citar, na verdade, os métodos geofísicos.
Porém, quanto aos trabalhos acadêmicos voltados aos especialistas da área e onde há necessidade de clareza nas descrições metodológicas para reprodução do experimento ou
pesquisa, reconhece-se aqui a necessidade de um maior rigor
quanto às distinções de termos conforme preconizado pela
classificação de Braga.
Inicialmente, no que se refere à subdivisão dos métodos geoelétricos apenas em galvânicos e indutivos indicadas na classificação anterior da Figura 7, esta não mais se adequa e requer alterações em virtude do surgimento nos últimos anos
de metodologias que combinam diferentes fontes de emissão
do sinal geofísico, como é o caso do sistema de resistividade
de matriz capacitiva descrito anteriormente, mas também,
como exemplo, do equipamento com fonte indutiva e um receptor capacitivo proposto no trabalho de Adams de 2008.
Além disso, devem ser formuladas revisões conceituais e reclassificações no estabelecido por Braga (2006), por exemplo, no que se refere este autor ao método de GPR, ou Radar
de Penetração no Solo, enquadrando-o ao grupo maior de métodos geoelétricos, inserindo-o ao subgrupo de métodos indutivos, e sendo indicadas a condutividade elétrica (σ) e a per-
Neste contexto, como exemplo de adoção de sinonímia incorreta pode ser apontada a descrição que consta de artigo apresentado em Simpósio da Sociedade Brasileira de Geofísica
(SBGf) quando se refere ao emprego de levantamentos elétricos e eletromagnéticos para detecção de contaminação subterrânea, no seguinte trecho:“...as técnicas geofísicas como
Eletrorresistividade, Radar de Penetração no Solo (GPR) e Eletromagnético Indutivo (EM) são cada vez mais aplicadas na
Por outro lado, apesar do grande mérito da classificação dos
métodos geoelétricos apresentada por Braga, esta necessita
de reenquadramento para ser aberta às novas metodologias
geofísicas já em uso e à inclusão de outras tecnologias que
poderão vir a aparecer no futuro, bem como demanda revisões necessárias quanto a alguns conceitos para seu aperfeiçoamento.
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missividade dielétrica (ε) como parâmetros físicos medidos
(variáveis).
Entretanto, diferentemente do que é indicado como parâmetros medidos, na metodologia GPR são efetuadas, na realidade, medições dos tempos de reflexão do sinal em subsuperfície, isto porque, na faixa de altas frequências de operação do GPR (de 10 a 2500 MHz), a propagação da onda eletromagnética em profundidade é similar ao de uma onda elástica (sísmica), sofrendo refração e reflexão, como descrito no
trabalho de referência deste método elaborado por Davis &
Annan (1989).
Outro aspecto que necessita de alteração na classificação
atual se relaciona à adoção de apenas os parâmetros físicos
medidos para individualização de um determinado método
geoelétrico. Porém, destaca-se aqui que um dos mais importantes fatores definidores, e que não é considerado, se refere
ao tipo de fonte de emissão sinal, sendo que a combinação
desses dois fatores seria ideal para a distinção do método geofísico, como será abordado mais a frente quando se discutir
a classificação aqui proposta e a diferenciação entre os métodos de Resistividade Capacitiva e de Eletrorresistividade, já
que ambos medem a mesma propriedade física que é a resistividade elétrica do terreno, entretanto com fontes de corrente
elétrica distintas.
Ressalta-se, também, que a classificação de Braga para os
métodos geoelétricos em aplicações hidrogeológicas não inclui o método VLF (Very Low Frequency) na categoria de métodos Eletromagnéticos, o qual se constitui numa metodologia
geofísica importantíssima para a detecção de fraturas em rocha com finalidade de locação de pontos mais favoráveis à
explotação de água subterrânea, como consta, por exemplo,
do trabalho de Cordeiro & Marinho (2000), principalmente,
em áreas onde o manto de intemperismo é pouco espesso,
devendo, portanto, ser inserido na reclassificação proposta.
Também corroborando com a necessidade de alterações, de
maneira mais específica, pode ser citada a inserção da técnica de caminhamento eletromagnético para o método Eletromagnético no Domínio do Tempo (TDEM), além de mais arranjos do que os que constam na classificação ora vigente, como
apresentado no trabalho de Bortolozo (2011).
Obedecendo uma tendência cada vez maior, há necessidade,
também, de se considerar novos termos em função das denominações que vêm surgindo nos últimos anos por conta da
automatização dos levantamentos de Eletrorresistividade
através do emprego de diversos eletrodos simultaneamente
(dispositivos multieletrodos), proporcionando maior rapidez e
resolução dos dados, como por exemplo os sinônimos cada
vez mais utilizados na literatura nacional, como também, pela
comunidade geofísica internacional para a técnica de caminhamento elétrico que são tomografia de resistividade elétrica ou imageamento de subsuperfície (REYNOLDS, 2011),
imageamento de resistividade 2D (GEMAIL et al., 2011), tomografia elétrica (KEAREY et al., 2013), imageamento elétrico
(SILVA; MALAGUTTI FILHO, 2009) ou imageamento de resistividade elétrica (OSINOWO; FALUFOSI, 2018), além da designação não tão usual, e não tão correta, de sondagem elétrica
vertical multieletrodos (SEV-ME), que aparece em alguns memoriais técnicos descritivos para levantamentos em faixas de
dutos ou refinarias de petróleo aqui no Brasil, sendo aqui citada somente para efeitos de informação.
4. RECLASSIFICAÇÃO DOS MÉTODOS GEOELÉTRICOS PARA
HIDROGEOLOGIA E CONTAMINAÇÃO SUBTERRÂNEA
Decorrente das discussões anteriores, é apresentada a seguir
na Figura 8 uma reclassificação dos principais métodos geoelétricos, aplicados em superfície, tanto para estudos hidrogeológicos, como para diagnósticos da contaminação subterrânea, atualizando de uma forma mais abrangente o anteriormente estabelecido por Braga (2006), bem como obedecendo as características individuais de determinados métodos geofísicos conforme seus fatores de definição e as possibilidades de surgimento futuro de fontes inovativas de emissão do sinal geofísico.
Assim, aperfeiçoando-se as definições da classificação de
Braga (2006) em relação às terminologias e suas distinções,
considera-se na reclassificação proposta os seguintes conceitos quanto à metodologia geofísica:
•
Método: metodologia individualizada pelos fatores de
definição como função do parâmetro físico medido, ou
obtido, e do tipo de fonte do sinal geofísico emitido (ex.
método de GPR, método Eletromagnético Indutivo,
método de Polarização Induzida, etc);
•
Técnica: tipo de investigação em campo para aplicação
do método geofísico, com medição horizontal e/ou
medição vertical das propriedades físicas de
subsuperfície (ex. caminhamentos ou imageamentos,
sondagens geofísicas, perfis);
•
Arranjo: disposição dos emissores e receptores do sinal
geofísico no terreno para o desenvolvimento da técnica
em campo (ex. dipolo-dipolo, polarização cruzada, dipolo
magnético vertical, etc).
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Figura 8 - Reclassificação dos principais métodos geoelétricos de superfície para estudos hidrogeológicos e de contaminação
subterrânea
Fonte: os autores.
De maneira geral, nesta reclassificação da Figura 8, podem
ser verificadas algumas modificações relativas à inclusão de
método geofísico, de técnicas e arranjos de campo, inserção
dos fatores de definição do método, adoção de termos atualizados e traduzidos para o português, além de sinônimos para
certas técnicas e arranjos já empregados comumente, como
também de ajustes conceituais e reposicionamentos.
Como exemplo de alteração, pode se citar o reposicionamento
dos métodos de Resistividade Elétrica como um subgrupo dos
métodos geoelétricos, sendo subdividido em método de Eletrorresistividade e método de Resistividade Capacitiva, o que
possibilitou, portanto, a inclusão deste último nessa nova
abordagem classificatória, um dos objetivos principais deste
trabalho, e que na classificação original não seria possível.
Uma importante vantagem dessa nova forma de classificação
menos hermética que a anterior é que permite a inclusão de
tecnologias inovativas, tais como o já citado método proposto
por Adams (2008) com fonte de emissão indutiva do sinal geofísico, representada pela geração de campo eletromagnético, e um receptor capacitivo para obtenção da resistividade
elétrica do terreno. Neste caso, quando os instrumentos desta
metodologia estiverem concluídos e disponíveis, esta poderia
ser inserida nos métodos eletromagnéticos em função do tipo
de emissão do sinal, e, decorrente de utilização de capacitor
como receptor, denominada de método Eletromagnético-Capacitivo, ou Indutivo-Capacitivo, por exemplo.
Quanto à continuidade de designação do método de Eletrorresistividade nesta reclassificação ao se referir a metodologia
mais tradicional de injeção de corrente elétrica contínua por
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contato (galvânico), salienta-se que tal denominação já está
muito consolidada e aparece em inúmeros artigos ou publicações especializadas da área, não só de Geofísica Aplicada,
como também de Geofísica Ambiental, tais como os trabalhos
de Elis & Zuquette (2002), Gallas et al. (2005) e Moreira et al.
(2019), entre outros.
Portanto, como resultado das discussões anteriores, a metodologia geofísica apresentada neste artigo, que é o método
de Resistividade Capacitiva, passa a ser a se diferenciar do
método de Eletrorresistividade não em função do parâmetro
físico obtido, que para ambas é a resistividade elétrica, mas
sim do tipo de fonte de emissão do sinal para subsuperfície,
sendo, para o primeiro, através de aparato capacitivo sobre a
superfície do terreno e, para o segundo, por meio de eletrodos
cravados no solo.
Assim, de acordo com as argumentações aqui expressas, o
método geofísico de Resistividade Capacitiva (RC) se estabelece dentro do grande grupo dos métodos geoelétricos e do
subgrupo de métodos de Resistividade Elétrica, sendo classificado como um método ativo, ou dinâmico, por ter uma corrente elétrica controlada (artificial) como fonte do sinal para o
interior do terreno.
Referente à técnica de campo a ser aplicada na aquisição de
dados pelo método de Resistividade Capacitiva, que consiste
de medições horizontais com varredura lateral, esta será designada com o termo indicado por Kuras et al. (2007) e por
Reynolds (2011) que é imageamento de resistividade capacitiva (IRC), do original capacitive resistivity imaging, e que, por
analogia, poderia ser conhecida também por caminhamento
elétrico capacitivo (CEC) ou caminhamento capacitivo (CC) de
forma mais tradicional, ou ainda imageamento elétrico capacitivo (IEC) numa maneira mais inovativa.
medidos/obtidos e o tipo de fonte de emissão do sinal e que
estabelecem sua individualização de forma consistente e,
além disso, permite, também a inclusão de novas metodologias que poderão surgir com o avanço da tecnologia. Em relação ao método geofísico de Resistividade Capacitiva, a partir
dos fundamentos da reclassificação aqui descritos, foi possível incluí-lo dentro das subdivisões dos métodos geoelétricos
e definir os termos técnicos envolvidos na aplicação desta
metodologia inovativa, o que na classificação anterior, da maneira como se estabelecia, não seria permitido. Ressalta-se,
por fim, que a reclassificação aqui apresentada, à despeito
das análises de caráter técnico que embasaram sua elaboração, também é aberta a outras contribuições que, por ventura,
também possam vir aperfeiçoá-la.
6. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo apoio a esta pesquisa.
REFERÊNCIAS
ADAMS, C.H. Capacitive array resistivity with an inductive
source. Tese (Doutorado em Ciências Aplicadas). School of Applied Sciences. RMIT University. Melbourne, Austrália. 243p.
2008.
BORTOLOZO, C.A. Inversão conjunta 1D de dados de SEV e
TDEM: aplicações em hidrogeologia. Dissertação (Mestrado
em Geofísica). Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências
Atmosféricas. Universidade de São Paulo. 102p. 2011
BRAGA, A.C.O. Métodos de eletrorresistividade e polarização
induzida aplicados nos estudos da captação e contaminação
de águas subterrâneas: uma abordagem metodológica e prática. Rio Claro, 126p. Tese (Livre Docência em Geociências) Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista. 2006.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O intuito da elaboração deste trabalho é divulgar e contribuir
ao aprimoramento dos conceitos e à formalização das terminologias necessárias à orientação dos levantamentos da Geofísica Aplicada e Ambiental, tomando-se como base inicial a
classificação anterior e que tem seus méritos por ter sido referência por longo tempo, mas que, atualmente, demandava
modificações. Como resultado das discussões, foi apresentada uma reclassificação dos métodos geoelétricos, expandindo o campo atuação desta nova abordagem, não só apenas para a hidrogeologia, como também para os estudos ambientais de contaminação subterrânea, sendo inseridos novos métodos geofísicos, técnicas e arranjos, bem como traduções de alguns termos para a língua portuguesa e alterações
necessárias conforme as argumentações aqui expressas.
Destaca-se aqui que esta nova classificação determina como
fatores definidores dois aspectos importantes para a distinção de um método geofísicos que são os parâmetros físicos
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APÊNDICE
Na reclassificação apresentada neste artigo para os métodos
geoelétricos aplicados aos estudos hidrogeológicos e ambientais de contaminação subterrânea, muitas das terminologias
correspondentes aos diferentes métodos, técnicas de levantamento e arranjos de campo são traduções de nomenclatu
ras originais a partir da língua inglesa. Neste sentido, como
forma de ilustrar e servir de referência a outras consultas, a
seguir, pode ser observada esta nova classificação em sua
versão em inglês e que no corpo do trabalho aparece na Figura 8.
Reclassification of the main geoelectric methods for hydrogeological and underground contamination studies
AQUINO, W.; CORRÊA, M.; TONELLO, P. Águas Subterrâneas, v. 35, n. 3, e-30076, 2021. 12