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Situado na divisa entre os estados do Piauí e do Maranhão, o Delta do Parnaíba apresenta uma das mais expressivas produções de caranguejo-uçá do nordeste brasileiro. Nesta tese, me enredo pelos caminhos dos mangues, dos rios e da terra a... more
Situado na divisa entre os estados do Piauí e do Maranhão, o Delta do Parnaíba apresenta uma das mais expressivas produções de caranguejo-uçá do nordeste brasileiro. Nesta tese, me enredo pelos caminhos dos mangues, dos rios e da terra a fim de acompanhar a lida com esse crustáceo em seus múltiplos devires. Enfatizo as transformações ocorridas na emergência do caranguejo em seu devir mercadoria. Nesse processo, entra em ação um conjunto articulado de viventes, práticas e dinâmicas ecológico-políticas. Se, por um lado, o caranguejo devém
mercadoria capitalista classificada conforme normativas e critérios comerciais previamente estabelecidos, por outro ele se constitui por meio de sistemas de coatividade que articulam humanos e não humanos; processos vitais de nascimento, crescimento e morte; e práticas de ação, percepção e cuidado envolvidas na sua captura e comércio. Assim, com base em caminhadas com caranguejeiros, compradores e patrões, mostro de que forma territórios e habilidades implicadas em suas atividades compõem ecologias marcadas pela tensão entre acumulação capitalista e dinâmicas generativas da vida de caranguejos, humanos e manguezais.

Palavras-chave: Antropologia ecológica. Antropologia das práticas. Capitalismo.Manguezais. Caranguejo-uçá. Pesca Artesanal.
Na zona norte da cidade de Teresina – Piauí – curso médio da bacia hidrográfica do Parnaíba – vazanteiro/a é como se autonomeiam agricultores/as que, entre outras ocupações, vivem do cultivo de leguminosas nas margens ou nas ilhas... more
Na zona norte da cidade de Teresina – Piauí – curso médio da bacia hidrográfica do Parnaíba – vazanteiro/a é como se autonomeiam agricultores/as que, entre outras ocupações, vivem do cultivo de leguminosas nas margens ou nas ilhas (coroas) do rio Parnaíba. Dialogo, especificamente, com os/as vazanteiros/as que residem na Avenida Boa Esperança a fim de acompanhar o cotidiano desses/as lavradores/as na lida com a terra, a cadência das águas, as chuvas, o tempo, as bombas hidráulicas, os legumes e suas sementes. Assim, a partir do meu encontro com estes/as vazanteiros/as, procuro pensar, por um lado, as formas pelas quais o lugar se constitui a partir das relações destes/as agricultores/as com seus ambientes. Por outro – ao investigar as conexões do lugar com a cidade – enveredo-me em seus trajetos e itinerários por Teresina, seja para comercializarem seus produtos, seja para – na interlocução com outros habitantes da Avenida – lutarem pela permanência em suas vazantes e casas. Essa luta ocorre em reação à expansão das obras do Programa Lagoas do Norte, executado pela Prefeitura Municipal de Teresina, em parceria com o Governo Federal e o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), o Programa busca a (re)vitalização e (re)qualificação urbana e, para isso, uma de suas ações consiste no reassentamento involuntário dos moradores da região. Nestes processos, “terra”, “trabalho”, “natureza”, “meio ambiente”, “cheias”, “riqueza”, “sossego”, “risco” e “qualidade de vida” são categorias constantemente acionadas por vazanteiros/as em suas práticas diárias, nas relações com outros/as vazanteiros/as e com o Estado. Essas categorias são acionadas também por demais moradores (Movimento “Boa Esperança Resiste”) em suas reivindicações pelo direito à cidade e à moradia; e, ainda, pelo Programa Lagoas do Norte nos Relatórios de Avaliação Ambiental emitidos. Assim, a partir destes movimentos etnográficos, percebo: 1/ a Avenida como lugar de morada, trabalho e vida de vazanteiros/as e não-vazanteiros/as em um contínuo processo biointerativo de habitação e 2/ o caráter racista e perpetrador de segregações étnico-raciais e etnocídios no ambiente urbano presente em políticas de “revitalização e requalificação urbana”, como o Programa Lagoas do Norte.
A foz do Rio Parnaíba, situada no nordeste brasileiro entre os estado do Piauí e do Maranhão, origina o único Delta das Américas em mar aberto. Esta região apresenta uma rica sociobiodiversidade e exuberantes florestas de manguezais... more
A foz do Rio Parnaíba, situada no nordeste brasileiro entre os estado do Piauí e do Maranhão, origina o único Delta das Américas em mar aberto. Esta região apresenta uma rica sociobiodiversidade e exuberantes florestas de manguezais sujeitas a forças de simplificação e contaminação características do antropoceno. O presente artigo narra transformações ocorridas no Delta trazendo a paisagem como protagonista da narrativa a partir das malhas de relações entre caranguejos, manguezais e catadores de caranguejo (caranguejeiros).  Por meio de uma abordagem etnográfica que considera as relações entre humanos e outras formas de vida, o artigo evidencia a constituição de paisagens multiespécie frente a processos históricos, e também narrativos, que insistem em eclipsar as diversidades biológicas e culturais. Como contraponto, o artigo enfatiza a dinâmica viva e múltipla da constituição das paisagens do Delta.

Palavras chave: Manguezais. Caranguejo-uçá. Ucides cordatus. Delta do Parnaíba. Etnografia multiespécie. Antropologia da paisagem
Research Interests:
O Delta do Rio Parnaíba é o maior das Américas em mar aberto. Os manguezais dessa região são considerados, por caranguejeiros e outros pesquisadores, extremamente importantes para humanos e não humanos viventes no estuário. A presente... more
O Delta do Rio Parnaíba é o maior das Américas em mar aberto. Os manguezais dessa região são considerados, por caranguejeiros e outros pesquisadores, extremamente importantes para humanos e não humanos viventes no estuário. A presente narrativa visual busca se aproximar dos mangues do Delta a partir das caminhadas de catadores de caranguejo em seus cotidianos de trabalho. A ideia é mostrar como o simples ato de caminhar no mangue compreende um conhecimento complexo a respeito dos manguezais, dos caranguejos e várias outras formas de vida.
Neste artigo, investigo o que constitui uma “casa” para famílias de vazanteiros e vazanteiras na Avenida Boa Esperança, em Teresina-PI, curso médio do Rio Parnaíba. A ideia é esboçar uma teoria etnográfica desta categoria atentando para... more
Neste artigo, investigo o que constitui uma “casa” para famílias de vazanteiros e vazanteiras na Avenida Boa Esperança, em Teresina-PI, curso médio do Rio Parnaíba. A ideia é esboçar uma teoria etnográfica desta categoria atentando para as múltiplas formas de vida, humanas e não humanas, que compõem este espaço. Ao fazer isto, procuro destacar a incomensurabilidade entre a noção de casa gestada a partir das vazantes e aquela articulada por uma política de “urbanização” e “requalificação urbana”: o Programa Lagoas do Norte (PLN), projeto de desenvolvimento urbano empreendido pelo poder público municipal em parceria com o governo federal através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e com financiamento do Banco Mundial. Levando a sério as práticas de habitação desenvolvidas por famílias de vazanteiros e vazanteiras, argumento que casa só pode ser entendida por meio de um conjunto de relações sociais e multiespecíficas que a conecta aos cultivos da beira do rio.