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Idade de Ouro da cultura judaica no Al-Andalus: diferenças entre revisões

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[[Ficheiro:Spanishhaggadah.jpg|thumb|250px|rightdireita|Imagem de um [[Chazan|cantor]] lendo o [[Pessach]] no [[Al-Andalus]], iluminura de uma [[Hagadá]] de [[Barcelona]] no século XIV.]]
A '''Idade de Ouro da cultura judaica no Al-Andalus''' refere um período da história durante o qual uma parte importante da [[península Ibérica]] esteve [[Al-Andalus|sob governo muçulmano]] e reinou uma tolerância geral para a sociedade judaica, o qual favoreceu o florescimento da sua cultura, religião e economia.
 
A natureza e a duração desta "Idade de Ouro" é objeto de debate. Segundo alguns estudiosos, o seu começo poderia situar-se:
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[[Bernard Lewis]] argumenta, que, embora frequentemente se mencione a convivência inter-religiosa sob governo muçulmano durante a [[Idade Média]], isto é apenas um mito criado por apologistas muçulmanos e partidários do [[Islão]], pois, como poderia alguém dar o mesmo tratamento àqueles que se submetem à verdadeira fé e aos que voluntariamente a recusam? Isto seria considerado como um descumprimento do dever."''<ref>Capítulo 1, página 4 do seu livro ''Os judeus no Islão''.</ref>
 
[[Mark R. Cohen|Mark Cohen]], professor de estudos do [[Oriente Próximo]] na [[Universidade de Princeton]], no seu livro ''Under Crescent and Cross'' , afirma que ''"o mito duma utopia inter-religiosa"'' foi promulgado em primeiro lugar por historiadores judeus, como [[Heinrich Graetz]] no [[século XIX]] como um reproche para os países cristãos (especialmente a [[Europa do Leste]]) pelo seu comportamento para os judeus. Esta visão não foi posta em dúvida até ser adotada pelos árabes como ''"uma arma propagandística contra o [[sionismo]]"'',<ref>Cohen, ''Under Crescent and Cross'' , 1995, p. 6.</ref> para mostrar que o estabelecimento do moderno estado de [[Israel]] destroçou a suposta harmonia entre judeus e árabes existente na [[Palestina]] sob o [[Império Otomano]]. Esta "exploração árabe da polêmica" foi ligada ao ''"contra-mito"'' da ''"neo-lacrimosa concepção da história árabo-judaica"'' por historiadores como [[Bat Yeor]],<ref>Cohen, ''Under Crescent and Cross'' , 1995, p. 9.</ref> que "também não pode ser mantido dadas as circunstâncias da realidade histórica".<ref>* Daniel J. Lasker, Review of Under Crescent and Cross. The Jews in the Middle Ages by Mark R. Cohen, The Jewish Quarterly Review, New Ser., Vol. 88, No. 1/2 (Jul., 1997), pp. 76-78 * Ver também Cohen (1995) p. xvii:De acordo com Cohen, ambos os pontos de vista distorcem o passado.</ref>
* Daniel J. Lasker, Review of Under Crescent and Cross. The Jews in the Middle Ages by Mark R. Cohen, The Jewish Quarterly Review, New Ser., Vol. 88, No. 1/2 (Jul., 1997), pp. 76-78
* Ver também Cohen (1995) p. xvii:De acordo com Cohen, ambos os pontos de vista distorcem o passado.</ref>
 
[[Frederick Schweitzer]] e [[Marvin Perry]] concordam em que há duas concepções do que foi realmente o status judeu sob o [[Islão]]: a tradicional "Idade de Ouro" e a revisionista ''"perseguição e pogrom"''. Alegam que esta visão idealizada dos historiadores judeus do [[século XIX]] foi recolhida pelos muçulmanos árabes após [[1948]] como ''"uma arma árabe-islamista no que basicamente é uma luta ideológica e política contra Israel"'' e ignora ''"um catálogo menos conhecido de massacres e ódios"'', incluindo os pogrons contra os judeus em [[Córdova]] em [[1011]] e em [[Granada (Espanha)|Granada]] em [[1066]].<ref name="Schweitzer267-268">Frederick M. Schweitzer, Marvin Perry., ''Anti-Semitism : myth and hate from antiquity to the present'' , Palgrave Macmillan, 2002, ISBN 0-312-16561-7, pp. 267-268.</ref>
 
== Nascimento da Idade de Ouro ==
Em [[589]], os [[Visigodos]] cristãos da [[Hispânia]] efetuaram uma severa perseguição contra os judeus; consequentemente, no [[século VIII]], os judeus receberam os conquistadores árabo-muçulmanos com os braços abertos, e, sobretudo, os [[Berberes]]. As cidades conquistadas, como [[Córdova]], [[Málaga]], [[Granada (Espanha)|Granada]], [[Sevilha]], e [[Toledo]] foram brevemente submetidas e postas sob domínio dos seus habitantes judeus, que foram armados pelos invasores mouros. Após a vitória, os invasores retiraram todas as restrições visigodas e garantiram a liberdade religiosa, em troca do pagamento de um [[dinar de ouro]] por cabeça ([[gízia]]).
 
Começou assim um período de tolerância para os judeus, cujo número incrementar-se-ia consideravelmente devido à imigração procedente da [[África]]. Especialmente após [[912]], durante o reinado de [[Abd-al-Rahman III]] e o seu filho, [[Al-Hakam II]], os judeus prosperaram, dedicando-se ao serviço do [[Califado de Córdova]], ao estudo das ciências, e ao comércio e à indústria. A expansão econômica dos judeus foi muito importante. Em [[Toledo]], participaram na tradução de textos árabes para as [[línguas romances]], bem como do [[língua grega antiga|grego]] e do [[língua hebraica|hebraico]] para o árabe. Os judeus contribuíram para a [[botânica]], a [[geografia]], a [[medicina]], as [[matemáticas]], a [[poesia]] e a [[filosofia]].<ref name="weiner">{{en}} [http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/Judaism/Sephardim.html Sephardim] por Rebecca Weiner.</ref>
 
O ministro e físico da Corte de [[Abd al-Rahman III]] foi [[Hasdai ben Isaac ibn Shaprut]], o patrão de [[Menahem ben Saruq]], [[Dunash ben Labrat]], e outros eruditos e poetas judeus. O pensamento judeu floresceu com figuras como [[Samuel Ha-Nagid, Moses ibn Ezra]], [[Salomão ibn Gabirol]], [[Judah Halevi]] e [[Maimônides]].<ref name="weiner" /> Durante o reinado de Abderramão III, o erudito [[Moses ben Hanoch|Moses ben Enoch]] foi designado [[rabi]] de [[Córdova]], e, como consequência, [[Al-Andalus]] converteu-se no centro do estudo do [[Talmude]] , e [[Córdova]] no ponto de encontro dos sábios judeus.
 
Durante um tempo, os judeus gozaram de uma autonomia parcial como [[dhimmidas]], graças ao pagamento da [[gízia]], a qual era administrada separadamente do [[zakat]], o qual era pago por muçulmanos. A [[gízia]] foi considerada um pagamento por não emprestar o serviço militar, como um tributo, etc. Os judeus tinham o seu próprio sistema legal e os seus serviços sociais. As religiões monoteístas agrupadas sob o nome de [[Povos do Livro]], eram toleradas, porém era evitada qualquer manifestação multitudinária ou que pudesse chamar a atenção, como as procissões de fé ou os sinos.<ref>Fred J. Hill al, ''A History of the Islamic World'' 2003 ISBN 0-7818-1015-9, p.73</ref>
 
== Fim da Idade de Ouro ==
Com a morte de [[Alhakén II|al-Hakan II Ibn Abd-al-Rahman]] em [[976]], o Califado começa a dissolver-se, e a situação dos judeus tornou-se mais precária sob o governo dos [[reinos de taifas]]. A primeira perseguição importante foi o massacre de [[Granada (Espanha)|Granada]] em [[1066]], a crucifixão do [[vizir]] [[Joseph ibn Naghrela]] e o massacre da maior parte da população judaica da cidade. "Mais de 1500 famílias judaicas, ou seja, ao redor de 4 000 pessoas, faleceram num dia."<ref>[http://jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=412&letter=G&search=Granada Granada] by Richard Gottheil, [[Meyer Kayserling]], ''[[Jewish Encyclopedia]]''. 1906 ed.</ref> Esta foi a primeira perseguição dos judeus da península sob o governo islâmico.
 
A princípios de [[1090]] a situação piora com a invasão dos [[Almorávidas]], uma seita puritana procedente de [[Marrocos]]. Sob o seu governo, alguns judeus prosperaram (sobretudo sob [[Ali ibn Yusuf]], mais que com seu pai [[Yusuf ibn Tasufin]] ). Entre aqueles que ostentaram o título de [[vizir]] ou "[[nasi]]" à época dos Almorávidas, encontrava-se o poeta e físico [[Abu Ayyub Salomão ibn al-Mu'allam]], [[Abraão ibn Meir ibn Kamnial]], [[Abu Isaac ibn Muhajar]], e [[Salomão ibn Farusal]] (embora este último fosse assassinado a [[2 de maio]] de [[1108]]). Os Almorávidas foram expulsos da [[península]] em [[1148]], mas o seu lugar seria ocupado pelos [[Almóadas]], que eram até mesmo mais puritanos. Sob o seu governo, muitos judeus foram obrigados a aceitar o [[Islão]]; os conquistadores usurparam as suas propriedades e as suas famílias, que seriam vendidos como escravos. A maioria das instituições educacionais judaicas foram fechadas e as sinagogas destruídas.
 
Durante o reinado destas dinastias berberes, muitos judeus, e, até mesmo, alguns eruditos muçulmanos abandonaram o [[Al-Andalus]] e emigraram para [[Toledo]], a qual fora reconquistada em [[1085]] por forças cristãs.
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* [[Amram ben Isaac ibn Shalbib]], erudito e diplomático ao serviço de [[Afonso VI de Castela]].
* [[Bahya ibn Paquda]], filósofo e autor de ''[[Chovot ha-Levavot]]''
* [[Bispo Bodo]]-Eleazar; de acordo com a Enciclopédia Judaica, "um converso ao Judaísmo ... [que]... viajou a [[Córdova]], onde se afirma que exerceu o proselitismo entre os cristãos espanhóis."
* [[Dunash ben Labrat]] (920-990), poeta.
* [[Isaac Abravanel]] ([[1437]]—[[1508]]), estadista, filósofo, talmudista e conselheiro financeiro para o rei Fernando.
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* Joel Kraemer, "Comparing Crescent and Cross," The Journal of Religion, Vol. 77, No. 3. (Jul., 1997), pp.&nbsp;449–454. (Book review)
 
{{Referências}}
{{Tradução/ref|es|Edad de oro de la cultura judía en España}}
 
== {{Ver também}} ==
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== {{Ligações externas}} ==
* {{Link|en}} [|2=http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=992&letter=S |3=''Jewish Encyclopedia'']}}
* {{Link|en}} [|2=http://www.myjewishlearning.com/history_community/Medieval/TheStory6321666/TheIslamicWorld/Spain.htm |3=Trecho de Farewell Espana: The World of the Sephardim Remembered] |4=por Howard M. Sachar, em MyJewishLearning}}
* {{Link|en}} [|2=http://www.afropop.org/multi/interview/ID/57/Al-Andalus-Dwight+Reynolds |3=The Musical Legacy of Al-Andalus] |4=uma entrevista entre Banning Eyre (Afropop Worldwide) e Dwight Reynolds, Professor Adjunto no Departamento de Estudos Religiosos, Diretor do Centro de Estudos do Oriente Médio, e Presidente de Estudos Islâmicos e do Oriente Próximo na [[Universidade da Califórnia]]}}
* {{Link|en}} [|2=http://medievalhebrewpoetry.org |3=Poesia hebraica medieval]}}
* {{Link|en}} [|2=http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/Judaism/Sephardim.html |3=Os Sefarditas]}}
 
{{DEFAULTSORT:Idade Ouro Cultura Judaica Al Andalus}}
[[Categoria:Al-Andalus]]
[[Categoria:História judaica]]
 
[[en:Golden age of Jewish culture in Spain]]