{{mais fontes|data=junho de 2018}}
{{Antissemitismo}}
{{discriminação}}
{{AO-pAO|Antissemitismo|anti-semitismo}} é o [[preconceito]], hostilidade ou discriminação contra judeus. Na sua forma mais extrema, "atribui aos judeus uma posição excepcional entre todas as outras civilizações, difamando-os como um grupo inferior e negando que eles sejam parte da(s) nação(ões) em que residem".<ref>Pauley, Bruce F. ''From Prejudice to Persecution: A History of Austrian Anti-Semitism''. University of North Carolina Press (2002)</ref> A pessoa que defende este ponto de vista é chamada de "antissemita". O antissemitismo é geralmente considerado uma forma de racismo.<ref>{{citar web|url=http://www.ecaj.org.au/wp-content/uploads/2012/08/2014_antisemitism_report.pdf|titulo=2014 -REPORT on ANTISEMITISM in AUSTRALIA|data=2014|publicado=Executive Council of Australian Jewry Inc.|ultimo=Nathan|primeiro=Julie}}</ref> Também tem sido caracterizada como uma ideologia política que serve como um princípio organizador e une grupos díspares que se opõem ao liberalismo.<ref>{{citar web|url=https://tikvahfund.org/library/podcast-ruth-wisse-on-the-nature-and-functions-of-anti-semitism/|titulo=Podcast: Ruth Wisse on the Nature and Functions of Anti-Semitism|data=17 de Maio de 2018|publicado=Tikvah|ultimo=Wisse|primeiro=Ruth}}</ref> ▼
[[File:1543 On the Jews and Their Lies by Martin Luther.jpg|thumb|''[[Sobre os Judeus e Suas Mentiras]]'', livro anti-semita de [[Martinho Lutero]], 1543]]
▲{{AO-pAO|Antissemitismo|anti-semitismo}} é o [[preconceito]], hostilidade ou discriminação contra [[judeus ]]. Na sua forma mais extrema, "atribui aos judeus uma posição excepcional entre todas as outras civilizações, difamando-os como um grupo inferior e negando que eles sejam parte da(s) nação(ões) em que residem".<ref>Pauley, Bruce F. ''From Prejudice to Persecution: A History of Austrian Anti-Semitism''. University of North Carolina Press (2002)</ref> A pessoa que defende este ponto de vista é chamada de "antissemita". O antissemitismo é geralmente considerado uma forma de racismo.<ref>{{citar web|url=http://www.ecaj.org.au/wp-content/uploads/2012/08/2014_antisemitism_report.pdf|titulo=2014 -REPORT on ANTISEMITISM in AUSTRALIA|data=2014|publicado=Executive Council of Australian Jewry Inc.|ultimo=Nathan|primeiro=Julie }}</ref> Também tem sido caracterizada como uma ideologia política que serve como um princípio organizador e une grupos díspares que se opõem ao liberalismo.<ref>{{citar web|url=https://tikvahfund.org/library/podcast-ruth-wisse-on-the-nature-and-functions-of-anti-semitism/|titulo=Podcast: Ruth Wisse on the Nature and Functions of Anti-Semitism|data=17 de Maio de 2018|publicado=Tikvah|ultimo=Wisse|primeiro=Ruth}}</ref>
O antissemitismo é manifestado de diversas formas, indo de expressões individuais de ódio e [[discriminação]] contra indivíduos judeus a violentos ataques organizados [[Pogrom|(''pogrons'')]], políticas públicas ou ataques militares contra comunidades judaicas. Entre os casos extremos de perseguição, estão a [[Massacre de Granada|chacina de 1066 em Granada]], os [[massacres na Renânia]] que precederam a [[Cruzada Popular|Primeira Cruzada]] de 1096, o Édito de Expulsão da [[Reino da Inglaterra|Inglaterra]] em 1290, os [[massacres dos judeus espanhóis em 1391]], as perseguições das [[Inquisição portuguesa|Inquisições Portuguesa]] e [[Inquisição espanhola|Espanhola,]] a [[Decreto de Alhambra|expulsão da Espanha]] em 1492, a [[Judeus em Portugal|expulsão de Portugal]] em 1497, o [[Massacre de Lisboa de 1506|massacre de Lisboa em 1506]], os massacres pelos [[Cossacos]] na Ucrânia de 1648 a 1657, diversos pogrons no Império Russo entre 1821 e 1906, o [[Caso Dreyfus]] em França (1894-1906) e o [[Holocausto]] perpetrado pela [[Alemanha Nazista]], políticas soviéticas antijudaicas sob [[Josef Stalin|Estaline]],<ref name=":34">{{citar livro|título=Antisemitism : a historical encyclopedia of prejudice and persecution|ultimo=LevyChanes|primeiro=RichardJerome SA.|editora=ABC Clio|ano=20052004|páginas=2676, 676-677154}}</ref><ref name=":43">{{citar livro|título=Antisemitism : a historical encyclopedia of prejudice and persecution|ultimo=ChanesLevy|primeiro=JeromeRichard AS.|editora=ABC Clio|ano=20042005|páginas=7626, 154676-677}}</ref> e o envolvimento árabe e muçulmano no [[êxodo judaico dos países árabes]] e muçulmanos.
Embora a [[etimologia]] possa sugerir que o antissemitismo é direcionado a todos os povos [[semita]]s, como [[árabes]] e [[assírios]], o termo foi criado no final do {{séc|XIX}} na [[Alemanha]] como uma alternativa com aparência mais científica para ''Judenhass'' ("Aversão a judeus"), sendo utilizada amplamente desde então.<ref>Jerome A. Chanes. ''Antisemitism: A Reference Handbook''. ABC-CLIO (2004)</ref><ref>Lewis, Bernard. "Semites and Antisemites". Capítulo de ''Islam in History: Ideas, Men and Events in the Middle East''. The Library Press (1973)</ref>
== Etimologia e uso ==
Apesar do uso do [[Prefixo gramatical|prefixo]] ''anti'', os termos ''semita'' e ''antissemita'' não são diretamente opostos. O antissemitismo refere-se especificamente ao [[preconceito]] contra judeus em geral, apesar do fato de existirem outros falantes de [[Línguas semíticas|idiomas semitas]] (isto é, [[árabes]], [[etíopes]] ou [[assírios]]) e de nem todos os judeus empregarem linguagem semita.<ref>[http://www.merriam-webster.com/dictionary/antisemitism Antisemitism – Definition and More from the Merriam-Webster Dictionary]</ref>
O termo antissemita foi utilizado em algumas ocasiões para expressar o ódio a outros povos falantes de idiomas semitas, mas tal utilização não é amplamente aceita.<ref>[[David Matas|Matas, David]]. [http://books.google.co.uk/books?id=DYR7SqcMe9gC&pg=PA34 ''Aftershock: Anti-Zionism and Antisemitism''], Dundurn Press, 2005, p. 34.</ref><ref>{{citar livro|título=Semites and Anti-Semites: An Inquiry Into conflict and Prejudice|primeiro =Bernard|último =Lewis|autorlink =Bernard Lewis|página=117|ano=1999|unused_data=W. W. Norton}}</ref>
Estudiosos defendem o uso sem [[hífen]] do termo ''antissemitismo'' para evitar provável confusão a respeito de o termo referir-se especificamente a judeus, ou a falantes de idiomas semitas como um todo.<ref>[http://www.facinghistory.org/campus/reslib.nsf/99ca830bb4f483948525717f005abfc7/2820f36c177cc758852571860065e8c2/$FILE/complete_antisemitism.pdf Antisemitism. The Power of Myth] {{Wayback|url=http://www.facinghistory.org/campus/reslib.nsf/99ca830bb4f483948525717f005abfc7/2820f36c177cc758852571860065e8c2/$FILE/complete_antisemitism.pdf |date=20070807224502 }} (Facing History)</ref><ref name="Bauer">[[Yehuda Bauer|Bauer, Yehuda]]. [http://humwww.ucsc.edu/jewishstudies/docs/YBauerLecture.pdf "Problems of Contemporary Antisemitism"] {{Wayback|url=http://humwww.ucsc.edu/jewishstudies/docs/YBauerLecture.pdf |date=20080307094003 }}</ref><ref name="Bauer2">Bauer, Yehuda. ''A History of the Holocaust'', Franklin Watts, 1982, p. 52. ISBN 0-531-05641-4</ref><ref name="Almog">Almog, Shmuel. [http://sicsa.huji.ac.il/hyphen.htm "What's in a Hyphen?"] {{Wayback|url=http://sicsa.huji.ac.il/hyphen.htm |date=20110430032943 }}, SICSA Report: Newsletter of the Vidal Sassoon International Center for the Study of Antisemitism (verão de 1989)</ref> Emil Fackenhiem, por exemplo, apoiou a utilização sem hífen para "repelir a noção de que há todo um 'semitismo' ao qual o 'antissemitismo se opõe".<ref name="Fackenheim">Prager, Dennis; Telushkin, Joseph. [http://books.google.co.uk/books?id=VK0llzUqQ2YC&pg=PA199 ''Why the Jews?: The Reason for Antisemitism''], [[Simon and Schuster]], 1983, p. 199.</ref>
=== Etimologia ===
Considerando a [[etimologia]] da palavra, ''antissemitismo'' significaria aversão aos [[semita]]s — segundo a [[Bíblia]], os descendentes de [[Sem]], filho mais velho de [[Noé]] — grupo étnico e linguístico que compreende os falantes do [[hebreushebraico]], o [[aramaico]] e o [[língua árabe|árabe]].<ref>{{Citar web |url=https://www.jb.com.br/cultura/2019/03/987415-entenda-a-diferenca-dos-termos-judeu--semita-e-sionista.html |titulo=Entenda a diferença dos termos judeu, semita e sionista |data=2023-05-04 |acessodata=2024-06-07 |website=Jornal do Brasil |lingua=pt-br}}</ref>
Mas, de fato, a palavra ''antisemitismus'' foi cunhada, em [[língua alemã]], no {{séc|XIX}}, numa altura em que a ciência racial estava na moda na [[Alemanha]], e foi usada pela primeira vez já com o sentido de aversão aos judeus, pelo [[jornalista]] alemão [[Wilhelm Marr]], em 1873, por soar mais "científica" do que ''Judenhass'' ("ódio aos judeus"). Há autores (como [[Gustavo Perednik]]) que preferem utilizar o termo ''judeofobia'', significando "aversão a tudo o que é judaico".<ref name="Judenhass">Por exemplo:*Jerome A. Chanes. ''Antisemitism: A Reference Handbook'', [[ABC-CLIO]], 2004, p. 150.*Ali Rattansi. ''Racism: a very short introduction'', Oxford University Press, 2007, p. 5.*Richard L. Rubenstein, John K. Roth. ''Approaches to Auschwitz: the Holocaust and its legacy'', Westminster John Knox Press, 2003, p. 30.*William M. Johnston. ''The Austrian mind: an intellectual and social history, 1848-1938'', University of California Press, 1983, p. 27.</ref> e esse tem sido o uso normal da palavra desde então.<ref name="Lewis_MEI1973">"Antisemitism has never anywhere been concerned with anyone but Jews." [[Bernard Lewis|Lewis, Bernard]]. [http://middleeastinfo.org/library/lewis_antisemitism.html "Semites and Antisemites"] {{Wayback|url=http://middleeastinfo.org/library/lewis_antisemitism.html |date=20110514133732 }}, ''Islam in History: Ideas, Men and Events in the Middle East'', The Library Press, 1973.</ref><ref group="nota" name="JustJews">Ver, por exemplo:* "Anti-Semitism", ''Encyclopædia Britannica'', 2006.* [[Paul Johnson|Johnson, Paul]]. ''A History of the Jews'', HarperPerennial 1988, p 133 ff.* [[Bernard Lewis|Lewis, Bernard]]. [http://hnn.us/blogs/entries/21832.html "The New Anti-Semitism"] {{Wayback|url=http://hnn.us/blogs/entries/21832.html |date=20110908010822 }}, ''The American Scholar'', Volume 75 No. 1, Winter 2006, pp. 25-36. Artigo baseado em conferência pronunciada na [[Brandeis University]] em 24 de março de 2004.* "Dictionnaire critique du racisme", PUF, Paris, 2013</ref>
=== Definição ===
Embora a [[Definições de antissemitismo|definição]] geral de antissemitismo seja hostilidade ou preconceito contra os judeus e, de acordo com Olaf Blaschke, tenha se tornado um "termo genérico para estereótipos negativos sobre os judeus",<ref name=":0">{{citar web|url=https://books.google.pt/books?id=0HDeEPouQm0C&pg=PA18&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false|titulo=Pogroms and Riots: German Press Responses to Anti-Jewish Violence in Germany and Russia (1881-1882)|data=2010|publicado=Peter Lang|ultimo=Weinberg|primeiro=Sonja|pagina=18-19}}</ref> várias autoridades desenvolveram definições mais formais.
Para François de Fontette,<ref>{{Citar periódico |url=https://periodicos.ufes.br/argumentum/article/view/40204 |título=Antissemitismo, uma obsessão |data=2023-04-24 |acessodata=2023-12-27 |periódico=Argumentum |número=1 |ultimo=Schargel |primeiro=Sergio |paginas=324–328 |lingua=pt |doi=10.47456/argumentum.v15i1.40204 |issn=2176-9575}}</ref> o antissemitismo moderno se difere de um antijudaísmo por seu caráter racista. Se a intolerância aos judeus é milenar, ela sofre uma reconfiguração no século XIX com o eugenismo e as teorias racistas pseudocientíficas. Antes, o antijudaísmo estava fortemente vinculado ao cristianismo e a uma rejeição da fé judaica - um tipo de antissemitismo antirreligioso, por assim dizer. O judaísmo passa a ser encarado como uma questão de raça, uma identidade étnica, não apenas como religião.
A professora estudiosa do [[Holocausto]], [[Helen Fein]] da [[Universidade da Cidade de Nova Iorque]], define o antissemitismo como ''uma estrutura latente persistente de crenças hostis em relação aos judeus como um coletivo, manifestado em indivíduos como atitudes e na cultura como mito, ideologia, folclore e imagens, e em ações — discriminação legal ou social, mobilização política contra os judeus e violência coletiva ou estatal — o que resulta em / ou é projetado para distanciar, deslocar ou destruir os judeus como judeus''.<ref>{{citar web|url=https://www.jewishvirtuallibrary.org/anti-semitism-in-the-eu-introduction|titulo=Anti-Semitism in the European Union: Introduction|data=Dezembro de 2003|publicado=Jewish Virtual Library}}</ref>
Elaborando a definição de Fein, Dietz Bering, da [[Universidade de Colônia|Universidade de Colónia]], escreve que, para os antissemitas, ''"os judeus não são apenas parcialmente, mas totalmente maus por natureza, ou seja, os seus maus traços são incorrigíveis. Por causa dessa natureza máː (1) os judeus têm de ser vistos não como indivíduos, mas como um coletivo. (2) Os judeus permanecem essencialmente estranhos nas sociedades vizinhas. (3) Os judeus trazem desastre às suas 'sociedades de acolhimento' ou no mundo inteiro, eles estão a fazer isto em segredo, logo, os antissemitas sentem-se obrigados a desmascarar o conspiratório, mau caráter Judaico." .''<ref>{{citar livro|url=https://books.google.pt/books?id=VWL4ja2BbnEC&printsec=frontcover&dq=Anti-Semitism:+a+History+and+Psychoanalysis+of+Contemporary+Hatred.&hl=en&sa=X&ved=0ahUKEwiCh-DNktTbAhVFPRQKHc4mCDUQ6AEIKTAA#v=onepage&q=Anti-Semitism%3A%20a%20History%20and%20Psychoanalysis%20of%20Contemporary%20Hatred.&f=false|título=Anti-semitism: A History and Psychoanalysis of Contemporary Hatred|ultimo=Falk|primeiro=Avner|editora=Praeger Publishers|ano=2008|páginas=5}}</ref>
Para Sonja Weinberg, distinto do antijudaísmo econômico e religioso, o antissemitismo em sua forma moderna mostra inovação conceitual, um recurso à "ciência" para se defender, novas formas funcionais e diferenças organizacionais. Foi antiliberal, racialista e nacionalista. Promoveu o mito de que os judeus conspiravam para "judificar" o mundo; serviu para consolidar a identidade social; canalizou as insatisfações entre as vítimas do sistema capitalista; e foi usado como um código cultural conservador para combater a emancipação e o liberalismo.<ref name=":0" />
Bernard Lewis define o antissemitismo como um caso especial de preconceito, ódio ou perseguição dirigido contra pessoas que são de alguma forma diferentes das demais. Segundo Lewis, o antissemitismo é marcado por duas características distintas: os judeus são julgados de acordo com um padrão diferente daquele aplicado aos outros, e são acusados de ''mal cósmico''. Assim, "''é perfeitamente possível odiar e até mesmo perseguir os judeus sem necessariamente ser antissemita"'' a menos que esse ódio ou perseguição exiba uma das duas características específicas do antissemitismo.<ref>{{citar web|url=https://historynewsnetwork.org/blog/21832|titulo=The New Anti-Semitism|data=14 de Agosto de 2006|publicado=History News Network (HNN)|ultimo=Lewis|primeiro=Bernard|acessodata=2018-06-14|arquivourl=https://web.archive.org/web/20171108130056/http://historynewsnetwork.org/blog/21832|arquivodata=2017-11-08|urlmorta=yes}}</ref>
Em 2005, o [[Observatório Europeu do Racismo e da Xenofobia]] (''European Monitoring Centre on Racism and Xenophobia'') então uma agência da [[União Europeia]], desenvolveu uma definição mais pormenorizada, que afirma: ''o antissemitismo é uma certa percepção dos judeus, que pode ser expressa como ódio para com os judeus. Manifestações retóricas e físicas do antissemitismo são dirigidas para indivíduos judeus ou não judeus e/ou sua propriedade, para instituições comunitárias judaicas e instalações religiosas'' e também acrescenta que ''tais manifestações também poderiam atingir o Estado de Israel, concebido como uma coletividade judaica,'' mas que a ''crítica de Israel, semelhante à feita contra qualquer outro país, não pode ser considerado como antissemita.'' A definição também lista os modos de ataque a Israel que poderiam ser antissemitas, e afirma que negar ao povo judeu o seu direito à autodeterminação, por exemplo, alegando que a existência do estado de Israel é um empreendimento racista, pode ser uma manifestação do antissemitismo - assim como aplicar critérios duplos, exigindo de Israel um comportamento não esperado ou exigido de qualquer outra nação democrática, ou fazendo os judeus coletivamente responsáveis pelas ações do estado de Israel.<ref>{{citar web|url=https://www.webcitation.org/5mYZH56QA?url=http://fra.europa.eu/fraWebsite/material/pub/AS/AS-WorkingDefinition-draft.pdf|titulo=WORKING DEFINITION OF ANTISEMITISM|acessodata=15 de Junho de 2018|publicado=EUMC (Arquivado em WebCite)}}</ref> Esta definição nunca foi oficializada,<ref>{{citar web|url=https://www.jpost.com/Jewish-World/Jewish-News/What-is-anti-Semitism-EU-racism-agency-unable-to-define-term-334043|titulo=What is anti-Semitism? EU racism agency unable to define term|data=5 de Dezembro de 2013|publicado=The Jerusalem Post}}</ref> contudo ganhou uso internacionalː foi adotada pelo Grupo de Trabalho do Parlamento Europeu sobre Antissemitismo,<ref>{{citar web|url=https://www.antisem.eu/projects/eumc-working-definition-of-antisemitism/|titulo=EUMC working definition of antisemitism|data=6 de Junho de 2018|publicado=Antisem.eu}}</ref> pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos,<ref>{{citar web|url=https://www.state.gov/s/rga/resources/267538.htm|titulo=Defining Anti-Semitism|data=26 de Maio de 2016|publicado=U.S. Department of State}}</ref> pela Campanha Contra o Antissemitismo,<ref>{{citar web|url=https://antisemitism.uk/definition/|titulo=What is Antisemitism?|acessodata=15 de Junho de 2018|publicado=Campaign Against Antisemitism}}</ref> e pela ''International Holocaust Remembrance Alliance'',<ref>{{citar web|url=https://www.holocaustremembrance.com/media-room/stories/working-definition-antisemitism?usergroup=5|titulo=Working Definition of Antisemitism|data=27 de Junho de 2016|publicado=International Holocaust Remembrance Alliance (IHRA)}}</ref> tornando-se a definição mais amplamente adotada de antissemitismo no mundo.
== Raízes ==
Muitos fatores motivaram e fomentaram o antissemitismo, incluindo fatores sociais, econômicos, nacionais, políticos, raciais e religiosos, ou combinações destes fatores.
* Socioeconômicas, devido à ação de autoridades locais, governantes, e alguns funcionários da igreja que fecharam muitas ocupações aos judeus, permitindo-lhes no entanto as atividades de coletores de impostos e emprestadores, o que sustenta as acusações de que os judeus praticam a [[usura]].
* Políticas, através de manifestações contra a existência do Estado de Israel, sendo muito incitado pela religião Islâmica e pelos países árabes .
Um dos grandes propagadores do antissemitismo no {{séc|XX}} foi o regime [[nazista]] [[Alemanha nazista|alemão]]. Atualmente, o ódio ao judeu frequentemente apoia-se em ideais nazistas, ainda que o pensamento antissemita seja muito mais antigo.
== História ==
=== Antiguidade ===
O mais antigo episódio conhecido do que poderiam ser as primeiras manifestações de antissemitismo é o passado em [[Elefantina]], uma pequena ilha no [[rio Nilo]], cerca de {{AC|410}}., onde um grupo de egípcios em revolta contra o domínio persa reduziu a cinzas o templo da comunidade judaica. Contudo, [[Phyllis Goldstein]] e outros historiadores pensam que o caso dificilmente se enquadra num "antissemitismo" tal como o concebemos actualmente, antes sendo devido a um choque de culturas e desacordos políticos — os judeus eram leais aos persas.<ref>{{citar livro|título=A Convenient Hatredː The History of Antisemitism|ultimo=Goldstein|primeiro=Phyllis|ano=2012|capitulo=1 -Beginnings (586 BCE -135 CE)}}</ref>
Os primeiros exemplos claros de sentimento antijudaico remontam ao {{-séc|III}}, em [[Alexandria]],<ref>{{citar livro|título=The Anguish of the Jews: Twenty-three Centuries of Antisemitism|ultimo=Flannery|primeiro=Edward H.|editora=Paulist Press|ano=1985|páginas=7}}</ref> o lar da maior comunidade da [[Diáspora judaica]] no mundo nessa época e onde a [[Septuaginta]], uma tradução grega da Bíblia hebraica, foi produzida. [[Manetão]], um sacerdote e historiador egípcio da época, escreveu mordazmente sobre os judeus. Seus temas são repetidos nos trabalhos de [[Chaeremon]], [[Lisímaco]], [[Posidónio]], [[Apolônio Mólon]], e em [[Apião]] e [[Tácito]]. [[Agatárquides|Agatárquides de Cnido]] ridicularizou as práticas dos judeus e o "absurdo de sua Lei", fazendo uma referência trocista ao facto de [[Ptolemeu I Sóter]] ter sido capaz de invadir Jerusalém em {{AC|320}} porque seus habitantes estavam observando o [[Sabá|Sabat]].<ref>{{citar livro|título=Flannery, Edward H. (1985). The Anguish of the Jews: Twenty-three Centuries of Antisemitism. Paulist Press.|ultimo=Flannery|primeiro=Edward H.|editora=Paulist Press|ano=1985}}</ref> Um dos primeiros editos antijudaicos, promulgado por [[Antíoco IV Epifânio]], em cerca de 170-{{AC|167}}, provocou uma revolta dos [[Macabeus]] na Judeia.<ref>{{citar livro|título=The Construct of Identity in Hellenistic Judaism: Essays on Early Jewish Literature and History|ultimo=Gruen|primeiro=Erich S.|ano=2016|páginas=250-253}}</ref>
Em vista dos escritos antijudaicos de Manetão, o antissemitismo pode ter-se originado no Egito e espalhou-se pela "recontagem grega dos antigos preconceitos egípcios ".<ref>{{citar livro|título=Judeophobia|ultimo=Schäfer|primeiro=Peter., Harvard University Press, 1997, p. 208.|editora=Harvard University Press|ano=1997|páginas=208.}}</ref> O antigo filósofo judeu [[Fílon de Alexandria]] descreve um ataque aos judeus em Alexandria em {{DC|38}}, no qual milhares de judeus morreram.<ref>{{citar livro|título=Jews in the Mediterranean Diaspora: From Alexander to Trajan (323 BCE–117 CE)|ultimo=Barclay|primeiro=John M. G.|páginas=52-55}}</ref><ref>{{citar livro|título=Philo’s Flaccus: the first pogrom: introduction, translation, and commentary (Vol.2)|ultimo=Horst.|primeiro=Pieter W. van der|ano=2003|páginas=152-186}}</ref>
=== Idade Média ===
No final do {{séc|VI}}, o recém católico [[Reino Visigótico]] na [[Hispânia]] emitiu uma série de decretos antijudaicos que proibiam os judeus de se casarem com cristãos, praticar a circuncisão e observar os dias santos judaicos. Continuando ao longo do {{séc|VII}}, tanto os reis visigóticos como a Igreja foram ativos na criação de agressão social e de "punições cívicas e eclesiásticas" para com os judeus, que variavam entre conversão forçada, escravidão, exílio ou morte.<ref>{{citar livro|título=The Visigoths: Studies in Culture and Society (Cap.4)|ultimo=González Salinero|primeiro=Raúl|ano=1999}}</ref><ref>{{citar livro|título=Exiles in Sepharad: The Jewish Millennium in Spain|ultimo=Gorsky|primeiro=Jeffrey|ano=2015}}</ref> Como resultado, aquando da [[Invasão muçulmana da Península Ibérica]], no {{séc|VIII}}, muitos judeus acolheram bem e ajudaram os conquistadores.<ref>{{citar livro|título=A History of the Jews.|ultimo=Johnson|primeiro=Paul|ano=1987|páginas=177-178}}</ref>
O invasor islâmico, classificando embora classificando judeus e cristãos como [[dhimmi]]s, permitiu que os judeus praticassem sua religião mais livremente do que o poderiam fazer na Europa cristã medieval. Houve uma idade dourada da cultura judaica em Espanha, que durou até pelo menos o {{séc|XI}}.<ref>{{citar livro|título=The Ornament of the World: How Muslims, Jews and Christians Created a Culture of Tolerance in Medieval Spain. Back Bay Books.|ultimo=Menocal|primeiro=María Rosa|editora=Back Bay Books|ano=2003}}</ref> Terminou quando vários pogrons muçulmanos contra os judeus tiveram lugar na Península Ibérica, incluindo aqueles que ocorreram em Córdoba em 1011 e em Granada em 1066.<ref>{{citar web|url=http://jewishencyclopedia.com/articles/6855-granada|titulo=Granada|acessodata=19 de Junho de 2018|publicado=Jewish Encyclopedia}}</ref><ref>{{citar livro|título=Antisemitism: Myth and Hate from Antiquity to the Present|ultimo=Perry|primeiro=Marvin (e outro)|editora=Palgrave Macmillan|ano=2002|páginas=267-268}}</ref><ref>{{citar livro|título=The Historical Practice in Diversity.|ultimo=Harzig|primeiro=Christiane (e outros)|editora=Berghahn Books.|ano=2003|páginas=42}}</ref> Vários decretos que ordenavam a destruição das sinagogas também foram promulgados no Egito, Síria, Iraque e Iêmen do {{séc|XI}}. Além disso, os judeus foram obrigados a se converter ao Islã ou enfrentar a morte em algumas partes do Iêmen, Marrocos e Bagdá várias vezes entre os séculos XII e XVIII.<ref>{{citar web|url=https://www.jewishvirtuallibrary.org/the-treatment-of-jews-in-arab-islamic-countries|titulo=Jews in Islamic Countries: The Treatment of Jews|data=Setembro de 2011|publicado=JEWISH VIRTUAL LIBRARY}}</ref>
Os [[Califado Almóada|Almóadas]], que tinha tomado o controle do Magrebe dos Almorávidas e dos territórios andaluzes cerca de 1147, eram muito mais fundamentalistas em comparação com seus antecessores, e eles trataram os ''dhimmis'' severamente. Confrontados com a escolha de morte ou conversão, muitos judeus e cristãos emigraram.<ref name=":1">{{citar web|url=https://web.archive.org/web/20090213223723/http://www.myjewishlearning.com/history_community/Medieval/IntergroupTO/JewishMuslim/Almohads.htm|titulo=The Almohads -The seizure of power in the Maghreb by a fanatical sect disrupted the relations between Muslims and Jews.|acessodata=20 de Junho de 2018|publicado=MyJewishLearning (Arquivado em WayBack Machine)|ultimo=Roth|primeiro=Norman}}</ref><ref>{{citar web|url=https://web.archive.org/web/20070728230344/http://www.theforgottenrefugees.com/index.php?option=com_content&task=view&id=66&Itemid=39|titulo=Historical Timeline|acessodata=20 de Junho de 2018|publicado=The Forgotten Refugees (Arquivado em WayBack Machine)}}</ref> alguns, como a família de [[Maimônides]], fugiram para o leste para terras muçulmanas mais tolerantes,<ref name=":1" /> enquanto alguns outros foram para o norte para se estabelecerem nos reinos cristãos em crescimento.<ref>{{citar web|url=https://www.jewishvirtuallibrary.org/sephardim|titulo=Judaism: Sephardim|acessodata=20de Junho de 20-06-2018|publicado=Jewish Virtual Library|ultimo=Weiner|primeiro=Rebecca}}</ref>
Durante a Idade Média na Europa houve perseguição contra os judeus em muitos lugares, com acusações de sacrifícios humanos, expulsões, conversões forçadas e massacres. Uma das principais justificações do preconceito contra os judeus na Europa era religiosa. [[Marvin Perry]] e [[Frederick Schweitzer]] comentam que segundo os Evangelhos e a sua interpretação de séculos, os judeus são considerados como" "''os assassinos de Jesus Cristo"'', um povo ''"condenado para sempre a sofrer exílio e degradação — transformado na própria encarnação do mal''".<ref>{{citar livro|título=ANTISEMITISM Myth and Hate from Antiquity to the Present MARVIN PERRY ANDFREDERICK M. SCHWEITZER|ultimo=Perry|primeiro=Marvin|ultimo2=Schweitzer|primeiro2=Frederick M.|editora=Palgrave MacMillan|ano=2002|páginas=18}}</ref>
A perseguição aos judeus atingiu seu primeiro pico durante as [[Cruzada]]s. Na [[Primeira Cruzada]] (1096) centenas ou mesmo milhares de judeus foram mortos no trajecto dos cruzados.<ref>{{citar web|url=https://www.questia.com/library/5684490/in-the-year-1096-the-first-crusade-and-the-jews|titulo=In the Year 1096: The First Crusade and the Jews -By Robert Chazan (preview)|acessodata=21 de Junho de 2018|publicado=Questia|ultimo=Chazan|primeiro=Robert}}</ref> Muitos cristãos consideraram que os judeus eram também inimigos da Fé. Na primavera de 1096, cerca de {{fmtn|10000}} cruzados percorreram o [[vale do Reno]] em direcção a norte (na direcção oposta a [[Jerusalém]]), e iniciaram uma série de [[pogrom]]s chamados por alguns historiadores de "o primeiro [[holocausto]]". Foram massacradas comunidades judaicas em [[Worms]], Espira e [[Mogúncia]]. A algumas comunidades era oferecida a escolha da conversão ou da morte. Muitos judeus que se recusavam a converter-se e ouviam as notícias de massacres perto das suas casas cometeram [[suicídio]]s em massa.<ref>{{citar livro|título=In the Year 1096 - The First Crusade and theJews - Cap.2ː Spring 1096|ultimo=Chazan|primeiro=Robert|editora=The Jewish Publication Society|ano=1996}}</ref>
Em 1144, os judeus de [[Norwich]] foram acusados de assassínio ritual depois que um menino de cerca de doze anos ([[Guilherme de Norwich]]) foi encontrado morto esfaqueado, no que é o caso conhecido mais remoto dos alegados [[Libelo de sangue|"libelos de sangue"]] - no entanto nenhum judeu foi incomodado. [[Thomas of Monmouth]], vários anos mais tarde, escreve que Guilherme teria sido torturado e crucificado, e atribui-lhe vários milagres após a morte.<ref>{{citar livro|título=The Blood Libel Legend -A Casebook in Anti-Semitic Folklore (Editado por Alan Dundes)|ultimo=Langmuir|primeiro=Gavin I.|editora=The University of Wisconsin Press|ano=1991|páginas=5-7}}</ref> De acordo com a lenda, os judeus matariam anualmente uma criança cristã na Páscoa judaica, a fim de usar o seu sangue na confecção do [[Pão ázimo|matza]] (pão judaico sem fermento).<ref>{{citar web|url=http://jewishencyclopedia.com/articles/3408-blood-accusation|titulo=BLOOD ACCUSATION|acessodata=13 de Julho de 2018|publicado=Jewish Encyclopedia|ultimo=Gottheil|primeiro=Richard (e outros)}}</ref>
No decorrer dos tempos, e após o caso de Guilherme de Norwich, foram registados vários outros acontecimentos semelhantes, e desta vez com consequências terríveis para as comunidades judaicas: entre eles os de [[Harold de Gloucester]] (morto em 1168); [[Robert of Bury]] (morto em 1181); [[Werner of Oberwesel]] (morto em 1287); [[Andreas Oxner]] (morto em 1462); [[Simão de Trento]] (morto em 1475); e [[Gabriel de Białystok]] (morto em 1690). As crianças, consideradas mártires, foram muitas das vezes santificadas mas posteriormente os seus cultos foram abolidos, embora Gabriel de Bialystok ainda seja hoje em dia considerado santo pela [[Igreja Ortodoxa]].<ref>{{citar web|url=https://www.encyclopedia.com/religion/encyclopedias-almanacs-transcripts-and-maps/medieval-boy-martyrs|titulo=Medieval Boy Martyrs|acessodata=14 de Julho de 2018|publicado=New Catholic Encyclopedia}}</ref> A lenda dos "libelos de sangue" mantém-se até aos nossos dias.
Na [[Segunda Cruzada]] (em 1147) os judeus na Alemanha foram sujeitos a vários chacinas. Também foram submetidos a ataques das [[Cruzada dos Pastores|Cruzadas dos Pastores de 1251]] e [[Cruzada dos Pastores de 1320,|de 1320,]] bem como aos [[massacres de Rintfleisch]] em 1298. As cruzadas foram seguidas por expulsões, incluindo, em 1290, a expulsão de todos os judeus ingleses; em 1394, a expulsão de {{fmtn|100000}} judeus na França; e em 1421, a expulsão de milhares da Áustria. Muitos dos judeus expulsos fugiram para a Polônia.<ref>{{citar web|url=https://web.archive.org/web/20031211173212/http://www.holocaustcenterpgh.net/2-3.html|titulo=Why The Jews? Black Death|acessodata=22 de junho de 2018|publicado=The Holocaust Center of the United Jewish Federation of Greater Pittsburgh (Arq. em WayBack Machine)}}</ref>
Em 1478, a [[Inquisição Espanhola]] foi estabelecida pelos reis católicos [[Fernando II de Aragão]] e [[Isabel I de Castela]]. A Inquisição Espanhola operou na Espanha e em todas as colônias e territórios espanhóis da época, perseguindo principalmente os descendentes de judeus e muçulmanos convertidos, acusados de praticar os seus anteriores credos em segredo. De acordo com estimativas modernas, cerca de {{fmtn|150000}} pessoas foram julgadas por várias ofensas durante os cerca de três séculos (1478-1834) de duração da Inquisição Espanhola, e destes entre 3 mil e 5 mil foram executados.<ref>{{citar livro|título=Encyclopaedia Judaica (2.a ed)Vol 9|ultimo=Skolnik|primeiro=Fred (editor, e outros)|ano=2007|páginas=791-793}}</ref>
[[Imagem:Rogo inquisizione iberica.jpg|miniatura|250px|esquerda|Queima dos hereges pela Inquisição Portuguesa, na actual Praça do Comércio de Lisboa, antes do terramoto de 1755, de uma gravura original do {{séc|XVII}}]]
Muitos judeus vindos de Espanha refugiaram-se em Portugal, mas o caso repetiu-se: em 1496, o rei D. Manuel ordenou a expulsão de todos os judeus ou a sua conversão forçada.<ref>{{citar livro|título=História Concisa de Portugal (10.a ed.)|ultimo=Saraiva|primeiro=José Hermano|editora=Publicações Europa-America|ano=1986|páginas=131-133}}</ref>
Em 1506, na cidade de Lisboa, durante dias uma multidão perseguiu, torturou e matou na fogueira centenas de judeus convertidos - homens, mulheres e crianças (mais de 40004 000, segundo o relato contemporâneo de Garcia de Resende), acusados de heresia.<ref>{{citar livro|título=Chronica do Serenissimo Senhor Rei Dom Manoel|ultimo=Goes|primeiro=Damião de|ano=1749|páginas=141-143}}</ref><ref>{{citar web|url=http://www.cilisboa.org/hist_pt.htm|titulo=Massacre dos Judeus em Lisboa - 500 anos (1506 - 2006)|acessodata=14 de Julho de 2018|publicado=Comunidade Israelita de Lisboa|ultimo=Mucznik|primeiro=Esther}}</ref>
Mais tarde, em 1531, o rei D. João III pediu licença papal para organizar a Inquisição em Portugal, que acabou por ser concedida pelo papa [[Papa Paulo III|Paulo III.]] A Inquisição Portuguesa, em moldes semelhantes à espanhola, funcionou de 1536 até 1821. O número de vítimas mortais é estimado em cerca de 1500, não considerando, por exemplo, as milhares de mortes em cativeiro. Além da perseguição por heresia, eram julgados também casos de feitiçaria e "costumes depravados". A maior parte das confissões eram obtidas sob severas torturas.<ref>{{citar livro|título=História Concisa de Portugal (10.a ed.)|ultimo=Saraiva|primeiro=José Hermano|editora=Publicações Europa-America|ano=1986|páginas=182-183}}</ref><ref>{{citar livro|título=The Inquisition -A History|ultimo=Thomsett|primeiro=Michael|editora=McFarland & Company, Inc., Publishers|ano=2010|páginas=159-160}}</ref><ref>{{citar livro|título=The Marrano Factory -The Portuguese Inquisition and Its New Christians 1536-1765|ultimo=Saraiva|primeiro=António José|editora=Brill|ano=2001|páginas=404}}</ref>
=== Idade Moderna ===
Durante meados do {{séc|XVII}}, a [[República das Duas Nações]] (ou Comunidade Polaco-Lituana) foi devastada por vários conflitos, em que a comunidade perdeu mais de um terço de sua população (mais de 3 milhões pessoas), e as perdas judaicas foram contadas em centenas de milhares. O primeiro desses conflitos foi a revolta de [[Chmielnicki]] contra o domínio polaco, (1648-49) quando os partidários de [[Bogdan Khmelnitski]] massacraram dezenas de milhares de judeus nas áreas orientais e meridionais que ele controlava (hoje Ucrânia). O número exato de mortos pode nunca ser conhecido, mas a diminuição da população judaica durante esse período é estimada em {{fmtn|100000}} a {{fmtn|200000}}.<ref>{{citar livro|título=ENCYCLOPAEDIA JUDAICA Vol.IV (2.a edição)|ultimo=Skolnik|primeiro=Fred (Editor - e outros)|editora=Keter Publishing House|ano=2007|páginas=654}}</ref>
Imigrantes europeus para os Estados Unidos (católicos e protestantes) trouxeram o antissemitismo ao país no início do {{séc|XVII}}. [[Peter Stuyvesant]], o governador holandês de [[Nova Amsterdã]], (mais tarde chamada Nova Iorque) fez planos para impedir que os judeus, "essa raça desonesta", se estabelecessem na cidade. Durante a Era Colonial, eram limitados os direitos políticos e econômicos dos judeus. Mas após a [[Guerra de Independência dos Estados Unidos|Guerra Revolucionária Americana]], os judeus ganharam direitos legais, incluindo a obtenção gradual do direito de voto. Mesmo nos seus piores momentos, contudo, as restrições aos judeus nos Estados Unidos nunca foram tão rigorosas quanto na Europa.<ref>{{citar livro|título=Whiteness of a Different Color|ultimo=Jacobson|primeiro=Matthew Frye|editora=Harvard University Press|ano=1998|páginas=5, 11, 171}}</ref><ref>{{citar livro|título=Antisemitism in America|ultimo=Dinnerstein|primeiro=Leonard|editora=Oxford University Press|ano=1994|páginas=5, 6, 15}}</ref>
Em 1679, sob o domínio de [[Al-Mahdi Ahmad]], os judeus, acusados de violar o seu estatuto de [[dhimmi]], foram expulsos em massa de todas as partes do [[Iémen]] para Mawza, seca e estéril, e muitos judeus morreram de fome e doenças como resultado. Até dois terços dos judeus exilados não sobreviveram. Suas casas e propriedades foram confiscadas e muitas sinagogas foram destruídas ou convertidas em mesquitas. Cerca de um ano após a expulsão, os sobreviventes foram autorizados a retornar por razões económicas. No entanto, não puderam voltar para suas antigas casas e a maioria de seus artigos religiosos tinha sido destruída. Foram recolocados em bairros judeus especiais fora das cidades.<ref>{{citar livro|título=ENCYCLOPAEDIa JUDAICA (2.a ed)Vol 13|ultimo=Skolnik|primeiro=Fred (editor, e outros)|ano=2007|páginas=694/5}}</ref><ref>{{citar livro|título=The Jews of Yemen: studies in their history and culture|ultimo=Joseph|primeiro=Tobi|editora=Brill|ano=1999|páginas=6, 7, 79, 80}}</ref>
Em 1744, [[Frederico II da Prússia]] limitou Breslau a dez famílias judias "protegidas", sob a alegação de que, do contrário, elas o "transformarão em completa Jerusalém". Ele encoraja essa prática em outras cidades do [[Reino da Prússia]]. Em 1750, ele publicou ''Revidiertes General Privilegium und Reglement vor die Judenschaft,'' que determinava que os judeus "protegidos" tinham a alternativa de "abster-se do casamento ou deixar Berlim".<ref>{{citar livro|título=Encyclopaedia Judaica (2.a ed)Vol 7|ultimo=Skolnik|primeiro=Fred (editor, e outros)|ano=2007|páginas=221}}</ref><ref>{{citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/6334-frederick-ii|titulo=Frederick II. (surnamed the Great)|acessodata=1 de Julho de 2018|publicado=Jewish Encyclopedia.com|ultimo=Deutsch|primeiro=Gotthard (e outro)}}</ref><ref>{{citar livro|título=The Jews in Christian Europe: A Source Book, 315–1791|ultimo=Saperstein|primeiro=Marc|ultimo2=Marcus|primeiro2=Jacob Rader|editora=Hebrew Union College Press|ano=2015|páginas=257-270}}</ref>
A imperatriz [[Maria Teresa da Áustria]], vista pelos historiadores como talvez a monarca mais antijudaica do {{séc|XVIII}}, quis expulsar em 1744 os judeus de Praga e, em seguida, de toda a Boémia, declarando sobre eles: ''Eu não conheço maior praga do que essa raça, que por conta de sua falsidade, usura e avareza está a levar os meus súbditos à mendicância.''<ref>{{citar livro|título=The Jews in Christian Europe: A Source Book, 315–1791.|ultimo=Saperstein|primeiro=Marc|ultimo2=Marcus|primeiro2=Jacob Rader|editora=Hebrew Union College Press.|ano=2015|páginas=275}}</ref>
Em 1772, a imperatriz da Rússia [[Catarina II da Rússia|Catarina II]] forçou os judeus a entrar numa [[Zona de assentamento judeu na Rússia|zona de assentamento especial]] (''Pale of Settlement)'', localizada nas actuais Polônia, Ucrânia e Bielorrússia - e permanecer em seus ''[[shtetl]]s'' e proibiu-os de retornar às cidades que ocupavam antes da partição da Polónia. Mais tarde (após 1804) seriam banidos das aldeias e começaram a ingressar nas cidades.<ref>{{citar web|url=https://www.jewishvirtuallibrary.org/the-pale-of-settlement|titulo=Modern Jewish History: The Pale of Settlement|acessodata=5 de Julho de 2018|publicado=The Jewish Virtual Library}}</ref><ref>{{citar livro|título=A History of The Jews|ultimo=Johnson|primeiro=Paul|ano=1987|páginas=358}}</ref>
O filósofo [[Voltaire]], apesar do seu importante papel na defesa da Liberdade, chama o povo judeu, no seu Dicionário Filosófico ''([[Dictionnaire philosophique]]''), '"ignorante", "bárbaro"'' e "cheio de superstições". Ao mesmo tempo, também criticou os que os perseguiam, dizendo: '': mesmo assim, não devemos queimá-los na fogueira''. ''O escritor judeu [[Isaac de Pinto]], indignado, escreveu-lhe uma carta aberta, lamentando os "horríveis preconceitos" aprovados pelo ''"''maior dos génios da mais iluminada época"'. Voltaire respondeu desculpando-se por ter estereotipado todos os judeus, mas a sua opinião em geral sobre eles parece não se ter alterado.<ref>{{citar livro|título=ANTISEMITISM -A HISTORICAL ENCYCLOPEDIAOF PREJUDICE AND PERSECUTION (Richard S. Levy, Editor)|ultimo=Sepinwall|primeiro=Alyssa Goldstein|editora=ABC-Clio, Inc.|ano=2005|páginas=746-748}}</ref>
[[Martinho Lutero]], monge e professor de teologia germânico, uma das figuras principais da Reforma Protestante, publicou em 1543 um pequeno livro, "Sobre os Judeus e as suas Mentiras" onde fez violentos ataques aos judeus, que segundo a sua opinião, deveriam ser expulsos da Alemanha, despojados de todos os seus bens, incendiadas suas sinagogas e escolas, suas casas derrubadas e destruídas (…) ; e afirmou ainda que "estamos em falta por não os matar".<ref>{{citar livro|título=On the Jews & Their Lies|ultimo=Luther|primeiro=Martin|editora=Eulenspiegel Press}}</ref><ref>[https://www.theguardian.com/commentisfree/2015/may/17/islam-reformation-extremism-muslim-martin-luther-europe Why Islam doesn’t need a reformation] Mehdi Hasan</ref>
=== Idade Contemporânea ===
[[Imagem:The Liberation of Bergen-belsen Concentration Camp, April 1945 BU4260.jpg|miniatura|direita|Vala comum no [[campo de concentração de Bergen-Belsen]] ([[1 de abril]] de [[1945]]).]]
Em 1790, [[Iázide de Marrocos|Iázide]], Sultão de Marrocos, subindo ao poder, ordenou a destruição total do bairro judeu de [[Tetuão]]. Os seus exércitos saquearam, mataram e violaram. As comunidades de [[Larache]], [[Arzila]], [[Alcácer Quibir]], [[Taza]], [[Fez]] e [[Mequinez]] sofreram o mesmo destino. Todos os judeus que tinham servido ao anterior sultão anterior foram pendurados pelos pés nos portões de Mequinez, onde permaneceram até morrer. Alguns notáveis e povo muçulmanos, porém, intervieram em favor dos judeus, escondendo muitos em suas casas e salvando muitos outros. Outras atrocidades se seguiram. Pouco antes de morrer como resultado de uma ferida recebida em uma batalha perto de Marraquexe, Al Iázide ordenou a elaboração de longas listas de notáveis judeus e muçulmanos em Fez, Mequinez e [[Essaouira|Mogador]] que seriam executados - no entanto morreu antes da ordem ser realizada.<ref>{{citar web|url=https://www.jewishvirtuallibrary.org/morocco-virtual-jewish-history-tour|titulo=Morocco Virtual Jewish History Tour|acessodata=4 de Julho de 2018|publicado=Jewish Virtual Library}}</ref><ref>{{citar livro|título=The Jews of Arab Lands|ultimo=Stillman|primeiro=Norman A.|ano=1979|páginas=309}}</ref>
O historiador Martin Gilbert escreve que foi no {{séc|XIX}} que a posição dos judeus se agravou nos países muçulmanos. [[Benny Morris]] escreve que um símbolo da degradação judaica foi o fenômeno do apedrejamento de judeus por crianças muçulmanas. Morris cita um viajante do {{séc|XIX}}:
O antissemitismo na América atingiu o seu máximo durante o [[período entreguerras]]. O pioneiro fabricante de automóveis [[Henry Ford]], simpatizante do [[nazismo]] alemão, propagou ideias antissemitas em artigos no seu jornal ''The Dearborn Independent'' (publicado de 1919 a 1927), reunidos mais tarde sob o título ''The International Jew''<ref name=":2">{{citar livro|título=America, Its Jews and the Rise of Nazism|ultimo=Arad|primeiro=Gulie Ne'Eman|editora=Indiana University Press|ano=2000|páginas=66, 174}}</ref><ref>{{citar web|url=https://timesmachine.nytimes.com/timesmachine/1922/12/20/98799625.pdf|titulo=Berlin Hears Ford is Backing Hitler|data=20 de Dezembro de 1922|publicado=The New York Times}}</ref> Os discursos radiofônicos do padre Coughlin, no final da década de 1930, atacaram o [[New Deal]] de [[Franklin Delano Roosevelt|Franklin D. Roosevelt]] e promoveram a ideia de uma conspiração financeira judaica. Alguns políticos proeminentes compartilhavam tais visões.<ref name=":2" /> Ford deu a conhecer também ao público americano o livro [[Os Protocolos dos Sábios de Sião]], uma fraude da Rússia [[Czarismo|czarista]].
[[Imagem:1920 poster 12000 Jewish soldiers KIA for the fatherland.jpg|thumb|260px|direita|Panfleto de 1920 publicado pelo ''[[Reichsbund jüdischer Frontsoldaten]]'' (associação de judeus [[veterano]]s da [[I Guerra Mundial]]). Fundada em 1919 por [[Leo Löwenstein]],<ref>{{citar livro|autor=Jürgen Matthäus, Mark Roseman|título=Jewish Responses to Persecution: 1933–1938|editora=Rowman & Littlefield|ano=2009|páginas=427 {{en}}|isbn= 9780759119109}} Adicionado em 27 de junho de 2019.</ref> esta associação foi extinta em 1938 pelo governo nazista. Traz os dizeres: "''Os heróis cristãos e judeus lutaram lado a lado e repousam lado a lado em terras estrangeiras.'' "Cerca de 100 mil soldados alemães judeus lutaram no [[exército imperial alemão]] nesta guerra e, destes, aproximadamente 12 mil perderam suas vidas.<ref>{{citar livro|autor=Tim Grady|título=The German-Jewish Soldiers of the First World War in History and Memory|editora=Liverpool University Press {{en}}|ano=2012|páginas=|isbn= 9781781388839}} Adicionado em 27 de junho de 2019.</ref>]]
Hitler elogiou Ford no ''[[Mein Kampf]]'',<ref>{{citar livro|título=Mein Kampf|ultimo=Hitler|primeiro=Adolf|editora=Reynal and Hitchcock|ano=1941|páginas=930}}</ref> e o governo alemão condecorou-o em 1938 com a [[Ordem de Mérito da Águia Alemã]].<ref>{{citar web|url=http://www.axishistory.com/component/content/article/360-germany-unsorted/militaria/8693-order-of-the-german-eagle?highlight=WyJoZW5yeSIsImZvcmQiLCJoZW5yeSBmb3JkIl0=|titulo=Order of the German Eagle|data=24 de Fevereiro de 2013|publicado=Axis History}}</ref> O grau do [[colaboracionismo]] de Ford com o nazismo continua a ser objecto de pesquisas de historiadores.<ref>{{citar web|url=http://www.washingtonpost.com/wp-srv/national/daily/nov98/nazicars30.htm|titulo=Ford and GM Scrutinized for Alleged Nazi Collaboration|data=30 de Novembro de 1998|publicado=The Washington Post|ultimo=Dobbs|primeiro=Michael}}</ref><ref>{{citar web|url=https://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/northamerica/usa/1445822/Ford-used-slave-labour-in-Nazi-German-plants.html|titulo=Ford 'used slave labour' in Nazi German plants|data=3 de Novembro de 2003|publicado=The Telegraph|ultimo=English|primeiro=Simon}}</ref>
Na então [[República de Weimar]], subiu ao poder, em janeiro de 1933, [[Adolf Hitler]], após um terço da população alemã ter votado a favor do partido nazi. Hitler começou imediatamente a pôr em prática as ideias que já tinha exposto no livro ''[[Mein Kampf]]'' — "purificar" a nação dos seus elementos judaicos. Na [[Noite dos Cristais]], em 9 de novembro de 1938, deu-se a expropriação e destruição de bens e propriedades judaicas e o primeiro encarceramento em massa (cerca de {{fmtn|30000}}) de judeus. Durante o domínio nazi, foi levada a cabo a [[Solução final]] — a eliminação sistemática da população judaica, na Alemanha e [[Europa ocupada pela Alemanha Nazista|nos países conquistados]]. Cerca de seis milhões de judeus — e também [[cigano]]s, [[comunista]]s, [[socialista]]s, [[católico]]s, [[homossexuais]], [[testemunhas de Jeová]] e, de um modo geral, todos os opositores, foram executados até ao fim da [[Segunda Guerra Mundial]].<ref>{{citar livro|título=Antisemitism - A Reference Handbook|ultimo=Chanes|primeiro=Jerome A.|editora=ABC Clio|ano=2004|páginas=67, 142-143}}</ref> Uma pesquisa iniciada em 2000 por [[Geoffrey Megargee]] e [[Martin Dean]] para o [[Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos]], estimou em 2013 que 15 a 20 milhões de pessoas, no total, morreram ou foram aprisionadas nos milhares de campos e [[Guetos judeus na Europa|guetos]] identificados até ao momento.<ref>{{citar web|url=https://www.nytimes.com/2013/03/03/sunday-review/the-holocaust-just-got-more-shocking.html|titulo=The Holocaust Just Got More Shocking|data=1 de Março de 2013|publicado=The New York Times|ultimo=Lichtblau|primeiro=Eric}}</ref>
Em 23 de Junho de 1941, tropas nazis entram na pequena povoação de [[Jedwabne]], na Polónia, que até ali estivera nas mãos do exército russo. Imediatamente começaram as perseguições, torturas e assassínios de judeus, por parte da população católica polaca, com a morte de cerca de 15001 500 judeus - homens, mulheres e crianças - a maior parte deles queimados vivos num celeiro.<ref>{{citar web|url=https://www.jewishvirtuallibrary.org/the-massacre-in-jedwabne|titulo=Jews in Occupied Poland: The Massacre in Jedwabne (Summer 1941)|acessodata=4 de Agosto de 2018|publicado=Jewish Virtual Library}}</ref><ref>{{citar livro|título=Neighbors : the destruction of the Jewish communityin Jedwabne, Poland|ultimo=Gross|primeiro=Jan T.|editora=Princeton University Press|ano=2001|páginas=16}}</ref><ref>{{citar livro|título=Antisemitism - A Historical Encyclopedia of Prejudice and Persecution -VOLUME 1: A–K|ultimo=Levy|primeiro=Richard S.(editor)|editora=ABC Clio|ano=2005|páginas=366-367}}</ref>
==== Século XXI ====
Durante o {{séc|XXI}}, houve um aumento do antissemitismo e das suas manifestações, não só na Europa como em todo o mundo, o que foi sendo observado em diversos relatórios anuais do Departamento de Estado dos EUA, e também por outros governos, instituições, líderes mundiais e figuras públicas. A Conferência da [[Organização para a Segurança e Cooperação na Europa|OSCE]] sobre antissemitismo, realizada em [[Berlim]] em abril de 2004, culminou com a emissão de uma declaração - “A Declaração de Berlim” - que ''“reconhece que o antissemitismo ... assumiu novas formas e expressões que, juntamente com outras formas de intolerância, representam uma ameaça à democracia, aos valores da civilização e, portanto, à segurança geral ”geral”.''<ref>{{citar web|url=https://2009-2017.state.gov/documents/organization/102301.pdf|titulo=Contemporary Global anti-Semitism: a report provided to the United States Congress|data=Março de 2008|publicado=United States Department of State}}</ref>
O actual antissemitismo provém simultaneamente de sectores da [[Esquerda (política)|esquerda]] e [[Extrema-esquerda|extrema esquerda]], da [[Extrema-direita|extrema direita]] e dos [[islamistas]]; misturando, sem fronteiras bem definidas, a oposição a [[Israel]], ao [[sionismo]], e a aversão aos judeus em geral.<ref>{{citar web|url=https://www.theguardian.com/uk/2005/jan/30/religion.world|titulo=Anti-Jewish attacks at record level|data=30 de Janeiro de 2005|publicado=The Guardian|ultimo=Doward|primeiro=Jamie}}</ref><ref name=":6">{{citar web|url=https://web.archive.org/web/20120729171012/http://warrenkinsella.com/oldsite/old/words_extremism_nas.htm|titulo=The New Anti Semitism|data=29 de Julho de 2012|publicado=WarrenKinsella.com (Arq. em WayBack Machine)|ultimo=Kinsella|primeiro=Warren}}</ref><ref>{{citar web|url=https://books.google.pt/books?id=Lmym8zUBCKcC&pg=PA65&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false|titulo=Contemporary Antisemitism: Canada and the World|data=2005|publicado=University of Toronto Press|ultimo=Marrus|primeiro=Michael Robert (editor - e outros)|paginas=66, 67}}</ref><ref>{{citar web|url=https://books.google.pt/books?id=DYR7SqcMe9gC&pg=PA30&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false|titulo=Aftershock: Anti-zionism and Anti-semitism|data=2005|publicado=Dundurn Press|ultimo=Matas|primeiro=David|paginas=30-39}}</ref><ref>{{citar livro|título=From Ambivalency to Betrayal - The Left, The Jews and Israel|ultimo=Wistrich|primeiro=Robert S.|editora=University of Nebraska Press|ano=2012|páginas=625}}</ref><ref>{{citar web|url=https://web.archive.org/web/20040302181955/http://yaleglobal.yale.edu:80/display.article?id=2791&page=4|titulo=Antiglobalism's Jewish Problem|data=2 de Março de 2004|publicado=Yale Global OnLine (Arq. em WayBack Machine)|ultimo=Strauss|primeiro=Mark}}</ref> Afirma-se que o actual antissemitismo emprega motivos antissemitas tradicionais, incluindo motivos mais antigos, como o [[libelo de sangue]].<ref name=":6">{{citar web|url=https://web.archive.org/web/20120729171012/http://warrenkinsella.com/oldsite/old/words_extremism_nas.htm|titulo=The New Anti Semitism|data=29 de Julho de 2012|publicado=WarrenKinsella.com (Arq. em WayBack Machine)|ultimo=Kinsella|primeiro=Warren}}</ref><ref>{{citar livro|título=Poison - Modern Manifestations Of A Blood Libel|ultimo=Israeli|primeiro=Raphael|editora=Lexington Books|ano=2002|páginas=368}}</ref> Em julho de 2014, Osama Hamdan, representante do [[Hamas]] no [[Líbano]], afirmou:
Segundo o professor [[Robert Wistrich]], diretor do [[Centro Internacional Vidal Sassoon para o Estudo do Anti-semitismo|Centro Internacional Vidal Sassoon para o Estudo do Antissemitismo]] (SICSA), os apelos para a destruição de Israel pelo [[Irã]] ou pelo [[Hamas]], o [[Hezbollah]], a [[Movimento da Jihad Islâmica na Palestina|Jihad Islâmica]] ou a [[Irmandade Muçulmana]], representam um modo contemporâneo de antissemitismo genocida.<ref>{{citar web|url=http://blogs.timesofisrael.com/holocaust-remembrance-day-a-somber-anniversary/|titulo=Holocaust Remembrance Day — a somber anniversary|data=27 de Janeiro de 2013|publicado=The Times of Israel|ultimo=Wistrich|primeiro=Robert S.}}</ref>
Os judeus em vários países da Europa estão em fuga para Israel em números crescentes, dado o aumento constante do antissemitismo e dos ataques [[Terrorismo islâmico|terroristas islâmicos]]. Mais de 80008 000 judeus deixaram a [[França]] em 2015; também os judeus alemães, e britânicos não se sentem seguros.<ref name=":7">{{citar web|url=https://www.independent.co.uk/news/world/europe/jews-are-leaving-france-in-record-numbers-amid-rising-anti-semitism-and-fears-of-more-isis-inspired-a6832391.html|titulo=Jews are leaving France in record numbers|data=25 de Janeiro de 2016|publicado=The Independent|ultimo=Hall|primeiro=John}}</ref> Todas as sinagogas, todas as creches e escolas judaicas na Alemanha estão sob proteção policial.<ref name=":8">{{citar web|url=http://www.spiegel.de/international/germany/our-antennae-are-up-rise-in-anti-semitism-unsettles-germany-a-1220179.html|titulo=Rise in Anti-Semitism Unsettles Gemany's Jews (part 1)|data=26 de Julho de 2018|publicado=Spiegel|ultimo=Großbongardt|primeiro=Annette}}</ref><ref>{{citar web|url=http://www.spiegel.de/international/germany/our-antennae-are-up-rise-in-anti-semitism-unsettles-germany-a-1220179-2.html|titulo=Rise in Anti-Semitism Unsettles Gemany's Jews (part 2)|data=26 de Julho de 2018|publicado=Spiegel|ultimo=Großbongardt|primeiro=Annette}}</ref> A migração muçulmana para os países da Europa, trazendo com eles o antissemitismo das suas culturas de origem, e o apelo a ataques pelo ISIS, aumentaram o medo nas comunidades judaicas.
Uma pesquisa da UE em 2013 revelou que 74% dos judeus franceses agora têm tanto medo de serem atacados por sua religião que tomam medidas para evitar serem identificados como judeus.<ref name=":7">{{citar web|url=https://www.independent.co.uk/news/world/europe/jews-are-leaving-france-in-record-numbers-amid-rising-anti-semitism-and-fears-of-more-isis-inspired-a6832391.html|titulo=Jews are leaving France in record numbers|data=25 de Janeiro de 2016|publicado=The Independent|ultimo=Hall|primeiro=John}}</ref>
Em 23 de março de 2018, num caso que chocou a França, [[Mireille Knoll,]] de 85 anos, sobrevivente do [[Holocausto]], foi assassinada a facadas no seu apartamento em [[Paris]].<ref>{{citar web|url=https://www.algemeiner.com/2018/08/09/son-of-murdered-french-holocaust-survivor-mireille-knoll-expresses-fear-over-jewish-future-in-europe/|titulo=Son of Murdered French Holocaust Survivor Mireille Knoll Expresses Fear Over Jewish Future in Europe|data=9 de Agosto de 2018|publicado=The Algemeiner|ultimo=Cohen|primeiro=Ben}}</ref> Isto sucedeu quase um ano depois de outro caso semelhante, o assassínio de [[Morte de Sarah Halimi|Sarah Halimi]], judia, de 66 anos, em 4 de abril de 2017, morta a golpes de [[arma branca]] e atirada depois dum terceiro andar.<ref>{{citar web|url=https://www.telegraph.co.uk/news/2018/02/28/murder-jewish-woman-paris-reclassified-anti-semitic-attack/|titulo=Murder of Jewish woman in Paris reclassified as anti-semitic attack|data=28 de Fevereiro de 2018|publicado=The Telegraph|ultimo=Chazan|primeiro=David}}</ref><ref>{{Citar web|url=https://www.thejc.com/news/world/french-prosecutors-drop-murder-charges-jewish-kindergarten-teacher-sarah-halimi-killer-kobili-traor%C3%A9-1.493649|titulo=French prosecutors drop murder charges against Jewish kindergarten teacher Sarah Halimi's killer - Psychiatric experts say Kobili Traoré had smoked cannabis and may have been unaware of his actions|data=28 de Novembro de 2019|publicado=The Jewish Chronicle|ultimo=Sitbon|primeiro=Shirli}}</ref> Estes dois episódios fizeram reviver o de [[Assassinato de Ilan Halimi|Ian Halimi]], também judeu, de 23 anos, raptado, torturado e finalmente morto em janeiro de 2006, por uma gangue.<ref>{{citar web|url=https://www.nysun.com/foreign/tale-of-torture-and-murder-horrifies-the-whole/27948/|titulo=Tale of Torture and Murder Horrifies the Whole of France|data=22 de Fevereiro de 2006|publicado=The New York Sun|ultimo=Gurfinkiel|primeiro=Michel}}</ref>
No [[Ocidente]], também existe a vertente conservadora do antissemitismo performada pelo [[Partido Conservador (Reino Unido)|Partido Conservador]],<ref>{{Citar web|titulo=Confusion over suspension of ‘antisemitic’ Conservative Councillor|url=https://antisemitism.uk/confusion-over-suspension-of-antisemitic-conservative-councillor/|obra=Campaign Against Antisemitism|data=2016-04-17|acessodata=2019-06-15|lingua=en-GB|primeiro=Campaign Against|ultimo=Antisemitism}}</ref> no [[Reino Unido]]; também o Partido Trabalhista britânico, tem sido acusado de antissemitismo, acusação principalmente focada na figura de [[Jeremy Corbyn]].<ref>{{citar web|url=https://www.nationalreview.com/2018/08/jeremy-corbyn-anti-semite-supports-terrorists-holocaust-deniers/|titulo=Jeremy Corbyn, Anti-Semite|data=14 de Agosto de 2018|acessodata=|publicado=National Review|ultimo=Lenarz|primeiro=Julie}}</ref><ref>{{Citar periódico|ultimo=correspondent|primeiro=Jessica Elgot Political|data=2018-04-02|titulo=Labour antisemitism more widespread than thought, Momentum says|url=https://www.theguardian.com/politics/2018/apr/02/labour-antisemitism-more-widespread-than-thought-momentum-says|jornal=The Guardian|lingua=en-GB|issn=0261-3077}}</ref>
O antissemitismo nunca foi tão forte quanto na [[Idade Contemporânea]], sendo que ele foi racionalizado para ser uma função exclusiva do Estado<ref>[http://www.jewishvirtuallibrary.org/adolf-hitler-on-the-annihilation-of-the-jews-september-1919 Adolf Hitler: On the Annihilation of the Jews (September 16, 1919)]</ref> e por outro lado nunca foi tão escondido.<ref>[https://www.timesofisrael.com/hailing-yair-netanyahu-neo-nazi-site-puts-him-on-its-banner/ Hailing Yair Netanyahu, neo-Nazi site puts him on its banner]</ref> Hoje o mundo passa por uma conscientização coletiva sobre todos os tipos de preconceito existentes e o espaço para o antissemitismo ficou escasso e vergonhosos para quem o usa. Os judeus temtêm sido comparados a germes de doenças infecciosas transmissíveis por Hitler tais quais os bacilos da [[tuberculose]].<ref>[http://www.jewishvirtuallibrary.org/adolf-hitler-on-the-jewish-question-jewish-virtual-library Adolf Hitler: On the Jewish Question(January 30, 1939)]</ref> Por isso, além de suas formas clássicas, ele se apresenta em nossos tempos de duas novas formas. O retroativo e o descaracterizado.
* '''Retroativo''' — Forma de usar o próprio antissemitismo para atacar o povo judeu, acusando-o de criar ou usar o antissemitismo para causar mal aos outros, criando assim um ambiente propicio para desenvolver o ódio aos judeus sem culpa.
* '''Negacionismo''' — Acusar os judeus de criar sua própria perseguição no holocausto ou em outros eventos, com o propósito de dominar o mundo.
== Ver também ==
{{Dividir em colunas}}
* [[Novo antissemitismo]]
* [[Etnocídio]]
* [[Genocídio]]
* [[História do antissemitismo]]
* [[Domingos de Val]]
* [[Guilherme de Norwich|William de Norwich]]
* [[Gabriel de Białystok]]
* [[Simão de Trento]]
* [[Libelo de sangue]]
* [[Lenda do envenenamento dos poços]]
* [[Sionismo]]
* [[Religião étnica]]
* [[Libelo de sangue]]
* [[Difamação (documentário)]]{{Dividir em colunas fim}}
{{Notas}}
{{Referências}}
== Ligações externas ==
* {{Link|ca|2=http://wiki.vilaweb.cat/index.php/Catalanisme_i_semitisme_/_sionisme |3=Antisemitismo e anticatalanismo}}
{{Portal3|Discriminação|História|Judaísmo}}
[[Categoria:Antissemitismo| ]]
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