BERTHA LUTZ E MARIA LACERDA DE MOURA UMA PARCERIA INUSITADA
Mônica Karawejczyk
Fundação Biblioteca Nacional
E-mail: karawejczyk@gmail.com
Resumo: Este artigo visa apresentar a parceria entre duas mulheres com o intuito de fundar uma associação feminina em 1920. As mulheres são Bertha
Lutz e Maria Lacerda de Moura. A associação é a Liga para Emancipação Intelectual das Mulheres (LEIM), uma das primeiras a lutar pelos direitos femininos
no Brasil. A carta fundadora da Liga será aqui analisada, bem como a aproximação e o distanciamento entre essas duas iguras emblemáticas do movimento
feminista brasileiro.
Palavras-chave: Bertha Lutz; Maria Lacerda de Moura; LEIM.
Abstract: This article seeks to present the partnership between two women in
order to establish a women’s association in 1920, Bertha Lutz and Maria Lacerda de Moura. The association is the League for Intellectual Emancipation of
Women, one of the irst to ight for women’s rights in Brazil. The founding letter
of the League will be examined here as well as the approach and the distance
between these two emblematic igures of the Brazilian feminist movement.
Keywords: Bertha Lutz; Maria Lacerda de Moura; LEIM.
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Muito já se escreveu sobre Bertha Lutz e Maria Lacerda de Moura. Mulheres com propostas e visões de mundo diversas. Uma anarquista e a outra
conservadora1. Ambas com atuação marcante nas décadas de 1920 e 1930.
Contudo, ainda pouco se sabe sobre a aproximação inicial de tais mulheres
para fundar uma associação feminina no Brasil, a Liga pela Emancipação
Intelectual da Mulher (LEIM), bem como as nuances de seu afastamento
pouco tempo depois. Apesar de ambas serem consideradas como fundadoras da Liga, no início de 1920, o contato entre elas foi sendo aos poucos rompido. Segundo a bibliograia consultada, isso teria ocorrido porque,
enquanto Lutz “priorizava os cuidados com a ampliação dos direitos políticos e legais e com a melhoria da situação econômica da mulher dentro da
sociedade brasileira” (HAHNER, 2003, p.291), Maria Lacerda de Moura
“queria conscientizar as mulheres de sua condição de servidão à família e
conduzi-las à participação social” (LEITE, 2005, p.17). Esse desacordo caracterizaria um conlito entre elas, uma vez que Lutz procurava integrar a
mulher brasileira na sociedade vigente, solicitando os mesmos direitos que
os homens, pelas vias legais, mas sem propor mudanças radicais na forma
com que a mulher estava inserida, enquanto Moura procurava, por sua vez,
expor a servidão que o sexo feminino estava vivenciando naquele momento
e propunha uma revolução nos costumes. Este artigo é uma tentativa de se
entender essa parceria inusitada.
Bertha Maria Júlia Lutz nasceu em São Paulo, em 1894, e “surgiu” no
cenário público nacional no inal da década de 1910. Era ilha do renomado
cientista Adolpho Lutz e da enfermeira inglesa Amy Fowler. Para a época em
questão, teve uma educação esmerada e inusitada. Cursou o primário em São
Paulo, antes da mudança de toda a família para o Rio de Janeiro, em 1908,
quando o pai assumiu uma vaga no Instituto de Manguinhos a convite de
Oswaldo Cruz, diretor do instituto na época. Ele decide enviar sua ilha (com
14 anos na época) acompanhada pela mãe e o ilho caçula de cinco anos, para
prosseguir os seus estudos em Paris.2
Bertha completou seus estudos secundários na Cours Bouchut e logo a
seguir ingressou na seleta Faculté des Sciences da Universidade de Paris –
Sorbonne, na qual seguiu o curso de botânica, zoologia e evolução dos seres
1
O termo ‘conservadora’ e ‘anarquista’ foi empregado no texto para diferenciar as propostas de Bertha Lutz e de Maria
Moura e devem ser compreendidos pela forma como essas mulheres passaram a ser referenciadas pela historiograia ao longo
do século XX. Na época em que elas atuaram no mundo público brasileiro, ambas tinham uma atitude ousada (cada uma de sua
maneira particular) ao expor suas ideias e lutas em prol da emancipação feminina, o que as diferenciava de outras mulheres.
2
Yolanda Lôbo (2010, p.24) conjectura que a ida de Bertha para estudar no exterior estava vinculada ao desejo de seu pai
de torná-la sua assistente, de modo que a ida para Paris foi planejada por ser nessa cidade que estava o centro mais adiantado
no campo das ciências naturais na época.
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organizados, química biológica, ilosoia e literatura, além de continuar seus
estudos em música na Scola Cantorum (LÔBO, 2010, p.24-25).
Em 1918, ao retornar para o Rio de Janeiro, ela assume, em setembro, a
condição de assistente do pai na seção de zoologia do Instituto Oswaldo Cruz,
emprego em que Bertha ingressou como tradutora de forma não oicial, ou
seja, sem participar de um concurso público, como destaca Yolanda Lôbo
(2010, p.26). No ano seguinte, começou a colaborar com o periódico Rio
Jornal, na seção Rio-Femina, com matérias sobre a emancipação feminina,
além de se dedicar a estudar para o concurso de secretário do Museu Nacional que ocorreria em julho. 3 As matérias por ela escritas registravam seu
interesse em mostrar para a opinião pública a “ideia de que os direitos da mulher não signiicarão um rompimento com a família, com o papel tradicional de
mãe e esposa” (ALVES, 1980, p.101) e, também, em conclamar as brasileiras
para a necessidade de se unirem para fazerem valer seus direitos. Bertha se
posicionava em prol da emancipação da mulher, mas sem descuidar do seu
papel de mãe e dona de casa, procurando, em seus escritos, reiterar que o
papel doméstico da mulher não sofreria desgastes com os novos papéis que
ela estava assumindo.4
Já Maria Lacerda nasceu em 1887, no interior da então província de Minas
Gerais, e logo depois se mudou, com sua família, para a cidade de Barbacena
(MG). Nesta cidade, fez seus estudos primários e a Escola Normal, na qual
se diplomou em 1904, aos 16 anos. Seu pai era um livre pensador, espírita e
membro da maçonaria, o que a inluenciou durante toda a sua vida. Aos 17
anos casou-se, passando a se chamar Maria Lacerda de Moura e quatro anos
depois (1908) iniciou a vida proissional como professora e, em 1912, como
jornalista. É também dessa mesma época o seu envolvimento com campanhas
de alfabetização e de obras de benemerência, todas na cidade de Barbacena.
Em 1918, lançou sua primeira obra, Em torno da educação, baseada em crô3
Bertha Lutz foi convidada pelo jornal, em fevereiro de 1919, tal como aponta Branca Moreira Alves (1980, p.100-101).
Segundo Yolanda Lôbo, Bertha também assinou algumas matérias no ano de 1919 com o pseudônimo de Gilberta Lutz e passou
em primeiro lugar no concurso, assumindo o cargo em 3 de setembro de 1919. Exerceu o cargo de secretária até janeiro de
1936, quando mudou de posto. Foi a segunda mulher a ser admitida por concurso e nomeada para um cargo federal.
4 A primeira inserção de Bertha na imprensa parece ter sido o artigo publicado na Revista da Semana (RJ) na seção intitulada
“Cartas de Mulher”, na edição de 28 de dezembro de 1918, na qual a responsável pela seção cedeu espaço para publicar uma
carta de “uma distinta senhorita patrícia, licenciada pela Sorbonne, ilha de um ilustre cientista, e que atualmente trabalha no
nosso mais glorioso instituto cientiico, recebi a carta que transcrevo e que considero uma das mais preciosas dádivas com que a
generosidade das minhas patrícias me tem estimulado no obscuro trabalho desta página de colaboração da ‘Revista da Semana’.
A minha modesta cultura sente se imerecidamente engrandecida pelas palavras de louvor desta brasileira que é a mais perfeita
representante, entre nós, da ‘nova mulher’. Reservo-me para responder depois as considerações desta nobre carta, onde se
airma o elevado espírito de Bertha” (Revista da Semana, 28/12/1918, p.19). Essa carta é considerada por Rachel Soihet (2006)
e June Hahner (2003) como a carta fundante do movimento feminista no Brasil.
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nicas e conferências realizadas na sua cidade. Em 1919, publicou Renovação,
sendo amplamente divulgado em outras cidades do país. A partir dessas obras,
que divulgaram suas ideias de uma maior instrução para as mulheres como um
instrumento para transformar suas vidas, foi convidada a dar palestras em Juiz
de Fora, Santos, São Paulo e Rio de Janeiro e, através destas, fez contatos
com jornalistas e escritores. Tais conferências, segundo Míriam Leite (1984),
foram as responsáveis pela sua mudança para São Paulo, em 1921, onde permaneceu até 1928. 5
Ao longo da vida, Maria Lacerda radicalizou suas ideias, passando a pregar
o amor livre e a maternidade consciente, bem como denunciando o clericalismo, o problema da mulher celibatária e da prostituta, provocados pela família
burguesa, e apregoando o individualismo. Buscou também conscientizar as
mulheres acerca de sua condição de servidão à família.
O que aproximou duas mulheres de gerações diferentes e com propostas diversas de emancipação do sexo feminino? Na época em questão, outra
mulher tinha seu nome veiculado pela imprensa da capital federal – Leolinda
de Figueiredo Daltro, professora que, desde 1910, lutava em prol da emancipação feminina, chegando a fundar, em 1910, uma associação feminina, denominada Partido Republicano Feminino (PRF).6 O grupo formado em torno
de Leolinda e do PRF era o mais execrado pela imprensa da época. Boa parte
da imprensa carioca não se cansava em fazer chacota em torno do nome de
Daltro, quase sempre a denominando como representante do mau feminismo,
aquele que não devia ser seguido pelas mulheres brasileiras.
Bertha, em uma das suas primeiras manifestações sobre o tema da participação feminina no mundo público e da necessidade das mulheres se unirem
para fazer valer seus direitos, exalta o papel das professoras “às quais a nação
conia a educação de seus ilhos, [pois essas] mostram que em nosso país
também há mulheres de grande valor”. Para reforçar o seu argumento, ela faz
questão de salientar que foram tais atitudes que a inspiraram a escrever e propor “canalizar todos esses esforços isolados, para que seu conjunto chegue a
ser uma demonstração” e propõe que as mulheres unam suas forças para lutar
por seus direitos, no que ela chama de “um ensaio de fundação de uma Liga de
mulheres brasileiras”. Dando seguimento na referida proposta, explicita a sua
5
Maria Lacerda separou-se do marido em 1925, sendo que de 1928 a 1937 viveu na comunidade anarquista de Guararema
(interior de São Paulo). Em 1937 voltou para Barbacena, onde permaneceu por um ano, logo se mudando para o Rio de Janeiro,
localidade onde veio a falecer em 1945. Informações coletadas em Míriam Leite (1984; 2005) e Schuma Schumaher e Érico
Vital Brazil (2000, p.399-400).
6
Ver mais sobre a trajetória de Leolinda de Figueiredo Daltro em, por exemplo, Elaine Rocha (2002), Teresa Novaes
Marques (2004), Hilda Pereira de Melo e Teresa Novaes Marques (2000) e Mônica Karawejczyk (2013).
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visão do que deveria ser tal Liga, fazendo-o de maneira a deixar claro o que ela
não deveria ser, ou seja,
[...] uma associação de ‘sufragetes’ para quebrarem as vidraças da Avenida, mas
uma sociedade de brasileiras que compreendessem que a mulher não deve viver
parasitamente do seu sexo, aproveitando os instintos animais do homem, mas que
deve ser útil, instruir-se e a seus ilhos, e tornar-se capaz de cumprir deveres políticos que o futuro não pode deixar de compartilhar com ela. (Revista da Semana,
28/12/1918, p.19).
Tudo leva a crer que foi a busca de uma não vinculação com o grupo da
professora Daltro, que estava recebendo críticas negativas da imprensa no inal da década de 1910, que levou Bertha Lutz a entrar em contato com outra
professora, Maria Lacerda de Moura, que vinha tendo o seu nome veiculado
na imprensa da capital federal com palavras elogiosas, como ilustra a matéria
publicada no jornal O Paiz, que assim a apresentou ao público carioca: “a senhora Maria Lacerda de Moura é uma incansável educacionista mineira que se
tem esforçado de um modo inteligente e digno de aplausos, pela vitória do que
se costuma chamar o feminismo em nossa pátria” (O Paiz, 04/01/1920, p.3).
Segundo informa June Hahner (2003, p.288), foi durante a estada na
Europa que Bertha conheceu de perto a campanha pelo sufrágio feminino na
Inglaterra. Sobre essa fase da vida de Bertha, Rachel Soihet (2006, p.17) destaca que ela se interessou tanto pelo movimento, que “manifestou o desejo de
participação no movimento feminista, ali desenvolvido, antes da guerra, sendo
impedida por sua mãe, natural daquele país, que lhe alertou de sua condição
de menor e estrangeira”. Fato que Susan Besse (1999, p.184) corrobora ao
salientar: “Lutz foi inluenciada por movimentos feministas europeus e que,
ao voltar ao Brasil, empenhou-se na tarefa de organizar as mulheres brasileiras para lutar por sua emancipação social, política, econômica e intelectual”.
A própria Bertha Lutz, em entrevista concedida a Branca Moreira Alves, na
década de 1970, descreveu o seu interesse em participar do movimento sufragista enquanto estava no exterior, pois segundo ela:
Eu sempre me interessei muito, porque quando estive na Inglaterra antes da guerra
vi a campanha feminista e achava muito interessante. Minha mãe não participava,
mas eu disse que queria ir também. Ela disse: ‘Você não pode ir. Elas têm razão,
mas você não pode ir porque você não é inglesa, e a campanha está muito braba, de
vez em quando elas vão presas e você como vai icar, uma menor que não é inglesa.’
E não me deixava ir... (ALVES, 1980, p.104).
Nota-se, no excerto acima, que a mãe de Bertha, apesar de não deixar a
ilha participar das manifestações na Inglaterra quando da sua estada naquele
país, não as condenava, dando mesmo razão às mulheres que reivindicavam os
seus direitos. Com o retorno para o Rio de Janeiro, Bertha passou a se dedicar
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à luta pela valorização do papel feminino perante a sociedade, sendo convidada a expor as suas ideias na imprensa.
Em 1918, Leolinda Daltro, com a justiicativa de que a Constituição não
excluía as mulheres do quesito eleitor no Brasil, requereu alistamento eleitoral, tendo o mesmo sido negado em 1919. Ela passa então a desenvolver
uma nova abordagem na sua luta e lança, no mês de agosto, sua candidatura
ao cargo de intendente municipal pelo primeiro distrito da cidade do Rio de
Janeiro (Gazeta de Notícias, 23/08/1919, p.5). A própria Leolinda avaliou a
sua candidatura como “uma inovação e [...] um primeiro passo no sentido de
nossa verdadeira emancipação política” (A Noite, 24/09/1919, capa).7 Contudo, essa sua tentativa também foi ridicularizada pela imprensa, tal como se
pode perceber em duas matérias publicadas no periódico Gazeta de Notícias.
A primeira delas, em seis de outubro, assim descreve a professora:
quando se vai ao Gabinete do Prefeito Municipal, aí por volta das três ou quatro da
tarde, costuma-se encontrar uma senhora já bastante entrada em anos, de modos
e ademais pouco femininos, falando alto e dizendo, com ríspida franqueza, verdades a toda a gente... Toda a gente ouve essas verdades e sorri... Essa senhora é, nem
mais nem menos, a professora Daltro. Quem não a conhece? [...] ela se revelou
desde logo uma lutadora. [...] Fundou [...] o Partido Republicano Feminino, de que
fazem parte ela e mais duas senhoras [...]. Ei-la, pois agora, candidata a intendente
municipal. Tenho ouvido a tal respeito comentários que não trepido em qualiicar
de torpes. [...] Riem-se da professora, porque não são capazes de compreendê-la.
[...] Mas a professora saberá vencer todas essas e outras tentações que surgirem.
É uma mulher forte e digna. Um pouco violenta, sim, mas é d’antes quebrar que
torcer. (Gazeta de Notícias, 06/10/1919, p.2).
Vinte dias depois, na capa da sua edição, o jornal dá destaque para o que
considera o lado cômico da eleição representado pela igura de Daltro:
[...] uma nota cômica nos sorrirá hoje: por entre o tumulto das sessões eleitorais
vai surgir-nos, como um astro que se levanta, o carão da professora Daltro, deitando a perder inteiramente, num ridículo total, a causa do feminismo.
Que homem assaz imprudente quererá sufragar tal nome, para depois se ver na
obrigação de chamar de “minha eleita” uma tão distinta senhora, que há tanto
tempo já passou para o terceiro sexo? [...] Eleições políticas, cousa grosseira, só
convém aos homens e nem todos as sabem compreender [...]. (Gazeta de Notícias,
26/10/1919, p.1, grifo nosso).
7
O jornal Gazeta de Notícias, na sua edição de 27 de outubro de 1919, relata que Daltro participou efetivamente da eleição,
pedindo votos na frente das sessões eleitorais (p.3-5). Na apuração dos votos ela aparece como tendo conseguido um voto na
5ª seção de Lagoa e 2 na 3ª seção de Sacramento (p.5). O jornal Correio da Manhã informou que Leolinda Daltro obteve mais
de 1700 votos quando “disputou um lugar no Conselho Municipal” (Correio da Manhã, 08/01/1920, p.3).
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No dia da votação, esse jornal captou dois comentários sobre a candidatura da professora. O primeiro narra uma suposta discussão que ocorreu
entre dois eleitores na seção de Guaratiba, ao qual o jornalista dá como causa
o fato de um dos homens ter “comentado chistosamente a candidatura da
professora Daltro”, assim descrita pela matéria: “uma mulher que fala pelos
cotovelos e que tem voz de trovão não pode absolutamente ser boa coisa”
(Gazeta de Notícias, 27/10/1919, p.5). A outra nota publicada pelo jornal, sobre a candidatura de Daltro, assinalou que na 2ª seção de Andaray os eleitores, depois de votar, estavam comentando sobre tal candidatura, mas sem
entrar em detalhes sobre o teor dos mesmos (p.4). Os jornalistas da Gazeta chegaram a encontrar, nesse mesmo dia, Leolinda percorrendo as seções
eleitorais e solicitando votos, e assim narraram um desses encontros, ocorrido
na 3ª seção de Sant’anna, para seus leitores:
Ouvimo-la ligeiramente, fazendo aquela candidata absoluta questão que se frisasse não ter desistido de sua candidatura em qualquer dos distritos, como falsamente
se propagou. Ao que se dizia a professora Daltro obterá várias dezenas de votos nas
três seções de Sant’anna. (Gazeta de Notícias, 27/10/1919, p.3).
O que se percebe, na análise dessas matérias, é que, apesar de seus esforços, a campanha de Leolinda Daltro estava sofrendo uma ridicularização dos
seus atos e de sua pessoa. Ela, ao ousar se imiscuir de forma tão evidente na
cena política, “boa coisa não podia ser”, como salientou o eleitor aludido numa
das matérias. De modo que o fato de Bertha Lutz nem ao menos citar o nome
de Daltro nas suas manifestações através da imprensa parece ser justiicado
pelo seu desejo de não ter qualquer vinculação de sua campanha pela emancipação da mulher com a campanha levada a cabo por Daltro e ter procurado
se associar com outra professora, Maria Lacerda de Moura.
Segundo Míriam Lifchitz Moreira Leite (2005, p.15), Maria Lacerda de
Moura “através da vida, foi educadora, convencida de que a educação é uma
força revolucionária e de que sua missão seria exercê-la”. Interessante observar que Bertha Lutz tenha buscado apoio para suas ideias em uma mulher
que, em maio de 1920, havia concedido a um periódico do Rio de Janeiro uma
entrevista em que airmava:
Detesto tudo quanto se refere à política. Acho que não votarei nunca. O sufrágio
universal (!) é uma burla, todos o sabem. Se conseguíssemos um grupo feminino
excepcional para representar os nossos interesses no Parlamento – seria ótimo.
Não creio muito que isso se dê. O regime é dos incompetentes e medíocres... A
mulher para intervir nos governos, nos destinos dos povos, deve ter largo ecletismo,
inteligência aguda, ilustração vasta e, principalmente, elevação moral, independente
de partidos e paixões sectaristas de qualquer espécie. Infelizmente esse tipo de mulher ainda não surgiu em nosso país. Em outras quaisquer condições, o voto para a
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mulher (como para o homem), é elemento desmoralizador. (O Jornal, 15/05/1920,
p.3, grifo nosso).
Apesar desse contundente posicionamento sobre a questão do voto de
Maria Lacerda de Moura, apenas três anos depois dessa manifestação, em
1923, uma contemporânea de Moura relatou que ela fez “longa e franca propaganda do sufrágio feminino”. 8 O que se pode depreender da trajetória de
Maria Lacerda, no início da década de 1920, é que ela parece ter encontrado
na igura de Bertha o que apontava como o novo “tipo de mulher” que almejava para “intervir nos governos” e a possibilidade de formar o que ela denominou de “um grupo feminino excepcional”. Míriam Leite (2005) airma
que Maria Lacerda, desde 1919, acompanhava as conquistas de Bertha Lutz
através das notícias que chegavam da capital federal à cidade de Barbacena,
onde Moura residia na época, e que ela também chegou a incluir comentários
elogiosos ao empenho de Bertha “em seus primeiros livros, Em torno da educação (1918) e Renovação (1919)” (LEITE, 1984, p.37).
Um conjunto de cartas – preservadas no fundo da Federação Brasileira
pelo Progresso Feminino (FBPF) no Arquivo Nacional – atesta que Bertha
Lutz e Maria Lacerda de Moura mantinham um relacionamento próximo
e que, pelo menos por um tempo, início da década de 1920, ela compartilharam de um mesmo ideal – a emancipação feminina. Em uma dessas
primeiras cartas, datada de 21 de outubro de 1920, Maria Lacerda inicia sua
missiva com as palavras Minha cara amiguinha, 9 explicitando que essa era
uma resposta a um anterior contato feito por Bertha, tal como se percebe
no trecho inicial da carta: “[...] acabo de ler sua gentil cartinha na qual deixa,
como sempre, transparecer todo o seu sagrado entusiasmo pela causa da
emancipação feminina. Isso é animador [...] (Carta manuscrita de Maria Lacerda de Moura a Bertha Lutz, 21/10/1920. Arquivo Nacional – Fundo FBPF
– Documentos Privados, Seção Administração, Correspondências, Maço 5). 10
Nessa carta, se pode perceber a troca de informações e a coniança compartilhada entre elas, deixando claro que Bertha havia entrado em contato
8 Referência feita a um artigo publicado no jornal anarquista A Plebe, em 27 de setembro de 1923, de autoria de Isabel Silva,
no qual a articulista dá a sua opinião sobre a atuação feminista de Maria Lacerda de Moura (apud LEITE, 1984, p.40).
9
Na época, Bertha tinha pouco mais de 26 anos, enquanto Maria contava com 33, o que não justiica o diminutivo empregado, a não ser como uma forma carinhosa de expressão. Tal relação amistosa entre Maria Lacerda de Moura e Bertha Lutz
aparece reletida em várias cartas trocadas entre elas nos dois anos iniciais da década de 1920. Apesar de Maria Lacerda de
Moura ser muitas vezes citada como cofundadora da LEIM junto com Bertha Lutz (BESSE, 1999, p.200; SCHUMAHER;
BRAZIL, 2000, p.399), essa carta ainda não havia sido divulgada por nenhuma das autoras citadas. June Hahner (1981, p.102103; 2003, p. 289-290) apresenta apenas um pequeno trecho dessa carta no seu livro.
10 A referida carta de Bertha não foi encontrada no arquivo pesquisado, que contém apenas as cartas enviadas por Maria
Lacerda de Moura. A pesquisa no fundo da FBPF foi realizada em maio de 2010, que na época estava em reestruturação e todas
as referências a ele são anteriores à nova catalogação feitas pela equipe do Arquivo Nacional.
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com Maria Lacerda de Moura para convidá-la para dar uma conferência no
Rio de Janeiro.
Como apresenta Míriam Leite (1984; 2005), desde 1918 a professora Lacerda estava se dedicando a externar suas ideias através de conferências proferidas em Barbacena. Tais palestras versavam em torno da educação como
uma forma de emancipação intelectual feminina e podem ter atraído Bertha,
que também pregava esses mesmos ideais, como já se aferiu anteriormente.
Inclusive as cartas trocadas entre elas, no ano de 1920, parecem mesmo ser
parte de um tipo de “cartas fundantes” da Liga, como se pode acompanhar no
trecho destacado:
Tratemos do movimento feminista de que fala. Acho que tem razão: precisamos
outra coisa além das Associações Cristã ou Legião da Mulher. O meu modo de ver
é o seguinte: não se trata agora de limitado campo como sejam – escolas domésticas ou estabelecimentos de ilantropia ou qualquer coisa de caráter local – o que
de modo nenhum soluciona a questão. A associação cristã como a Legião tem ainda limitado círculo de ação. Eu desejaria coisa muito mais ampla. (Carta manuscrita
de Maria Lacerda de Moura a Bertha Lutz, 21/10/1920. Arquivo Nacional – Fundo
FBPF – Documentos Privados, Seção Administração, Correspondências, Maço 5,
grifo no original).
Nessa mesma carta Maria Lacerda dá a conhecer as características que
essa nova associação deveria ter, segundo sua percepção, para se destacar no
cenário nacional. Para ela, Bertha deveria ter um cuidado especial na escolha
do que chamou de “núcleo central” da associação, que deveria agregar
Todas as energias intelectuais femininas e até masculinas de boa vontade para a
formação de um pequenino exército de propagandistas da educação nacional e
cientíica da mulher para a sua perfeita emancipação intelectual. [...] o plano deveria ser a [...] propaganda ativa em todas as principais cidades do interior arregimentando as mulheres todas num gesto de solidariedade. Propaganda pela imprensa:
pelo menos boletins quinzenais em grande quantidade espalhadas por toda parte.
No trecho acima apresentado, alguns dados merecem ser destacados;
dentre eles, o fato de que Maria Lacerda não desdenhava a contribuição masculina para a causa feminista, pelo menos para os quadros da referida associação. Outro dado a se destacar é que Moura apostava muito na propaganda
e na penetração das ideias veiculadas através da imprensa de modo muito
semelhante ao perpetrado pela própria Bertha, que também se utilizava desse
meio para propagar as suas ideias. Mais adiante, na sua carta, Lacerda traçou
qual deveria ser a proposta de associação, seu foco, seu objetivo que não deveria ser outro que não o de ampliar o movimento para além da capital federal.
Contudo, para atingir essa meta, ela lembra a Bertha que: “o problema seria
exatamente esse, fazer correr um frisson de entusiasmo por todos os recantos
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desse grandioso Brasil” (grifo no original), de modo que a associação feminina,
para alcançar seu objetivo, primeiro deveria buscar a educação e a emancipação da mulher. Assim, ela propõe a Bertha:
Que tal a ideia da fundação no Rio desse núcleo de propaganda e desse sistema
de trabalhar pela emancipação da mulher patrícia? Estamos todas trabalhando dispersivamente e as mulheres não sabem bem o que querem. Ensinar-lhes o objetivo, a
ação, o modo de vencer – eis o que devemos tentar. (grifo nosso).
No trecho em negrito, nota-se certa orientação autoritária e mesmo paternalista na proposta de Lacerda, uma vez que veicula a ideia de que a grande maioria das mulheres precisaria de orientação externa de alguém mais bem
capacitado para “ensinar-lhes o objetivo”. Ponto também destacado em outro
trecho da carta, no qual Maria Lacerda expõe quem poderia dirigir a associação:
Não sei bem o que pensa a respeito, mas, quanto a mim, digo-o sem reservas, com
a coniança que me merece: não acho muitas brasileiras capazes de dirigir esse
movimento e digo ainda – poucos brasileiros estão [...] de alcançar esse plano de
ação [...].
Bertha parece ter seguido esse conselho de Maria Lacerda, uma vez que
realmente restringiu o acesso aos cargos mais elevados das suas associações,
tanto a LEIM quanto a sua sucessora a FBPF, a um grupo restrito de mulheres
com alta escolaridade e/ou das camadas mais elevadas da sociedade. Tal prática seria, inclusive, uma das maiores críticas feitas por estudiosos ao movimento organizado feminino liderado por Bertha Lutz. Susan Besse (1999, p.194),
por exemplo, declara que: “as mulheres proissionais que compunham a diretoria da FBPF falavam em nome das mulheres da classe operária, ao invés
de mobilizá-las para que falassem por si próprias [...]” e Branca Moreira Alves
(1980, p.113) também é de opinião que Bertha Lutz foi uma “líder autoritária
[...] fechando o movimento ao acesso de outras classes sociais”. Em 1920,
a proposta defendida por Maria Lacerda para a criação da nova associação
também ressaltava que:
Enquanto a mulher patrícia estiver sob a tutela do padre - impossível a sua emancipação. Portanto é preciso um trabalho enérgico, perseverante, jeitoso para desviá-la aos poucos dessa escravidão mental. (Carta manuscrita de Maria Lacerda de
Moura a Bertha Lutz, 21/10/1920. Arquivo Nacional – Fundo FBPF – Documentos
Privados, Seção Administração, Correspondências, Maço 5, grifo no original).
A questão religiosa como uma barreira para o pleno desenvolvimento feminino foi um tema constante nos escritos de Maria Lacerda de Moura. Pelo que
informa Míriam Leite (1984), ela se vinculou ao espiritismo por inluência paterna, e essa associação teria sido a responsável por tê-la feito perceber as limitações que a doutrina religiosa impunha às mulheres. Para Leite, “Maria Lacerda
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percebeu rapidamente que a liberdade a que aspirava precisaria levar em conta
as fraturas religiosas e morais das pessoas ao redor. Dentro de cada uma e das
instituições, existiam conlitos nem sempre manifestos” (LEITE, 2005, p.16).
O último ponto de destaque nessa carta é o que deixa entrever que o
próprio nome da nova associação parece ter sido sugerido por Maria Lacerda.
Esse ponto pode ser depreendido em outro trecho da carta, quando Moura escreveu que “Se quer incentivar a fundação dessa Liga Brasileira para a
emancipação intelectual feminina”. Ao lado dessa frase aparecem rabiscadas
as palavras “Bom título”, o que parece ser um indício de que Bertha não tinha
ainda nomeado a sua associação, que, como vimos, foi “batizada” com o nome
de Liga para Emancipação Intelectual da Mulher – LEIM.
Na sequência da carta, Maria Lacerda se colocou à disposição para apresentar tanto o seu programa para a associação quanto a fazer uma conferência
no Rio de Janeiro, lembrando a Bertha que, depois desse ato fundador, “icará
no Rio minha amiguinha para continuar a obra. Em Minas serei uma das combatentes. Com outros elementos, poderá organizar a reunião, falará também
e icará inaugurado o movimento emancipador” (carta manuscrita de Maria
Lacerda de Moura a Bertha Lutz, 21/10/1920. Arquivo Nacional – Fundo FBPF
– Documentos Privados, Seção Administração, Correspondências, Maço 5). 11
Em outra carta remetida por Maria Lacerda para Bertha Lutz, datada de
29 de outubro de 1920, encontram-se maiores detalhes das propostas de
Lacerda para a futura associação. Moura continuou na mesma linha argumentativa da missiva anterior, abordando com mais vagar os mesmos assuntos, tais
como a questão da igreja católica e o sufrágio feminino. Sobre estes, especiicadamente elaborou um arrazoado no qual salientou:
Precisamos de mulheres que pensem e no Brasil são pouquíssimas os espécimes
desse gênero. Ainda mais porque se à mulher brasileira fosse dado o direito de voto,
seria dar mais asas ao Clero e lá subiria o elemento católico. Seria o caos. (Carta
manuscrita de Maria Lacerda de Moura a Bertha Lutz, 29/10/1920. Arquivo Nacional – Fundo FBPF – Documentos Privados, Seção Administração, Correspondências,
Maço 5, grifo no original).
Maria Lacerda chegou a sugerir que Bertha elaborasse “uma lista das escritoras brasileiras e verá se conseguimos entre elas 3 ou 4 livre pensadoras
e emancipadas de verdade” (grifo no original). Nessa carta, percebe-se tanto
a pouca fé que Moura depositava nas suas “patrícias”, quanto seu desprezo
pelo clero e pelo domínio que, segundo a sua percepção, tal instituição exerceria sobre a mulher, tal como destacado neste trecho: “sabe bem que o clero
11
A conferência na cidade do Rio de Janeiro não é mencionada nos livros de Míriam Leite (1984; 2005).
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não quer a nossa emancipação. A mulher é [toda] a sua arma de combate
reacionário à ciência, do progresso”. Nesse sentido, Míriam Leite (1984, p.
XV) informa que Maria Lacerda de Moura “tomou consciência da questão [da
condição feminina] numa pequena cidade onde o clero católico mantinha o
controle sobre o ensino e as relações familiares e sociais”, o que pode explicar
a sua recomendação tão veemente de afastar a mulher da inluência do clero.
Bertha Lutz poderia não perceber da mesma forma essa questão, uma vez que
passou parte de sua vida em grandes cidades e sua formação – de forma diferenciada de Lacerda – se deu em grandes centros, tais como São Paulo, Rio
de Janeiro e Paris.12 Esse seria um ponto de discordância entre Lutz e Lacerda,
uma vez que, segundo Leite (1984,p.XVI), “embora mais lembrada pelas suas
apresentações audaciosas do direito da mulher ao amor, de sua livre escolha e
da maternidade consciente [...] a linha de feminismo de Maria Lacerda é a da
participação feminina na luta contra a tirania clerical e fascista”.
Em outro trecho dessas cartas, percebe-se mais uma vez a troca de informações entre as duas personagens, principalmente no trecho em que Maria
Lacerda parece responder a uma pergunta de Bertha:
[...] tem razão quanto a direção um tanto individual e bem orientada para a nossa
futura associação, se assim não for haverá fracasso [...]. Penso mais ou suponho
que essa primeira diretoria deve ser [muitíssimo resumida] e por grande espaço de
tempo. [...] Assim pensemos nos poucos homens que nos podem auxiliar e em três
ou quatro mulheres que de fato pensem e possam agir conosco. (Carta manuscrita
de Maria Lacerda de Moura a Bertha Lutz, 29/10/1920. Arquivo Nacional – Fundo
FBPF – Documentos Privados, Seção Administração, Correspondências, Maço 5).
Outro ponto levantado nessa missiva parece mais uma admoestação para
Bertha, uma vez que Maria Lacerda declara: “Nada de fazer assembleia geral
para escolha da diretoria. Na primeira reunião deve já estar deliberado, não
acha?” Bertha parece ter levado a sério tais conselhos, uma vez que, como
já destacado, a diretoria da LEIM foi composta por poucas e bem escolhidas
mulheres cultas da sociedade.
O papel de Maria Lacerda de Moura assim foi descrita por Bertha em
dezembro de 1920, em carta remetida a Mrs. Chambers,
Minha amiga Maria de Lacerda Moura [sic] uma das mais entusiásticas feministas nesse país, recentemente deu uma conferência em Belo Horizonte [sic] sobre
‘Mulheres e Trabalho’ ante uma grande plateia de intelectuais e trabalhadores e foi
um grande sucesso. A meu convite ela esta vindo para o Rio na próxima semana
para dar outra palestra para a Liga, da qual ela é um membro ativo; ela irá falar
12 No caso de Bertha também deve ser levado em consideração o fato de sua mãe ter se convertido ao catolicismo quando
ainda solteira na Inglaterra.
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sobre a Emancipação Intelectual da Mulher. Esta será, espero, a primeira de uma
série de conferências patrocinadas pela Liga. (Carta datilografada de Bertha Lutz
a Harriet Chalmers Adams, 18/12/1920, Arquivo Nacional - Fundo FBPF, Cx. 8,
Pac. 1, Dossiê 3, original em inglês). 13
O conteúdo dessa carta mais do que justiica uma nota publicada no jornal
O Paiz, em março de 1921, intitulada “O feminismo no Brasil julgado em Nova
York”, que retrata tanto Bertha Lutz quanto Maria Lacerda de Moura como as
“verdadeiras” líderes do movimento feminista brasileiro, como se percebe na
leitura do trecho abaixo:
noticiam os jornais de Nova York, que por ocasião de uma conferência sobre A
Mulher na America Latina, realizada em Nova York, pela Sra. D. Chalmers Adams,
fez a ‘leader’ feminista e notável escritora elogios à cultura feminina no Brasil.
Falando no movimento feminista entre nós, fez especial referencia à Liga para a
Emancipação Intelectual da Mulher e ao trabalho de Bertha Lutz e Maria Lacerda
de Moura, respectivamente presidente da liga e representante da mesma em Minas, aclamando-as como as verdadeiras ‘leaders’ do feminismo no Brasil. (O Paiz,
30/03/1921, p.7).
Levando-se em conta as evidências referendadas, não parece ser demais
considerar essas cartas, bem como a conferência de Maria Lacerda no Rio de
Janeiro, como os atos fundadores da LEIM. No que diz respeito à palestra na
capital federal proferida por Lacerda, apesar de não ter sido mapeada no estudo feito por Míriam Leite (1984; 2005), foi possível rastreá-la através dos
jornais pelas datas referidas nas correspondências trocadas com Lutz, e é dela
que passo a tratar agora.
A recepção da primeira conferência da Liga recebeu destaque na imprensa, sendo comentada em boa parte dos periódicos cariocas. Em 19 de dezembro de 1920, o jornal O Paiz (p.6) publicou uma nota sobre o fato, e em 22 de
dezembro noticiou a chegada de Maria Lacerda:
[...] que a convite da Liga para a emancipação intelectual da mulher veio realizar
uma conferência organizada por aquela associação. A distinta escritora e ‘leader’
feminista foi recepcionada na ‘gare’ da Central por uma comissão de senhoras, na
13 A referida palestra ocorreu na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais, e não em Belo Horizonte, como informado por Bertha
Lutz. Harriet Chalmers Adams era uma conhecida exploradora, fotógrafa e escritora estadunidense. Nascida em 22 de outubro
de 1875, percorreu boa parte da América do Sul, Ásia e o sul do Pacíico, no começo do século 20, publicando suas aventuras
na revista National Geographic. Foi correspondente da Harper's Magazine na Europa durante a Primeira Guerra Mundial, sendo
a única mulher correspondente a quem foi permitido visitar as trincheiras. Foi a primeira presidente da Society of Woman Geographers fundada em 1925. Faleceu aos 62 anos de idade, em 1937, na França. Em 1919, Harriet Adams esteve no Rio de Janeiro
tirando fotograias da capital federal, publicadas no exemplar de setembro de 1920 da The National Geographic Magazine. Em
suas andanças pela capital federal, Adams encontrou-se com a família Lutz, o que explica uma carta enviada em novembro de
1920 para Bertha, solicitando informações sobre “seu clube desde minha partida do Rio”, tal como se lê na primeira das cartas
que compõem o referido dossiê. (Carta datilografada de Mrs Adams a Bertha Lutz, 06/11/1920, Arquivo Nacional – Fundo FBPF
– Documentos Privados, Seção Administração, Correspondências, Cx 8, Pac 1, Dossiê 3, original em inglês).
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qual iguravam, entre outras, as Sras DD. Bertha Lutz, Amanda Alberto e Corina
Barredos. (O Paiz, 22/12/1920, p.5).
Maria Lacerda concedeu várias conferências na cidade do Rio de Janeiro,
sendo que a principal delas ocorreu no domingo à noite, dia dois de janeiro, no
Lyceu de Artes e Ofícios, para a LEIM.14 Esta impactou na imprensa de formas
diversas que deu ampla divulgação à conferência de Maria Lacerda de Moura.
Periódicos como O Imparcial e a Gazeta de Notícias deram destaque em
matérias comentadas com fotograias e o jornal O Paiz fez um breve resumo
do seu conteúdo na seção “Vida Social”, além de fazer comentários sobre a
presença de Maria Lacerda de Moura em eventos das lojas maçônicas e da
sociedade theosophica, na seção “Religião” do jornal, em 8 e 11 de janeiro.
A leitura das matérias dos jornais do dia três de janeiro também deixa perceber o grande número de pessoas que compareceu a essa primeira conferência da LEIM, que foi franqueada a todos os interessados em participar.
Em uma das imagens divulgadas no jornal O Imparcial (03/01/1921, p.3) se
tem um instantâneo de parte da plateia da conferência, e nesta se percebe
a presença masculina e feminina. E sobre a audiência da palestra, assim se
pronunciou o jornal O Paiz (p.4): “a conferência foi muito aplaudida pelo
numeroso auditório, que incluía, além das representantes das mais importantes associações femininas do Rio, vultos de destaque no mundo literário,
cientíico e social”. A única crítica encontrada nas fontes pesquisadas discorrendo sobre essa primeira conferência da Liga foi a veiculada no jornal
Gazeta de Notícias, na qual o jornalista designado para fazer a cobertura
assim a descreveu:
[...] essa peça incolor, desconexa, por vezes anti-gramatical, foi um pesado libelo
contra a própria moral contemporânea e a religião, contra a política, os homens e,
em parte, contra as próprias mulheres. [...] Essa conferência, em suma, cujo reclamo atraiu muitos curiosos, no salão do Lyceu, em nada contribuiu, com o devido
respeito, para o destino intelectual da mulher. (Gazeta de Noticias, 03/01/1921, p.3).
Outra versão foi dada pelo O Imparcial, que assim relatou: “não se regatearam aplausos à distinta escritora patrícia, em virtude da forma elegante,
porque soube encarar o assunto, referindo-se quer aos ins sociais da Liga,
quer aos ideais da mulher moderna” (O Imparcial, 03/01/1921, p.3). O periódico O Paiz também teceu elogios à conferencista quando da sua partida, em
14 Além dessa, também foram concedidas conferências para a Sociedade Theosophica, no salão do Jornal do Comércio, no dia
primeiro de janeiro de 1921, na qual Maria Lacerda falou sobre a fraternidade e a escola (Gazeta de Noticias, 02/01/1921, p.2) e
outra para a loja maçônica Isis, do Supremo Conselho Universal Misto, no dia 06 de janeiro, ambas muito concorridas, tal como
foi divulgado no jornal O Paiz (08/01/1921, p.11). Nessa mesma matéria se pode ler que o presidente da loja maçônica, além de
enaltecer a oradora, declarou: “que a seção brasileira da maçonaria mista estava plenamente solidária com a campanha que pela
emancipação intelectual da mulher vem realizando a ilustre conferencista”.
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nove de janeiro, de volta para Barbacena, publicando um resumo de todas as
conferências de Maria Lacerda, a começar pela
[...] promovida pelos theosophistas [...] emocionou o auditorio até as lágrimas. Toda
a sala vibrava em unísono com a oradora: era um ambiente delicioso. Na 2ª, a do
Lyceu de Artes e Oicios, em prol da emancipação da mulher, foi arrebatadora:
eletrizou a audiência que era numerossíma, proferindo verdades incontestaveis,
sobre a odisseia que passam as nossas patrícias pelo interior do país. Foi um verdadeiro sucesso. (O Paiz, seção Religião, 10/01/1921, p.9).
Curioso observar que, apesar de ser contra a inluência religiosa da Igreja
Católica na vida das brasileiras, Maria Lacerda buscou o apoio de grupos religiosos não tradicionais para as suas propostas, uma vez que pede “a colaboração dos maçons e dos theosophistas para a realização do empreendimento
altruísta que a Liga para emancipação intelectual da mulher acaba de iniciar”
(O Paiz, 08/01/1921, p.11). 15
O sucesso da primeira conferência da Liga parece ter entusiasmado Maria
Lacerda, que em 1921 – logo após sua mudança para São Paulo – resolveu
fundar, em dois de dezembro, a Federação Internacional Feminina (FIF), com
o objetivo similar de educação intelectual e moral da mulher com ins à sua
emancipação. Em carta enviada para a LEIM, Maria Lacerda comunicou a
fundação da FIF nos seguintes termos:
Os nossos ideais se confundem com os vossos, estão dentro do programa da ‘Liga
para a Emancipação Intelectual da Mulher’. Vimos, pois, estender-vos as mãos
para o trabalho em conjunto em prol desses ideais tão bem defendidos pela clarividência do vosso formoso talento e da vossa energia consciente. (Carta manuscrita
de Maria Lacerda de Moura a Bertha Lutz, dez/1921. Arquivo Nacional – Fundo
FBPF – Documentos Privados, Seção Administração, Correspondências, Cx. 9, Pac.
1, Dos. 16).
Maria Lacerda icou à frente da FIF por pouco tempo, pois, segundo suas
próprias palavras, “Dois anos de experiências diárias me izeram recuar ‘para
todo o sempre’ de associações femininas. Hoje de quaisquer associações...”
(apud LEITE, 2005, p.39). Em janeiro de 1926, desabafou em carta para
uma amiga:
Quanto ao movimento feminista – retirei logo. Não é nada disso que o meu espírito irrequieto e atormentado deseja. Uma desilusão não diria, mas, uma experi15 Segundo Míriam Leite (1984, p.10): “Dado o poder político e a atração que a Igreja nunca deixou de ter, o anticlericalismo
dos espíritas desenvolveu-se como força de oposição clandestina, abrigada por sociedades secretas, principalmente através de lojas
maçônicas, que, em muitas cidades brasileiras, contrapunham à Igreja a liberdade de pensamento, a tolerância religiosa e uma visão
cientíica do mundo. Entre esses sistemas de crença e poder, a sociedade teosóica apareceu também como uma forma de doutrina secreta, resultante de antiga tradição hindu de ocultismo, de domínio da natureza por forças espirituais. Explica as desigualdades
da vida, na distribuição da felicidade e seu contrário, por um princípio de merecimento, através de opções feitas pelos indivíduos. O
alvo da teosoia é atingir uma sabedoria que leve à autorrealização, através do conhecimento do verdadeiro ser”.
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ência mais fecunda me veio de todo esse movimento. Retirei-me e creio que para
sempre: trabalho sozinha, publico meus livros, assumindo, corajosamente, a responsabilidade dos meus ideais e – individualismo... (Carta endereçada à escritora
portuguesa Ana de Castro Osório apud LEITE, 1997, p.241).
Contudo, em dezembro de 1921, Maria Lacerda encontrava-se ainda entusiasmada com a parceria com Bertha Lutz, tanto que lhe remeteu outra
carta de São Paulo, de caráter pessoal, ao mesmo tempo em que a congratulava dando “Parabéns entusiásticos pela sua atitude em relação ao voto [...].
Esplêndida! Magníica”, 16 também reclamava para Bertha:
Não concordo apenas e em absoluto com o seu silêncio para comigo. Desejo saber
tudo quanto faz, os seus projetos, etc. Devemos trabalhar juntas. Aqui tenho feito
alguma coisa, porém não conheço bem o meio e luto com contratempos e tropeços e com o tradicionalismo e o preconceito. Ajude-me a desbastar esse empecilho na sua terra, ou melhor – na nossa terra. (Carta manuscrita de Maria Lacerda
de Moura a Bertha Lutz, 19/12/1921. Arquivo Nacional – Fundo FBPF – Documentos Privados, Seção Administração, Correspondências, Cx. 9, Pac. 1, Dos 16).
Essa carta parece indicar que certo distanciamento – entre Lutz e Lacerda – estava começando e, nesse caso, por iniciativa de Bertha. Apesar
de o começo da parceira entre elas ter sido auspiciosa, Míriam Leite (1984,
p.39) salienta que “logo icaram patentes as reservas da líder do Rio de Janeiro diante do radicalismo que se acentuava em direção diferente na escritora
mineira, já então residindo em São Paulo.” Esse distanciamento ou corte nas
relações, entre Maria Lacerda de Moura e Bertha Lutz, parece ter sido radical
e total, uma vez que Moura nem mesmo citou essa amizade em sua autobiograia escrita poucos anos depois, em 1929, tal como informa Míriam Leite (
1984, p.37). No caso de Bertha, tudo indica que partiu dela a decisão de dar
um im à relação com Moura, como se percebe pelo teor da carta enviada por
Maria Lacerda, referida acima, em que estranha o silêncio de Bertha para com
ela. Outro fato que vem a corroborar essa conclusão é que, quando da visita
de Bertha à cidade de São Paulo, acompanhando a líder feminista americana
Carrie Chapman Catt, em 1923, ela “não mais se dirigiu a Maria Lacerda de
Moura, nem às instituições de que participava” (LEITE, 1984, p.42). Nesse
mesmo ano, Maria Lacerda publicou o livro A mulher moderna e o seu papel na
sociedade atual e na formação da civilização futura, no qual se pode conferir o
relato de suas discordâncias com os rumos do movimento feminista:
Cheguei à conclusão de que o meio não é a associação, não é a união das mulheres
para a defesa dos seus direitos que elas confundem com velharias e cumplicidades
reacionárias. Ao falar em direitos só lhes ocorre o voto, o qual deveria ter sido
16 Provável referência ao empenho de Bertha Lutz para a aprovação da emenda propondo a concessão de voto às mulheres,
dos deputados federais Bethencourt Filho e Nogueira Penido, apresentada ao Congresso Nacional em 28 de outubro de 1921.
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reivindicado há 100 anos atrás... Agora, já não é mais de votos que precisamos, e
sim de derrubar o sistema hipócrita, carcomido, das representações parlamentares
escolhidas pelos pseudos representantes do povo, sob a capa mentirosa do sufrágio, uma burla como todas as burlas dos nossos sistemas governamentais, uma
superstição como tantas outras superstições arcaicas [...] qualquer feminismo não
passa de um elo diminuto da formidável corrente do direito natural. O problema
humano está acima das reivindicações de um sexo ou de uma classe. (MOURA
apud ABREU, 2009, p.17).
O afastamento das duas personagens pode ser mais bem compreendido
se levarmos em conta que Bertha Lutz já não via com bons olhos os atos mais
veementes de Leolinda Daltro, e que tudo leva a crer que sua associação com
Maria Lacerda de Moura tenha sido iniciada como uma forma de se desvincular de qualquer associação com o “mau feminismo” que estava vinculado à
igura de Daltro. Discorrendo sobre este tema Céli Pinto salienta que:
Preocupada com os problemas que as mulheres estavam vivendo em decorrência
da industrialização e da urbanização, [Maria Lacerda de Moura] aproximou-se, mas
logo afastou-se da sufragista Bertha Lutz, que, segundo ela, lutava por uma causa
que iria beneiciar poucas mulheres, sem trazer vantagens alguma à multidão feminina. (PINTO, 2003, p.36-37).
Tanto a aproximação quanto o afastamento de Lutz e de Moura foram
importantes para a organização do movimento feminista liderado por Bertha.
A aproximação entre elas – no inal de 1920 – parece ter sido a responsável
por grande parte das diretrizes que Bertha iria tomar à frente da Liga, e seu
afastamento – a partir do inal de 1921 – também expôs os limites a que Bertha não estava disposta a cruzar pela causa feminista. Um desses limites foi
deinido pela posição radical de oposição à Igreja Católica demonstrada por
Maria Lacerda de Moura, uma vez que Bertha, mais do que confrontação,
buscava a conciliação para atingir os seus objetivos.
Bertha Lutz seguia procurando novas parcerias para a Liga, e uma das mais
importantes – a que veio modiicar e moldar o estilo de sua ação – foi a aproximação com o movimento internacional, e de modo mais especíico com o
movimento estadunidense, na igura de uma de suas principais líderes, Carrie
Chapman Catt. Mas essa é outra história.
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