Presos dois investigados pela clonagem do carro usado para matar Marielle Franco

Suspeitos eram alvo de operação da Polícia Civil contra milícia comandada por Orlando Curicica. Polícia não descarta a hipótese de que o miliciano tenha envolvimento com o assassinato da vereadora
Cobalt prata utilizado pelos assassinos de Marielle e Anderson Foto: Reprodução
Cobalt prata utilizado pelos assassinos de Marielle e Anderson Foto: Reprodução

RIO — A operação Entourage, que teve como alvo a milícia de Orlando Curicica, que dominava regiões da Zona Oeste do Rio, prendeu, nesta sexta-feira, Rafael Carvalho Guimarães e Eduardo Almeida Nunes Siqueira. Os dois são investigados pela possível clonagem do carro Cobalt, usado no assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Após negociar sua rendição, também foi preso o policial militar Rodrigo Jorge Ferreira, o Ferreirinha , acusado de obstruir as investigações do crime.

- Acreditamos que com a prisão dos dois, outros detalhes sobre o crime de Marielle e Anderson poderão ser esclarecidos - afirmou o delegado Daniel Rosa, titular da Delegacia de Homicídios da Capital. Ele crescentou que não poderia dar mais detalhes porque o caso que está sob sigilo.

Segundo o delegado, a função dos dois na quadrilha de Orlando Curicica era clonar carros para que a quadrilha pudesse se movimentar para praticar crimes sem chamar a atenção:

- Eles clonavam os carros roubados com placas de veículos que conseguiam em sites de venda de veículos. Assim passavam despercebidos - explicou Rosa.

Ainda segundo Daniel Rosa, há informações de que a quadrilha também receptava e vendia carros roubados.

Apesar de a Polícia Federal ter denunciado que o depoimento de Ferreirinha foi uma tentativa de atrapalhar as investigações sobre o assassinato da vereadora, o titular da DH da capital não afasta a hipótese de que Curicica possa ser sim um dos mandantes do crime.

- As investigações continuam.

Ação com 300 policiais

Foram empenhados 300 policiais na operação, que prendeu no total oito pessoas. A organização criminosa é acusada de aterrorizar moradores e comerciantes das regiões de Curicica, Colônia, Terreirão, Mapuá, Camorim, Parque Carioca/Jambalaya, Merck, Boiúna, Pau da Fome, Santa Maria, Lote 1000, Jordão, Tancredo e Teixeiras, todos na Zona Oeste. Eles também são acusados de homicídios.

Ferreirinha era testemunha do caso Marielle e Anderson e foi acusado de atrapalhar a investigação desses assassinatos. Foram também cumpridos mandados de prisão contra outros sete que já estavam presos por outros processos. Na operação, a Políica Militar fez um cerco na região para evitar a fuga dos suspeitos.

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A ação se apoiou em dois inquéritos que tiveram início com as investigações dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Na época, Orlando Curicica foi apontado como responsável por vários crimes praticados por milicianos na Zona Oeste. A denúncia  foi recebida e as prisões decretadas pelo II Tribunal do Júri.

A operação visa a cumprir mandados de prisão preventiva e de busca e apreensão, incluindo a quebra de sigilo de aparelhos telefônicos e eletrônicos, contra 21 integrantes da milícia. Quatro policiais militares e um bombeiro estão entre os alvos operação. Mandados de busca e apreensão foramdestinados a batalhões da PM e dos bombeiros e em celas de presídios onde alguns dos acusados já estão presos.

Os inquéritos policiais revelaram que o grupo opera na exploração ilegal de serviços de transporte, lazer, alimentação e segurança, cobrando taxas de proteção aos comerciantes da localidade, pedágios aos trabalhadores de transporte alternativos (vans e mototáxis), além de dominar associações de moradores das regiões.



Orlando Curicica é acusado de ser o mandante do assassinato da vereadora Marielle Franco Foto: Agência O Globo
Orlando Curicica é acusado de ser o mandante do assassinato da vereadora Marielle Franco Foto: Agência O Globo

Ainda de acordo com a polícia, os crimes praticados pela organização são, em sua maioria, feitos com o uso de violência, incluindo execução de testemunhas e tentativas de homicídio de autoridades responsáveis pelas investigações. Os membros da quadrilha são acusados também por impor a chamada “lei do silêncio” entre os moradores da localidade em que exercem o controle criminoso.

A organização é caracterizada por forte estruturação e divisão de tarefas. Há responsáveis pela gestão do esquema criminoso; seguranças dos chefes do bando; responsáveis pelas áreas dominadas; soldados;  cobradores; vendedores de armas e cigarros; olheiros; e os incumbidos da clonagem e receptação dos veículos usados pelos integrantes da quadrilha.

Confira a hierarquia e as funções da milícia
comandada por Orlando Curicica
Na organização, há responsáveis por tarefas como segurança chefes do bando, venda de armas e cigarros e até clonagem e receptação dos veículos pela quadrilha
Orlando Oliveira de Araújo,
vulgo Orlando Curicica
Líder da
organização criminosa
PM Leandro Marques
da Silva, vulgo Mingau
PM Renato
Marques Machado
BM Alexandre
Vieira Borges
PM Rodrigo
Jorge Ferreia
Homem de confiança
de orlando
Ruy Ribeiro
Bastos
Elton Neres da
Costa, vulgo Peppa
Alan de M.
Nogueira
Sandro Alves
Martins, vulgo
Sandro Negão
Descaminho
de cigarro
Responsável pelos
armamentos e um dos
matadores de
Orlando
Clonagem de
veículos
Rafael Carvalho
Guimarães
Felipe Raphael
R. Martins, vulgo Chel
PM Ricardo Bezerra
dos Santos,
vulgo Ricardinho
Luciano José
da Silva, vulgo Jacaré
Realizava cobranças
Clonagem de
Veículos
Homem de guerra
Eduardo Almeida
Nunes de Siqueira
Eduardo Faria
Ferreira, vulgo
Dudu Cerol
William Balbino
Lima, vulgo Balbino
Ubiraci Affonso,
vulgo Bira
Clonagem de
Veículos
Pedro Paulo
Silva de Oliveira,
vulgo Nenem
Fábio Luiz de
Oliveira, vulgo
Binho
Gilberto da
Silva
Fabio da Conceição
da Silva, vulgo Tibinha
Luis Claudio
Ferreira Barbosa,
vulgo Claudinho
Charle Dickson
Pereira da Silva
Fonte: Secretaria de Estado de Polícia Civil
Confira a hierarquia
e as funções da milícia
comandada por
Orlando Curicica
Na organização, há responsáveis
por tarefas como segurança chefes
do bando, venda de armas e
cigarros e até clonagem e receptação dos veículos pela quadrilha
Orlando Oliveira de Araújo,
vulgo Orlando Curicica
Líder da
organização criminosa
PM Leandro Marques
da Silva, vulgo Mingau
PM Renato
Marques Machado
Homem de confiança
de orlando
BM Alexandre
Vieira Borges
PM Rodrigo
Jorge Ferreia
Ruy Ribeiro
Bastos
Elton Neres da
Costa, vulgo Peppa
Descaminho
de cigarro
Alan de M.
Nogueira
Sandro Alves
Martins, vulgo
Sandro Negão
Responsável pelos
armamentos e um dos
matadores de
Orlando
Clonagem de
veículos
Rafael Carvalho
Guimarães
Felipe Raphael
R. Martins, vulgo Chel
Clonagem de
Veículos
Homem de guerra
PM Ricardo Bezerra
dos Santos,
vulgo Ricardinho
Luciano José
da Silva, vulgo Jacaré
Realizava cobranças
Eduardo Almeida
Nunes de Siqueira
Eduardo Faria
Ferreira, vulgo
Dudu Cerol
Clonagem de
Veículos
William Balbino
Lima, vulgo Balbino
Ubiraci Affonso,
vulgo Bira
Pedro Paulo
Silva de Oliveira,
vulgo Nenem
Fábio Luiz de
Oliveira, vulgo
Binho
Gilberto da
Silva
Fabio da Conceição
da Silva, vulgo Tibinha
Luis Claudio
Ferreira Barbosa,
vulgo Claudinho
Charle Dickson
Pereira da Silva
Fonte: Secretaria de Estado
de Polícia Civil

 

Segundo o MP, na hierarquia da milícia, logo abaixo de Curicica estão William da Silva Sant’anna, conhecido como William Negão; Guilherme Anderson Oliveira Christensen; e Renato Nascimento dos Santos, o Renatinho Problema. Segundo o MP, destaca-se ainda a atuação do policial militar Leandro Marques da Silva, o Mingau, que chegou a ser apontado como o "02" na estrutura criminosa.

VEJA TAMBÉM: PF conclui que houve obstrução na investigação do assassinato de Marielle e Anderson

Orlando Curicica está preso desde outubro de 2017, no presídio federal em Mossoró, no Rio Grande do Norte.