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Azul das Gerais, 02 de Dezembro de 2013



Descendentes de etnia germânica vivem isolados em área rural de Minas



12/06/2011

Descendentes de etnia germânica vivem isolados em área rural de Minas


Comunidade mantem tradições e idioma; pomeranos se refugiaram no local durante a Segunda Guerra


Vila Neitzel, na área rural de Itueta, é um pedaço da Pomerânia em Minas Gerais

ITUETA – À primeira vista, a Vila Neitzel, a não ser pelo nome estrangeiro, parece ser apenas mais uma comunidade de pequenos produtores que tiram o sustento das plantações de café, milho, batata e inhame nas terras castigadas pela seca do Vale do Rio Doce. A impressão é logo desfeita ao primeiro contato com os moradores do lugar. A pele clara, cabelos loiros, olhos azuis e sotaque carregado denunciam a origem europeia. São quase 2 mil descendentes de pomeranos, uma etnia germânica devastada durante a Segunda Guerra Mundial, que vivem em regime de quase isolamento. A comunidade está separada da cidade de Itueta pelas águas do Rio Doce. Nesse trecho, o leito chega a ter 1,2 quilômetro de largura. A travessia é feita por balsa. Para chegar a Neitzel, são mais 20 quilômetros de estrada de terra, precária em vários trechos.


"Quando vou para outras cidades, como Governador Valadares, as pessoas me perguntam de que raça sou", brinca o aposentado Henrique Alberto Butzke, de 76 anos. Neto de pomeranos, ele desembarcou em um navio no litoral capixaba no início do século passado. "Só fui aprender o brasileiro (português) quando entrei para a escola. Dentro de casa, com meus pais e irmãos, só conversávamos em pomerano", diz Butzke. Ele conta que fez questão de ensinar aos filhos o idioma que reconhece ser mais difícil de aprender do que o português. "As palavras são mais difíceis de serem pronunciadas", comenta.


A comunidade vive na porção norte da zona rural de Itueta. Os registros históricos dão conta de que os primeiros pomeranos começaram a ocupar a região entre 1915 e 1920. A maioria deles fugia da miséria que se instalou na região da Pomerânia e, no Brasil, encontraram terras férteis e um país promissor. Na década de 1950, logo após a Segunda Guerra Mundial, houve uma nova onda de migração, elevando o número de pomeranos na zona rural de Itueta para quase 4 mil.





Norberto Raasch mostra a Bíblia em alemão, idioma das mensagens gravadas nos jazigos (Leonardo Morais)



Em 1979, a Vila Neitzel ganhou status legal graças a uma lei do município. Uma escola que atende alunos dos ensinos Fundamental e Médio e um posto de saúde foram construídos. “Isso foi criado durante a minha administração. Hoje, a escola tem 416 alunos”, orgulha-se em dizer o ex-prefeito de Itueta por dois mandatos (1977- 1983 e 1992-1996), Rudio Pieper, de 69 anos, também pomerano.





Segundo Pieper, a Pomerânia foi destruída na Segunda Guerra. Expulsos de suas casas e propriedades, a maioria dos pomeranos fugiu com apenas o que podia carregar. Muitos se refugiaram nos EUA, Brasil e Austrália. Hoje, os descendentes representam uma parcela considerável da população de Santa Catarina (cerca de 300 mil, em 2006), do Espírito Santo e do Rio Grande do Sul. “Em Minas, a maior concentração de pomeranos fica em Itueta”, diz Rudio Pieper. Ele planeja realizar um censo entre os descendentes e registrar a história das famílias em fotografias e vídeos. “Quero organizar toda essa história para incentivar o turismo”, explica.


Pão de fubá e batata na mesa


Quase cem anos depois da chegada dos primeiros pomeranos à região de Itueta, os moradores ainda preservam a culinária típica. Um exemplo é o brote – um pão feito de fubá e assado no forno a lenha.




Iolanda Krauzer produz o brote, pão típico feito de fubá e assado no forno a lenha (Leonardo Morais)


"Quase todas as casas fazem o brote", diz a comerciante Iolanda Kamke Krauzer, de 44 anos, que produz o pão para ser vendido nas feiras da cidade de Baixo Guandu, no Espírito Santo, junto à divisa com Minas.


Iolanda conta que chega a faturar até R$ 1.500 por mês com os quitutes típicos. "Vendo também as rosquinhas de nata, leite e maracujá. As pessoas gostam muito das nossas receitas", diz Iolanda, orgulhosa. As guloseimas, preparadas numa cozinha no quintal de casa, são distribuídas nas escolas municipais de Itueta.


As batatas também são indispensáveis na mesa dos pomeranos, assadas na brasa, em forma de salada ou mesmo como acompanhamento para o frango caipira dos domingos. "Quase todos plantam batata. Aliás, os pomeranos são autossuficientes na terra onde vivem", diz Rudio Pieper. Ele cita que a comunidade também produz requeijão, manteiga, doces e geleias.


O ex-prefeito, no entanto, lamenta o isolamento dos pomeranos, agravado pela construção da Usina Hidrelétrica de Aimorés, inaugurada em 2006. A formação do lago obrigou a remoção do casario do núcleo urbano de Itueta. Antes disso, cerca de 200 pomeranos atravessavam o Rio Doce para fazer compras no centro da cidade. Hoje, não mais do que 30 mantêm o costume.


Daniel Antunes - Enviado Especial - 12/06/2011 - 09:05

Leonardo Morais

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